Parte da série Ensina-me a Amar
Três
#gatinho07: Ah sim, esse rancor afinal é o grande foco da série! Obrigado, espero não te decepcionar. Continuarei hahaha
Ensina-me a Amar
[Capítulo 3- Pacto com o demônio]
"Não é deprimente saber que o amor de sua vida é de outro tempo, outra história, o destino atrasou um bocado, fez vocês se conhecerem tarde demais, daí deu no que deu, deu em quase nada, cada um foi pro seu canto, e o encanto se desfez como o leite dissolvido no café, agora restam dois corações amargurados, uma decepção e um par de pessoas desiludidas com o amor."
Leonardo e eu nos olhávamos fixamente, e eu sentia vontade de espancá-lo ali mesmo. Em outros tempos eu o beijaria e ele me beijaria de volta, até tudo acabar na cama. Era assim que nossas discussões custumavam acabar. Bons tempos.
Arrumei meu cabelo mordi os lábios, pensando em algo inteligente que poderia ser dito. Mas o que? Ele acabara de me fazer engolir promessa por promessa das que eu havia feito, e agora eu estava fraco e desarmado, igualzinho quando nos conhecemos.
[FLASHBACK ON]
Meu corpo tremia de frio, mas eu não estava com nenhum agasalho. Tinha acabado de brigar com os meus pais por causa dessa maldita sexualidade que aqueles idiotas não queriam aceitar. Afinal, qual é o problema em ter um filho gay? Para os meus pais ter um filho gay era não contribuir para o pool genético e não levar o sobrenome da família adiante. Que grande merda.
Deixei meus pais falando sozinhos e saí de casa com raiva. Burro eu que não coloquei um agasalho e nem peguei algo para comer. Eu sabia que voltaria logo, mas além desse frio congelante, minha barriga começara a roncar, pedindo algo para se sustentar.
Sou filho único, e minha mãe é quem veste as calças naquela casa. Ela não suportaria que seu único filho saísse de casa tão jovem. Como eu disse, eu voltaria logo. Mas mesmo assim me sentia indefeso, à mercê de qualquer bandido.
Cruzei meus braços e me sentei num balanço da pracinha, em outro quarteirão. Foi quando eu o vi usando um sobretudo marrom, cabelos longos loiros e olhos castanhos. Ele parecia com pressa, mas parou para me olhar.
- Tudo bem com você? - Perguntou o estranho.
Assenti ainda tremendo e o admirei por alguns minutos. Eu queria congelar ali junto com ele, e poder olhá-lo por toda a minha vida. Um rosto angelical, sem barba, sem nenhum defeito. Apenas com olhos castanhos e um sorriso sedutor. Tive quase certeza que ele era um anjo. Meu anjo da guarda.
- Você não parece estar bem! - Ele falou e se agachou para ficar à minha altura - Toma, fica com a minha blusa.
Ele tirou o agasalho e estendeu para mim. Ele estava com uma camisa social branca e um colete azul-escuro.
Aceitei o sobretudo e me levantei para vestí-lo. Não aceitei por que eu estava com frio, e sim por que eu precisava de algo que lembrasse esse momento. Algo que provasse que o meu anjo era real.
- Me chamo Leonardo. - Ele disse - E você?
- Thiago. - Respondi tímido enquanto vestia o casaco.
- E o que está fazendo aqui Thiago? Fugiu de casa?
- Mais ou menos. Briguei com os meus pais. - Expliquei.
Era incrível como eu me sentia confortável em contar as coisas para ele.
- Quer me contar o porque? - Leonardo perguntou se levantando e sentando no balanço ao lado.
- Eles descobriram que eu sou gay. - Corei ao revelar, mas não me senti mal em contar.
Houve um minuto torturante de silêncio. Eu queria mais da voz dele.
- E como eles descobriram? - Leonardo parecia curioso e ao mesmo tempo intrigado.
- Beijei meu melhor amigo. - Dei uma risada tímida - E eles viram.
Leonardo sorriu e me olhou fixamente.
- Eu preciso ir Thiago, moro longe daqui. Foi muito bom conhecer você.
- Como eu faço para devolver? - Falei me referindo ao sobretudo.
- Você mora aqui por perto?
Assenti.
- Então a gente se vê. Tchau.
Leonardo se levantou e caminhou em direção a um Uno preto.
Me despedi em silêncio, lamentando por ele ter que ir.
[FLASHBACK OFF]
Eu me sentia exatamente como na noite em que conheci Leonardo. Estava com frio e me sentia indefeso, sendo que a única coisa a mudar foi a forma como eu vejo Leonardo. Se antes eu o considerava um anjo, hoje o via como o pior dos demônios. O mais cruel e impiedoso.
- Tudo bem se não quiser me ouvir. - Finalmente falei - Na verdade eu nem sei por que considerei você minha primeira opção.
- Estou disposto a ouvir amor! - Leonardo falou atenciosamente.
- Não me chame assim. - Falei.
Eu tentava parecer neutro, mas a verdade era que ouví-lo ele me chamando de amor foi desconcertante.
- Assim como? De amor? - Ele provocou - Você é um amor.
- Posso falar o que vim fazer aqui? - Perguntei.
- Você está lindo! Mais maduro, inteligente... Gosto disso.
- Quer dizer que eu não era lindo antes? - Perguntei arqueando a sobrancelha.
- Quero dizer que so fosse pra foder outra vez, eu foderia com muito, muito prazer.
Mordi o lábio inferior e senti meu pescoço arder enquanto meu rosto ficava vermelho.
- Enfim. Preciso que você contrate meu amigo. Ele é um ótimo advogado. - Falei.
- Hum, conte-me mais... Vocês são só amigos mesmo?
- Ele tem pós graduação e... Hã? Sim, somos só amigos oshe.
- Ótimo. Eu contrato ele.
- Fácil assim? - Estranhei.
- Não. - Ele sorriu - Não tem vagas na empresa.
- Por favor - Pedi.
- Você é lindo.
- Para de falar de mim. - Falei - Como vai a sua esposa?
- Bem, e o meu filho também, está uma graça. Quer entrar? Eles estão aqui.
- Não obrigado. Vou indo, aparentemente você não pode ajudar.
- Eu não disse que não podia ajudar. - Ele falou - Disse que não tinha vagas na empresa.
- E você pretende ajudar como?
- Também não disse que pretendo ajudar. - Leonardo riu, e eu cheguei à conclusão que ele estava caçoando de mim.
- Chega! Já deu.
Me virei para ir embora. Péssima ideia ter aparecido.
- Faça sua proposta! - Leonardo disse, me fazendo dar meia volta - Me diga o que eu ganho de você se eu colocar o seu amigo na empresa.
Fiquei no meu lugar, pensando no que ele queria dizer com isso. Leonardo nunca perdia a simpatia, e nem o sorriso.
Pensei no escritório de Felipe e em como ele amava o trabalho dele. Felipe só precisava de reconhecimento, e isso a empresa de Leonardo tinha e distribuía.
- Me diga o que você quer. - Falei decidido.
- Quero que você seja meu secretário. Quero que trabalhe para mim.
Que? Pisquei algumas vezes seguidas tentando me lembrar em qual parte da estrada eu morri.
- Por que? - Questionei.
- Gosto quando você veste social.
Sorri e pensei sobre tudo isso. Não era uma proposta absurda, já que eu também teria que trabalhar para pqgar a faculdade. É claro que Leonardo estava tentando uma reaproximação, mas eu era imune ao seu veneno.
- Trato fechado! - Falei e me virei.
Eu não me sentia tão confiante em relação à Leonardo, mas era o único jeito de salvar a carreira de Felipe e poder pagar minha faculdade.
- Isso não é um trato, é um pacto! - Leonardo gritou - Eu te ligo!
[contínua]