Cap.1 Estão me seguindo

Conto de FelipeM.B como (Seguir)

Parte da série Alter: Homens dividos

Caro leitores,

O porquê o nome "dividos", pra não fica longo na palavra divididos. Mas tem um único significado: Diverso!

Então este e o meu primeiro capítulo.

______________________________________________ Ele estava sendo seguido. Já havia lido sobre esse tipo de gente, pessoas que

perseguem os outros furtivamente, mas pertenciam a um mundo diferente e violento.

Não fazia ideia de quem poderia ser, de quem poderia querer fazer-lhe mal. Tentava

desesperadamente evitar o pânico; entretanto, suas últimas noites vinham sendo

preenchidas com pesadelos, e todas as manhas ela despertava com uma sensação de

ameaça iminente. Talvez tudo isso seja fruto da minha imaginação, pensou Fabrício

Madson. Ando trabalhando demais. Preciso tirar umas férias. Ele se voltou para o

espelho do quarto, a fim de observar a si próprio. Viu a imagem de um homem de vinte e

poucos anos, esbelto, corpo definido por natureza, bem vestido, de traços aristocráticos e olhos castanhos, inteligentes

e ansiosos, provido de uma discreta elegância e atractivos surtis. Os cabelos escuros

bem aparados e os labios rosados. Odeio a minha aparência, pensou Fabrício. Sou

muito magro. Preciso começar a comer mais. Foi até a cozinha e pôs-se a preparar a

refeição matinal, esforçando-se para esquecer aqueles pesadelos apavorantes que estava

tendo e concentrando-se no preparo de uma omelete bem fofa. Ligou a cafeteira e

colocou uma fatia de pão na torradeira. Dez minutos depois, a refeição estava pronta.

Fabrício pôs os pratos sobre a mesa e sentou-se. Pegou um garfo, olhou para a comida

durante alguns instantes e balançou a cabeça, em desespero. O medo roubara-lhe o

apetite.

Isso não pode continuar assim, pensou, nervoso. Seja quem for, não vou deixar que faça

isso comigo. Não vou mesmo.

Fabrício olhou rapidamente para o relógio. Era hora de sair para o trabalho. Olhou ao redor

do apartamento familiar, como se estivesse buscando algum tipo de reafirmação. Situado

no terceiro andar de um prédio na vila Via Caminho, o apartamento era decorado com

bom gosto, tinha uma sala íntima e outra de estar, com lavabo, quarto de dormir,

banheiro e cozinha. Ele morava em Cupertino, Califórnia, fazia três anos. Até há duas

semanas atrás, Fabrício o considerava tão confortável quanto um ninho, um refúgio. Agora,

ele se transformara numa fortaleza, um lugar onde ninguém poderia entrar para

prejudicá-lo. Ele foi até à porta da frente e examinou a fechadura. Vou mandar botar uma

tranca, pensou. Amanhã. Apagou todas as luzes, verificou se a porta estava bem trancada

ao sair e pegou o elevador até a garagem do subsolo. Não havia ninguém lá. Seu carro

estava a sete metros do elevador. Ele examinou bem as redondezas e correu até ele, entrou e trancou as portas, com o coração palpitando. Rumou para o centro da cidade,

sob um céu com a cor da malícia, escuro e agourento. O serviço meteorológico tinha

previsto chuva. Mas não vai chover, pensou Fabrício, vai fazer sol. Faço um trato com você,

Deus. Se não chover quer dizer que está tudo bem, que tenho imaginado coisas.

Dez minutos depois, Fabrício Madson guiava pelo centro de Cupertino. Ainda se

maravilhava com o milagre em que se transformara este outrora adormecido cantinho do

vale de Santa Clara. Localizado oitenta quilómetros ao sul de São Francisco, era onde a

revolução do computador tivera início e foi adequadamente apelidado de Vale do Silício.

Fabrício trabalhava na Corporação Global de Computação Gráfica, uma empresa nova, de

sucesso e crescimento rápido, com duzentos funcionários. Quando dobrou na Silverado

Street, teve a incómoda sensação de que ele vinha logo atrás, de que a estava seguindo.

Mas quem? E por quê? Olhou pelo espelho retrovisor. Tudo parecia normal. Todos os seus

instintos lhe diziam o contrário.

Logo à sua frente, encontrava-se a edificação espraiada e moderna onde se localizava a

Global de Computação Gráfica. Fabrício entrou no estacionamento, mostrou o cartão de

identificação ao guarda e parou em sua vaga. Sentiu-se seguro ali. Quando ele saiu do

carro, começou a chover às nove horas da manhã, a Global já pulava de atividade.

Havia oitenta cubículos modulares, ocupados por peritos em informática, todos jovens e

ativamente empenhados em criar sites na Internet e logotipos para novas empresas,

fazer artes-finais para editoras e gravadoras e preparar ilustrações para revistas. O

conjunto de escritórios ficava num andar corrido, onde se viam várias divisórias:

administração, vendas, marketing e suporte técnico. O ambiente era informal. Os

funcionários andavam de jeans, camisetas sem mangas ou agasalhos de ginástica.

Quando Fabrício se encaminhava para sua mesa, seu supervisor, Marc Miller, a abordou.

- Bom dia, Fabrício!

Marc Miller tinha trinta e poucos anos, era um homem forte e sério, de personalidade

agradável. No início, tentou persuadi-lo a ir para a cama com ele, mas finalmente desistiu,

e os dois se tornaram bons amigos.

Ele lhe entregou o último exemplar da revista Time.

- Viu isso?

Fabrício olhou para a capa, que trazia a figura de um homem de aparência distinta, com

cerca de cinquenta anos e cabelos grisalhos. A manchete dizia: "Dr. Jorge Madson, Pai

da Microcirurgia Cardíaca".

- Vi, sim.

- Como você se sente tendo um pai famoso?

Fabrício sorriu.

- Maravilhosamente bem.

- Ele é um grande homem.

- Vou dizer isso a ele. Nós vamos almoçar juntos hoje Que bom! A propósito... - Marc Miller lhe mostrou a fotografia de uma estrela do cinema

que seria usada como a cliente de um anúncio. - Tem um probleminha aqui. Jeniffer Lawrence

engordou uns cinco quilos, e dá para perceber. Veja só que olheiras! E, mesmo com a

maquiagem, a pele dela está cheia de manchas. Será que você consegue dar um jeito?

Ashley analisou a fotografia.

- Posso melhorar os olhos aplicando um difusor. Também tentar afinar o rosto com o blur,

mas... não! Provavelmente acabaria ficando com um aspecto meio estranho. - Ele voltou a

estudar a fotografia. - Vai ficar bom se eu usar uma ferramenta tipo do photoshop ou clone em

algumas áreas.

- Obrigado! Está tudo certo para sábado à noite?

- Está.

Marc Miller apontou para a fotografia com um gesto da cabeça.

- Isso aí não tem pressa. Eles querem para o mês passado.

Fabrício sorriu.

- E qual é a novidade?

Ele pós mãos à obra. Fabrício era um especialista em propaganda e design gráfico, na

criação de Lay-out com texto e imagens, horas mais tarde, enquanto trabalhava na fotografia, Fabrício sentiu que alguém a

estava observando. Levantou o rosto e viu. Era Daniel Valentino.

- Bom dia, doçura!

A voz dele lhe dava nos nervos. Daniel era o génio da informática na empresa. Conhecido

no trabalho como "O Consertador", sempre que um computador travava, mandavam

chamá-lo. Estava com pouco mais de trinta anos, era magro, calvo e tinha uma atitude

desagradável, arrogante. Em suma, era um indivíduo de personalidade obsessiva, que

todos diziam ter uma fixação por Fabrício.

- Precisa de uma ajudinha?

- Não, obrigado!

- Ei, que tal sairmos para jantar no sábado?

- Obrigado! Já tenho compromisso.

- Vai sair com o chefe de novo?

Fabrício se virou e olhou para ele, zangado.

- Escuta aqui, isso não é da sua...

- Seja como for, eu não faço idéia do que você viu nele! O cara é um almofadinha, um

quadradão. Você pode se divertir muito mais comigo. - Ele deu uma piscadela. - Você sabe

o que eu quero dizer, não sabe?

Fabrício estava tentando se controlar

- Eu tenho mais o que fazer, Daniel.

Daniel se inclinou para perto dela e sussurrou:

- Tem uma coisa que você vai aprender a meu respeito, doçura. Eu não desisto. Nunca.

Ele ficou olhando, enquanto ele se afastava, e imaginou: Seria ele?

às 12 e 30, Fabrício colocou seu computador em standby e foi para o Margherita Di Roma,

encontrar-se com o pai para almoçar.

Ele estava sentado a uma mesa no canto do restaurante lotado, observando o pai vir em

sua direção. Teve de admitir que ele era um homem atraente. As pessoas voltavam-se

para admirá-lo, enquanto ele se encaminhava para a mesa de Fabrício. "Como você se

sente tendo um pai famoso?"

Anos antes, o Dr. Jorge Madson fora o pioneiro das cirurgias Cardíacas minimamente

invasivas. Era sempre convidado a dar palestras nos principais hospitais do mundo inteiro.

Fabrício tinha doze anos quando a mãe morreu, de modo que ficou sem ninguém, além do

pai.

- Desculpe o atraso, Fabrício! - Ele se inclinou sobre ele e deu-lhe um beijo na bochecha.

- Tudo bem. Acabei de chegar

Ele se sentou.

- Você viu a Time?

- Vi. Marc me mostrou.

Ele franziu o cenho.

- Marc? Seu chefe?

- Ele não é meu chefe. Ele é... ele é um dos supervisores.

- Nunca é bom misturar negócios com prazer, Fabrício, você está saindo com ele fora do

ambiente de trabalho, não está? Isso é um erro.

- Pai, nós somos só bons...

Um garçom se aproximou da mesa.

- Gostariam de ver o menu?

O Dr. Jorge se virou para ele e rosnou:

- Não dá para ver que estamos no meio de uma conversa? Vá embora; e só volte quando

for chamado.

- Des... desculpe! - O garçom deu meia-volta e afastou-se ligeiro.

Fabrício encolheu-se de constrangimento. Tinha se esquecido de quão feroz era o

temperamento do pai. Ele uma vez, durante uma cirurgia, chegou a dar um soco num

residente que cometeu um erro de julgamento. Fabrício lembrava-se das discussões que o

pai e a mãe travavam aos berros quando ele era pequeno. Eles o deixavam aterrorizado

com aquilo. Sempre brigavam pela mesma coisa; entretanto, por mais que se esforçasse,

ele não conseguia se lembrar sobre o que discutiam. Bloqueara o fato na memória.

O pai continuou, como se não tivesse havido qualquer interrupção.

- Onde estávamos? Ah, sim! Sair com Marc Miller é um erro, um grande erro.

E suas palavras trouxeram à tona outra terrível lembrança.

Ele chegou a ouvir a voz do pai dizendo:

- Sair com Rafael Bramn é um erro. um grande erro...

Fabrício mal tinha completado 18 anos e estava morando em Bedford, Pensilvânia, onde

nasceu, pois nessa idade revelou ser gay, o pai levou isso como uma apenas uma "fase" seu do filho. Rafael Bramn era o rapaz mais disputado da Escola Secundária da Região

Administrativa de Bedford. Jogava no time de futebol americano, era bonitão, engraçado

e tinha um sorriso arrasador. Fabrício tinha a impressão de que todas as meninas do colégioqueriam dormir com ele. E a maioria provavelmente dormiu, pensou na época, com

desgosto.

Quando Rafael começou a convidá-lo para sair, ele estava determinada a não ir parar

na cama com ele. Tinha certeza de que só estava interessado em sexo; no entanto,

passado algum tempo, mudou de idéia. Gostava de estar com ele, que parecia apreciar

genuinamente sua companhia.

Naquele inverno, a turma de formandos do segundo grau foi passar um fim de semana

esquiando nas montanhas. Rafael adorava esquiar.

- Vai ser muito legal - garantiu ele.

- Eu não vou.

Ele olhou espantado para ele.

- Por quê?

- Detesto o frio. Mesmo de luvas, meus dedos ficam congelados.

- Mas vai ser legal a gente poder...

- Eu não vou.

E ele ficou em Bedford, para passar o fim de semana com ele.

Os dois compartilhavam os mesmos interesses, tinham as mesmas idéias e sempre se

divertiam muito juntos.

Quando Rafael lhe perguntou:

- Alguém quis saber hoje de manhã se você é meu namorado. O que devo responder?

Fabrício sorriu e disse:

- Responda que sim.

O Dr. Jorge estava preocupado.

- Você anda saindo demais com esse tal de Rafael

- Pai, ele é um sujeito decente, e eu o amo.

- Como é que você pode amar esse sujeito? Ele não passa de um jogador de futebol

americano. Eu não vou deixar você ficar com um jogadorzinho qualquer. Ele não serve

para você, Fabrício, eu sei que isso e só uma fase.

Ele havia dito a mesma coisa sobre todos os rapazes com quem ele saiu.

O pai continuou fazendo comentários desabonadores sobre Rafael, mas a explosão se

deu na noite da formatura. O rapaz a levaria ao baile. Quando chegou para apanhá-lo, ele

estava aos prantos.

- Mas o que é isso? O que aconteceu?

- Meu pai... meu pai me disse que vai me levar para Londres. Ele me matriculou numa...

faculdade de lá.

Rafael olhou para ele, atónito.

- Ele está fazendo isso por causa de nós dois, não é?

Fabrício assentiu apenas com um gesto da cabeça, contrariadíssimo.

- Quando você vai partir?

- Amanhã.

- Não! Fabrício, pelo amor de Deus, não deixe que ele faça isso conosco. Sabe, eu quero

me casar com você. O meu tio me ofereceu um emprego muito bom em Chicago, na agência de publicidade dele. Vamos fugir. A gente se encontra na estação ferroviária. Tem

um comboio que sai para Chicago às sete da manhã. Você topa?

Ele olhou para ele por um longo momento e disse baixinho:

- Topo.

Repensando o assunto mais tarde, Fabrício não conseguia se lembrar de como tinha visto o

baile de formatura. Ele e Rafael haviam passado a noite inteira discutindo animadamente os

seus planos.

- Por que não vamos de avião para Chicago? - perguntou Fabrício

- Porque teríamos de informar os nossos nomes à companhia aérea. Se formos de

comboio, ninguém vai ficar sabendo para onde fomos.

Quando eles estavam saindo da festa, Rafael perguntou baixinho:

- Você toparia dar uma parada lá na minha casa antes? Meus pais foram passar o fim de

semana fora.

Fabrício titubeou, dividido.

- Rafael... a gente já esperou tanto tempo! Uns dias a mais não vão fazer diferença.

- Você tem razão. - Ele abriu um amplo sorriso. - Acho que vou ser o único homem neste

continente a se casar com um virgem.

Quando Rafael levou Fabrício para casa, depois da festa, o Dr. Jorge estava

esperando, enfurecido.

- Vocês fazem alguma ideia da hora?

- Sr. Jorge, desculpe! É que a festa...

- Não me venha com essas suas desculpas esfarrapadas, Rafael. A quem você acha que

está enganando?

- Eu não estou...

- De agora em diante, mantenha as mãos longe do meu filho, entendeu bem?

- Pai...

- Você, fique fora disto. - Ele agora estava gritando. - Rafael, eu quero que você suma

daqui e não me apareça mais.

- Mas, Sr. Jorge, seu filho e eu...

- Rafael...

- Suba já para o seu quarto.

- Sr. Jorge...

- Se eu vir você por aqui outra vez, vou quebrar todos os ossos do seu corpo.

Fabrício jamais o vira tão furioso. A noite acabou com todos aos berros. Depois de

encerrado o assunto, Rafael foi embora, e Fabrício desatou a chorar.

Não vou deixar papai fazer isso comigo, pensou Fabrício, determinado. Ele está tentando

arruinar a minha vida. Ele ficou sentada na cama por um longo tempo. O meu futuro é

com Rafael. Eu quero ficar com ele. Isto aqui não é mais o meu lar. Levantou-se, então, e

começou a arrumar uma maleta de viagem. Trinta minutos depois, saiu pela porta dos

fundos e partiu em direção à casa de Rafael, a dez quarteirões de distância. Vou

passar a noite com ele e nós dois vamos pegar o comboio para Chicago de manhã. Mas, àmedida que foi se aproximando, pensou: Não! Dessa forma está errado. Eu não quero

estragar tudo. Vou encontrá-lo na estação.

Ele deu meia-volta e tomou o rumo de casa novamente.

Fabrício passou o resto da noite acordado, pensando em sua vida com Rafael, na maravilha

que seria. às 5 e 30, pegou sua maleta e passou silenciosamente diante da porta do quarto

do pai. Esgueirou-se para fora de casa e tomou um autocarro para a estação ferroviária.

Ao chegar à estação, não encontrou Rafael. Ele estava adiantado. O comboio só sairia dentro

de mais uma hora. Fabrício foi esperar sentada num banco, ansioso. Pensou no pai

acordando e notando que ele havia partido. Ficaria furioso. Mas não posso deixar que ele

controle a minha vida. um dia ele vai chegar a conhecer Rafael mais de perto e vai ver a sorte

que eu tenho.

6 e 30... 6 e 40... 6 e 45... 6 e 50... Nem sinal de Rafael! Fabrício estava começando a entrar em

pânico. O que teria acontecido? Resolveu telefonar para ele. Ninguém atendeu. 6 e 55...

Ele vai chegar a qualquer momento. Ele ouviu o apito do comboio à distância e olhou para

o relógio. 6 e 59. O comboio estava entrando na estação. Ele se levantou e olhou ao redor

freneticamente. Alguma coisa terrível aconteceu a ele. Sofreu um acidente. Está no

hospital. Alguns minutos depois, Fabrício estava plantado na plataforma, vendo o comboio

partir para Chicago, levando com ele todos os seus sonhos. Esperou mais meia hora e

tentou ligar de novo. Quando novamente ninguém atendeu ao seu telefonema, ele

voltou para casa, vagarosamente, desolado.

Ao meio-dia, Fabrício e seu pai pegaram um avião para Londres...

Ele frequentou uma faculdade em Londres durante dois anos e, quando decidiu que

queria trabalhar com computadores, candidatou-se à prestigiada bolsa de estudos para

jovens MEI Wang, no Curso de Engenharia da Universidade da Califórnia, em Santa

Cruz. Seu pedido foi aceite e, três anos depois, fora recrutado pela Corporação Global de

Computação Gráfica.

No início, Fabrício escreveu meia dúzia de cartas para Rafael, mas rasgou-os todos. Os

atos e o silêncio dele haviam lhe dito com toda a clareza como ele se sentia em relação a

ele.

A voz do pai arremessou-a de volta ao presente. - Você está a um milhão de quilómetros

de distância daqui. Em que está pensando?

Fabrício analisou o pai do outro lado da mesa.

- Em nada.

O Dr. Jorge chamou o garçom com um gesto e exibiu um sorriso simpático.

- Agora nós queremos ver o menu - disse.

Só no caminho de volta para o trabalho Fabrício se lembrou de que não havia parabenizado

o pai por ter saído na capa da Time.

Quando chegou à sua mesa, Daniel Valentino estava à sua espera.

-Fiquei sabendo que você almoçou com seu pai.

Que sujeitinho enxerido! Ele acha que é da sua conta saber de tudo que acontece por

aqui.

- Almocei, sim.

- Não deve ter sido muito divertido. - Ele baixou a voz. - Por que você nunca almoça

comigo?

- Daniel... eu já lhe disse. Não estou interessado.

5Ele sorriu.

- Mas vai ficar. Aguarde.

Havia algo estranho nele, algo assustador. Fabrício tornou a se perguntar se não poderia

ser ele quem... Ele balançou a cabeça. Não. Precisava esquecer essa coisa, tinha de seguir

em frente.

A caminho de casa, Fabrício estacionou o carro em frente à Editora Apple Tree. Antes de

entrar, olhou para a imagem refletida no espelho da vitrine da loja, para ver se havia

alguém atrás dele que pudesse reconhecer. Ninguém. Entrou na loja.

Um rapaz veio atendê-lo.

- Deseja alguma coisa?

- Eu gostaria... Vocês têm algum livro sobre maníacos que perseguem pessoas?

Ele olhava para ele com estranheza.

- Maníacos?

Fabrício sentiu-se uma idiota.

- isso mesmo. E também quero um livro sobre... ahn... jardinagem e... e animais da áfrica -

disse ele, rapidamente.

- Maníacos e jardinagem e animais da Africa?

- Isso - falou ele com firmeza.

Quem sabe? Talvez um dia eu venha a ter um jardim e fazer uma viagem para áfrica!

Quando Fabrício voltou para o carro, começou a chover outra vez.

Enquanto ele guiava, a chuva batia contra o pára-brisa, fragmentando o espaço e

transformando as ruas à sua frente em imagens pontilhastes surreais. Fabrício acionou os

limpadores. Eles começaram a deslizar sobre o vidro, dizendo em voz sibilante: Ele vai

pegar você... vai pegar você... vai pegar você... Mais que depressa, ele os desligou. Não,

pensou. Eles estão dizendo: Que nada! que nada! que nada!

Ela tornou a ligar os limpadores de pára-brisa. Ele vai pegar você... vai pegar você... vai

pegar você...

Fabrício estacionou o carro na garagem e apertou o botão para chamar o elevador. Dois

minutos depois, estava chegando ao seu apartamento. Parou diante da entrada social,

enfiou a chave na fechadura, abriu a porta e congelou.

Todas as luzes do apartamento estavam acesas.

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