Capítulo 23: Pôr do Sol

Conto de GarotoComum como (Seguir)

Parte da série Epifanias

Capítulo 23:

Seguir em frente muitas vezes pode ser complicado. Muitas vezes você se engana ao pensar que as coisas realmente mudaram, pessoas foram perdoadas, amores perdidos e afins. Então quando essa realidade volta a fazer parte de seu cotidiano você percebe que lá no fundo nada mudou, você só colocou uma lona que facilmente foi arrancada pelo vento. Nesse contexto, há aqueles que realmente seguiram e estão bem com isso. Na verdade é difícil de entender a realidade dessas pessoas. “Você nunca me amou?”, “então eu nunca fui tão importante para você para receber um perdão tão fácil?” os outros perguntam. Seguir em frente é complexo, é uma atitude corajosa ou covarde, mas pelo menos é uma atitude clara de quem quer mudar sua realidade, seja ela boa ou ruim.

- Me conte. – devolvi sua pergunta sem rodeios.

- Assim na lata? Sem suspense? Sem que eu precise procurar as palavras certas pra ninguém sair magoado? – Gabriela parecia incrédula.

- Gabi. Eu não havia perguntado por uma questão de oportunidades. Se ele seguiu com a vida dele que bom. – eu levantei da cama e abracei minha amiga – que bom de verdade. E eu queria me desculpar com você pelo fato de não considerar sua amizade com ele quando nós dois nos afastamos. Fiquei tão cego pela rejeição que só considerei o que eu sentia. Me perdoa por favor.

- Nem precisa se dar ao trabalho, Adam. De qualquer forma a gente se afastou também.

- E por quê? Vocês se davam muito bem.

- Nem eu entendi. Mas o Eduardo sempre foi estranho, Dan. Já que eu acredito que isso é passado vou dar minha opinião, tá?

- Claro. Sem problemas. – respondi com segurança.

- Bom. Em minha humilde e sincera opinião ele estava confuso desde o início. Ele se deu bem contigo de cara, Dan. E você também sempre foi muito receptivo. Mas sempre foi diferente também. Um dia o Ricardo me disse isso “nunca subestime o que o Adam pode fazer com você. Ele é especial demais pra não causar nenhum efeito”, e eu guardei isso. Ele não disse isso com pretensão negativa. Ele quis dizer que em algumas pessoas você causa aquela “estranheza” sedutora que muita gente gosta. Acho que não foi diferente com o Edu.

- Acho que entendi.

- Calma que eu ainda não acabei – seu entusiasmo para falar me lembrou da velha Gabriela de sempre. – Continuando. O Edu sempre te olhou diferente, desde o início. Primeiro era aquele ar de curiosidade, depois de admiração. Quando você estava namorando era mais pra conformação. E quando ele estava no mesmo ambiente da Karina e você era mais pra expectativa. Não sei se ele esperava algo de você ou dele mesmo. Mas ele não tinha as suas habilidades de esconder sentimentos e eu sempre fui profissional em decifrar as pessoas. Você sabe que foi meu professor né? – eu ri.

- Nessa tempo eu não percebi essas coisas por que eu tinha medo.

- Eu acho que ele também. Todos sentimos que podíamos magoar alguém se disséssemos algo. No dia que você foi embora e ele chegou durante sua partida foi de cortar o coração. Ele abraçou muito a sua avó e disse que estava arrependido de ter concordado com o distanciamento de vocês. Tivemos que trazer ele pra cá. Na verdade acho que ele até dormiu aqui no seu quarto.

- Eu soube pela minha avó. Mas pedi pra ela não me dizer mais nada então só sabia que ele havia dormido aqui.

- Mas depois daquele dia pouco nos falamos. Ele só me disse que iria seguir em frente que nem você estava fazendo. Mas parece que ele também não desistiu fácil de procurar por notícias suas, viu. Veio muitas vezes até aqui pra pedir que sua avó te deixasse recados até parar de vir. Daí não nos falamos mesmo, ele se afastou das pessoas que eu conhecia, soube que estava em um cursinho da cidade mas só.

- Espero realmente que todos sejamos felizes, Gabi. Sério.

- Eu também meu amigo. Agora me dá um abraço pra matar a saudade mais uma vez. – ela se assustou como se tivesse lembrado de alo muito importante. - Quase esqueci! Eu preciso te apresentar meu namorado, Diego. Vais adorar ele. Conheci na faculdade.

- Olha! Parabéns e até que enfim hein.

- Eu sei. Demorou mas alguém conseguiu fisgar meu coraçãozinho de pedra. Sério, vais amá-lo. Ele é bem parecido comigo.

Pouco depois minha “ex ex amiga” foi embora. Ela tinha algumas pendências em casa para resolver. O resto do dia foi agradável. Fomos convidados por seu Antônio a assistir o pôr do sol na varanda, e ele realmente estava certo quando disse que isso me ajudaria a me sentir em casa novamente. Aquele pôr do sol representava o findar um momento da vida, preparando para o início de outro. Por isso, eu quis ficar ali agradecendo por tudo e pedindo que minha nova vida fosse boa pois eu estava preparado para isso. Em três dias será a matrícula e a primeira reunião da turma com a coordenadora do curso e eu espero que meus colegas de turma sejam ótimas pessoas.

<3 dias depois>

- Estaciona aqui pai

- Onde é? É ali o local de matrícula? – ele apontou em direção de um grande prédio de portas de vidro.

- Ali mesmo

- Estás com todos os documentos não é? Tudo certo? Já olhou de novo pra ver se não esqueceu nada? Vamos fazer uma lista e....

- Pai! Está tudo aqui – eu sorri em sinal de agradecimento – Está tudo bem. A gente já passou por isso antes, ok? Agora eu preciso ir. Os primeiros são os alunos que possuem a letra A como a primeira do seu nome.

- Desculpe meu filho. Eu estou nervoso por você só isso. É seu sonho e eu quero que dê tudo certo.

- Eu sei. E vai dar. Você me espera aqui certo? Assim almoçamos juntos e depois volto pra cá ´para a reunião com a coordenadora.

- Ficarei aqui de prontidão

Nos abraçamos e meu pai ficou no estacionamento da universidade com o coração na mão... e seu celular também. Óbvio.

Assim que entrei percebi poucas pessoas esperando para que a sala de matrícula abrisse. Pouco mais de 3 minutos as matrículas estavam liberadas para serem feitas. Felizmente tudo ocorreu como planejado e eu consegui me matricular. Assim que entrei no carro fui parabenizado por meu pai pois agora eu era de fato um acadêmico de medicina.

Fomos para casa. Eu teria duas horas para voltar então havia bastante tempo para comer algo antes de sair. O frango de dona Rosa estava como sempre maravilhoso e me ajudou a ficar menos ansioso.

- É o primeiro dia dele, Antônio.

- Ele me disse. Vai se dar bem com todo mundo. Vais ver Adam.

- Obrigado, professor...digo...vovô...digo...seu Antônio.

Meu antigo professor sempre foi muito próximo de mim. Ele me ajudou em muitos momentos de vida curta vida. Ele esteve no enterro do Enzo, me apoiou quando eu decidi fazer Medicina, me apoiou quando eu descobri que era um cara gay e cuidou de dona Rosa enquanto não estive por aqui. Temos sorte de tê-lo por perto.

Meu pai estaciona o carro próximo da entrada da faculdade. Desta vez ele não vai precisar me esperar então após sua benção eu saio do carro. Entro no prédio voltado ao meu curso e procuro pelo auditório. Aparentemente estou atrasado pois não há mais ninguém nos corredores.

Assim que entro, com muito cuidado para não fazer barulho e sento em uma das últimas cadeiras. Percebo que a coordenadora do curso está no início do seu discurso de boas-vindas. Ela fala sobre a difícil escolha de entrar em uma faculdade de interesse e vocação, assim como das dificuldades que enfrentaremos diariamente por ali, principalmente por se tratar de uma faculdade pública.

- Então eu gostaria de dar as boas-vindas a todos. Quero que se sintam bem acolhidos aqui na nossa universidade. Mas agora gostaria de fazer uma dinâmica de apresentação com todos, ou seja, todos terão de participar. – “e lá vamos nós nos expor logo no primeiro dia”, pensei – Vai funcionar assim: chamarei vocês pela lista de matrícula individualmente, e a pessoa deverá ficar em pé e dizer seu nome, apesar de eu já ter dito – todos riram – e o por que de escolherem o curso.

“Que não seja em ordem alfabética, que não seja em ordem alfabética, que não seja...”

- Então vamos por ordem alfabética - “ahhhh...” – e o primeiro da lista é: Adam Montenegro.

Em prontidão eu levantei para fazer o que foi pedido e acabar logo com aquilo.

- Olá Meu nome é Adam Montenegro e eu entrei em medicina por que...

- ADAM???

Fui interrompido por uma voz que vinha das primeiras poltronas. Era uma voz que eu não poderia esquecer. Uma voz grave mas doce, suave mas forte, de amor e tristeza, de decisão e saudade. Até certo ponto eu não estava acreditando que aquela voz podia ser dele. Então eu olhei subitamente em direção a voz.

.....

....

...

..

.

Eduardo estava perplexo, de pé na primeira fila de poltronas, e todos estavam sem entender absolutamente nada do que estava acontecendo.

“Merda”

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Enquanto eu sentir que eu posso ajudar alguém com essa historia eu continuarei postando. Os comentários me interessam menos do que a possibilidade de que alguém pode estar sendo inspirado. Não desista da felicidade!

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