1X07 Contra O País

Parte da série O Quinto Reino

● Narrado por Theodoro

Theodoro - pai, por que ele fez isso ?

George - é óbvio meu filho. Se sua imagem ficar ruim perante o povo você mesmo não vai desejar ser o rei e aí ele passa a ser o próximo na linha de sucessão.

Theodoro - ele quer me forçar a renunciar ?

George - sim.

Theodoro - pois ele esta enganado se vou abrir mão do trono. Agora sim nunca estive com mais vontade de ser rei !

George - onde você vai filho ?

Theodoro - ao parlamento.

Eu saí da sala e Helena já havia preparado um carro. Fui levado ao parlamento e assim que entrei todos ficaram em silêncio.

Walmor - ora, ora, ora.... Parece que o príncipe com ares de deus veio até nós mortais para dar explicações.

Theodoro - não devo nenhuma explicação a você e nenhum de vocês ministros que estão aqui dando atenção a esses absurdos.

Walmor - o convido a subir no púlpito para uma reunião de família.

Theodoro - não preciso desse circo. Eu vim aqui dizer que, sim, eu sou homossexual e amo o Gael. Ninguém aqui precisa ficar preocupado com o futuro do país pois meu pai ainda tem muitos anos de vida e de governo pela frente. O dia que eu subir ao trono vocês podem se perguntar se teremos um herdeiro ou não mas agora a única coisa que vocês devem se preocupar é em cuidar do país onde vivem e agradecer por sermos misericordiosos e deixarmos vocês ficarem aqui jogando tempo ao vento. Espero que as especulações se deem por terminadas. Uma boa noite.

Saí de lá e voltei para o palácio. Meu pai estava na porta do palácio e parecia esperar minha chegada. Eu subi as escadas esperando ele me chamar em alguma sala e falar que fui inconsequente, imaturo e que não deveria ter feito isso.

Theodoro - pai, eu sei...

George - ... estou muito orgulho do que fez.

Meu pai me deu um forte abraço e ficamos conversando por horas no quarto dele. Meu pai me deu inúmeros conselhos sobre tudo que eu e Gael enfrentariamos dali para frente. Depois disso eu voltei para minha residência com um grande sorriso no rosto e bem mais leve.

No outro dia, de manhã, eu acordei com Helena como de costume abrindo as cortinas e deixando a luz do sol entrar.

Helena - bom dia.

Theodoro - bom dia.

Helena - me senti muito orgulhosa de você ontem.

Theodoro - só ontem ?

Helena - claro que não, você me entendeu.

Theodoro - ( risos) sim.

Helena - Gael e Samira estão prontos para o café da manhã. Gael não está muito feliz, ele não quis falar o que aconteceu.

Theodoro - eu vou falar com ele.

Eu levanto mesmo com roupas de dormir e quando abro a porta do quarto de Gael ele está na sacada de seu quarto admirando o jardim.

Theodoro - bom dia...

Gael - oi.

Theodoro - aconteceu alguma coisa ?

Gael - podemos conversar ?

Theodoro - sim, vamos sentar na cama.

Gael - tá.

Theodoro - me fala o que houve.

Gael - vendo tudo que aconteceu ontem eu... fiquei pensando e... acho que aqui não é meu lugar.

Theodoro - mas Gael... está tudo resolvido. Inclusive meu pai conseguiu apagar sua ficha na polícia do Brasil, é como se você nunca tivesse nem passado na porta da delegacia.

Gael - eu agradeço tudo isso mas... se eu ficar aqui eles vão continuar tentando e não vão te deixar em paz. Eu quero voltar pro Brasil.

Theodoro - não, por favor não faz isso com a gente.

Gael - eu preciso deixar você em paz.

Theodoro - não Gael, por favor, eu te imploro.

Gael - Theodoro...

Theodoro - Gael, eu te amo !

Em meio a nossas lágrimas ouve um silêncio. Gael olha para mim parado e eu estou muito nervoso mas fico calmo quando ele pega minha mão e olhando nos meus olhos...

Gael - eu amo você.

Nos beijamos e enquanto faziamos isso deitamos lentamente na cama. Eu pus meu corpo por cima do de Gael e continuei o beijando. Parei e fiquei em pé no chão próximo a beira da cama enquanto Gael se sentava. Eu beijei todo rosto dele enquanto ele desabotuava meu pijama. Ele começou a admirar meu corpo e eu me senti muito envergonhado. Ele beija meu abdômen e eu fico mais envergonhado ainda.

Theodoro - eu nunca tive nenhuma intimidade com ninguém.

Gael - segue seu coração.

Peguei ele no colo e deitamos na cama juntos em meio a beijos e fizemos amor pela primeira vez. O tempo parecia ter parado.

Theodoro - isso foi incrível.

Gael - foi sim.

Theodoro - meu corpo está adormecido, uma sensação muito diferente.

Ficamos abraçados mas quando Helena bate na porta nós corremos e nos vestimos. Eu fui para meu quarto e depois que tomei banho e me arrumei tomamos café da manhã juntos com Samira.

Samira - bem, esses dias foram bons mas tenho que voltar para Dressten.

Gael - poxa...

Samira - eu tenho assuntos para cuidar.

Theodoro - sabe que pode voltar para Dartróvia quando quiser.

Samira - é claro que eu volto.

Helena - com licença alteza. O Duque Otto está na sala de visitas.

Theodoro - meu primo aqui... peça que ele venha aqui Helena.

Helena - sim.

Helena sai e volta após acompanhada de meu primo. Eu me levanto para o cumprimentar.

Theodoro - Otto !

Otto - meu primo !

Theodoro - como está ?

Otto - muito bem obrigado.

Theodoro - esse aqui é o Gael, meu namorado.

Otto - prazer Gael.

Gael - o prazer é meu alteza.

Otto - só Otto por favor. Samira... é bom vê-la novamente.

Samira - digo o mesmo Otto. Bem, vou aproveitar e partir.

Otto - mas já ?

Samira - sim, já estou aqui a tempo e preciso retornar para Dressten.

Otto - eu devia ter vindo antes.

Samira - nos faça uma visita.

Otto - com certeza.

Otto beija a mão de Samira e após ela abraçar Gael ela sai.

Theodoro - sente primo.

Otto - o motivo de minha visita é um pedido formal de desculpas. Meu pai passa de todos os limites com essa cede de poder.

Theodoro - você não deve se desculpar por isso Otto. Eu sempre soube que você não compactua com as atitudes de seu pai.

Otto - mas me sinto mau por tudo que ele faz, já estou farto disto.

Theodoro - você sabe que não precisa ficar em Trovir presenciando todos os atos errôneos de seu pai, não é ?

Otto - se me mudar para Dartróvia ele pode não ficar muito feliz.

Theodoro - tenho certeza que ele não está dando atenção para qualquer coisa que você faça.

Otto - é a triste verdade.

Theodoro - estou o convidando oficialmente para morar no palácio em Dartróvia. E se você não vier eu vou ordenar ou intimar.

Otto - entendi (risos) E você Gael, está gostando de morar em Halmória ?

Gael - se eu não for considerar as coisas ruins que já aconteceram eu acho interessante.

Otto - eu soube sobre Samuel. Não imaginava que vocês tinham se envolvido.

Theodoro - foi um erro. Não se repetirá.

Otto - todos erramos.

Helena - com licença. Alteza, o rei pede que o senhor o encontre para um compromisso de ultima hora.

Theodoro - sabe o que é Helena ?

Helena - visita ao ministro da educação, sua tia princesa Camila irá também.

Theodoro - tudo bem, me ajude com minha roupa.

Helena - sim.

Theodoro - eu volto logo meu amor.

Gael - tudo bem.

Otto - eu lhe faria compania mas tenho que voltar para Trovir e cuidar de minha mudança.

Helena - eu faço compania para ele quando voltar.

Theodoro - então nos vemos mais tarde.

●●●●●

Narrado por Gael.

Eu fiquei sozinho enquanto Helena estava ajudando Theodoro a se arrumar para seu compromisso. Estava em meu quarto quando a porta se abriu. Me virei imaginando que fosse Helena mas me surpreendi com Conde Samuel. Ele trancou a porta e ficou me olhando.

Samuel - curve-se.

Fiz a reverência para não ter nenhum motivo de queixa.

Gael - em que posso ser útil alteza ?

Samuel - você não me serve nem para capacho.

Percebi que ele estava com uma pequena adaga na mão e aí fuquei muito nervoso.

Samuel - eu vou ter Theodoro para mim custe o que custar. Não estou satisfeito em ser somente um simples conde.

Gael - eu acredito que Theodoro não sente nada por você.

Samuel - não pense que ele irá lutar por você para sempre. Na primeira oportunidade ele jogará você no lixo. E eu estarei ao lado dele quando isso acontecer.

Gael - desculpe mas preciso de privacidade.

Samuel - não vai se livrar de mim, eu tenho uma coisa que você nunca terá. Sangue nobre.

Depois de me intimidar ele saiu do meu quarto e eu cheguei a chorar. Depois de minutos Helena entra no quarto e estranha meu estado, eu tento disfarçar.

Helena - o que aconteceu ?

Gael - é só saudade de casa.

Helena - vamos nos distrair um pouco então. Venha.

Helena me levou para conhecer mais alguns lugares como a floricultura do palácio, a cozinha e algumas salas históricas como a sala da coroação. Era uma salão enorme com o trono ao fundo.

Helena - antigamente era aqui que as decisões sobre os reinos eram tomadas.

Gael - esse trono deve ter um peso enorme.

Helena - e tem. Quando chegar a hora você vai ter um papel importante em ajudar Theodoro a suportar esse peso.

Gael - eu ?

Helena - sim.

Gael - por que vocês falam tanto nesse dia como se fosse chegar amanhã ?

Helena - eu sei que parece estranho mas o Theodoro está sendo treinado para assumir o trono a um tempo e isso se torna comum. Ele precisa estar cem por cento preparado quando chegar a hora.

Gael - entendo.

Helena me mostrou fotos e pinturas dos antepassados de Theodoro e eu percebi que ele é a cara do avô dele quando tinha sua idade.

Gael - não tem fotos da mãe dele ?

Helena - o rei George retirou todas as fotos e estátuas da rainha Lara após o falecimento dela. Ele ficou muito abalado.

Gael - eu imagino.

Helena - Gael, eu tenho que cuidar de algumas coisas agora.

Gael - tudo bem, eu vou andar um pouco pelo jardim.

Helena - tudo bem, nos vemos na hora do almoço.

Eu fui para o lado de fora do palácio e para o meio de um dos jardins. Alguns floristas estavam cuidando das flores e eu fiquei muito feliz quando me deixaram ajudar. Eu me distraí o resto da manhã com eles e me diverti bastante. Um pouco antes da hora do almoço eu fui para meu quarto tomar um banho e me trocar. Saí do quarto e esbarrei com Theodoro, ele ia me chamar.

Gael - oi (risos)

Theodoro - você está radiante, está lindo !

Gael - eu passei uma manhã maravilhosa com os floristas do palácio.

Theodoro - olha... então sua vontade de ir embora passou ?

Gael - um pouco.

Theodoro - (sussurrando) tarde faço o resto passar com um carinho especial.

Gael - (sussurrando) vou contar os segundos.

Helena - meninos, olhem os modos. O almoço está servido.

Theodoro - estamos indo.

Nos sentamos a mesa e fomos servidos. Almoçamos tranquilamente mas depois de quase uma hora do nada, Vicente e Samuel entram com seguranças e minha mochila na mão de Vicente.

Samuel - é esse aí.

Theodoro - Samuel, o que você ainda faz aqui ?

Samuel - seu namorado roubou joias do meu quarto no palácio.

Gael - o que ?

Theodoro - você só pode estar ficando louco !

Gael - eu não fiz nada.

Samuel - ele passou a manhã sozinho. Deve ter aproveitado para roubar. Minhas coisas estavam dentro dessa mochila.

Vicente - conhece esta mochila rapaz ?

Gael - é minha mas eu não peguei nada !

Vicente - podem levar.

Theodoro - não ousem tocar nele !

Samuel - quero saber quando ele será preso.

Helena - se me permite...

Samuel - ...ninguém falou com você.

Theodoro ameaça ir para cima de Samuel mas eu o seguro.

Theodoro - se falar assim com ela novamente eu não respondo por mim.

Vicente - Alteza, temos provas contra o rapaz.

Theodoro - vou lhe dizer uma coisa Vicente. Gael passou a manhã com Helena e depois com os floristas do palácio e antes disso ele estava comigo. Eu não sei como Samuel fez isso mas ele com certeza plantou essas jóias.

Samuel - a acusação vai recair sobre mim ?

Theodoro - sim porque isso tem sua mão, confessa.

Vicente - quando mesmo vossa alteza deu por falta das jóias ?

Samuel - hoje de manhã.

Vicente - fiz esta pergunta a meia hora e o senhor havia dito que foi ontem a noite.

Samuel - ontem, hoje. Qual a diferença ? achamos o ladrão.

Theodoro - CHEGA SAMUEL ! Gael não roubou nada de você, para com isso.

Samuel - estou te mostrando quem ele é.

Theodoro - você está me mostrando quem você é. Vem fazendo isso ao longo dos últimos anos. Eu amo o Gael e nada, nada do que você faça vai me separar dele.

Samuel - me da minhas jóias, eu vou embora daqui.

Theodoro - não, não vai.

Vicente - o senhor vai ter uma conversa com o rei. As acusações foram muito sérias.

Theodoro - eu não perco isso por nada.

Eles levaram o conde e eu comecei a chorar. Helena tentou me consolar mas eu estava descido a não ficar mais um segundo nesse país. Ela tentou me convencer mas eu estava irredutível. Theodoro chegou e eu já havia colocado a roupa que cheguei de volta e peguei minha mochila das mãos dele.

Theodoro - o que está acontecendo ?

Helena - eu tentei o convencer mas não consegui.

Theodoro - nos dê licença por favor.

Helena - claro.

Gael - eu sei o que você vai dizer, cada palavra. Mas é melhor não falar nada.

Theodoro - por que ?

Gael - eu nunca fui tão humilhado em toda minha vida. Desde que cheguei aqui estou sendo humilhado pelo Samuel.

Theodoro - ele agora não vai mais fazer isso com ninguém. Meu pai retirou o título dele e da família dele.

Gael - mas o estrago foi feito. Você teve que assumir por minha causa.

Theodoro - eu já devia ter feito isso.

Gael - mas não importa o que você faça. Você tem um destino e tem que cumprir e se eu ficar aqui vou tornar isso mais difícil. Eu te amo, mas eu tenho que ir.

Theodoro - eu vou com você.

Gael - não, você tem um país pra governar.

Theodoro - Gael...

Eu saio e vou andando com Theodoro andando atrás de mim e chorando assim como eu. Ele coloca as mãos em mim algumas vezes mas eu tiro e não paro de andar.

Theodoro - como você vai voltar sem documentos e dinheiro ?

Gael - você pode pedir para me levarem ?

Theodoro - é isso mesmo que você quer ?

Gael - eu preciso deixar você em paz e preciso ficar em paz.

Eu peguei as mãos dele e devolvi a jóia que ele havia me dado.

Theodoro - não, isso é seu !

Gael - não posso ficar. Isso vai ficar me lembrando de você...

Theodoro - você quer me esquecer ?

Gael - isso foi um sonho... só um sonho Theodoro.

Theodoro - não foi. Foi mais real que qualquer outra coisa que já me aconteceu. Eu te amo !

Gael - adeus.

Theodoro - Helena...

Helena - sim senhor.

Theodoro - certifique-se de que ele irá chegar a casa dele em segurança.

Helena - sim.

Saí acompanhado de Helena deixando Theodoro em lágrimas contrariado por eu o abandonar.

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Narrado por Theodoro.

Meu coração está em pedaços. Eu entrei em meu quarto no mesmo dia e o destruí com minhas próprias mãos. Após isso me tranquei e fiquei isolado durante dias. Helena, Samira e meu primo tentaram entras mas não permiti. Eis que meu próprio pai veio até a porta de meu quarto.

George - filho ?

Theodoro - vai... embora...

George - filho, sua voz está fraca. Você precisa se alimentar, abra a porta.

Theodoro - o que vou fazer sem ele pai ?

George - quando sua mãe nos deixou eu perdi o chão, achei que não conseguiria mais fazer nada e tive que ser muito forte. Gael apenas foi embora. Pegue o avião e vá o ver.

Eu fico em silêncio e meu pai manda que alguém abra a porta. Assim que entra ele se depara com a situação que meu quarto está e vem até mim, no chão.

George - meu filho... não fiquei assim, não se dê por vencido.

Theodoro - eu amo ele pai.

George - eu sei, eu sei.

Me tiraram do quarto para que ele fosse arrumado novamente e eu pudesse tomar um banho e comer. Eu estava sozinho com Otto e Samira na sala de jantar.

Samira - fiquei muito preocupada com você.

Otto - todos nós ficamos.

Theodoro - eu não posso ficar longe dele.

Samira - eu pai disse que você pode o visitar.

Theodoro - não estou falando em o visitar.

Otto - não creio que ele vá querer voltar para cá depois de tudo que aconteceu.

Theodoro - ele não precisa voltar.

Samira - Theodoro...

Theodoro - eu espero que Halmória me perdoe por isso.

Eu fui até a sala do conselho e expliquei ao meu pai tudo que estava sentindo e o que eu queria fazer dali para frente.

Theodoro - eu estou oficialmente abrindo mão do trono de Halmória.

George - tem certeza que é isso que quer ?

Theodoro - sim.

George - tudo bem. Pode ir.

Eu abracei meu pai e antes de sair da sala olhei para trás e sorri. Helena deixou todas minhas coisas essenciais preparadas e eu entrei em um carro dando adeus a tudo aquilo. Não me despedi de Samira e nem de Otto pois eu não queria ir embora com um sentimento de que estou fazendo algo errado. Entrei no avião real e depois de algumas horas estava parado na rua tocando a campainha e vendo o amor de minha vida vir correndo em minha direção.

Gael - você é louco !

Theodoro - sou sim, louco por você. Eu te amo Gael, quero passar cada segundo do resto de minha vida ao seu lado !