Capítulo 8: "Seus olhos estão..."
Parte da série Epifanias
Eu estava com raiva. Mas dessa vez eu não queria transparecer. Para quem não sabe, sou escorpiano e apesar de eu não acreditar nas previsões da astrologia, há algumas características em mim que são genuinamente escorpianas. Eu consigo ser frio e calculista, entretanto, nunca precisei. Até hoje! Aquele garota realmente estava me fazendo de idiota. E não parou só no beijo, ele teve a coragem de sentar perto de mim e da Gabriela e de ficar contando o quanto Amanda era gostosa e o quanto ela estava na sua.
- Sério. Há muito tempo que eu não beijo de forma tão deliciosa. Quê isso?! Essa garota me tira dos eixos hahaha – diz Eduardo com uma cara muito cínica. Eu estava sorrindo por fora mas me contorcendo por dentro. É difícil não transparecer a raiva, mas não impossível. Gabriela estava preocupada comigo. Ela me olhava desconfiada, como se esperasse que fizesse algo. Nem parece que ela me conhece. Se bem que, esse meu lado ela não conhecia.
- Amanda já deu em cima de mim – eu disse secamente – foi logo quando eu entrei na escola. Por um bom tempo ela tentou algo comigo, até que deixei claro que não sentia o mesmo por ela. Deve ter sido doloroso – o olhei com um sorriso irônico – tadinha...
- Sério isso? Nossa. Coitada mesmo – disse Gabriela.
- hum.. - Eduardo se sentiu incomodado. Ele logo virou já que o professor acabara de entrar.
Eu me senti tão bem por ter dito isso. Por ter o deixado incomodado. Era uma mistura de prazer com alegria. Eu gostei de não me sentir por baixo. Comecei a achar que deveria fazer isso mais vezes. Quando acabou a aula me aproximei de Aline – a garota que já me pediu em namoro e exigiu a serenata.
- Oi Aline – eu falei me aproximando dela. Aline é bonita. Tem o cabelo castanho liso e olhos verdes. Sua pele clara os destaca bem.
- Adam? Oi – ela disse visivelmente animada e nervosa.
- Então, eu queria te dar essa agenda. Me deram durante as férias de Julho, mas eu não preciso dela. Como eu sei que você escreve poemas, muito bem por sinal, decidi te dar – enquanto eu falava, não parava de olhar para seus olhos. Ela parecia surpresa e feliz. Eu sabia que ela ainda gostava de mim.
- Adam...isso é incrível. Obrigada. Mesmo. - eu entreguei uma agenda que nunca tinha usado. Na verdade eu só pensei em dar para ela durante a última aula. Ela seria fundamental para algo que eu estava planejando.
- E queria te pedir desculpas por ter me afastado. Acho que fui meio rude com você. Eu só estava meio assustado – eu olhei para baixo com as mãos nos bolsos e voltei a encará-la.
- Ah...que isso Adam...passado é passado rs.. nem ligo mais pra isso. Bom...na verdade um pouco. - ela sorriu sem graça. Eu olhei no fundo dos meus olhos antes de dizer algo que seria fundamental para “trazê-la de volta”.
- Seus olhos...estão brilhando agora. - ela sorriu e ficou vermelha. - bom..tenho que ir. Amanhã a gente se fala. Ok?
- Super o.k rsrsrs
Enquanto eu saia ouvi ela falando com sua amiga “você viu isso?” de forma animada. Eu saí triunfante. Nossa. Que sensação maravilhosa a de estar “no controle” de outros. Eu estava no caminho certo. “Agora só faltam mais três”, pensei. Fui direto para a ala onde Ricardo estuda. Gabriela e Eduardo deveriam estar me procurando, já que sai de uma forma tão rápida. Eu cheguei na ala em que encontraria com o Ricardo. Eu precisava me aproximar dele, mas para isso precisava de um primeiro motivo que além de nos aproximarmos, o testasse. Eu queria saber se ele realmente estava flertando comigo. Queria saber de suas intenções. Ele estava saindo de sua sala quando o encontrei.
- Oi, Ricardão. Ops...isso foi meio estranho de se dizer...desculpe rsrsrs
- Que nada. Oi Adam...qual é a boa? Quer companhia?
- Na verdade quero bem mais do que isso – eu o encarei e ele me olhou um pouco assustado. - acalme-se, pequeno gafanhoto. Eu preciso de uns conselhos.
- A tá rsrs...então vamos andando e conversando – seguimos juntos pela escola.
- Bom...é que tem uma garota que gosta de mim...mas tipo. Gosta muito.
- Vish...até já ví.
- Bom...ela se chama Aline. É bonita, mas eu não sei se sinto algo por ela. Ela até já me pediu em namoro mas não aceitei por causa disso. O problema é que eu ganhei uma agenda e como não uso agendas, pensei em dar a alguém. A primeira pessoa que veio em minha mente foi ela. Então estou preocupado – eu parei e o olhei fingindo preocupação. - será que isso é um sinal de que gosto dela?
- Adam...você já se apaixonou? - ele não podia ter perguntado algo tão propício.
Eu olhei no fundo dos seus olhos.. respirei fundo e comecei meu discurso sedutor.
- Eu na verdade, acho que sim...tem uma pessoa que eu não tiro da cabeça. rs...eu até uns dias atrás nem sabia o que era sentir isso. Mas agora acho que sei o que é sentir a paixão. - eu fechei meus olhos – é você sonhar que está beijando essa pessoa, como se só vocês dois existissem. É quando você sente seus batimentos cardíacos aumentarem só de estar no mesmo ambiente que ela. Quando se está apaixonado sua respiração fica ofegante quando estão próximos. Você queima por dentro e se sente limitado por não poder demonstrar o que sente pela pessoa. - eu abri meus olhos e ele me olhava como se estivesse raciocinando. Eu sorri e me aproximei ele. Aumentei minha respiração e disse – e você, Ricardo? Já se sentiu assim?
- Acho que...já. Tipo. Nesse momento – ele disse sem demonstrar nenhuma emoção. Ele parecia assustado.
- Seus olhos...mesmo escuros, estão brilhando agora rsrs. - Eu sorri olhando em seus olhos. Enquanto nos encarávamos, alguém vinha gritando pelo meu nome. Era Eduardo. Ele não podia ter chegado em hora melhor. Nos afastamos antes que ela chegasse.
- Até que fim te encontrei, Adam...ah. Oi – ele disse para Ricardo.
- Oi – Ricardo apertou a mão dele.
- Por que estava me procurando? Tem um sujinho aqui no seu rosto – eu limpei algo que não existia.
- Ah...te procurei par irmos juntos para sua casa – ele enfatizou o “sua” olhando para o Ricardo.
- Ele vai para a sua casa, Adam? Por quê?
- Por que temos um trabalho a fazer – respondeu Eduardo por mim.
- Edu...você esqueceu que terminamos? Naquele dia que assistimos filme, lembra?
- Ah...é verdade. - ele disse meio decepcionado.
- Então acho que ele não vai para a sua casa hoje..não é Adam?
- Acho que não rs...
- Mas vamos juntos...não é Adam? - eles me encararam, esperando uma resposta. Aquilo até que estava interessante, então eu devia dar prioridade para um para testar o outro.
- Acho que sim, Edu. Pegamos o mesmo ônibus não é? - eu precisava tratá-lo de forma natural.
- Então tchau, Ricardo – Edu apertou a mão dele e foi saindo. - vamos, Adam.
- Espere – eu fui em direção ao Ricardo e o abracei – obrigado por me ouvir – disse em seu ouvido. Ele ficou lá. Parado nos olhando ir embora.
Pegamos o ônibus. Não troquei uma palavra com ele. Eu estava de fones. Então ele mesmo se encarregou de tirar os fones para que eu o ouvisse.
- Você ouviu o que eu disse? - perguntou Eduardo.
- Não. Estava ouvindo música...desculpe – eu sorri.
- Eu acho que a Amanda gosta mesmo de mim – ele falou aquilo para me provocar. Só podia.
- E isso é bom? - disse não mostrando-me interessado
- Não sei se sinto o mesmo por ela. Talvez. Isso melhora minha imagem no colégio hehehe.
- Nossa, Edu. Parabéns. Você é mais um daquelas pessoas que se importam mais com um rótulo a ser construído do que com o verdadeiro caráter humano. Continue assim, talvez os seus filhos sigam o mesmo caminho do pai ao procurarem por uma vida de capas e afins. E outra. Quando você perceber que esse tipo de coisa é tão ridícula quanto alguns penteados da Lady Gaga, cuidado para não ser tarde mais. Por quê nem sempre as pessoas acompanharão os seus rótulos de danoninho ou qualquer outro produto que necessite ser rotulado. Tenha uma boa tarde, Eduardo. - eu disse tudo de forma tão acelerada que ele nem teve tempo de se defender. Enquanto falava ia me dirigindo até a porta do ônibus já que estava chegando no meu ponto. Eu vi que enquanto eu falava ele ia ficando constrangido. Nem pensei muito...apenas falei. Estava chateado e dessa vez, queria que ele percebesse. Queria que ele se sentisse mal e fosse pedir desculpas.
Ao chegar em casa pedi a minha flor que prepara-se uns biscoitos e em um deles, recheasse por cima, um coração feito de calda de morango. Passei a tarde estudando e lendo um livro. Falei com Gabriela sobre o que havia ocorrido e pedi que ela tratasse Eduardo de forma natural. Ela concordou. Logo depois de nos falarmos, chegou uma mensagem de um número desconhecido.
- “OI. Sou eu...o cara idiotamente engraçado”- Na foto era o Ricardo. Ele estava sem camisa.. que corpo maravilhoso.
- “Oi Ric....posso te chamar assim '-' ? ”
- “Mano..me chama como quiser. Queria saber se a gente pode marcar de sair qualquer dia desses. Vamos comer algo diferente amanhã? Não almoçamos em casa...o que acha?”
- “Gostei da ideia. Estou precisando sair um pouco..mas onde vamos?”
- “Tem um restaurante perto da escola. Se chama Brasis ...tem um ótimo rango e não é caro”
- “mas quanto vai custar mais ou menos? Preciso de um parâmetro”
- “Nem se liga nisso. Eu faço questão de pagar”
- “Me recuso. Então não vou U.U ”
- “pow, leque. Faz o seguinte...leva quanto podes levar que amanhã a gente resolve... o.k?”
- “o.k, então. Abraços!”
- “bjos..”
Depois de conversar com Ricardo, recebo uma mensagem do Eduardo.
“ Cara. Me desculpa. Eu não queria que pensasse essas coisas de mim. Eu não sou assim...acho que falei aquilo só para te impressionar. Me desculpa por favor. Fala comigo.”
Eu respondi.
“Cara. Sem problemas...eu também fui muito rude. Desculpe. Não quero perder você.”
Escrevi o perder você propositalmente. Justamente para fazê-lo pensar que eu estava nervoso. Logo escrevi.
“não perder você, você. Perder sua amizade. Não que eu queira te perder ou não queira te perder. Isso seria meio cruel da minha parte tals...não que eu não me importe com você. Eu me importo..só não excessivamente; tá. Eu me importo..mas não tanto...ah...você entendeu.”
Esperei pela sua resposta. Certamente ele pensou o quanto eu havia ficado nervoso por ter escrito aquilo. Eu sabia que isso iria dar mais certeza a ele de que eu estava sentindo algo diferente por ele e logo ele demonstraria o que sente....ou não. Ele respondeu:
“eu entendi rs”
Não respondi nada. Passei a tarde e a noite em meu quarto. Pela manhã ao chegar na escola, procurei por Fernanda – a garota que havia me dado aquele bombom.
- Fernanda – eu me aproximei com as mãos para trás.
- Oi, Adam – disse ela desconcertada.
- Eu estava pensando esses dias o quanto fui frio com você. Você me deu aquele bombom e eu disse um obrigado tão seco. Acho que eu no seu lugar iria me sentir mal desculpe.
- Quê isso, Adam. Eu fui um pouco inconveniente mesmo – ela disse meio envergonhada.
- De qualquer forma...eu queria te dar isso – lhe entreguei um recipiente de plástico, transparente com um laço vermelho. Ao abrir ela se deparou com biscoitos. O de cima, possuía um recheio com formato de coração. Ela me olhou como se não acreditasse – e aí...gostou?
- Se eu gostei? Adam, é maravilhoso...obrigada. Você é incrível.
- Eu só queria mostrar para você que me importo. - peguei em sua mão – desculpe-me.
- É claro seu bobo rsrsrs.
- Engraçado... - eu disse olhando em seus olhos castanhos.
- O quê?
- Seus olhos....agora estão brilhando mais do que nunca – eu a encarei por alguns segundos antes de me despedir. Ela ficou lá...acho eu, tentando processar tudo aquilo.
Pensei comigo...ótimo. Só falta uma pessoa. Continuei andando pelos corredores da escola até vê-la entrando na sala. Ela seria a última. Eu faria quatro pessoas se apaixonarem por mim, deixando o Eduardo louco de ciúmes e também tirando dele todo e qualquer título de galã. Se ele sentia algo por mim...eu queria que ele sentisse que estava me perdendo, e ainda por cima, perdendo para mim. Estava tudo certo...Ricardo, Aline e Fernanda estavam na minha. Eu sentia isso. Eu entrei na sala e a vi onde ela sempre sentava, lá no fundo.
- “Amanda. Você é a próxima” – pensei.