Cap. 2 Conhecendo o aplicativos de encontros.

Conto de FelipeM.B como (Seguir)

Parte da série Alter: Homens dividos

"O sapo perseguiu a mosca

Em volta do pé de amora.

O sapo achou irritante.

Mas a mosca - pluft! - foi embora. "

Edward Snow sabia exatamente por que gostava de cantar essa musiquinha boba.

Sua mãe sempre a odiou. "Pare de cantar essa música idiota. Está me ouvindo? Você nem

tem a voz para cantar! " "Está bem, mamãe." E Edward cantava repetidas vezes, na surdina.

Isso tinha sido há muito tempo atrás, mas a lembrança de desafiar a mãe ainda lhe trazia

uma certa alegria.

Edward Snow detestava trabalhar na Global. Aos vinte e dois anos de idade, era

brincalhão, cheio de vivacidade e ousadia. Era uma pessoa muito expansivo. Seu rosto

com ar travesso tinha um aspecto zombeteiro; seus olhos castanhos, um ar matreiro; toda

a sua figura, um jeito sedutor de ser. Tinha nascido em Londres e falava com um delicioso

sotaque britânico. Era atlético e adorava praticar desporto. especialmente os de inverno:

esqui, trenó e patinação no gelo.

Durante o período em que frequentou a faculdade, em Londres, Edward se vestia de forma

conservador durante o dia, mas à noite usava calças justas e adereços estilosod e se dava

a um comportamento permissivo. Passou inúmeras noitadas, grandes e pequenas, no

Electric Ballroom, na Camden High Street, e no Subterania e no Leopard Lounge,

enturmado como badalado pessoal de West End. Como tinha uma bela voz, voluptuoso e

sensual, dava canjas em algumas boates tocando ao piano e cantando, e o público

aplaudia. Foi a época em que se sentiu mais vivo.

A rotina nesses lugares seguia sempre o mesmo padrão:

- Sabe que você canta muito bem, Edward?

- Valeu.

- Posso lhe pagar um drinque?

Ele sorria.

- Eu adoraria tomar um Pimm's.

- Com prazer!

E tudo terminava sempre da mesma forma. O candidato acabaria chegando bem pertinho

e sussurrando ao seu ouvido:

- Por que a gente não vai para o meu apartamento e fica numa boa?

- Sem essa! - E Edward ia embora. Ficava deitado em sua cama à noite, pensando na estupidez

dos outros homens e em como era espantosamente fácil controlá-los. Os pobres coitados nem

sabiam, mas queriam ser controlados. Precisavam ser controlados.

E então veio a mudança de Londres para Cupertino. No início, foi um desastre. Edward

detestava a cidade e odiava trabalhar na Global. Era uma chatice ficar ouvindo falar sobre

dispositivos de encaixe e definição de imagem, fotogravuras. Ele morria de saudades da

agitada vida noturna de Londres. Havia alguns points na área de Cupertino, e Edward os

frequentava: San José Live, P J. Mulligan's ou Hollywood Junction. Usava calças

apertadas e camisetas ou regatas, com tênis de marcas caras.

Caprichava no visual, aplicando gel nos cabelos negros pra definir, passava até base, e no final . Era como se estivesse tentando ocultar

sua beleza.

Havia fins de semana em que pegava o carro e ia até São Francisco, onde a agitação era

maior! Buscava os restaurantes e boates com música ao vivo. Estava sempre no Harry

Denton's, no One Market e no Califórnia Café, e durante a noite, enquanto os músicos

davam um intervalo, ela ia para o piano, tocar e cantar. Os fregueses adoravam. Quando

Edward pedia a conta do jantar, os donos diziam:

- Não; fica por conta da casa. Você é maravilhoso! Volte sempre, por favor. Você ouviu isso,

mamãe? "Você é maravilhosa! Volte sempre, por favor "

Numa noite de sábado, Edward estava jantando no Salão Francês do Cliff Hotel. Os músicos

haviam concluído a primeira parte da apresentação e deixado o palco. O maitre olhou

para ele e acenou-lhe convidativamente com um leve gesto de cabeça. Edward se levantou e

atravessou a sala, em direção ao piano.

Sentou-se e começou a tocar e cantar uma antiga canção de Cole Porter. Quando

terminou, todos aplaudiram eufóricos. Ele cantou mais duas músicas e voltou para a

mesa.

Um homem calvo, de meia-idade, foi falar com ele.

- Com licença! Posso me sentar com você um instantinho só?

Edward já ia dizendo que não, quando ele acrescentou:

- Meu nome é Willian Cooper . Estou produzindo uma turnê de O rei e eu. Gostaria de

conversar com você sobre isso.

Edward tinha acabado de ler um artigo brilhante a seu respeito.

Ele era um génio do teatro.

O homem se sentou.

- Você é extremamente talentoso, mocinho! Está desperdiçando o seu tempo em lugares

como este. Deveria estar na Broadway.

- Broadway. Você ouviu, mamãe?

- Eu gostaria de fazer um teste com você para...

- Desculpe, mas não posso.

Ele olhou surpreso para ele.

- Uma coisa dessas poderia abrir muitas portas para você. Sério. Eu acho que você não

sabe direito o talento que tem.

- Eu tenho um emprego Fazendo o quê, posso perguntar?

- Trabalho numa empresa de informática.

- Quer saber de uma coisa? Eu começo pagando o dobro do seu salário lá, seja ele qual for,

e...

Edward falou:

- Eu fico muito agradecida, mas... não dá.

Cooper se recostou no espaldar da cadeira.

- Você não se interessa pelo mundo da ribalta?

- Eu me interesso, e muito.

- Então, qual é o problema?

Edward hesitou, depois disse com cautela:

- Eu provavelmente teria de abandonar a turnê no meio.

- Por causa de alguém, ou...?

- Não sou comprometido.

- Não estou entendendo. Você disse que se interessa pelo palco. Esta é uma oportunidade

excelente para você aparecer e...

- Eu sinto muito. Não dá para explicar. Se eu explicasse, ele não entenderia, pensou Edward,

arrasado. Ninguém entenderia. a praga maldita com o qual eu tenho de conviver Para

sempre.

Poucos meses depois de ter começado a trabalhar na Global, Edward percebeu a importância

da Internet, a porta mundial para conhecer homens.

Ela estava jantando num lugar chamado Duque de Edimburgo com Leonard Galdin, um

amigo que trabalhava numa empresa concorrente na área de informática. A casa era um

pub original da Inglaterra, que fora desmontado, embalado em conteineres e enviado

para a Califórnia de navio. Edward ia lá por causa do peixe ao estilo Cockney com batatas

fritas, das costeletas com pudim de Yorkshire, da linguiça com puré e do bolo ao rum

inglês. um pé no chão, diria. Não posso me esquecer das minhas raízes.

Edward olhou para Leonard

- Eu preciso de um favor seu.

- Pode falar

- Quero ajuda que me ajude com aplicativo encontros. Você tem de me ajudar a usar esse negócio.

- Edward, tem um app pra gays, dois na verdade que pode usar a vontade, Scruff e Grind...

- Nossa me conte.

Leonard falar sobre os app de encontros gays para Edward

- Sei.

Edward deu uns tapinhas na mão de Leonard e sorriu.

- Otimo!

Na noite seguinte, Edward foi para o quarto com Leonard, que ajuda baixa e instalar os apps, apresentou ao mundo

dos encontros com os homens. Leonard baixou o app, vinculou a conta de e-mail dele no celular ; em seguida, entram no app de encontros.

Edward ficou deslumbrado ao ver as fotos dos homens surgindo rapidamente na tela, conversas

digitadas entre gente do mundo inteiro.

- Que maravilha ter esse app! - falou Edward.

- Claro. É fácil. Basta so espera alguém te chamar ou você chama...

- Conforme diz a música... não quero que você me diga, quero que você me mostre.

Na noite seguinte, Toni estava no aplicativo scruff, e daí em diante sua vida mudou. Acabou-se a

chateação. O app se transformou num tapete mágico que a levava a passear pelo

mundo inteiro. Mal chegava do trabalho, Edward ligava o celular, entrava no app e ficava on-line para

explorar os vários recursos. Era muito simples. Ela acessava, chama um cara pra conversa ou o cara chamava ele.

apertava uma tela, e abria-se uma foto de um rapaz, dividida ao meio no sentido horizontal.

Edward digitava:

- Oi!?

Na parte inferior da tela surgiu:

- Oi! Sou Bob. tudo bem?.. .

Ele estava pronta para se encontrar com o mundo. Veio Hans, da Holanda:

- Fale-me de você, Hans. - Sou DJ numa grande boate de Amsterdã. Gosto de hiphop,

rave, Eletrônico e World beat. Pode escolher.

Edward digitou a resposta.

- Que legal! Eu adoro dançar. Viro a noite dançando. Moro numa cidadezinha horrível, que

não tem nada a oferecer, além de poucas discotecas.

- Que tristeza, hein?

- Nem me fale!

- Quer que eu lhe dê um pouco de alegria? Quais são as chances de um encontro entre nós

dois?

- Tchauzinho! - Ele saiu do chat com Hans.

Veio Paul, da áfrica do Sul:

- Eu estava esperando você chegar, Edward.

- Aqui estou. Louco para saber de você, Paul!

- Tenho trinta e dois anos. Sou médico de um hospital em Joanesburgo. Eu... - Edward se

desconectou. um médico! Lembranças terríveis o assolaram. Ele fechou os olhos, com o

coração palpitando. Respirou fundo várias vezes. Chega por hoje, pensou, estremecido.

Foi dormir Na noite seguinte, Edward voltou ao aplicativo. Sean, de Dublin, entrou na linha.

- Edward... Que nome bonito!

- Obrigada, Sean!

- Você conhece a Irlanda?

- Não. .

- Iria adorar. É a terra dos duendes. Eu gostaria de saber como você é, Edward. Aposto que é

lindo.

Edward colocou uma foto de trás, mostrando a bela costa firme, pois mostrava que ele tinha um belo corpo esculpo por natureza, a parte inferior mostrava o seu belo bumbum redondo.

- Acertou. Sou lindo, excitante e solteiro. O que você faz, Sean?

-Trabalho num bar. Eu... Edward saiu do aplicativo.

Toda noite era diferente. Houve um jogador de pólo da Argentina, um negociante de

automóveis do Japão, um vendedor de uma loja de departamentos de Chicago, um

técnico de televisão de Nova York. O aplicativo era um jogo fascinante, e Edward a desfrutava

ao máximo. Podia ir tão longe quanto quisesse e, apesar disso, sabia-se segura, pois ficava

no anonimato.

Até que uma noite, no aplicativo, conheceu Felipe Amaury .

- Bon soir! É um prazer conhecê-lo, Edward.

- O prazer é meu, Felipe. Onde você está?

- Em Quebeque.

- Nunca fui a Quebeque. Será que eu iria gostar? - Edward achou que veria surgir na tela uma

resposta afirmativa.

Mas Felipe digitou:

- Não sei. Depende do tipo de pessoa que você é.

Edward ficou intrigado com aquilo.

- É mesmo? E que tipo de pessoa eu precisaria ser para gostar de Quebeque?

- Quebeque assemelha-se às primeiras fronteiras dos Estados Unidos. É muito francesa. O

povo daqui é muito independente. Não gostamos de receber ordens de ninguém.

Edward digitou:

- Nem eu.

- Então, você iria gostar. A cidade é bonita, cercada de montanhas e lagos

adoráveis! É um paraíso para a caça e a pesca.

Olhando para as palavras digitadas na tela, Edward chegou até a sentir o entusiasmo de Felipe.

- Está me parecendo legal. Fale-me de você.

- Eu? Não tenho muito a dizer. Estou com trinta e oito anos, solteiro. Acabei de romper um

relacionamento e gostaria de arranjar um cara certo e sossegado. E você? casado?

Edward digitou de volta:

- Não. Também procuro alguém. O que você faz?

- Sou dono de uma lojinha de jóias. Espero que você possa vir conhecer a minha loja um

dia.

- Isso é um convite?

- Mais oui... sim.

Edward digitou:

- Estou ficando interessado.

De fato, estava. Talvez eu dê um jeito de ir até lá, pensou. Talvez ele seja a pessoa que

pode me salvar. Edward se comunicava com Felipe quase todas as noites. Ele

enviou uma foto sua, e Edward viu-se olhando para um homem muito

atraente, com uma fisionomia inteligente.

Quando viu uma foto de Felipe, Edward também enviou a sua, Felipe escreveu:

- Você é bonito, ma chérie. Conforme eu previa. Venha me visitar, por favorVou, sim.

- Em breve.

- Tchauzinho! - Edward se desconectou.

Em seu trabalho, na manhã seguinte, Edward ouviu Marc Miller conversando com Fabrício

Madson e pensou, Que diabo ele vê nele? Ele é um bagulho! A seu ver, Fabrício era um

solteirão frustrado, o garotinho Certinho em pessoa. Ele não faz a menor idéia do que

seja se divertir, pensou Edward. Não aprovava nada na outra. Fabrício era um caso perdido,

alguém que gostava de ficar em casa à noite, lendo um livro ou assistindo a

documentários sobre História e à CNN. Não se interessava por desportos. um chato!

Nunca tinha entrado em aplicativos de encontros. Encontrar maravilhosos homens nesses aplicativos era algo que

Fabrício jamais faria, o antipático. Ele nem sabe o que está perdendo, pensou Edward. Sem o

aplicativo, eu jamais teria conhecido Felipe!

Edward pensou no quanto sua mãe teria odiado a Internet. Mas sua mãe havia odiado tudo

mesmo! Só tinha duas formas de se comunicar: gritando ou se lamuriando. Edward jamais

conseguia agradá-lo. Você não faz nada certo, hein? Mas que menino idiota! Ora, a mãe

tinha gritado demais com ele. Edward pensou no terrível acidente no qual a mãe morreu.

Ainda podia ouvir seus gritos de socorro. A lembrança a fez sorrir.

"É um centavo por um novelo de lã, Um centavo por uma agulha, a toda hora! assim que

o dinheiro se vai. E a lontra - pluft! - foi embora."

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