Capítulo 12 - Snow Day, Snow Angel and Snow Love

Parte da série Black Velvet

Como se fosse cronometrada a neve só começou a cair na madrugada do primeiro dia das férias escolares em Saint Lucy. Quando Derek acordou naquela manhã os flocos brancos já tinham tomado uma altura de quase 30 cm na rua.

-Tá nevando! – anunciou, sorrindo, enquanto se sentava à mesa. Os músculos do seu rosto pareciam doloridos, só então o garoto percebeu que ele não ria há quase um mês. Derek notou que não só ele estava vestido para construir um boneco de neve: Carter e Cody usavam toucas e casacos enquanto comiam desesperados. – Ei, não vai derreter tudo se vocês fingirem ter educação.

-Vai pensando, se demorar vai perder toda a diversão! – os dois se levantaram, colocando luvas e correndo para a rua.

-EU NÃO VOU LAVAR ESSA LOUÇA, VIU?

Derek comeu com calma, mas no minuto que terminou foi direto para a saída. Ate chegar à calçada Derek tropeçou no mínimo três vezes, afundando até a panturrilha. A faixa branca, que no dia anterior era sua rua, estava repleta de moradores. Crianças e adultos jogando bolas de neve, fazendo anjinhos, construindo bonecos e forts.

Não foi muito difícil localizar Carter e Cody, os dois estavam no meio da rua, jogando torrões de neve um no outro e em Jason. Derek se aproximou, cauteloso.

-Será que mais um pode brincar?

Jason sorriu, como se o sol estivesse brilhando somente sobre ele. Derek se abaixou, enrolando uma bola fofinha e arremessando direto na cabeça do irmão. Os quatro se divertiram como se fossem crianças. Eles só pararam quando Carter disse que tinha que adiantar umas coisas do trabalho e Cody saiu, com a desculpa de “tenho que estudar pro vestibular”.

-Esse vestibular é loiro com cara de Thor adolescente? – gritou Derek, enquanto o irmão entrava. Derek olhou pro lado, até então esquecido. Jason o encarou, por um segundo ou dois. Os dois andaram até a calçada, não muito longe de onde eles conversaram se ia ou não nevar. Irônico! –Você está bem?

-Sim, vivendo um dia após o outro. – Aquilo era a maior mentira do mundo. Nenhum dos dois estava bem. Jason não comia direito há um mês e Derek mal saía da cama. Como na lenda de Gaia e Urano, o corpo de um ansiava pelo do outro.

Derek se jogou no chão, agitando os braços e as pernas.

-Por que você tá me olhando assim? Não me julgue por querer ser infantil!

-Eu não tô julgando, juro. Você sabe que na hora que levantar vai estragar seu anjinho com marca de cotovelo né?

O menor esticou a mão, rindo.

-Então me ajuda, caralho!

Jason puxou Derek, como se o garoto não pesasse nada. “Deus abençoe esses músculos” pensou Derek. Por causa da força do maior, o corpo de Derek ficou a milímetros do dele. Jason tirou um floco preso nos cílios de Derek com delicadeza.

-Faz um pedido! – os dois riram, o floco ficou na frente da boca de Derek. Por um momento o garoto considerou morder o dedo de Jason. E depois ele inteiro.

-Eu acho que os deuses da neve e do gelo não vão aceitar meu pedido. Eu nunca fui muito religioso!

-Tem razão! – Jason assoprou o floco, que levantou e foi se juntar aos outros que caiam preguiçosamente. Calados, os dois se encararam um pouco mais, ainda colados.

-O que você achou do meu anjo? – Derek pigarreou e apontou.

-É um anjo lindo! – Jason não se referia ao anjo na neve, e sim ao anjo moreno, resmungão e de boca suja que estava na sua frente. Derek suspirou, o ar que saia da sua boca condensava, fazendo o garoto parecer uma locomotiva. – Você tá com frio?

-Eu tô até o saco afundado em neve, o que você acha?

Um sorriso se formou no rosto de Jason. Derek poderia cuspir mil palavrões, xingar a mãe do Papa e do presidente e ele ainda seria o dono do seu coração.

-Eu fiz café, quer que eu pegue pra você?

-Tem café na minha casa, e tá quase na hora do almoço.

-Não seja rude! Tá frio, eu tenho café, você gosta de café. Tudo inocente!

-Nada é inocente com você, mas é muito bom que esse café esteja quente.

Jason puxou Derek até a entrada da sua casa, onde o garoto parou, dizendo que preferia esperar. O mais velho não demorou a voltar, trazendo dois copos térmicos de viagem.

-Ah Deus, essa é a bebida dos vencedores – Derek tomou um longo gole, sentindo seu corpo se aquecer. Os garotos se sentaram no degrau de madeira, observando a neve caindo e as pessoas correndo.

-Não sei como você consegue gostar disso, é uma sopa amarga!

-E o que você tá bebendo?

-Chá. Quer? – Jason jogou o gorro no colo, seu cabelo tão bem penteado arrepiado no frio.

-Que nojo, parece grama! Você tá bebendo suco de mato!

Os dois riram. A coxa de Jason tocou o joelho de Derek, provocando arrepios nos dois.

-Eu queria que você me odiasse! Era isso que eu queria falar pra você, num encontro. Ou no meu carro.

-Jason… - protestou o menor.

-Eu sei que não quer me ouvir, mas, por favor, Derek! – o mais novo ficou calado, então ele prosseguiu. – Eu me apaixonei por você. Você não era exatamente puro, sabe, essa mania sua de ficar falando “diabos”. Mas eu era o adulto apaixonado no adolescente. E eu me odiei, me sentia asqueroso, desprezível. Eu quis não amar você! Só que é impossível deixar de amar o Derek Tyer. Então eu mudei minha estratégia!

-Pra toda coisa do ódio e bullying? – perguntou Derek, fracamente.

-Uhum, pode ver que eu não sou o lápis mais apontado da caixa. Parecia uma boa ideia! Fazer você me odiar, do fundo do seu coração. Ninguém pode amar alguém que te odeia. Eu via você tremendo de medo quando me encontrava, assustado quando eu te batia… e parecia que eu estava me batendo. Pra você me odiar eu estava me odiando!

-Você não podia simplesmente tentar fazer eu te amar?

-Como? Você cresceu comigo, amigo do seu irmão e tal. Eu era pra você um irmão. E eu não queria ser seu irmão! Eu amo você, Derek. Estou tão apaixonado por você. E você está em mim, como uma doença. Eu estou infectado por Derek Tyer! – Jason riu, completamente nervoso e quase chorando. – E não consigo pensar em ninguém. Eu não consigo dormir, eu não consigo respirar e nem comer. Eu amo você! Amo você o tempo todo, em cada minuto de cada dia. Eu amo você!

Derek fitou a rua por um tempo antes de responder.

-Essa frase é do Grey’s Anatomy! – disse em tom serio, Jason tinha se dado ao trabalho de pesquisar e decorar a cena mais bonita da série predileta de Derek. – Você fez um bom trabalho, eu te odiei!

-E por que parou? – perguntou, com seu sorriso presunçoso de sempre.

-Porque eu te amo! – falou, vendo o choque no rosto de Jason. – É, eu te amo. Você não era um irmão pra mim, você era algo mais! Você é bonito, não posso negar isso. E inteligente, eu sei que o outro aluno a tirar A+ na prova do Sadowski foi você! E o seu sorriso… é como se você tivesse arrancado placas de porcelana e colado elas na gengiva.

Jason tomou um gole do seu chá, só para ocupar a boca. Derek o amava! Ele quis se beliscar, bater no próprio rosto pra ter certeza que tava acordado.

-Por que você fugiu do carro?

-Você acha que eu queria te amar também?! Não, eu não queria, especialmente depois de te odiar. E quando você disse aquilo pra mim no carro… eu não acreditei. Meu primeiro pensamento foi que você sabia, e ficou se remoendo de culpa a ponto de precisar me dizer aquilo. Mas sim, eu amo você, sem sentir que você é asqueroso ou coisa assim.

-E ninguém te contou? Que eu te amava de verdade?

-Sim.

-E por que você não me procurou? Eu moro na casa do lado!

-Eu tava magoado, cacete! Você me bateu, me fez chorar. – Derek olhou pro lado, chocado com o que estava vendo. – Ah, caralho, do que você ta rindo?

-De nada, é só que… você não pode negar que a situação é cômica! Eu amo você, eu fico aqui em casa, me afundando em auto-ódio, imaginando quem é que você ama e desesperadamente querendo ser ele, só pra descobrir que eu sou ele.

-Tecnicamente, suas preces deram certo. – Derek riu. –Você sabe que isso denota um sério problema mental de ambas as partes né?

Nenhum dos dois reagiu de forma exagerada, ninguém se beijou, se abraçou ou arrancou as roupas do outro, queimando de desejo. Era como se Derek tivesse contado uma piada suja.

-E agora? O que acontece?

-Eu paro de te dar espaço, você não merece mais! – disse, em tom de falsa censura.

-Por que não mereço? Eu sou um cara muito merecedor!

-Eu tava magoado, garotinho. Eu perdi uns 4 quilos por sua causa. Agora você está oficialmente de castigo. Sem espaços pra você!

-Muita gente ficaria feliz por ter emagrecido. E quais os seus planos de tirar o meu espaço?

Jason riu mais ainda, era fácil, sabendo que Derek gostava do seu sorriso.

-Eu volto a frequentar sua casa, com a desculpa que tô indo lá ver seu irmão. Vou puxar papo com você na mesa, pedir pra te levar pra escola, me esgueirar no seu quarto pra te ver sem camisa. – o maior levantou a sobrancelha, mais sugestivo impossível.

-Sabe o que é pior? Eu vou gostar disso! Talvez você pode ir no meu quarto quando o Cody tiver ocupado com o Riley. Ou quando eu tiver ouvindo música, você precisa de cultura.

-Feito! Vou levar uma barrinha de chocolate com canela. Eu sei que você gosta! – Jason se aproximou, sussurrando no ouvido de Derek. – Só pra você saber, eu sou seu seguidor stalker no twitter!

-Eu sei, tem como você saber quem te segue! – Derek se esforçou pra fazer uma cara séria.

-Sério? Que fraude, eu deveria poder stalkear você sossegado, ficar descobrindo tudo que você ama e tudo que você odeia.

-É só me perguntar, babaca!

Jason pousou seu copo no degrau, colocando o gorro às pressas, e se levantando.

-Vem comigo! – o maior esticou a mão pra Derek.

-Aonde a gente vai? – perguntou, já se levantando.

Os dois foram parar no meio da rua, com a neve se amontoando em suas cabeças.

-Beijar na neve! O que acha?

-Eu acho que a gente tá rodeado de vizinhos e que você tem uns 15 centímetros a mais que eu. – Derek colocou sua mão na cintura de Jason, já que ele não dava a mínima pros vizinhos. – E eu acho que é uma excelente ideia.

Jason se aproximou, seus lábios colando com delicadeza nos Derek.

Chá nunca pareceu ter um gosto tão bom!