Capítulo 19: A festa

Conto de GarotoComum como (Seguir)

Parte da série Epifanias

Capítulo 19:

Apesar de me sentir levemente atraído por aqueles olhos, eu não sentia grandes coisas pelo Pedro. Mas confesso que eu gostava do jeito altamente sincero que ele tinha, apesar de saber que aquelas atitudes eram mais para ser notado, mesmo.

- Você é engraçado, Pedro.

- Só engraçado? E o bonito, sexy, atraente, sedutor, esperto, inteligente?

- Prepotente, Fútil, Egoísta, Egocêntrico...o que mais?

- Ok Ok...não está mais aqui quem falou.

- Desculpe. Eu geralmente não sou de falar assim com as pessoas. Mas é que, pra falar a verdade, você, até certo ponto, me irrita.

- Isso é incrível! - Pedro disse animado

- Como assim?

- Quer dizer que causo algo em você. Causo algum efeito. Isso é bom. Melhor do que nada.

- Você é engraçado – rimos juntos – apesar de seus objetivos serem voltados para seus desejos pessoais, obrigado por esse apoio. Estava meio desesperado.

- Não pareceu

- Acredite. Nunca parece. Pelo menos não deixo transparecer....esse sou eu.

Pedro olhava-me curioso enquanto se arrumava para entrarmos, faltavam menos de dez minutos. Ele aparentemente havia aprendido todas as músicas, o que demonstrava claramente sua habilidade no instrumento.

Enquanto os meninos se aprontavam eu procurei me concentrar atrás do palco, onde haviam poucas pessoas. Fiquei tentando não estar nervoso, escorando-me em uma parede olhando para o teto. Não percebi a chegada de Pedro, o que para ele era bom. Só percebi quando ele estava ao meu lado, com seu corpo virado para mim.

- Que propício não acha?

- Você de novo – eu sorri – pare de me seguir.

- Pra falar a verdade, não consigo. Preciso te mostrar algo.

- O quê? - besta como sou, nem percebi o que ele queria dizer.

- Isso! - e de forma bem clichê, ele me beijou. Primeiramente eu relutei, mas ele me segurou, depois fui cedendo, cedendo, até que me veio a imagem de Ricardo. Não podia fazer aquilo com ele. O problema é que antes de eu parar por conta própria algo me parou antes. Ouvi passos e um “Ham” de susto. Infelizmente eu reconhecia aquela voz. Depois de o olhar assustado, Eduardo, fechou os lábios e me olhou sério.

- Edu...eu..eu...não é o que..

- Não, Adam. Quê isso...a vida é sua, você faz o que quiser. Não precisa se preocupar em me explicar – ele parecia decepcionado.

- E essas flores?

- Eu..- ele as olhou e olhou para mim mais uma vez – é pra Karina. Eu vim justamente pra te perguntar se você a viu.

- Mas você não pode..você se lembra do que seu pai..

- NÃO IMPORTA O QUE VOCÊ, MEU PAI OU O ESCAMBAU DIZEM!! - Ele gritou de tal forma que eu estremeci. Pedro apenas o encarava.

- Por quê você está gritando comig...

- EU AMO A KARINA, ADAM. NÃO SEI SE VOCÊ SABE O QUE É ISSO, MAS EU A AMO. E NEM VOCÊ, NEM NINGUÉM VÃO ME SEPARAR DELA.

- Não grita comigo, Eduardo! - comecei a me alterar.

- Você não é meu pai ou algo do tipo. Você não manda e desmanda em mim, Adam. Você não tem esse poder. Então....fo*se você.

Eduardo saiu visivelmente irritado, e eu fiquei em choque. Não estava entendendo sua atitude. Fiquei com raiva e muito triste. Aquelas coisas não podiam estar acontecendo ali e naquele momento. Agora sim eu estava nervoso.

- Que idiota, ciumento. Vem cá, Adam. - Segurou-se Pedro

- Não, Pedro...me deixa um pouco sozinho – eu nem consegui olhar pra ele – por favor.

- Ah sim...claro.

Pedro saiu e eu fiquei lá. Primeiro, Ricardo não apareceu e me disse coisas horrorosas pelo telefone, depois Eduardo grita comigo sem motivo. Naquele momento eu comecei a pensar em desistir, em ir embora e me trancar no meu quarto. Eu pensei em falar umas verdades pro Edu e pro Ricardo. Pensei em me vingar ficando com Pedro ou acabando com a apresentação. Contudo eu só pensei mesmo.

Cheguei a conclusão de que eu não poderia deixar minha felicidade depender de pessoas, com exceção de minha avó. Talvez até de meu pai e minha mãe, mas nada além dessas pessoas. Lembrei que meu irmão Enzo, lutava contra tudo contra todos pela própria felicidade e que o seu sorriso era a melhor arma. Meu irmão me ensinou sobre ser especial, por que era o que ele representava. Ele surpreendia. Ele renascia de qualquer cinza e dava a volta por cima.

Foi assim que decidi que tudo o que eu cantasse naquela noite seria em sua homenagem.

O salão estava incrível, pessoas se divertindo, comendo e bebendo, bem vestidas, ansiosas pelo resultado do título de mais belos da noite. Estávamos nos aprontando no palco quando enxerguei Gabi do outro lado do salão ao lado de Eduardo. Ele me olhava com raiva e ela com ares de preocupação. Eu tentei não deixar que nada mais me atingisse, não iria me ligar em Eduardo ou Ricardo, ou Pedro, iria me concentrar no que estava fazendo.

Após o anúncio de nossa entrada e o delírio da escola eu me aproximei do microfone, olhei em direção a Gabi, a qual me mandava forças e disse: Essa é para você, irmão.

Eu fechei meus olhos e cantei com minha alma, enquanto lembrava de nossa infância:

Quando você tenta o seu melhor, mas não tem sucesso (Fix You - Tradução)

Quando você consegue o que quer, mas não o que precisa

Quando você se sente cansado, mas não consegue dormir

Preso em marcha ré

Abri meus olhos e os levei até Gabi que sorria emocionada. Ela sabia o quão Enzo era especial para mim. O quão importante ele foi para que eu entendesse qual o meu lugar no mundo.

Quando as lágrimas começam a rolar pelo seu rosto

Quando você perde algo que não pode substituir

Quando você ama alguém, mas é desperdiçado

Pode ser pior?

Agora eu dirigi minha visão para a Eduardo, que me olhava de forma séria, mas com os olhos marejados. Talvez ele estivesse arrependido do que disse. Talvez tivesse percebido que havia se excedido sem grandes motivos. Talvez...

Luzes te guiarão até em casa

E aquecerão teus ossos

E eu tentarei, consertar você

Bem no alto ou bem lá embaixo

Quando você está muito apaixonado para esquecer

Mas se você nunca tentar, você nunca saberá

O quanto você vale

Fechei os olhos mais uma vez para que as lágrimas pudessem rolar. A imagem de minha flor abraçando-me veio em minha mente. Em todos os momentos difíceis ela estava lá me dando força. Desde minhas noites em claro choroso pelo falecimento de Enzo até o dia que me assumi homossexual. Como eu amava aquela senhora.

Luzes te guiarão até em casa

E aquecerão teus ossos

E eu tentarei consertar você

Nesse momento a música aumenta. Então decidi desabafar para a vida tudo o que precisava através de cada palavra da música. Decidi por pra fora tudo o que antigamente eu restringia. Aquela era a minha verdade. Eu precisava expô-la.

Lágrimas rolam no seu rosto

Quando você perde algo que não pode substituir

Lágrimas rolam pelo seu rosto

E eu

Olhei para Pedro que sorria de volta enquanto tocava. Pude também ver Karina chorosa com as duas mãos sobrepostas na direção do coração e a testa franzida.

Lágrimas rolam pelo seu rosto

Eu te prometo que vou aprender com meus erros

Lágrimas rolam pelo seu rosto

E eu

Fechei meus olhos mais uma vez e lembrei de tudo o que descobri sobre mim mesmo nesses meses. Lembrei do primeiro dia em que vi Eduardo, do dia em que sai com Ricardo, dos dias em que passei noites chorando e lamentando por um amor não correspondido, e dos dias em que Ricardo bebia e parecia não saber se controlar.

Luzes te guiarão até em casa

E aquecerão teus ossos

Então abri meus olhos enquanto pensava o quanto mudei, enquanto cresci, nesses ultimos meses. Cheguei a conclusão de que onde Enzo estivesse, estaria orgulhoso. Agradeci a ele mentalmente depois de cantar a última frase da canção

E eu tentarei, consertar você

Fui aplaudido por todos do salão, assim como pelos próprios músicos, os trigêmeos e Pedro. Estava em êxtase. Muito feliz. Pedro olhou-me e sorriu de forma sincera, enquanto eu devolvia o sorriso na mesma proporção e forma. Acho que são momentos assim em que você respira fundo, enche-se de orgulho e segue em frente, sabendo que aquilo ficará marcado, tornando-se um divisor de águas em sua vida.

Nós ainda tínhamos quatro músicas para tocar e não muito tempo, então nos apressamos. A próxima música a ser tocada era Celebrar, uma música altamente dançante que me fez esquecer de qualquer problema enquanto tocávamos. Eu já havia entendido há muito que na vida as coisas acontecem, na maioria das vezes, por quê fazemos acontecê-las, assim como, elas “desacontecem” por quê promovemos isso. A sacada é que podemos reverter uma situação a nosso favor justamente para não sofrermos. Naquele momento meu pensamento era de que não importa o que acontecesse, aquela noite seria lembrada de forma muito positiva, e eu faria dessa forma.

Próxima música, Radioactive (Imagine Dragons). Música forte, voltada para o rock, veio na hora certa, Pedro aproveitou cada momento da música. Ele vibrava, gritava, pulava com a guitarra. Eu já havia entendido que ele amava essa música. A galera vibrou, pulou bastante e se divertiu. Eu só pensava o quão divertido aquilo estava sendo e que definitivamente estava gostando de cantar para um monte de gente. No início foi estranho, já que eu nunca gostei de exposições, mas depois eu fui curtindo, me soltando.

Antes de passar para a próxima música, eis que ocorre algo que ninguém esperava. Uma queda de energia justamente durante a festa. Tudo ficou escuro até que as luzes de emergência acenderam-se.

Todos ficamos perdidos, as pessoas não paravam de falar e de se abanar. Tudo parou. A diretora apareceu no lado do palco nos avisando que precisariam de algum tempo para que o gerador funcionasse, mas precisávamos fazer algo para “entreter” a todos.

- Afonso – pegue aquele cajon ali de trás e vem comigo – peguei meu violão e levei um banquinho. Deixei o resto da banda no palco e disse a eles o que deveriam fazer no momento certo. Todos chegaram a achar que eu iria embora, mas logo entenderam que eu precisava ficar no meio do povo. Eduardo estava lá, ainda ao lado de Gabriela, mas agora ao lado de Karina, segurando sua mão e me encarando, assim como as duas garotas. Aquilo de alguma forma me doeu, eu não queria aceitar, mas havia possibilidades de eu ainda sentir ciúmes dele. Eu engoli a seco, posicionei-me bem no centro com Lucas Afonso ao meu lado. Comecei a tocar sem nada dizer:

Quando me encontro em momentos difíceis (Let It be - Beattles)

A minha Mãe Mary vem até mim

Dizendo palavras sábias

Deixe estar

Voltei meus olhos para Eduardo. Ele continuava a me olhar sem nenhuma reação aparente. De qualquer forma eu tentei não ligar pra isso naquele momento, apenas continuei.

E nas minhas horas de escuridão

Ela está em pé bem diante de mim

Dizendo palavras sábias

Deixe estar

Deixe estar, deixe estar

Deixe estar, deixe estar

Sussurrando palavras sábias

Deixe estar

Nessa hora percebi que a energia já estava voltando, logo, tudo estava correndo como planejado. Mesmo assim continuei no meio deles. Apenas pisquei para Lucas Afonso a fim de que fizesse sinal para o resto do grupo.

E quando as pessoas sozinhas

No mundo concordarem

Haverá uma resposta

Deixe estar

Pois embora possam estar separados

Eles verão que ainda há uma chance

Haverá uma resposta

Deixe estar

Levantei-me ainda tocando, as pessoas foram abrindo espaço para que eu passasse e fosse em direção ao palco. Elas foram aplaudindo enquanto as luzes acendiam e os instrumentos começaram a dar corpo a música. Lucas afonso ia na minha frente a fim de chegar na bateria.

Deixe estar, deixe estar

Deixe estar, deixe estar

Haverá uma resposta

Deixe estar

Assim que cheguei no palco fui direto para o microfone enquanto fazíamos um medley de Let it be com Hey Jude. Assim que cheguei todos deram uma pausa de milissegundos para iniciar:

Na na na na na na, na na na, Hei Jude

Na na na na na na, na na na, Hei Jude

Na na na na na na, na na na, Hei Jude

Ver todos aqueles braços levantados de lá pra cá cantando em uma mesma sintonia foi algo bem louco. Tudo havia saído como planejado. Olhei em direção a Gabi e ela estava lá, linda, divertindo-se, mas Eduardo já não estava lá. Olhei para Pedro que apenas sorria, assim como os trigêmeos.

Na na na na na na, na na na, Hei Jude

Na na na na na na, na na na, Hei Jude

Fomos ovacionados. Nunca havia sentido tudo o que senti naquele momento. Tudo deu certo e ainda foi melhor do que eu esperava. Eu sinceramente não me preocupei com reconhecimento ou algo do tipo. Estava preocupado em me sentir orgulhoso do que estava participando, e era assim que me sentia, orgulhoso.

Última música. Uma música voltada para os casais apaixonados: Sem ar. Tudo foi bem no modo romântico, casais dançando, beijando-se, fazendo juras de amor eterno e coisas do tipo.

Não demorou muito e a música acabou, arrancando mais aplausos. Sai do palco com sensação de dever cumprido. Nos abraçamos e nos cumprimentamos, os meninos foram ótimos, assim como trabalhar com eles, foi muito bom.

Pedro aproximou-se e nos abraçamos, ele deu um beijo em meu pescoço fazendo me arrepiar por inteiro. Afastei-me o mais rápido que pude.

- Para, Pedro! - exclamei

- Qual é, Adam. Seu boymagia super turbinado e gostoso nem tá aqui, além do mais, ele deve ter te magoado bastante, a julgar pela sua cara de bunda depois do telefonema e do furo que ele deu em vocês. - eu apenas o olhava sério. - Por isso que eu sou mais eu. Sou bonito, rico, não ligo para o que os outros dizem e pela sua cara de “quero ir pra cama com você mas sou puro demais para pensar em coisas assim” sei que tenho chances...

- Por quê você é tão....tão..tão nojento?

- Nojento?

- Desculpa a expressão. Tentei encontrar outra mas não consegui – sorri.

- Eu prefiro sincero. - ele fechou os olhos arqueando as sobrancelhas. - Agora voltando ao assunto “nós” eu e você temos muito mais a ver do que você acha.

De certa forma gostava de Pedro. Ele me fazia sentir desejável, porém, dependente. Nunca gostei de me sentir assim. Sempre gostei de ter controle da situação e mesmo que eu pudesse me impor a ele, Pedro achava que tinha poder sobre mim. Mas ele não conhecia um lado meu, então achei que seria legal mostrar a ele como respondo diante dessas situações.

- Sabe Pedro – dei a volta e fiquei de costas pra ele – eu sinceramente te acho gostosinho – virei minha cabeça e olhei em seus olhos com meu olhar e sorriso sedutor – é só que...tenho medo de que isso dê errado – o olhei com ar de preocupação – quer dizer..você é todo lindo e rico e eu...mais um no meio de tantos – fitei o chão.

- Não, Adam. Você não é só mais um – ele aproximou-se e segurou em meus ombros – eu senti algo de diferente com você. Nem sei bem explicar o que é. Eu só acho que estou...

- Xiii – coloquei meu indicador em sua boa – está gostando de mim – nos olhávamos intensamente – mas sabe, Pedro. - toquei em seu queixo – Eu não sou seu brinquedo. Seu idiota!

Me separei dele, virei e sai, deixando-o sozinho gritando por meu nome.

Fui para a festa e procurei por Eduardo, não o encontrando. Encontrei Gabi em uma mesa e perguntei se ela o havia visto, já que precisávamos conversar. Eis que a notícia de que ele havia ido para a área externa com Karina me afetou.

Me desvencilhei de todas as pessoas do caminho para enfim chegar ao portão de acesso da área externa. Abri e lá estavam os dois sentados em um capô de um carro, beijando-se. Naquele momento percebi que ainda haviam sentimentos por Eduardo, logo, ver quilo foi como levar várias facadas no peito. Mas diferente das outras vezes, não chorei. Apenas voltei a porta e entrei na festa. Fui em direção a mesa em que Gabi estava e a chamei para dançar. Relutante, ela aceitou e fomos para o meio da galera pulando sem parar.

Durante toda a noite eu me diverti como nunca ao lado de Gabi. Pedro ainda veio para o nosso meio e dançou bastante também. No mais, me diverti. Diferentemente de Eduardo e Karina que após seu retorno não saíram da mesa e ficaram lá de cara fechada. Pensei comigo “deu certo” e continuei a dançar ainda mais.

- A noite é uma criança!!! - esbravejei bem alto, arrancando gritos entusiasmados do pessoal em volta.

Comentários

Há 2 comentários.

Por Dinho2 em 2017-04-29 23:03:09
acho que desistiu de escrever a história queria tanto saber como continua muito boa narrativa ta de parabéns
Por Jeeh_alves em 2015-12-09 23:20:16
Ameei *-* Continue 😍😏