PRIMITIVA PAIXÃO CAP 3
Parte da série PERDIDOS
Capítulo Três
Fodido além de qualquer reconhecimento.
Era assim que sua vida inteira parecia agora.
Jacyn gemeu de dor quando ele se sentou e puxou a longa corrente ligada à parede. Os sequestradores prenderam a outra extremidade a um colar de couro em volta do seu pescoço. Não importava quantas vezes ele tentou, ele não tinha sido capaz de encontrar um fecho ou fivela para tirar a maldita coisa.
Então, lá estava ele, com frio, com fome, assustado e amarrado como um maldito cão. Não era exatamente o que ele tinha planejado para o final de semana. Não que ele já tivesse planos reais, mas com certeza isso jamais consistia em ser sequestrado por um grupo de psicopatas. Tremendo de medo, ele perguntou o que exatamente eles tinham planejado para ele. Jacyn olhou para a porta de aço com apreensão, perguntando quando eles viriam para ele.
Respirando fundo, ele tentou empurrar a ansiedade de volta. Por mais que ele adoraria se enrolar em posição fetal e ceder ao medo, isso não iria tirá-lo daqui. Ele ia ter que manter a calma e descobrir uma saída.
Verificando a área em volta dele por saídas de emergência, ele não encontrou nenhuma. A única luz vinha de uma janela que era tão alta que não poderia alcançá-la mesmo se ele estivesse de pé, e havia mais sombras do que luz do sol na sala. Era uma cela de prisão e parecia isso, até as paredes de concreto cinza e piso.
A mobília era apenas o colchão sujo ele estava sentado e um balde no canto para ele usar para se aliviar. Ele estremeceu, desta vez não por medo, mas de frio. Ele ainda usava seu uniforme, mas tinham levado sua jaqueta. Eles também roubaram suas botas. Talvez tivesse sido porque ele tinha chutado tantas vezes quando ele ainda estava na parte de trás de sua ambulância. Depois que ele tinha enlouquecido e destruído totalmente um dos armários que revestiam o interior da ambulância.
Ele franziu a testa sobre o estrago. Certamente, sua empresa não iria descontar de seu salário por isso, iriam? Isso aconteceu enquanto eles o sequestraram, então não era como se ele tivesse feito isso de propósito.
Ele percebeu que estava refletindo sobre algo tão trivial como propriedade de trabalho danificada quando ele provavelmente não viveria o suficiente para ver o amanhã, muito menos o próximo dia de pagamento. Uma gargalhada rouca explodiu de seus lábios rachados e inchados. Ele devia estar enlouquecendo ou as drogas que eles usaram nele ainda estavam em seu sistema.
Ele não tinha dúvidas que eles o doparam também.
O que mais poderia explicar as alucinações que ele tivera na noite passada? Primeiro, os caras mudaram de aves para humanos, então a viagem toda na ambulância.
A lembrança da viagem surgia em breves de lampejos de dor, medo e horror.
Ele se lembrava de lutar e gritar. Ele se lembrava deles o amarrando nessa maldita cama. Então, ele se lembrou de como assustado e irritado ele tinha ficado e como ele tinha—rugido e os cortados com suas garras?
Impossível. Não, era a droga brincando com ele, embora ele não conseguisse se lembrar de quando eles poderiam ter lhe dado alguma coisa. Talvez antes que ele chegasse à loja eles tinham colocado coisas no café. Jacyn balançou a cabeça, o colar esfregando dolorosamente contra sua pele esfolada. Isso ainda não faz sentido. Ele não era ninguém, não tinha amigos de verdade, nem família, então por que alguém iria querer ataca-lo?
A maçaneta da porta se mexeu.
O coração de Jacyn disparou em seu peito quanto o medo formigou sua espinha. Alguém estava entrando e ele tinha uma leve suspeita que não era a Prize Patrol para lhe entregar um grande e gordo cheque de papelão. Mesmo o fazendo gemer de dor, ele ficou de pé para que ele pudesse estar melhor preparado para o ataque.
Se eles achavam que ele iria cair sem uma luta, eles estavam redondamente enganado. Ele havia lutado a vida inteira e ele com certeza não iria parar agora. Fechando os punhos apertados, ele se preparou e colocou o que ele esperava que fosse uma cara de durão.
Dois dos capangas da noite anterior entraram. Embora ambos tivessem o mesmo cabelo e olhos escuros, um era mais alto e tinha mais músculos. O alfa. Assim que esse pensamento surgiu em sua cabeça, Jacyn perguntou de onde veio. O que não deixava de ser verdade, porém; apenas pelo modo como esse cara se movia com uma fria e mortal autoconfiança não deixava nenhuma dúvida de que ele liderava e não tinha medo de chutar alguns rabos ao fazer isso.
“Onde está o Patrick?” Jacyn perguntou, nem mesmo se preocupando em esconder o desdém em sua voz. Ele queria um pedaço de seu parceiro mais do que tudo. Ex-parceiro. Lembre-se disso, porque de maneira nenhuma no inferno eu vou trabalhar com ele novamente depois disso.
“Ele ainda está se recuperando de todas as feridas que você lhe causou,” o alfa lhe disse quando ele se aproximou e cruzou os braços sobre o peito, um olhar entediado em seu rosto pálido. A situação toda parecia um enorme bocejo para o cara.
“Eu não fiz nada para ele,” Jacyn negou mesmo quando alguns estranhos flashbacks veio a ele. Uma pata gigante golpeando e acertando Patrick na garganta. Um jato de sangue vermelho vivo. Uma emoção vitoriosa o atravessou em saber que ele tinha causado alguma dor ao inimigo. Jacyn sacudiu a cabeça, mais para negar suas suspeitas internas do que para o sequestrador. “Olha, eu não sei o que vocês estão jogando, mas vocês pegaram o cara errado,” Jacyn disse com muito mais calma do que ele sentia. “Eu não sou ninguém.”
“É aí que você está errado, meu pequeno felino.”
O alfa deu alguns passos para frente, ficando muito perto. “Você provavelmente é a maior captura de minha vida. Assim que Mitchell descobrir que eu tenho seu irmãozinho, o bastardo vai ficar louco. Especialmente quando eu começar a enviar você para casa para ele, pedaço por pedaço.”
Jacyn estremeceu quando o homem estendeu a mão e acariciou sua bochecha. Por mais que ele tivesse adorado se afastar do toque nojento, ele sabia que se fizesse, isso o faria parecer com medo e fraco. Em vez disso, ele nivelou um olhar para o alfa e realmente deixou seu desprezo aparecer. “Você deve ser tão estúpido quanto você é feio,” ele retrucou, sua raiva assumindo todo seu raciocínio. “Eu não tenho um irmão. Quantas vezes eu tenho que dizer que você pegou a pessoa errada?”
O alfa levantou sua mão para cima e esbofeteou Jacyn fortemente na bochecha. Sua cabeça girou para trás e ele podia sentir o gosto de sangue quando seus dentes bateram juntos. Antes que ele pudesse se recuperar, o alfa agarrou um punhado de seu cabelo. Jacyn engoliu um gemido de dor quando o homem o puxou fortemente.
“Eu vou deixar essa sua declaração passar porque eu sei que você teve uma noite ruim, mas não abuse da sorte novamente. Agora, se você estiver disposto a calar a boca por mais de dez segundos, eu vou deixar você saber de tudo.”
“Tudo bem,” Jacyn chiou de dor. “Desde que você me tem acorrentado à parede, não é como eu pudesse exatamente fugir.”
“Você tem um irmão e ele está procurando incansavelmente por você e outros shifters perdidos. Ele não quer nada mais do que encontrar você para que ele possa fortalecer suas fileiras, mas a última coisa que eu quero é mais felinos fodendo minha vida.”
“Shifters felinos?” Jacyn gaguejou, assim quando ele continuou a recordar os flashbacks bizarros. “Você está cheirando tinta ou algo assim?”
“Rapaz, ele com certeza é um shifter retardado,” o beta disse com um sorriso sarcástico. “Ele realmente não tem nenhuma ideia. Não é de admirar que ele gritou como uma menina na ambulância. Deve ter sido a primeira vez que ele mudou.”
“Seja gentil com Jacyn. Ele não foi criado como um shifter, então é claro que ele não percebe quem ele é,” o alfa repreendeu quando ele se inclinou ainda mais perto.
O homem tinha um cheiro estranho, desagradável e selvagem. Jacyn teve que engolir a náusea que bateu nele. O alfa por outro lado não parecia ter problemas com o contato próximo. Ele se inclinou para frente, enterrou o nariz na curva do pescoço Jacyn e respirou fundo.
“Eu nunca gostei do cheiro de felinos antes, mas você é agradável,” ele sussurrou.
Jacyn teve que trabalhar duro para combater um arrepio de repulsa.
“O que você está fazendo?” O beta latiu, seus olhos negros brilhando com raiva.
“Ah, vamos lá, Curtis. Qual é o grande problema? Nós dois sabemos que os gatos gostam de ir para os dois lados. Ele provavelmente vai adorar.”
Jacyn ficou chocado quando um ruído surdo começou a crescer em sua garganta. Ele tinha ficado irritado muitas vezes no passado, mas ele nunca fez um ruído parecido antes. Parecia... animalesco?
E se as alucinações de ontem à noite eram lembranças verdadeiras? Por mais impossível que tudo parecia, isso estava começando a ser a única coisa que fazia sentido. Talvez eles não o tivesse drogado, afinal.
“Pense sobre a minha oferta,” o alfa murmurou enquanto ele esfregava o lado do rosto de Jacyn. “Acredite ou não, eu sou tudo que você tem agora. Mesmo se você pudesse escapar, você está sendo procurado pela polícia humana.”
“Por quê?” Jacyn exigiu. “Por ser sequestrado? Na última vez ouvi dizer que não isso era um crime.”
“Você atirou em uma loja, um humano foi morto e uma ambulância está desaparecida. É claro, a suspeita vai cair sobre você. Ainda mais agora que várias testemunhas se apresentaram para contar à polícia que viu um paramédico surtar e começar uma fúria assassina.”
O estômago de Jacyn se apertou. Ele sabia, sem dúvida, que essas testemunhas eram os mesmos caras que o tinham atacado na noite antes de ser sequestrado. “Então eu vou me entregar e dizer a verdade a eles,” ele retrucou com muito mais ousadia do que sentia.
“E dizer o que a eles? Que um monte de pássaros que se transformaram em homens, apareceram e atacaram?” O alfa deu uma risada sarcástica, mostrando vários dentes podres.
Gah, justamente quando Jacyn pensou que ele não poderia ficar mais feio. O alfa o empurrou para trás e se inclinou ainda mais próximo que seu corpo estava pressionando Jacyn firmemente contra a parede.
“Lutando ou não, eu não me importo. No final, você vai ceder e me implorar para te foder. Sempre fazem.”
“Você tenta me tocar e que eu fiz para Patrick vai parecer leve em comparação com o que acontece com você,” Jacyn rosnou. Isso foi o que ele fez, também, um verdadeiro rosnado igual a um gato selvagem, seguido por outro rosnado estrondoso. Tudo na sala de repente entrou em foco mais nítido. O cinza sombrio mais gritante, a tênue luz quase cegante e o cheiro desagradável. Era quase demais e sua cabeça nadou quando tudo o dominou. Jacyn lutou contra isso e fez questão de manter seu rosto livre de qualquer dúvida, medo ou ansiedade.
“Ah, eu gosto do seu espírito,” o Alfa cuspiu enquanto puxava o cabelo de Jacyn novamente. “Eu vou me divertir quebrando você.”
Uma forte explosão fizeram todos eles saltarem. O homem jogou Jacyn para longe dele com uma maldição e se virou para seu companheiro. “É melhor isso não ser o que eu acho que é ou alguém vai morrer.”
Eles saíram correndo da sala, batendo a porta atrás deles.
Jacyn caiu de joelhos, aliviado, embora houvesse mais alguns estrondos altos.
Qualquer coisa, até mesmo ser enterrado vivo, tinha que ser melhor do que o que o homem havia planejado para ele.
Houve outra série de barulhos altos, mas eles foram menores do que os outros, e muito mais próximos, de fora de seu quarto. Jacyn saltou de volta a seus pés, pronto para lutar com o que estava por vir.
Considerando como as coisas estavam loucas, poderia ser qualquer coisa do outro lado. A porta se abriu e, desta vez, em vez dos atacantes, era Logan.
“Você,” Jacyn respirou, estranhamente tranquilizado pela visão do homem misterioso e corpulento. Ele até mesmo se deixou cair de volta sobre o colchão sujo. Suas pernas estavam tão fracas e ele tinha a sensação de que precisaria conservar sua energia.
“Sim, eu,” respondeu Logan, sua mandíbula marcante em uma linha severa quando ele atravessou a sala e se ajoelhou ao lado dele.
“Eu pensei que eles te mataram.” Jacyn o olhou de cima a baixo e não viu sinais de ferimentos. Logan tinha mudado de roupa, e apesar de sua nova roupa ser toda preta também, ela se encaixava tão perfeitamente como a roupa anterior.
“Não, tudo o que eles fizeram foi me irritar mais.”
Logan examinou o colar em torno do pescoço do Jacyn.
“Eu não consegui descobrir como tirá-la.” Jacyn estremeceu enquanto a puxava contra sua pele sensível.
Embora ele só a tivesse usando por algumas horas, a coisa não era, obviamente, feita para ser confortável. Um pequeno arrepio atravessou seu corpo quando os dedos de Logan roçaram contra sua carne.
Quando ele se inclinou mais perto, Jacyn sentiu o calor vindo do corpo do homem alto. Bom. Quase fazia o sequestro todo valer a pena.
Felizmente, Logan não pareceu notar Jacyn olhando de boca aberta para ele, muito absorvido em tentar libertá-lo.
“É um colar especial feito apenas para o nosso tipo. Ele não vai sair pelos métodos tradicionais e se nós mudarmos, ele se ajusta para atender ao nosso novo tamanho.” Logan tirou um adaga de dentro do casaco longo. Feita de prata, da ponta até o cabo, ela tinha algumas estranhas marcas escuras gravadas na lâmina. Ele se inclinou para examinar o colar.
Se inclinando tão perto, Jacyn podia sentir o cheiro dele. Ele notou que o homem tinha um cheiro estranho, também.
Ao contrário do Corvo, porém, o seu cheiro era de terra e muito mais agradável. “Você quer dizer quando eu mudar para um gato?” Jacyn perguntou, ainda não tendo certeza se ele estava pronto para encarar a verdade.
“Sim, isso é exatamente o que eu quero dizer,” Logan respondeu com uma voz dura.
“Que tipo?” Jacyn engoliu em seco.
“Nós realmente precisamos ter essa conversa agora?” Logan suspirou. “Tipo, quando eu não estiver tentando nos tirar daqui antes que os corvos nos fazem sua próxima refeição.”
“Apenas me diga que eu não sou algum tipo de gato fracote como um calico ou um gato malhado.” Jacyn sabia que ele estava tagarelando como um idiota, mas não conseguia parar.
“Você é uma onça pintada. É que grande e má o bastante para você?” Logan parecia exasperado o suficiente para deixá-lo para trás.
“Sim.” Jacyn se afastou, alarmado quando ele viu Logan levantar o punhal. Um suor frio correu sobre seu corpo e sua pele formigava da liberação de adrenalina. “O que, você arrombou e entrou à força para que só você pudesse me matar?”
“Mitchell vai ficar me devendo horas extras por isso,” Logan murmurou baixinho. Ele resmungou, “Não, isso é a única coisa que irá tirar a coleira. A menos que você queira viver o resto de sua vida com ela.”
“Você é um, também? Um shifter? “Jacyn perguntou enquanto olhava para os olhos verdes de Logan. Uma vibração estranha atravessou seu estômago, tanto de medo de ter que confiar em um completo estranho e de qualquer outra coisa que ele não se atrevia a pensar.
“Sim, eu sou um shifter felino e você não precisa se preocupar. Eu não vou me transformar em um calico ou malhado também.” Um pequeno sorriso formou nos lábios cheios de Logan.
Houve outra explosão, o que fez Jacyn pular enquanto soltava uma maldição em voz alta.
“Você precisa confiar que eu sou a única pessoa que pode ajudá-lo.” Logan levantou a lâmina e ergueu uma sobrancelha em uma pergunta silenciosa.
“Tudo bem, vá em frente.”
Jacyn não deve ter soado convincente o suficiente, porque Logan hesitou. “Você não vai tentar fugir de mim de novo, é?”
“Não,” respondeu Jacyn desoladamente. “Tenho a sensação de que não importa para aonde eu corro, eu não estaria a salvo desses caras, não é?”
“Por conta própria, não. Mas se você vier comigo, eu prometo que vou fazer tudo ao meu alcance para te proteger e te levar de volta para sua verdadeira família.”
A forma solene que Logan falou essa promessa lhe deu esperança pela primeira vez desde que ele despertou neste pesadelo.
CONTINUA...
Nota de rodapé:
Prize Patrol é uma equipe que viaja pelos Estados Unidos distribuindo prêmios (tipo loteria) para vencedores que não sabem que ganharam, lhes fazendo uma grande surpresa.
Obrigado ao meu primeiro leitor, este capitulo é pra você.
espero poder continuar agradando e ganhar mais leitores.