2 - O Big Bang

Conto de GreenFox como (Seguir)

Parte da série Tudo Pra Ter Você

Eaeee pessoas bonitas do meu core. Bocós eu demorei pra postar... demorei. Saí do prazo... Sim. Bocós eu fiz uma burrada, eu já ia públicar o capítulo mas acabei apagando do word... Olha só. Não fiz o backup e tive que reescrever, agora ta aí. Obrigado pra quem leu até o final, deixa aí nós comentários o que achou e a sua opinião, toda crítica é bem vinda. Espero que goste e até breve.

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Se sentir vitorioso é uma virtude desejada por muitos. É, essa era a minha meta para o dia de hoje, o dia mais esperado lembra? Minha convicção estava bem alta hoje e acho que nada poderia acabar com isso. Eu via até um mundo mais bonito, a cor verde das árvores e plantas na frente das casas do bairro, as cores menos vivas dos ladrilhos como marrom e bege tomavam conta da maioria das casas. É incrível como tudo isso foi criando por algo tão pequeno como o Big Bang. Cientificamente falando, o universo foi criado por uma explosão cósmica algo do tipo e era isso que me encantava, algo tão pequeno criou o infinito.

Eu já estava viajando na maionese e percebi que eu tinha que descer do ônibus. Caminhei até em casa com o sol já dando as caras já esquentando o ambiente. Quando eu chego minha mãe estava arrumando a para o almoço. Eu gostava bastante da cozinha, na real, eu gostava do ambiente da casa toda. Tinha uma sala logo na entrada, que levava a cozinha e ambas era pintadas de branco. A ótima comida da minha mãe cheirava bem lá da sala.

-Mãe cheguei!

-deixa eu adivinhar. Evento cancelado. - ela me olhou segurando um prato, tiro o meu casaco, jogo no sofá e vou comer.

-A escola não tava preparada pra um simples chuvisco. - eu digo isso e surge uma voz familiar na cozinha.

-Acho que a própria diretora não estava preparada para ser diretora - sexy, viril e retardada. Reconheceria essa voz em qualquer lugar. Era Matheus, meu melhor amigo estava colocando a mesa com a minha mãe e procurei me servir logo.

-Tá aqui desde que horas coisa ruim? - ele senta para se servir também.

-Já faz um bom tempo. Quando a velh… - mamãe solta um olhar ameaçador que faz ele pensar duas vezes em xingar a diretora - ...senhora diretora anunciou que não haveria mais abertura nenhuma eu vim pra cá pensando que estava aqui. Não te vi o dia todo na escola.

-Pois é, depois de cancelarem eu fui na padaria com a Marcela, comemos pão de queijo e depois vim pra cá - ele me olha impressionado

-é né. Tá certo. Foram comer e nem me chamaram, tudo bem. Assim que a gente descobre quem são os verdadeiros. - tenho que lidar com esse drama todo dia

-Sai daí, se você tivesse ido não tinha sobrado pão de queijo na padaria. Só você ia acabar mesmo - começo a rir e ele me bate com guardanapo

-Já chega os dois! Vocês estão comendo - minha mãe reclama e voltamos ao normal - comam direito porque quero ter boas notícias do jogo mais tarde.

-É isso aí, dessa vez a gente vai mostrar quem manda no pedaço. - pelo que vi não era só eu que estava confiante assim. Se todo o time sentir essa confiança é capaz de ganharmos sem nenhum esforço.

-Dessa vez nós iremos comemorar como campeões. Porque é assim que se joga! - nossas mãos se uniram com um soco de leve como cumprimento.

***

“AH UH UH! 103 É A MELHOR”(bis)

Eram duas turmas juntas e alguns outros alunos da escola torcendo pra essa tal de 103 que eu nunca ouvi falar. Era o primeiro jogo e a nossa primeira turma adversária. O primeiro ano ia jogar contra o segundo que era o nosso. Eu procurava a Marcela pela torcida, ela estava totalmente atrasada pra assistir o jogo. Os poucos meninos do time estavam terminando de vestir o uniforme da camisa azul royal e shorts amarelo, cores escolhidas pela Marcela, até que combinou um pouco, ficou bonitinho.

“Ô Ô Ô Ô. 205 SÓ TEM PERDEDOOR”(bis)

Matheus está bufando de raiva só de ouvir a torcida gritando pra gente agora. A mente fraca faz ele se levar por qualquer xingamento de qualquer pessoa, até de um hamster, o bocó do Matheus aparentava ser tão maduro com barba e tal, mas era uma ingênua criança por dentro. Ele olha pra mim e faço um sinal com a cabeça mandado ele se acalmar.

O treinador Fábio que é professor de Educação Física da escola também chamou todos do time para conversar. Tudo normal, só tinha um problema: o time estava incompleto.

Faltava 5 minutos para entrarmos em quadra.

-Aqui comigo gente - todos já estavam prontos e se aproximavam formando uma roda. Mas infelizmente contei só 4 uniformizados contando comigo - o Dani e o Hugo machucaram a perna em uma festa ontem. O resto do time faltou, a maioria foi porque pegou resfriado na chuva de hoje segundo boatos. Estamos desfalcados. - a nossa cara é de tristeza por ter chances de nem entrarmos na quadra. Ficamos num curto silêncio e ninguém se propôs a falar.

-Ei! Não podem desistir. - um dos alunos entra no meio da roda e começa a um discurso - poxa depois de tudo o que vocês passaram nos jogos do ano passado querem desistir ainda no primeiro jogo este ano? Não podemos deixar isso acontecer, o que somos?

-Pessoas? - Jonas, um dos titulares, falou com a cara fechada e os braços cruzados.

-Não! Pera… também. Mas vocês são um time e um time de amigos não desiste assim de cara - o treinador se manifesta com a cara mais séria que a do Jonas.

-Tá bom já chega garoto. Quem é você?

-Sou da sala também mas entrei recentemente. Isso não importa, o que importa é que vamos entrar em quadra sim! Sim, nós temos chances de perder, mas não iremos fracassar como covardes - ele pega o uniforme da mochila que estava nas suas costas e todo mundo ali ficam apenas olhando - vamos enfrentar como valentes, como campeões.

Ele recebe aplausos de todos nós e de mais pessoas que estavam ao redor. Ele nos deu a coisa que mais precisávamos naquele momento, e não, não era um time completo, ele nos deu coragem.

“Bom dia alunos, blá blá blá…”

Os cinco minutos haviam passado e o carinha do discurso já tinha vestido o uniforme da turma. Algumas pessoas cochichavam sobre o moleque, mas realmente ele apareceu do nada sem ninguém nem ao menos saber que ele existia. O treinador falou mais uma vez

-Aqui galera! Rápido! - todos se reuniram em volta dele - já que temos os 5 titulares não podemos vacilar porque estamos sem reservas. Então já escolhi as posições certas pra vocês. Matheus vai ser o goleiro, Israel vai ser o fixo, vai ficar na defesa. William e Felipe serão as alas laterais - olho pro novato que está atento ao que o professor fala - e Jonas será o pivô, vai trabalhar nas finalizações, Jonas vamos precisar muito de você então incorpora o Pelé por favor - todos rimos mas a alegria acabou, quando o professor de biologia que estava no microfone anunciou as equipes todos pareciam nervosos, inclusive eu. - Vamo lá galera, vamos dar um show e mostrar como se joga de verdade - todo mundo tava animado, a torcida foi pras arquibancadas laterais da quadra que ficavam do lado de fora da grade de proteção.

“E quem irá competir com a 103 é a turma 205!”

A torcida da sala gritava bastante mas era perceptível várias pessoas falando mal do time como “eles vão passar vergonha como no ano passado”, “simples, o jogo vai terminar 4 a 0 pro primeiro ano”. Entramos e nos aquecemos na quadra, enquanto eu alongava as pernas eu ficava observando o novato, ele estava bem concentrado como se estivesse planejando algumas jogadas. Todos foram para as suas posições e o juiz estava preparado para apitar. Eu respirava fundo, olhava pro time e pensava “esse jogo é nosso” .

Começou o primeiro tempo, o jogo estava rolando todo no equilíbrio, não havia nenhuma finalização até agora. O novato foi audacioso e decidiu começar com todo vapor mirando no goleiro do primeiro ano, depois de Jonas ter tocado a bola pra ele William falha a finalização por sorte do outro goleiro ter agarrado. Tava uma gritaria pra 103 que era difícil de se concentrar, mas eu não ia deixar isso me abalar. Corri pra próximo do novato e ele tocou a bola que veio certamente pra mim, os pirralhos do primeiro ano tentaram tomar a bola mas eu já tinha dominado ela. Foi certeiro na o fundo da rede que balançava e a torcida da sala gritava demais, então, fiz o primeiro gol. A torcida vai aí delírio e o time se junta para comemorar, os garotos da 103 reclamavam muito com o goleiro deles que ficou nervoso depois de ter levado o gol. Pois era nele que eu ia mirar agora. Eu sinalizei com a cabeça pro novato e o mesmo entendeu a referência. O juiz apitou e começou de novo. Estávamos com a bola mas perdemos rapidamente pro time adversário, o novato tentou tomar mas não conseguiu, o garoto magro do primeiro ano finalizou na nossa trave mas Matheus agarrou, a torcida da sala gritava cada vez mais.

Estava quase terminando o primeiro tempo, quase 20 minutos de jogo e não saímos das finalizações, mas o Jonas dominava a bola, ele já estava cheio de esperança, finalizou o lance mas foi na trave e a bola acabou voltando pro meio da quadra. O novato olhou pra bola com atitude e deu um chute certeiro que passou por dois jogadores e o goleiro. Era 2 a 0. Começou mais uma vez, o tempo já estava acabando e Jonas faz uma falta perto do nosso garrafão (área do goleiro) em um moleque do outro time, ele preparou pra bater a falta e Matheus é facilmente enganado, 2 a 1. Terminou o primeiro tempo e o treinador veio conversar com o time.

Nós encostamos na parede próxima ao treinador. Matheus tava abalado e afastado do resto dos meninos que comentavam os gols com empolgação. Fui pra perto dele e sentei ao seu lado olhando pro nada também.

-Cara não fica assim, eu te conheço, tá boladão. Relaxa que até o Piqué não agarra gols toda hora. - falei olhando pra ele com a tentativa de animá-lo

-Mas Piqué não é goleiro - a sua cara de confuso era hilária.

-Exatamente - começo a rir e ele da uns chutes na minha perna.

-Idiota - ele se entrega e ri também.

-Relaxa mano. Vamos dar uma surra neles, estamos em vantagem. - o treinador começa a falar antes que termine o intervalo.

-Galera o jogo está entregue de bandeja pra nós. Mas precisamos de uma garantia, não podemos arriscar a nossa reputação. Então, Jonas, Felipe já fez um gol assim como o novato, precisamos de um seu agora. Você vai terminar esse jogo pra gente cara. Confiamos em você. Israel, não quero mais ver a bola perto do garrafão ok campeão? - ele confirma com a cabeça e voltamos pra quadra.

***

Foi dito e certo, o jogo terminou 3 a 1 com a gente nas quartas de final. Fomos para trás da quadra descansar e estavam todos alegres mesmo, valeu a pena todo o treino e nervosismo de mais cedo. Eu tava limpando o suor com uma toalha de rosto e de vez enquanto alguém da sala vinha parabenizar. Israel estava sentado no chão e se levantou ficando perto do novato.

-Galera temos que agradecer ao… - o fixo vai até o ouvido dele e pergunta - qual é seu nome mesmo? - e ele cochichou de volta - Ao William, galera. Sem o discurso motivacional dele nós não estaríamos comemorando agora.

Ele é aplaudido e eu continuava observando ele, era amigável, tinha o cabelo grande que chegava nas orelhas, o rosto cheio de espinhas e o corpo magro mas ele jogava como um atleta. Nunca vi ele jogar na vida e quando entra em quadra dá esse show. Pego minha garrafinha de água e vou falar com o Matheus que tava sem camisa guardando as luvas na mochila.

-Ei mano, não acha estranho o fato do novato virar amigo de todo mundo assim num piscar de olhos? - eu perguntava e bebi o resto de água da garrafa.

-Eu também achei estranho, mas ele salvou o time cara, temos só o que agradecer. - bem, até que ele tem razão, ficamos parados um tempo olhando pro garoto e Matheus veste seu uniforme da escola.

-Tá, eu vou encher minha garrafa - dou uma batidinha no ombro dele

-Vou procurar saber mais desse moleque.

-Ta bom.

Vou até o bebedouro mas antes de eu ir o treinador me chama.

-Ei guri! Vem cá - vou até ele que está com uma toalha no ombro anotando algumas coisas na sua prancheta - gostei do desempenho de todos no jogo, mas eu vi algo diferente em você, de todos os 5 eu vi um capitão jogar hoje e ele foi você - “MAS EU MAL FIZ UM GOL” - se você mostrar desempenho você assumirá o time depois dos jogos, mas se não conseguir já falei com o Jonas e ele vai continuar sendo o capitão e irá assumir o time depois dos jogos entendido?

-Sim senhor. - me senti até importante com tudo o que ele disse.

-Tá agora vai descansar. Merece tudo isso campeão, mas não exagera que tem jogo depois de amanhã. - nós dois rimos e caminhei até o bebedouro

-pode deixar capitão!

-Se depender do seu esforço, o capitão será você!

Fiquei pensando nisso tudo, ser promovido para capitão iria ser uma responsabilidade imensa para carregar um time nas costas. Eu tava com a cabeça longe pensando nisso tudo, mas ela foi mais longe ainda quando eu paralisei imediatamente e vi o ser humano mais lindo da face da terra.

Fiquei em choque com ele ali, a uns poucos metros de distância, procurando alguma coisa, mas eu não conseguia pois acendeu uma faísca dentro do meu coração, senti o calor dominar todo o meu corpo e me deixar parado como uma rocha, derramando as gotas de água que restaram na garrafa. Você deve estar se perguntando, porque esse idiota tá assim? Sim meus amigos, paixão à primeira vista. É, isso faz a gente ficar assim, feito um bobo olhando pra alguém que a gente nem conhece. Sem fazer ideia de quem era, eu admirava aquele garoto.

Eu via o oceano nos seus olhos azuis, seus cabelos bem penteados, tão perfeitos que as mechas pareciam fios de ouro. Ele era lindo demais, perfeito, era comum mas eu nunca havia sentido isso por ninguém. O menino Felipe estava experimentando algo novo e bem confuso porque eu me sentia aflito e bobo ao mesmo tempo.

Sabe o Big Bang que citei logo no começo? Era como se eu estivesse sentindo ele na minha cabeça, uma explosão que trouxe vários sentimentos novos pra mim e fez criar um universo infinito, onde existia só eu e ele, no paraíso. Você que está lendo deve achar que eu passei mais de meia hora pensando nisso tudo, parece que fiquei que nem um retardado por uns 4 anos… mas foram só 4 segundos.

Pensei que era loucura minha ou até mesmo um sonho lúcido, mas percebi que era real mesmo quando eu vi que ao lado dele, estava a Marcela me chamando.

-Ei! Acorda pra vida moço! - ela estava acompanhada pelo garoto. E nossa, ele era incrível, eu me perdia naqueles olhos quando eu os via.

-Ah oi. Desculpa e-eu, eu estava em outro mundo. - ela me olha estranho e o garoto apenas tentava arranjar uma maneira de se distrair chutando uns galhos soltos da árvore que estavam no chão.

-Tá tudo bom contigo? - ela ri e manda um olhar de interrogação do tipo “o que tá acontecendo aqui?”. Mas acho que ela já estava sacando. - ei Lipe fiquei sabendo dos 3 a 1, parabéns hein. Aliás, ainda não te apresentei meu primo. - nossos olhares se encontram mais uma vez e meu estômago se aquece demais. - Lipe esse é meu primo, Marc. Marc esse é meu melhor amigo e minha puta alugada, Felipe.

Ele faz questão de dar um aperto de mãos e quando nossos dedos se esbarram meu braço se arrepia inteiro me fazendo ficar vermelho na hora. Ele logo notou isso e perguntou

-Tá tudo bem cara? - a voz dele era meio grossa mas dava pra perceber que vinha de um adolescente.

-Ta sim - esfrego os olhos na tentativa de voltar a realidade - só caí da árvore lá de trás da escola enquanto eu comemorava.

-Nossa Lipe eu tô muito orgulhosa, pensar que toda aquela motivação ia dar certo. Queria ter visto o jogo. Mas o Marc não é nada melzinho pra se arrumar às pressas. - ele mostrou aquele sorriso perfeito mais uma vez e sinto um frio em minhas pernas que até me assustou, achei que aquela situação estava passando dos limites. Então decidi tentar tomar um controle.

-Vamos pra arquibancada assistir o vôlei? - perguntei e os dois confirmaram com a cabeça.

-É. Mais antes, Marc - ela pega a garrafa vazia da minha mão - enche essa garrafa ali no bebedouro, estou morta de sede. Assim que der nos encontre na arquibancada tá bom? - já saquei o que ela queria

-Ok né. - ele se afasta com a sobrancelha levantada enquanto Marcela me puxa em direção a arquibancada Nós sentamos em uma fileira de bancos vazia por enquanto. O resto dos acentos estavam lotados. . Nós nos sentamos e ela começa com as perguntas

-Todos os detalhes. Quero saber o que tá acontecendo com você. - o time de garotas do vôlei feminino entrou em quadra e os bancos se agitam com a gritaria.

Eu procurava uma forma bem detalhada de explicar o que acabou de acontecer mas não saía nada pois nem eu sabia o que estava acontecendo comigo, fiz menção de falar mas as palavras não surgiam. Então eu disse da forma mais simples:

-E-eu… tô apaixonado - eu fiquei com uma cara de besta, todo desligado enquanto ela estava com uma cara de espanto. A boca levemente aberta com as sobrancelhas em pé.

-Ma-mas - agora ela que ficou sem palavras.

-É loucura isso que estou sentindo Marcela. É incrível o como eu não consigo explicar.

-É loucura mesmo - ela continuava em choque - Como que você se apaixona por alguém?! Você é um frio que não tem coração e rude.

-Obrigado Marcela - digo ironizando

-Mas como isso Felipe?

-Eu não sei! Não sei explicar como aconteceu - ela respira fundo olhando pro lado

-Ta. Tudo bem. Você está apaixonado, por quem? -, eu estava com muito frio na barriga com toda a situação.

-Você não vai acreditar. - deu um sorriso entregando tudo e ela entendeu imediatamente. Ela ficou chocada e colocou as mãos na boca com os olhos arregalados.

-Não brinca! - ela passou a mão nos cabelos respirando fundo de novo - e como isso aconteceu?

-eu já disse que não sei! Foi muito rápido, tipo a primeira vista. É muito difícil de explicar. Eu me sinto estranho, desde que cruzei meu olhar com o dele parece que tem pôneis coloridos cantando Lady Gaga trotando no meu estômago.

-e qual o problema com pôneis coloridos cantando Lady Gaga? - Ah aquela voz de novo. Pulamos do banco com o susto que Marc deu na gente. Ele estava lindo entregando a garrafa de água pra Marcela. Pensei em como aquele filho da puta me destruiu tão fácil, nunca me aconteceu isso e estou me sentindo uma criança que ganhou um brinquedo e não faz ideia de como usar, mas está feliz pelo brinquedo estar alí. Ele senta ao lado de Marcela e minhas pernas tremiam de nervoso.

-eeh nada - a loira dá uma risada sem graça não sabendo o que falar.

-do que vocês tavam falando? - eu olho pra Marcela que mexia os lábios como se procurasse algo pra dizer e eu fazia o mesmo. Saía apenas uns “humm”, “ehh”.

-estávamos comentando sobre a, eeh, irmã dele que o forçou a assistir , ehh - ela falava pausadamente - My Little Pony! Isso! Foram 8 temporadas sinistras que ele teve de assistir e… é ele está com pôneis no estômago. - franzi a testa não fazendo ideia do que ela falava.

-mas eu não tenho irm… - ela me deu um chute na perna e tentei esconder a dor com um sorriso falso - é esse desenho é horrível - disse entre dentes.

-Hum. Ah sim. - ele levantou a sobrancelha e mudou de assunto. Agradeço muito a ele por isso - Então loira, como anda o jogo?

-a sala da Joane está se aquecendo pro jogo. - ele confirma com a cabeça

-Quem é Joane? - pergunto e na mesma hora o professor de biologia começa a anunciar o jogo de vôlei feminino.

-Ah é a ex-namorada do Marc. Sempre adorei o cabelo dela e Marc veio vê-la. Até que eu gost…

PARA, PARA, PARA TUDO! quem é essa tal de Joane? Então quer dizer que ele não curte garotos também? E agora como vou resolver minha vida? Se eu soubesse que ele era hetero nem tinha pensado em me apaixonar. Agora tô preso nele. Acorrentado nesse garoto perfeito. Como que ela pode ser ex dele galera? Se eu tivesse um garoto desses comigo vocês acham que a palavra “Ex” passaria pela minha cabeça? Que nada!

Eh, pois é. Continuando:

-... E eles terminaram a uns meses. Trouxe ele pra falar com ela. - o desconforto na minha cara era muito notável. Já até entendi o porquê dela falar isso pra mim. Ela simplesmente quis dizer “Esquece isso ele é hétero!”

-Ah tá! - fiquei olhando o jogo enquanto Marc e Marcela comentavam sobre a “Joane”, eu não sabia se ficava bolado ou ficava puto com isso.

Depois de ter terminado o jogo a sala da “Joane” venceu e o Marc foi rapidamente procurar a Ex namorada no meio da galera do outro lado da quadra. Eu continuei com a Marcela sentado na arquibancada e eu olhando ela decorar um pacote de salgadinhos como uma esfomeada.

-Que foi?

-Ele é hetero Marcela?

-É. Não, pera. Não sei. Migo a Jô foi a última namorada dele, ela me disse que eles terminaram porque Marc sentia algo diferente e não quis contar a ela o que era. Marc nem hesitou e terminou logo, isso foi a uns meses atrás, depois dela nunca mais vi ele com garotas, nunca vi ele tocar em assunto de namoro. Quando disse pra ele que eu hoje iam começar os jogos ele quis vir, acho que foi pra matar a saudade dela ou algo do tipo. - “hum” foi o que eu pensei olhando pro nada e vendo a arquibancada menos agitada.

Deitei na perna dela olhando pra árvore que nos dava uma sombra digna.

-Sabe, as vezes só acho que a vida me serve apenas para me pregar peças. Primeiro o Yuri, depois meus pais e agora… ele.

-Faz parte migo. Faz parte. Se der tudo certo e você se estabilizar até o final dos jogos vai ser ótimo. Se não der, eu vou estar ao seu lado e vamos sofrer juntos com um balde de pão de queijo. - ela deu um sorriso e eu me esforcei para retribuir. Respiramos fundo e a olha pro nada enquanto eu fecho os olhos pra relaxar - mas vai dar certo sim, aposto 10 reais que você vai se estabilizar até o fim dos jogos.

-Ta bom.

Minha disposição baixou de 40% para 10%. Eu simplesmente queria morrer, Marcela foi procurar Marc e fiquei sentado lá, procurando Matheus na torcida que restou da arquibancada e não o encontro. Resolvi ir atrás dele, pois ele não estava nas redondezas. Atrás da quadra, nos corredores e nada. Vou até o refeitório e vejo ele lanchando com o pessoal do futebol, e o William. O espanto e o incômodo tomaram conta de mim. Eu poderia ir lá perguntar “porque você veio lanchar e não me chamou?” Mas deixei quieto. Ele tava se divertindo e eu não ia atrapalhar, William cutuca ele e olha pra mim mas Marcela me chama de longe.

-Ei! - ela está com Marc e uma garota que usava o uniforme das garotas do vôlei. Fui até eles e olhei pro céu que já mostrava que a chuva estava por vir.

-Eai.

-Lipe essa aqui é a Joane. Joane esse é meu amigo Felipe - ESSA PUTA TEM A CARA DE PAU DE AINDA ME APRESENTAR A “JOANE”!

-Oi linda! - uso toda a minha falsidade pra mostrar que eu não estava desconfortável alí

-Oi gatinho - ela vem e me dá um beijo no rosto e passa as mãos nos meus braços - nossa Marcela, tá perdendo um gatinho desses, vocês namoram? Ele está solteiro? Que uma pretendente?

-Ele já está muito bem acompanhado minha amiga. - Marc interrompe ela e eu fico até surpreso. - pode parar com o fogo.

-Ai Marquinho, você era menos chato quando a gente namorava. O que está acontecendo com você hein - a voz dela era uma tortura de tão chata. Ela trajava um uniforme rosa com o shorts preto. Tinha um cabelo bem longo e liso da cor preta. Tinha um rosto bonito mas um jeito não muito agradável. Marc revirou os olhos com o que ela disse.

- ai miga eu tenho um boy t-o-p-s-t-e-r pra te apresentar. - ela mexe nos cabelos com delicadeza enquanto fala com a Marcela.

-Ai miga me mostra vai que né… tô necessitada - todos rimos e aconteceu o que eu mais queria só que eu não estava preparado.

-Vamos logo que ele está perto do portão

-Okay - ela olha pra mim e pro Marc - meninos vou deixar vocês a sós um tempo. Já já voltamos! - ela sai me deixando uma piscada.

Finalmente ficamos “sozinhos” porque estávamos no refeitório e tava meio cheio. Fiquei sem ter o que dizer com o rosto meio corado. E ele olha pro céu nublado. Admirei o rosto lindo dele enquanto estávamos de pé no maior tédio. Dei um sorriso e disse:

-Quer tomar um sorvete? - um pouco nervoso com o que ele ia responder eu disse com atitude

-Porque não?!

Fomos até a cantina e comprei duas casquinhas. O time da sala não estava mais alí lanchando, bateu uma certa preocupação com o Matheus mas vi que era besteira. Tomamos o sorvete no balcão e começamos a conversar sobre coisas aleatórias, até que ele perguntou algumas coisas sobre mim nos conhecemos melhor. A cor favorita dele era azul, tinha dois irmãos menores ainda. Morava com os pais que eram religiosos, perto da casa da Marcela, pensava em mudar de escola pois a que ele frequentava não estava agradando, me animei logo já criando esperanças de ele vir pra cá. Ele curte MPB e clássicos internacionais, ama coxinha e namorou 3 vezes mas esses 3 namoros não o agradaram e quer algo diferente. Fiquei um pouco angustiado com isso, já tinha terminado o sorvete e a chuva começou a cair, rapidamente virou um temporal e o refeitório ficou lotado, o locutor colocou umas músicas pro pessoal se entreter enquanto a chuva impedia o resto das modalidades de competir. A quadra ficava molhada e escorregadia então não tinha condições de jogar.

Se passou um tempo e conversei mais ainda com o Marc. Tirávamos brincadeiras bestas um com o outro como riscar a cara do outro, fazer piada das pessoas que dançavam reggae. “Parecem minhocas acasalando” dizia ele, tentei bagunçar o cabelo dele mas nunca bagunçava de tão liso, sempre voltava na posição normal só dele passar a mão, e eu o chamava de “burguês safado” por causa da família dele que tinha duas casas, uma em São Paulo e outra em Porto Alegre.

Rimos feito duas crianças e em pouco tempo já tínhamos um certo apego um com o outro. Agora a gente estava com uma crise de riso por causa das piadas sem graça que eu contava a ele.

-Ei ei, Marc, qual a roupa que não fala? - ele estava vermelho tentando não rir e com os olhos cheios de lágrimas.

-Qual? - ele já começava a rir sem nem ao menos eu responder

-A Ber-muda - a gente parecia dois retardados rindo e de vez enquanto uns alunos diziam “olha só dois retardados fora do hospício” e coisas do tipo.

-Ai eu te odeio mano - e não cansava de rir - isso me lembra uma vez que fui acampar com o pessoal da igreja e a gente fez uma roda em volta da fogueira e cantamos - ele parava e dava umas risadas bem curtas como se lembrasse enquanto contava - ficamos a noite toda com essas piadas sem graça.

-E você canta?

-uhum. E sei tocar violão também - eu parei por um momento e fiquei pensando

-Olha tem um violão na biblioteca, se quiser a gente pode ir lá pedir pro tiozinho de lá

-E o que a gente tá fazendo aqui ainda? Vamo lá! - aquele sorriso era covardia, tão lindo que eu poderia falar dele em cada fala desse conto.

Ele me puxou rapidamente pro corredor e me levava a força pra biblioteca.

-É pro outro lado Marc - ele volta e vai pelo lado certo do corredor ainda me puxando.

***

A chuva tinha passado, no fim da tarde o pôr do sol nos presenteava com uma bela vista. Marc tocava o violão e cantava uma música do Charlie Brown Jr. Céu Azul eu acho. Sua voz ficava mais incrível quando ele cantava, o refeitório estava meio vazio e eu estava bem na sua frente numa cadeira me balançando com a perna apoiada num dos bancos.

Dona Emília, a faxineira que todo mundo chamava de “tia da limpeza” ou só de “tia” era como uma segunda mãe pra mim e pra alguns alunos da escola. Usava uma roupa comum com um avental branco que está sempre sujo de alguma coisa, e os óculos de grau que deixava ela charmosa, ainda mais com seus cabelos bem curtos e ondulados. Ela tava varrendo o refeitório sozinha e depois de um tempo só ficamos nós ali tocando violão. Eu, Marc é mais uns garotos do terceirão que se juntou a gente por causa do violão, o clima estava ótimo e agradável. Marcela estava no portão conversando com o tal garoto e finalmente encontrei Matheus, ele estava com o William perto do bloco de salas, agora eles estão assistindo o jogo de futebol na quadra. Era para o time todo estar lá para descobrir quem será o próximo adversário, mas eu estava ali aproveitando o momento com o Marc.

Agora quem tocava era um garoto mais velho do terceirão, era uma música do Onze:20, Marc cantava e de vez enquando a gente trocava uns olhares, uns sorrisos. A noite chegava e quando o olhar dele era um olhar apaixonado eu não pude resistir, me hipnotizei e tive a certeza. Eu estava apaixonado.

A tia da faxina se sentou do meu lado segurando a vassoura pra descansar um pouco.

-Ai vocês estão lindos assim, como adolescentes de verdade, aproveitando o momento como deve ser aproveitado, ao lado de amigos - eu e Marc demos atenção a ela enquanto o pessoal continuava cantando - Quantos anos vocês tem?

-16 - respondi

-15 - É O QUE?!! Jurei que ele tinha uns 17 ou mais.

-Estão bem novos ainda. Eu tenho um filho, quando ele era jovem eu achava que era uma aberração apenas por querer ser livre e alegre se é que vocês me entendem. Privei ele disso e meu ex marido tomou atitudes drásticas que fez ele se afastar, sempre quis ver meu filho como vocês estão, assim aproveitando a curta vida que temos. Mas por minha culpa não tive esse orgulho. Daqui aqui a alguns anos já estou até vendo, vocês juntos numa praia ao pôr do sol tocando violão na beira da praia. Sonho até hoje com meu filho fazendo isso - Marc se comove e respira fundo pra não chorar, eu abraço ela é ela dá um sorriso agradável. - Mas eu trabalho e meu trabalho agora é tirar o turno da tarde porque o da noite já está vindo estudar. Vão logo pra casa que já é tarde!

Realmente já era quase a hora do jantar e o jogo na quadra terminou, todos os alunos foram para fora da escola e conversavam pra onde iam. Jonas se reuniu com o time e falou alto

-Galera da 205 vamos pra minha casa que é Open Bar hoje! Vamos comemorar! - surgiu vários gritos de comemoração de até quem não era da sala. Pego meu celular e procuro o contato da minha mãe pra avisar que já estou indo pra casa. Não to afim de pegar um porre na semana dos jogos.

Me afasto do pessoal e percebi que Marcela e Matheus vem atrás de mim.

-Ei Lipe você vai pra casa do Jonas né? - Matheus pergunta segurando no meu ombro.

-Não não, vou pra casa, não sei se minha mãe vai curtir ficar só essa noite de novo - Marc se aproximou também e ficou ao lado de Marcela

-Ah que isso Lipe, vai ser legal. Vai todo mundo, só você que não - acho o numero dela é disco na hora. - a festa não vai ser a mesma sem você.

-Já passei a semana passada toda fora - continua chamando do outro lado da linha. Marc segura no meu braço e me olha sério

-Lipe, por favor. Eu só tava indo por causa de ti. - ele continua me segurando e minha mãe atende.

-Alo? Lipe? - fico olho olhando aqueles olhos azuis. E era impossível resistir.

-Mãe? Eu não volto pra casa hoje - Marc sorria com o canto da boca - Eu vou a uma festa!.

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