Capítulo 20 - 3 anos depois

Conto de GarotoComum como (Seguir)

Parte da série Epifanias

Eu vejo um grande futuro a minha frente. E ele é cheio de oportunidades, e de uma grande e bela música. Sua batida vai crescendo e crescendo, assim como as batidas do meu coração enquanto eu luto, danço de alegria em meio a uma multidão. E então eu paro com a batida, e reparo...eu reparo no sorriso das pessoas em minha volta, nas lágrimas de realização e de amor. Então a batida volta e eu me sinto invencível. Eu grito, dou um brado de vitórias em meio as guerras. E eu sigo cantando, correndo, para o alvo, nada pode me parar. Esses sentimentos são imprescindíveis para você seguir em frente e se orgulhar de si mesmo. Adam agora é revestido por tais sentimentos. Esse sou eu. E eu não sigo sozinho. Ao meu lado todos estão transbordando confiança de dias melhores. Todos estão de mãos dadas. Nós não chegaremos ao fim se formos sozinhos. Então nós acreditamos na nossa força. Esse sou eu!

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Eu agora sigo de carro com meu pai até a minha antiga cidade. A estrada é boa e as janelas estão abertas. Eu quero o vento entrando. Isso é um símbolo de novos ares. Meu pai me observa atento. Ele realmente me conhece.

Os óculos escuros não deixam o bom e velho sol de interior nos intimidar. São 9:00 da manhã e falta pouco para chegarmos.

- Adam - ele interrompe meus pensamentos.

- Sim, pai.

- Você realmente está bem com a decisão de voltar não é? - ele perguntou sem tirar os olhos da estrada.

- Já conversamos sobre isso. Entendo totalmente sua preocupação, pai. Mas eu sinto que voltar é o certo comigo mesmo. Eu estou voltando por mim. - Sorri ao fim da frase demonstrando segurança em minha decisão. Ele apenas concordou com o movimento da cabeça.

Durante o tempo em que vivi com meu pai ele soube de absolutamente tudo o que ocorreu comigo naquele ano, assim como em relação as pessoas envolvidas. Em relação a elas, o sr. Montenegro me pediu apenas que eu não me aproximasse de Ricardo, Pedro e Karina, já que para ele, eles não eram dignos de perdão. É bem verdade que de lá pra cá eu mudei, até por que eu concordei com meu pai até certo ponto. Não guardo mágoas de nenhum deles. Mas a confiança já foi perdida e para mim qualquer tipo de relação com os três é o mesmo que atirar no pé.

Meu pai me ajudou a me moldar como um homem. Eu precisava sair da fase adolescente confuso para jovem formado e decidido. Ele me mostrou o caminho quando eu me vi sem saída e quase desisti.

Inclusive ele sempre acreditou que meu caminho era Medicina. Por isso me apoiou na decisão de abandonar o curso de Engenharia para voltar ao cursinho. Eu entrei em engenharia mais por impulso mesmo. Não consegui a pontuação necessária para medicina naquele ano.

Quando voltei ao cursinho me dediquei ao máximo e consegui alcançar meu objetivo. Naquele momento senti que agora estava no caminho certo.

Quanto a meus amigos, eu fui um egoísta. Não mantive contato com Eduardo e nem com Gabriela. Eu sofri muito por não falar com minha amiga, mas assim que cheguei em são paulo quis me desvencilhar de tudo e todos. Assim que entendi que não deveria excluir uma das pessoas que mais me ajudou nesse tempo, soube por minha flor que a decepção foi tão grande que Gabriela já não queria mais falar comigo. Eu não forcei. Perdi minha amiga. Soube pela vó Rosa que Gabi ajudou o irmão na luta contra o alcoolismo e passou em literatura na universidade local. Ou seja, um dos meus objetivos no que tange meu retorno era recuperar nossa amizade.

Quanto a minha flor, pedi para que ela não desse notícias minhas. Ela foi sincera com todos até a desistência deles. Mas seu relacionamento realmente continuou trazendo grande felicidade para ela. Professor Antônio se divorciou da esposa amigavelmente, deixando-a morar na casa enquanto ele passou a viver com minha avó. Eles compraram juntos dois carros fiat uno e aumentaram a casa. Pelas fotos estava realmente linda e é óbvio que quando soube de meu retorno ela tratou de me convidar a voltar para meu quarto. Eu aceitei. Não tenho vergonha de morar com quem amo. Por isso decidi morar com os dois, pelo menos até eu encontrar algum bom local para viver perto da universidade.

Chegamos à cidade. Não mudou muito. Alguns centros comerciais novos. O shopping reformado, assim como a praça principal. Passei por minha antiga escola. Era próximo do início do ano letivo. Desci do carro e fui cumprimentar os funcionários que ali estavam, preparando o local para o inicio das aulas. Todos me receberam super bem e ficaram bem alegres com meu retorno, assim como desejaram-me muita sorte e sucesso em minha nova caminhada. A diretora me parabenizou e disse que sempre soube que ali era meu lugar e que eu atingiria meus objetivos. Eu só pude agradecer a todos por toda colaboração. Muita gente não se liga, mas qualquer pessoa pode contribuir para seu sucesso, por menor que a contribuição seja.

Já no carro enquanto eu colocava o cinto, dei uma última olhada solte um leve "obrigado" enquanto dávamos a partida até a casa de minha avó.

O caminho de árvores ainda estava lá. As casas pouco mudaram. Passamos pela casa de Eduardo mas pedi que não parássemos. Até que chegamos a casa de minha avó. A casa estava realmente maior. Eles aumentaram a cozinha e adicionaram mais um quarto no andar de cima, e todo o imóvel estava bem pintada de branco com detalhes salmão. Agora tínhamos uma bela varanda, com duas cadeiras belíssimas posicionadas uma ao lada da outra. Notei também a presença de maior variedade de flores do lado de fora. Era uma bela casa.

Enquanto estava ali atônito com tantas mudanças a porta lateral se abriu e logo fui recebido por um cocker inglês branco com suas grandes orelhas e manchas pretas. Ele pulava bastante em mim, então abaixei-me para fazer algum carinho enquanto meu pai dizia que ainda não tinha conhecimento desse "novo hóspede". Foi então que nossa atenção pelo novo amiguinho foi interrompida por uma voz conhecida.

- Acho que ele já te ama como eu te amo - Eu parei por um segundo e me levantei.

Lá estava a minha flor. Não havia mudado nada. Ela estava ao lado do meu antigo professor, parada, olhando-me com seus olhos marejados, assim como os meus. Ficamos nos olhando por alguns segundos enquanto tentávamos vencer o sentimento de emoção pela saudade. Observando minha avó eu me senti em casa de novo. Lembrei-me rapidamente de nós tomando seu café da tarde, ou de quando eu tentava acordá-la enquanto assistíamos filmes. Lembrei-me também de nossas conversas em meu quarto e me vi saindo de casa correndo para pegar o ônibus em direção a escola. Foi aí que as lágrimas vieram para nós dois.

- Flor...- eu disse com a voz embargada enquanto ela estendia os braços em minha direção. Eu só pude correr até ela e lhe dar um caloroso abraço, 3 anos depois de minha partida. Ela parecia mais baixa e mais frágil. Na verdade eu é que estava mais alto e um pouco mais forte devido aos anos que se passaram.

Após um beijo em minha testa para selar novamente nossa aliança eu cumprimentei seu Antônio e ajudei meu pai a retirar minhas coisas do carro a fim de me instalar novamente.

- Seu quarto estava esperando por você meu neto Adam - disse dona Rosa mostrando-me que ele estava do jeito que eu deixei. - eu sempre acreditei que você voltaria.

- Nós limpávamos quase todos os dias, Adam - surpreendeu-me seu Antônio - ela nunca deixou de acreditar. - Ele foi interrompido por um tapinha nas costas dado por minha vó - Ela não gosta mas eu falo mesmo - rimos juntos.

Descemos para tomar café e começar a preparar o almoço. Conversamos sobre as expectativas para o ano na faculdade e sobre o que eu precisaria para iniciar meus estudos. Os deixei a par de tudo, inclusive de minhas decisões.

- Bom, como vocês sabem eu vivi muitas coisas há três anos atrás - disse seriamente - mas quero que entendam que eu não voltei para acertar as contas, ou terminar de resolver algo não resolvido. Eu vim viver minha vida mais uma vez. Vim focado a ser um bom universitário e a começar a lutar pelo meu lugar no mercado de trabalho. Esse é meu objetivo. Então eu não tenho expectativas sobre reencontrar as pessoas ou relembrar momentos. Mas minha flor, há algo que preciso fazer e você vai me ajudar. Ela sorriu

- Gabriela não é? - minha flor segurou em minha mão - Saiba que ela ficou muito decepcionada com você Adam. E com razão, você sabe disso.

- Sei minha avó. Esse é um erro que eu preciso reparar. E o quanto antes. Como eu sei que você ainda mantém contato preciso que ligue para ela e peça para ela vir aqui em sua casa. Não conte que eu voltei. Aqui eu conversarei com ela.

- Eu entendo, Adam. Mas você acha uma boa ideia aparecer assim para ela, filho? - Meu pai parecia preocupado.

- É melhor pai. Eu quero arriscar essa oportunidade. - eles então concordaram e minha avó ligou para Gabi convidando-a a vir almoçar em casa e ela aceitou. Em meia hora ela estaria por lá. Agora era só esperar. Então ficamos na sala de estar.

Eu confesso que a ansiedade e o medo me atingira, apesar de como sempre eu tentar não demonstrar. Minha família me conhecia bem então eles tentaram me dar forças para não sentir medo ou insegurança. Foi aí que a campainha tocou e minha avó foi atender. Eu só pude ouvir aquela voz doce de menina-mulher que eu tanto amava e admirava acalentar meu coração mais uma vez.

- Oi dona rosa. Eu trouxe suco de morango. Sei que vocês amam e eu queria contribuir - então eu me levantei do sofá e me virei para vê-las. Elas estavam se abraçando.

Minha amiga estava bem vestida com um belo vestido florido e óculos de grau. Ela estava linda. Seus cabelos negros estavam mais longos e ela parecia maior em tamanho. Foi aí que percebi que elas já haviam se separado e agora Gabriela olhava em minha direção de forma confusa e quase chorosa.

- Voc...você? - Minha amiga parecia não entender o que estava acontecendo. Todos estavam de pé esperando que algo ocorresse até eu quebrar o silêncio.

- Gabi eu...

- Não - ela apontou em minha direção e saiu porta afora o mais rápido que eu pode imaginar.

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Pois bem, leitores. Esse capítulo se encerra com esse grande encontro que não saiu como o esperado. Até certo ponto eu entendo os dois lados mas me coloco no lugar de Gabriela e percebo o quão difícil deve ter sido para ela ter passado esses anos sem notícias de seu amigo. Comentem se gostarem. Espero por esse feedback. Adam voltou!

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