Incertezas

Conto de GarotoComum como (Seguir)

Parte da série Epifanias

Lá estava eu, no carro com um belo rapaz de olhos negros e sorriso encantador. Eu não sabia muito o que fazer, estava envergonhado. Não conseguia dizer muito, apenas respondia todas as perguntas ou concordava com tudo o que Ricardo falava, com respostas rápidas. O silêncio reinou depois dos cinco primeiros minutos. Logo, Ricardo quebrou o silêncio:

- Adam? - ele não olhava para mim já que estava olhando para a frente

- Eu – disse em tom seco e preocupado.

- Você por um acaso está nervoso – dessa vez ele vivou para mim e deu aquele sorriso, agora mais cínico, como se estivesse tendo prazer em deixar-me ainda mais constrangido.

- Eu não – fitei o chão – é só que, estou preocupando com algumas coisas, mas nada de mais.

- Você sabe que se precisar eu estou aqui – ele deu uma pausa antes de continuar – sempre.

- E eu agradeço. Sério. - eu o olhei, sorriso e encostei rapidamente minha cabeça e seu ombro. Logo tirei. Ele sorriu e continuou dirigindo.

Chegamos ao “Brasis”. Um belo lugar. Nada muito sofisticado, mas também, não tão simples, certamente o dono pensou justamente na simplicidade para deixar cada cliente confortável. Era um local aberto, com uma varanda poucos metros acima do chão, a qual era interligada a uma escada para o acesso ao piso superior. Em volta o restaurante haviam muitas arvores, dando um ar natural, como se estivéssemos em um bosque. Ricardo desceu e pediu para ainda não descer. Não entendi, de início, o porquê, até ele dar a volta no carro e abrir a porta para eu sair. Eu ri sem graça, mas agradeci.

Entramos e logo sentamos na mesa perto da varanda. Sentamos perto de um casal com uma criança de poucos meses de idade. Não me contive e comecei a brincar com a criança. Amo crianças, acho-as fofas e engraçadas.

- Você será um bom pai – Ricardo disse enquanto eu me sentava.

- Eu acho que vou mais babar do que cuidar de meus filhos hehehe – ele me olhava de forma tão carinhosa.

Pedimos nossa refeição. A comida estava deliciosa. Conversamos, rimos, nos conhecemos. Foi tudo muito agradável e revelador. Ricardo me contou à respeito de sua difícil relação com sua irmã e seus pais.

- Eles brigam o tempo todo. Encontram qualquer motivo para ficar falando besteiras dentro de casa. Sempre foi assim, desde pequeno os ouvia gritar da sala e depois se pegar no banheiro – eu ri – desculpe... sei que você não é de ficar falando sobre essas coisas.

- Como assim? - olhei com os olhos semicerrados

- Você é o típico cara certinha. Se bem que, típico você não é né – ele riu.

- Desculpa mas, não estou entendendo nada – eu estava confuso.

- Bom – Ele deu uma pausa, organizou-se na cadeira, colocou os cotovelos em cima da mesa com as mão unidas embaixo do queixo, olhou para mim antes de desvendar sua visão a meu respeito – você não é só o cara certinho que não traz problemas para a família e provavelmente entrará e umma boa faculdade para uma grande careira. Você é muito do que as pessoas gostariam de ser. Tipo eu rs.

- Ta bom. Pode parar, senhor Ricardo. Você é um dos caras mais legais que eu conheço. Não deveria pensar assim. Você é tudo de bom – eu falei sem pensar. Fiquei envergonhado. Ele me olhou com um olhar cínico e sorriu. Eu retribui o sorriso de forma sem graça.

- Sabe, Adam. Eu gosto de você. Gosto mesmo. Por isso preciso te alertar que não sou tudo de bom como você disse. - ele ficou sério e envergonhado – sou só mais um playboy tentando chamar a atenção. Minha irmã me odeia por eu ser um canalha. Sinceramente é o que eu sou. Eu vivo me escondendo. Nunca demonstro meus sentimentos. Eu brinco com eles, faço graça para burlar qualquer demonstração de sentimentos. - eu o olhei preocupado.

- Ei...todos precisamos mudar algo não é mesmo? Eu sei que mal nos conhecemos mas, quero que saibas que pode contar comigo. Sou bom ouvinte hehehe.

- Eu sei que posso – ele aproximou sua mão da minha e a segurou. Dessa vez eu não queria deixar de me expor. Eu queria fazer algo, então, apertei sua mão e sorri para ele.

Começou a chover. Saímos depressa e entramos no carro. Nos molhamos pouco, mas a chuva ficou bem mais forte. Decidirmos ficar ali esperando ela passar um pouco.

- será que vai demorar muito para passar essa chuva?

- Sinceramente..eu até que estou gostando - disse Ricardo recostado sobre o banco olhando para os caminhos de agua formados no vidro frontal do carro. Eu corei.

Ali ficamos. Conversando sobre a vida. Sobre nossas histórias. Ricardo sabia ser divertido e inteligente ao mesmo tempo. Descobri que ele, apesar de não gostar, estudava assiduamente, já que ele dizia em um dia ter dinheiro para viajar pelo mundo.

Eu precisava daquilo. Precisava me sentir especial com alguém. Entretanto, Eduardo não saia da minha mente. Isso me deixava cada dia mais confuso e triste. Eu realmente queria esquecê lo para poder aproveitar de forma completa. Ricardo e Eduardo são tão lindos que seria impossível acreditar que algo rolaria. Minha insegurança sempre fazia com que eu desse um passo atrás, por medo, em matéria de relacionamento.

- Acho que já podemos ir, Ricardo. A chuva está mais branda.

- Verdade. Uma pena...aqui estava tão bom. Agora tenho que levar você para sua residência. - eu corei de novo. Não sabia ao certo como reagir diante de Ricardo. Ele definitivamente era sexy.

Não demoramos muito para chegar em minha casa. Minha flor não estaria lá. Foi ao bingo semanal (que de semanal não tem nada, já que dificilmente ela vai).

- Bom...está entregue. - ele olhou para mim com "aquele sorriso".

- Bom Ricardo...eu queria te agradecer. Foi muito divertido. Gostei muito de você - eu errei de novo e numa súbita tentativa de concertar as coisas. O que não deu certo.

- ops...foi mal. Quis dizer que eu gostei de sair com você. Eu não gosto de você. Ou melhor. Não é que eu não gosto - já começava a tremer e suar - só não gosto muito. Não que você seja alguém chato e por isso eu não goste. Eu gosto..mas de um jeito. - saí atropelando as palavras - E nesse momento você deve ter percebido que eu me atrapalhei todo tentando explicar uma coisa que nem mesmo eu entendi. Foi mal - eu encostei minha testa acima do porta-luvas de forma envergonhada.

Ele tocou em meu ombro e eu o encarei. Ele tocou em minha bochecha.

- Ei. Você não sabe o quanto é fofo. - ele olhava em meus olhos como se esperasse que eu dissesse algo e foi se aproximando lentamente. Eu não tinha certeza do que estava sentindo, não queria tomar alguma atitude precipitada sem ter completa certeza de que era aquilo que eu queria. Eu queria...mas não sabia se o queria. Pensei em Eduardo e não consegui continuar. Encostei minha testa com a dele e olhei para baixo.

- A gente pode ir mais devagar? - eu sussurrei. Senti que ele sorriu.

- Eu já esperava por isso. Não se preocupe - ele se afastou - eu espero. Agora está na hora de entrar, garoto.

- Obrigado. A gente se fala. - o abraçei sentindo seus bracos fortes e sai do carro. Ele esperou até que eu chegasse na porta antes de acionar a buzina e sair.

Entrei em casa e só conseguia pensar no que acabara de acontecer. Eu fiquei tão confuso. Muitas coisas passaram pela minha cabeça. O que fazer? Continuar com meu plano de me tornar um cara sedutor? Abrir meu coração para Ricardo? Tentar algo com o Eduardo? O qual só me deixava cada vez mais confuso? Eu sentia um aperto a cada vez que pensava nele. Hoje pela manhã até senti uma pontada de esperança por conta de suas atitudes. Eu precisava tirar a prova real. Se Eduardo gostava mesmo de mim, ele deveria demonstrar de alguma forma. Sentei em minha cama e peguei meu celular, mandei uma mensagem para Edu.

"Edu?" Logo ele respondeu

"Oi Adam....já chegou?"

" Já...queria que você viesse aqui em casa assistir filme. Estou sozinho"

"Opa...claro. meia hora e eu chego aí, ok?"

"Ok"

Eu teria que deixar rolar. Mas o problema é que eu não sabia como fazer isso. Toda vez que estava sob tensão eu falava besteiras, quebrava algo, caía. Mesmo assim eu precisava tentar. Não conseguia continuar na mesma situação.

Logo a campainha toca. Eu já havia preparado a pipoca e o filme já estava pronto para ser "rodado". Eu estava simples mas receptivo, uma camisa estilo gola "v" preta lisa e uma bermuda branca. Estava frio por causa da chuva que voltara durante a tarde. Dirigi-me à porta e a abri. Eduardo estava ali, lindo. Usava uma camisa branca de mangas compridas, uma bermuda marron e percatas, estava com seu guarda-chuvas segurando uma sacola de doces, olhando-me de forma tão fofa que dava vontade de abraça-lo. Ele sorriu quando me viu. Eu retribui o sorriso e o fiz entrar.. seus cabelos encaracolados estavam um pouco molhados mas cheirosos.

- Que chuva cara. Achei que não viria. Meu pai não queria me trazer. Eu tive que implorar rs.

- Que bom que você veio. O clima está tão friozinho. Gosto assim para assistir filmes.

- E que filme veremos? - conversávamos sentados em uma bancada da cozinha.

- O Exorcismo de uma doida lá? Não lembro o nome

- Emily Rose, Adam. Eu já vi - ele ria.

-Qual é? Não há algum filme de terror que você não tenha visto?

- O que me deixa admirado é o fato de você querer assistir a um filme de terror. Seu medroso.

- Sei lá. Estou tentando gostar. E você gosta então...

- Ah...entendi. Está tentando me agradar.

- Estou tentando ser o que sempre sou. Uma boa pessoa. - eu fiz cara de santo. Eduardo parecia bem em estar ali.

- Então vamos assistir.

- Vamos!

Nos acomodamos no sofá com nossas guloseimas e começamos a assistir. Eu só conseguia olhar para baixo quando o suspense começava. O que mais me assustou foi ler "Baseado em fatos reais". Eduardo estava certo. Eu sou medroso. Ele só ria dos meus chiliques.

- Não vou abrir meus olhos. Me diz quando passar essa parte, Edu - disse eu tapando minha visão com uma das mãos.

- Ah não, Adam. Você vai assistir sim. Eu fico perto de você. Qualquer coisa você encosta no meu ombro hehehe - ele disse aproximando-se de mim e retirando minhas mãos. Eu bem que tentei continuar vendo o filme, mas durante uma das cenas na fazenda, não consegui. Em um dado momento eu me virei e encostei minha testa no ombro de Eduardo. Ele ria e e segurava em meu rosto.

- Pronto. Já passou - ele disse levantando meu rosto. Eu o olhei envergonhado.

- Não acredito que fiz isso. Eu sou muito idiota mesmo rs. - sorri sem graça. Ele continuou me encarando e sorriu sem tirar a mão da minha nuca.

- Você não sabe o quanto é fofo. - mais uma vez nossa respiração ficou mais ofegante e fomos nos aproximando. Dessa vez eu ia deixar rolar. Aquilo estava me deixando feliz e excitado. Eu queria ter certeza então tiraria a prova. Eduardo foi aproximando seu rosto do meu e antes que pudéssemos nos aproximar o bastante para que nossos labios se tocassem meu celular começou a tocar. Eu me assustei e em um pulo peguei me celular.

- Desculpe. É o Ricardo - Eduardo olhou-me decepcionado e irado. Eu me dirigi até a cozinha para falar com Ricardo.

- Oi Ricardo.

- Adam. Oi. Liguei para saber se está tudo bem. Se sua casa não foi engolida pela chuva ou se você não foi sequestrado. - eu ri.

- Não não. Eu estou bem. Aparentemente vivo e assistindo filme.

- A tá. Eu só queria saber mesmo. Hoje foi ótimo. Queria que pudéssemos repetir.

- Nossa foi mesmo. Acho que podemos sim... - fui brucamente interrompido. Eduardo pegou o celular colocou em cima do galpão e me virou para ele. Eu fiquei assustado com sua velocidade. Ele colocou seus braços acima do balção de forma que eu ficasse "preso" a ele

- O...o que você está fazendo? - eu o olhei assutado.

- Estou deixando fluir - ele disse antes de me beijar. Ele me beijou como se estivesse precisando daquilo. Eu estava assustado mas delirando por dentro. Nos beijávamos com verocidade como se estivéssemos liberando tudo o que sentíamos. Seus lábios eram tão macios e o beijo estava tão gostoso. Fomos diminuindo o ritmo até ele se afastar e me abraçar. Eduardo parecia assustado e confuso assim como eu. Antes de me soltar e sair pela porta bruscamente ele sussurou um "me desculpe".

Eu fiquei ali perplexo com o que havia acontecido. Fechei meus olhos e toquei em minha boca em meio a um sorriso. "Eu sabia" disse eu. Sentei me no sofá e lá fiquei até pegar no sono.

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Quanto tempo galera. Perdoem-me pela demora. Acabei "deixando para amanhã o que eu poderia ter feito hoje". Tenho estado um pouco ocupado com muitas responsabilidades e logo pego no sono. Quero dizer que não vou deixar de escrever. Essa história ainda tem muito a oferecer. Adam não é mais um "herói" com um grande amor. Ele é mais do que isso. E você vai descobrir o por quê. Obrigado a todos que até aqui acompanharam. A história vai continuar e o fim ainda vai demorar. Então. Acostumem-se com o nosso heroi, Adam. Próximo capítulo até amanhã Abraços!

Comentários

Há 1 comentários.

Por igoroliveira em 2015-07-08 14:23:37
Hoooow da dia está melhor... E o adam, parece mais a humano agora... Também errando e tal... ^^