Capítulo 9: 2 segundos

Conto de GarotoComum como (Seguir)

Parte da série Epifanias

O coração é algo muito complexo. as vezes torna-se difícil controlar nossos sentimentos por meio da razão. ela simplesmente não funciona. Gostar de alguém, para mim estava se tornando algo tão fundamental e confuso que estava ficando cego. Minhas atitudes haviam mudado por conta de uma simples situação. No jogo da paixão você nunca sabe ao certo o que fazer. Entretanto, sabe-se que você não pode ficar parado.

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Naquela manhã, tudo foi natural. Professores desesperançosos quanto o desempenho de seus alunos, alunos reclamando do excesso de trabalhos a fazes, meninas correndo como loucos atrás de meninos, os garotos do time de futebol sendo “os gatos do futebol”, etc. Eduardo não veio para a aula. Mandou uma mensagem dizendo que seu pai precisava dele para “alguma coisa”. Eu e Gabi conversávamos a respeito das atitudes do garoto anjo. Para mim ele parecia tão infantil, mas para Gabriela, ele parecia outra coisa.

- A-p-a-i-x-o-n-a-d-o – ela falou forte. Parecia até que pretendia me engolir com sua enorme boca ao pronunciar tal palavra.

- Você acha mesmo? - eu não sabia certamente o que pensar. Não queria me iludir ao pensar que o Eduardo pensava em mim da mesma forma que eu penso nele. Eu sei que algumas – muitas – de suas atitudes diziam o contrário, contudo, hoje, tudo tem se tornado tão complexo que nem mesmo eu entendia esse lado da mente humana.

- Adam, para mim está mais do que claro. Ele só não está sabendo lidar com isso. Se bem que, ultimamente, você também não está sabendo lidar com isso. Amigo. Você está diferente. Cuidado para acabar não sofrendo.

- Gabi. Compreendo sua preocupação. Mas agora não tem volta. Vou com meu plano adiante. Sinceramente? - aproximei-me com os olhos semicerrados e um pequeno sorriso cínico – eu estou gostando disso. Sinto-me excitado.

- Se você vai continuar, tudo bem. Mas depois não diga que eu não avisei.

Durante o intervalo, eu e Gabi nos sentamos em uma das mesas de centro daquele grande salão. O engraçado é que por mais estranho que possa parecer, aquele local era meu preferido dentre os setores da escola. Deve ser por causa das grandes paredes de vidro, as quais nos levam diretamente para o campo de futebol, as quadras, as arquibancadas. O sol, ilumina o local de uma forma única, mas não deixa o local quente, por conta dos ar condicionados. Enquanto eu saboreava meu sanduíche esperando minha amiga de madeixas negras voltar com seu lanche, Ricardo se aproxima de mim com sua bandeja. Ele, como sempre, lindo, usava um moletom da cor azul marinho, aberto por zíper, por cima do uniforme escolar. Isso destacava seus músculos e contrastava com sua pele branca. Ele sorria enquanto chegava perto de minha mesa , de modo que me deixava de certa foram, desconcertado.

- Posso? - perguntou-me Ricardo, já supondo que eu soubesse o que de fato ele perguntara.

- Claro. É uma honra ter Ricardo Avelar, um dos garotos recorde de popularidade em tão pouco tempo. Eu até perguntaria como você consegue. Mas não...não ligo para essas coisas. - eu dizia enquanto ele se sentava.

- Sabe que nem eu – ele se inclinou para dizer aquilo – nem acho o motivo de tanta atenção. Sou só um garoto com dinheiro que participa de uma banda, a qual, um dia fará sucesso internacional, com um belo corpo e o sorriso mais sedutor que você – ele apontou para mim – já viu.

- É.. já vi que a humildade não é o forte das pessoas populares.

- Ui Adam..essa doeu. O que houve com o garoto prodígio?

- Desculpe – eu ri e olhei para baixo – não consegui evitar rs.

- Não se preocupe. Na verdade eu até que gosto. - ele me olhava com aqueles olhos penetrantes. Como se quisesse encontrar algo dentro dos meus.

De longe percebi que Gabriela nos observava. Ela parecia, como de costume, incomodada com a presença do irmão. Por dois segundos ela parou de andar em nossa direção como se pensasse seriamente em sentar conosco. Entretanto, ela se sentou ao meu lado.

- Oi Gabi. - Ricardo falou educadamente.

- Oi – disse Gabi secamente e com a cara fechada.

- Bom, Adam – disse Ricardo voltando-se a mim – vou indo. Nos encontramos na hora da saída, então. Eu concordei com um simples “ok” e ele saiu em direção a mesa em que seus amigos estavam sentados. Gabriela continuava de cara fechada.

- Por quê você o trata assim, Gabi? De forma tão...tão rude – eu precisava ser sincero com minha amiga.

- Desculpa, Adam. É por quê nós não nos damos bem. Você sabe como é minha louca família. O Ricardo já me decepcionou muito. As vezes tenho até vergonha de ser sua irmã. Ele não é nem um pouco, humilde, prestativo, bondoso e amigo. Ele é seu oposto, Adam. E sempre será assim.

- Você tem certeza de que será sempre? As pessoas mudam, Gabi. Quem sabe ele não esteja precisando de alguém como você para ensinar o que a vida e as coisas tem de bom para nos oferecer e o que nós podemos doar. Dê essa chance para ele. - eu dei uma pausa, fitei a mesa e quase que em um sussurro falei - Nós nunca sabemos o dia de amanhã, não é mesmo? - ela entendeu o recado. Eu lembrei de meu irmão. Eu bem queria que ele estivesse aqui comigo. Gabi pegou em minha mão e a massageou.

- Eu entendo. Prometo que vou tentar. Você tem razão.

- rs..é. Faz isso, por mim.

- Farei.

- E eu tenho novidades. Não sei se você vai gostar mas...seu irmão me convidou para almoçar em um restaurante aqui por perto. - ela me olhou assustada.

- Como assim, Adam? Você e meu irmão em um encontro?

- Calma...não é um encontro. É só um almoço entre dois caras que estão se conhecendo rs.

- Adam, isso é um encontro. - disse minha amiga perplexa – eu nunca imaginei que meu irmão pudesse ser gay. E agora? O que eu faço, Adam?

- Gabi. Não sei se o Ricardo está interessado em mim – apesar de ter quase certeza – não sei se ele é gay. A gente só vai sair como dois amigos. Nada de mais. Mas se..se ele tiver algum interesse. Eu falo para você. E você deve conversar com ele. Pode ser a deixa para vocês terem uma boa relação.

- Você tem razão. Desculpe-me pela minha reação...mas é que eu realmente acho que ele quer algo a mais, Adam. Por isso preciso processar tudo isso. Nossa...quem diria: meu melhor amigo, do qual já me apaixonei, saindo com o meu irmão, que diga-se de passagem é um gato. Apesar de todas essas informações serem difíceis de digerir em um primeiro momento, preciso admitir que isso é muito fofo. - nós rimos – se isso for bom para os dois. Eu não irei de contra. E prometo que procurarei me aproximar do Ricardo.

- Agora sim...gostei de ver. Sabe que pode contar comigo não sabe ? – ela assentiu com a cabeça e nós nos abraçamos.

O sinal tocou e nós entramos. Enquanto Gabriela senta-me em sua cadeira eu segui até o “fundão”

para falar com Amanda. Ela estava mexendo no seu iPhone quando eu cheguei. Amanda é uma moça inteligente, apesar de não parecer. Tenho consultas com sua mãe, já que ela é Odontóloga.

- Amanda...oi – ela me olhou como se tivesse visto um fantasma.

- Adam?...é você – ela sorriu

- Sou eu sim rs..eu queria saber se você sabe do Edu, não consigo falar com ele por mensagens e o celular não atende. - eu menti – hoje terminaremos nosso trabalho e eu preciso dele para concluir – eu menti de novo.

- Adam..eu não falo com o Eduardo. - eu me assustei com aquilo.

- Como assim, não fala. Vocês ontem, estavam ficando. Eu achei que..- ela me interrompeu.

- Aquilo foi algo até inesperado. Ele parecia desesperado rsrs. Fiquei assustada. E sim. Ficamos. Mas foi só. Nem falo direito com ele. Ele é gato mas não faz o meu tipo. Eu gosto é dos tímidos, - ela olhou para mim como se fosse me devorar.

- Obrigado pela informação – eu precisava fugir de qualquer presa da Amanda. Ela parecia uma louca. Por isso saí tão rápido, dando as costas. Sentei em meu lugar.

Gabriela perguntou-me o que havia acontecido já que ela percebeu minha apreensão. Eu a disse que apesar de planejar me aproximar de Amanda, esta não seria uma boa ideia. Amanda era tão louca que chegava a ser insuportável. Eu não podia abrir uma brecha para ela se infiltrar na minha vida, transformando-a em um inferno. Não costumo julgar as pessoas, contudo, Amanda era um caso a parte. Eu conhecia a peça.

Assistimos as aulas tranquilamente. Durante a aula de física, até senti saudades das dúvidas de Eduardo. Eu evitei pensar nele durante as aulas mas era quase impossível. Quando se está começando a gostar de alguém, todas as situações podem alimentar esses sentimentos, caso você deixe. O problema é que experiência nesses assuntos é algo que não tinha. Eduardo permeava minha mente vez ou outra. Seus olhos claros, sua boca rosada com lábios bem delineados, seus cachos castanhos-claros. Gostar de um garoto poderia ser até algo estranho de se estar acontecendo, contudo, eu me sentia completo por pensar em dividir minha vida com um cara. Eu pensava sobre todas essas coisas enquanto a aula ia acabando. Gabriela falava comigo mas nem prestava a devida atenção a minha amiga, apenas forçava palavras que com concordassem com ela como “verdade” ou “é mesmo”, eu estava submerso em meus confusos pensamentos, como um robô, ou como algum aparelho ligado no modo automático. Enquanto andava distraído pelo corredor, indo em direção ao grande portão, alguém me puxa pelo braço jogando meu corpo ao seu encontro. Quase que em um susto, Eduardo me puxou, colocando-me em sua frente, próximo de seu rosto. Depois disso ele me abraçou.

- O que você está fazendo seu maluco? - eu disse assustado

- Desculpa hahaha...foi espontâneo – disse ele sorrindo.

- O que você está fazendo aqui? E por quê me puxou desse jeito? Me assustei rs.

- Bom, eu vim com o intuito de conversar com você à respeito do trabalho, também vim para pedir desculpas pessoalmente. Quando cheguei, a aula ainda não havia terminado então fui até a lanchonete, voltei e você já estava indo em direção a porta. Parecias no mundo da lua, chamei por você sem sucesso então te puxei e cá estou. - ele abriu os braços de forma descontraída. Eduardo parecia mais feliz do que de costume. - então? Como ficou resolvido a nossa questão do trabalho?

- Bom. - eu lhe entreguei umas anotações – aqui está todo o planejamento que fiz à respeito do que você falará. Releia, reestude e aprenda que tudo estará “no papo” - eu fiz aspas com as mãos.

- Certo chefe. - ele disse, colocando todas as anotações dentro de sua pequena mochila, a qual ele trouxe prevendo que iria receber alguma anotação minha. Eduardo já me conhece. Sabe bem o meu jeito organizado de trabalhar - E o que você vai fazer agora? Vamos comer algo? - Apesar de meus esforços para deixá-lo com ciúmes, naquele momento eu não queria recusar o convite e dizer que eu estava prestes a sair com Ricardo. Entretanto, eu não podia mentir. Senti-me mal por ter que dizer, mas eu deveria.

- Olha Edu. Desculpa mas.. - eu cocei a cabeça enquanto ele me olhava confuso – eu já tenho planos – eu sorri sem graça – vou almoçar com o Ricardo.

Foram necessários dois míseros segundos para eu perceber o quão triste ficou Eduardo. Durante esses dois segundos pude vê-lo decepcionado, frustrado, triste e enraivado. Ele me olhou primeiramente como se não acreditasse no que eu havia acabado de dizer. Depois ele encarou o chão como se aceitasse uma possível derrota, antes de sussurrar um “ah..sim”. Eu até queria me sentir por cima, mas algo lá dentro não me deixava. Eu fiquei triste mas não transpareci. Logo ele quebrou o silêncio.

- Então vocês marcaram de sair – ele disse calmamente antes de continuar – nossa...isso foi tão rápido rs. Ele acabou de chegar e vocês já vão sair para almoçar – ele fitava o chão enquanto falava.

- Na verdade ele que me convidou, e eu aceitei. Estava precisando sair um pouco. - aquilo não estava ajudando. Eduardo me encarou antes de dizer o que parecia estar entalado.

- Era só me dizer que a gente saía. O problema é esse, você não fala – ele aumentou o tom de voz.

- Calma, cara. Por que você tá falando assim comigo? Desculpa, tá... - ele me interrompeu.

- Ei ei ei...desculpa. Eu acabei de ter um ataque de ciúmes por quê quero sair com algum amigo mas não consigo rsrs...desculpa.

- Bom...sendo assim. Podemos sair também. O que acha?

- Eu topo...mas eu que escolho o local. - eu concordei. De uma hora para outra estava animado. Aquilo não era um encontro, mas eu gostava da companhia de Eduardo. Acima de tudo éramos amigos, gostávamos das mesmas coisas e nos dávamos super bem. Logo saímos da escola e nos separamos.

Eu segui até o estacionamento para encontrar Ricardo. Ele possui carro, um corolla preto, então eu iria com ele. Enquanto me aproximava o vi encostado no carro, com os braços cruzados olhando para o relógio. Assim que me viu abriu aquele sorriso que eu tanto amava. Ricardo tinha mudado de roupa, ele usava uma camisa polo branca e seu cabelo parecia molhado. Ele deve ter ido ao banheiro para se aprontar.

- E então? Estou apresentável?

- Olha... parabéns viu?! Estou me sentindo tão desarrumado, agora. - eu ri de meu estado.

- Que nada...você está ótimo – ele disse tentando me confortar. - diria até que está lindinho – ele disse entrando no carro. Eu fiquei sem graça. Entrei no carro e partimos em direção ao restaurante.

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É curto mas prometo que o próximo será maior. Obrigado pela atenção de todos. Abraços!!

Comentários

Há 4 comentários.

Por Legal em 2015-02-18 15:58:06
Está muito bom, embora a mudança radical de comportamento do Adam me assuste.
Por Ryan Benson em 2015-02-07 23:15:25
Olha, sinceramente eu tô torcendo pelo Ricardão, fala sério, ele é um partidão e tanto rsrs, eu ficaria com ele sem pensar duas vezes. Está perfeito Adam, como sempre. E caso queira saber, eu estou bem. Só esperando a poeira baixar... assim que puder eu falo contigo. Abraços 😊
Por rithor em 2015-02-05 21:50:12
Lhe felicito por sua série, ela é realmente ótima...
Por BielRock em 2015-02-05 12:28:57
Adorando . Cara tá ficando cada vez mais emocionante de ler . O Eduardo ficou com ciúmes e ficou com a louca hahahaha . Agora o playboy perdeu para o Ricardo que já está de olho no Adam . Mas mesmo assim o Eduardo vai ter um “encontro“ com o Adam . Esse jantar do Ricardo e do Adam promete . Continua , beijos .