02X01 Encarando os Fatos
Parte da série Os Segredos de Mountainville
Eu levantei desesperado e fui procurar minhas roupas. Eu olhei para ele de novo e não podia acreditar no que estava vendo, eu não acredito nisso. Eu bebi muito e fiz o que não queria. Ele se mexe na cama e acorda.
Raphael - bom dia.
Bernardo - bom dia ??
Raphael - onde a gente tá ?
Bernardo - na casa da Lari eu acho. Eu espero que seja a casa dela.
Raphael - nossa... acho que a gente bebeu muito.
Bernardo - eu acho que a resposta é obvia mas eu vou perguntar assim mesmo. O que a gente fez ontem ?
Raphael - você não lembra ?
Bernardo - eu lembro que bebi e que a gente se beijou.
Raphael - nós fizemos amor.
Eu fecho os olhos e tento absolver a informação. Não planejava dormir com o Raphael e eu sinto que devia ter seguido meus instintos e não ter vindo pra essa festa. Raphael e eu nos arrumamos e descemos procurando a Larissa. Ela estava na sala de jantar da casa sentada na mesa tomando café em meio a uma zona que estava toda a casa dela. Assim que ela nos viu ficou paralizada com os olhos vidrados na gente e com uma caneca nas mãos. Ela apontou e não emitia som... ela parecia mais chocada do que eu.
Larissa - é...
Bernardo - ...não pergunta.
Larissa - senta aí gente.
Bernardo - que dor de cabeça.
Larissa - eu ouvi alguns ruídos durante a madrugada mas não imaginei que eram vocês.
Bernardo - não quero falar sobre isso.
Raphael - ele não lembra.
Larissa - também do jeito que você bebeu.
Bernardo - ainda bem que eu não lembro.
Raphael abaixa a cabeça e a Lari olha pra ele e depois fica me encarando. Assim que eu olho para ela, ela faz um movimento com a cabeça para eu olhar para o Raphael.
Bernardo - o que foi ??? falei alguma coisa errada ?
Raphael - nada... só o jeito que você me trata que me deixa triste.
Bernardo - não sei como você quer que eu te trate.
Raphael - não Ben.. tá tudo certo.
Larissa fica constrangida no meio da nossa conversa e tanta mudar o assunto.
Larissa - o que vocês acham de irmos acampar no rio Murah ?
Raphael - legal.
Bernardo - naquela floresta arrepiante ?
Larissa - essa é a graça.
Bernardo - qual graça ? passar a noite lá e morrer de frio ?
Larissa - deixa de ser ridículo. A gente sempre foi acampar lá e nunca aconteceu nada.
Bernardo - isso é verdade mas..
Larissa - mas nada, eu quero relembrar os velho tempos. Da pra colaborar ?
Bernardo - tá general.
Larissa - vou ligar para o João, eu tenho as barracas.
Eu cheguei em casa no meio da tarde e não tinha ninguém. Fiquei deitado no meu quarto pensando e as imagens da minha noite começaram a voltar para minha mente. Eu lembrei de tudo que fiz com o Raphael e isso me deixou muito mais confuso sobre o que eu estou sentindo. Eu tento focar em uma só coisa e acabo deixando isso para lá. No fim da tarde a Larissa buzina na frente da minha casa e eu desço com minha mochila. Meu pai estava na sala.
Márcio - onde vai ?
Bernardo - acampar com meus amigos.
Mário - que legal relembrando os velhos tempo ? e vão para onde ?
Bernardo - rio murah
O semblante do meu pai muda na hora e ele fica sério me olhando, parece incomodado.
Márcio - não gosto da ideia de você ficar no meio daquela floresta sinistra e escura.
Bernardo - achei que essa cidade fosse super segura sargento Albuquerque.
Márcio - mas lá é um lugar deserto.
Bernardo - não vai acontecer nada... meu pai é policial. (risos)
Eu saio e entro no carro onde já estão Larissa, João e Raphael. Depois de alguns minutos nós saímos da estrada e andamos algum tempo até chegar no meio da floresta onde deixamos o carro e andamos mais até chegar na beira do rio. O sol está se pondo e aquela luz laranja está iluminando todo o rio e eu vou até a beira e fico respirando fundo, assim que abro os olhos vejo o Raphael sorrindo ao meu lado e o sorriso dele está mais lindo que nunca. Porém eu não estou muito para conversa com ele.
Raphael - você é muito lindo sabia ?
Bernardo - me deixa em paz.
Eu saio de perto dele andando e vou ajudar a montar as barracas.
Larissa - olha só... vou deixar vocês dois montando e eu vou procurar madeira com o João pra fazer uma fogueira.
João - por que eu não posso ficar ?
Larissa - porque eu preciso de ajuda idiota.
João - leva o Raphael ou o Bernardo.
Larissa - da pra você colaborar João ?
Ela sai arrastando ele e eu percebo nitidamente a intenção dela de me deixar sozinho com o Raphael. Depois de montar as duas barracas eu volto para beira do lago e fico olhando para o outro lado, eu vejo o que parece uma cerca de algum lugar do outro lado escondido no meio das árvores. Raphael se aproxima novamente e para do meu lado, eu tento não ser ríspido com ele de novo.
Raphael - desculpa.
Bernardo - pelo que ?
Raphael - por ser insitente. Por ter dormido com você...
Bernardo -... não Rapha, eu que peço desculpas por ter pirado.
Raphael - você me chamou de Rapha.(risos)
Ele estava com aquele sorriso lindo de estar sem jeito porém feliz.
Raphael - muito tempo que não me chama assim.
Bernardo - foi no automático.
Raphael - eu sei que não foi. Para de ser tão durão.
Ele segura meu braço e se aproxima mas eu mudo de conversa.
Bernardo - o que é aquilo ali ?
Raphael - não sei. Parece que tem alguma coisa depois da cerca.
Bernardo - queria ir lá ver.
Raphael - deve ser alguma coisa do governo.
Larissa e João voltam e nós acendemos a fogueira e ficamos conversando até tarde da noite mas quando o frio ficou um pouco mais incômodo nós decidimos dormir.
Larissa - eu fico com João nessa barraca e vocês dormem na outra.
Bernardo - claro né Larissa...
Larissa - que foi ?
Bernardo - eu e o Raphael vamos dormir juntos e na barraca menor.
Larissa - tá reclamando de que ?
Bernardo - deixa pra lá.
Entramos na barraca e eu fechei. Eu e Raphael vamos ter que dormir muito juntinhos porque era uma barraca só para um. Eu ainda mato essa garota.
Raphael - não tem problema se aquecer em mim tá ?
Bernardo - pra mim tem.
Raphael - cada vez que você me rejeita eu me sinto com mais força para não desistir da gente.
Bernardo - por que você não segue sua vida ? por quê namora alguém Raphael ?
Raphael - eu... depois que você foi embora eu tentei ficar com outra pessoa mas eu não consegui. Não importa o que você faça eu não vou desitir.
Bernardo - não deve ser tão difícil.
Raphael - você ficou com alguém ?
Eu fiquei calado olhando para cima enquanto ele estava deitado de lado olhando para mim.
Raphael - responde.
Bernardo - não.
Raphael - por que ?
Bernardo - não sei.
Raphael - eu sei. Você me ama.
Eu olhei para ele e ele fez carinho no meu rosto. Um carinho que eu sempre gostei e que não tive coragem de recusar.
Raphael - fala a verdade.
Fiquei quieto e quando ele veio me beijar eu levantei e saí da barraca. Fiquei parado na beira do rio tentando reprimir meus sentimentos e não machucar mais o Raphael. Eu não posso ficar com ele mas eu não estou aguentando ficar longe dele. Como eu imaginei ele veio atrás de mim e eu continuei olhando para frente. Ele me abraçou por trás e apoiou a cabeça nas minhas costas.
Raphael - me explica porque você faz isso comigo... por favor me faz entender.
Ele é tão doce nas palavras que eu acabo deixando algumas lágrimas caírem.
Bernardo - a gente não pode ficar junto.
Raphael - por que ?
Bernardo - você não entenderia.
Raphael - me explica.
Eu senti na voz dele que ele também não conseguiu segurar o choro e isso me deixa mais angustiado ainda.
Raphael - se não voltou por mim então pelo que foi ?
Eu fiquei paralisando com o que eu estava vendo na minha frente e acabei não dando atenção mais para o Raphael. Ele ficou me chamando e olhou para onde eu paralisado e completamente gelado estava olhando. Dois homens com armas estavam carregando um corpo e o jogaram no rio.
Raphael - meu deus ele está...
Bernardo - morto, vamos sair daqui.
Nós voltamos para perto das barracas rápido mas sem fazer barulho e chamamos a Larissa e o João. Saímos correndo dali sem eles entenderem nada. Chegamos no carro e saímos dali rapidamente deixando as barracas para trás.
Larissa - posso saber o que deu em vocês ???
Bernardo - um homem morto...
Raphael - tinham uns caras do outro lado do rio desovando um cara.
João - dentro do rio ???
Bernardo - sim !
Larissa - como assim ? isso não existe aqui.
Bernardo - pelo visto existe sim.
João - que coisa louca.
Larissa - vamos ligar pra polícia agora.
Bernardo - não !
João - como assim não Bernardo ?
Raphael - ele está certo. Se os caras nos viram nós vamos estar mortos se chamarmos a polícia.
João - vamos estar de qualquer forma !
Bernardo - calma João.
Larissa - vamos pra minha casa e decidimos o que fazer.
Assim que chegamos na casa da Lari nós entramos rápido e fechamos tudo.
Raphael - não tem como envolver a polícia. Se aquelas pessoas estavam fazendo aquilo eles sabem que não vão ser pegos.
João - até porque eles vão eliminar as testemunhas.
Bernardo - eles podem ter algo a ver com aquele prédio que nós vimos ?
Larissa - que prédio ?
Bernardo - tinha um lugar do outro lado, parecia um casa, não sei, não tem como ver direito.
João - vocês viram um lugar que era pra estar escondido e uma pessoa sendo desovada ? Larissa eles vão morrer e nós vamos juntos !
Larissa vai até o João e o pega pelo braço.
Larissa - olha aqui, deixa de ser frouxo !
Bernardo - vamos deixar o que aconteceu pra trás. Vamos fingir que a gente não viu nada.
João - mas...
Raphael - João, por favor.
Larissa - amanhã a gente pega as coisas que deixamos lá.
Larissa e João vão para o quarto dela e eu como não consigo dormir fico na parte de baixo da casa, fico sentado no balcão da cozinha. Raphael entra na cozinha e se senta ao meu lado.
Raphael - e aí ?
Bernardo - você acha que eles nos viram ?
Raphael - acho que não. A distância não é pouca e estava escuro.
Bernardo - eu espero que não aconteça nada.
Raphael fica com uma cara que parece estar pensando muito em alguma coisa. Ele olha para cima e para baixo, morde os lábios e passa a mão no cabelo.
Bernardo - o que foi ?
Raphael - que ?
Bernardo - você tá apreensivo.
Raphael - tô normal.
Eu fico olhando para ele e ele me olha nos olhos.
Raphael - você me conhece melhor que ninguém.
Bernardo - me fala o que está passando na sua cabeça.
Ele respira e olha pra cima.
Raphael - alguns dias atrás eu ouvi minha mãe em uma ligação. Parecia o Augusto do outro lado e eles falavam sobre um laboratório.
Bernardo - alguma coisa no hospital ?
Raphael - não... parecia ser algo escondido. Eu não esquentei com isso até a gente ver aquele lugar do outro lado do rio.
Bernardo - você acha que pode ser o tal laboratório ?
Raphael - sim.
Sem ter a intenção eu acabo descobrindo por onde eu vou começar a investigar sobre o que aconteceu com a minha mãe anos atrás.
Eu passei a desconfiar depois que ela sumiu do hospital Genom onde ela tratava um câncer e até hoje ninguém sabe o que aconteceu com ela. Meu pai acredita na morte dela mas algo nisso sempre me deixou muito curioso. Depois que o Raphael me disse isso algumas coisas começam a fazer sentido mas eu não falei nada para ele e fomos dormir no quarto de hóspedes.
No outro dia voltamos para a floresta e fomos até onde estavamos ontem na beira do rio.
Larissa - onde estão nossas barracas ?
Raphael - tem certeza que estávamos aqui ?
Larissa - sim olha a árvore, e aquela pedras ali do outro lado.
Era realmente o mesmo lugar mas não havia nada ali. Era como se nunca tivéssemos pisado ali.
Bernardo - vamos sair daqui.