CAPÍTULO 6: LANA EM APUROS

Conto de escritor.sincero como (Seguir)

Parte da série A VIDA QUE NÃO ESCOLHI

SÃO PAULO – 2011

A solidão pode ser prejudicial para muitas pessoas. Agora, imagina para uma criança de seis anos. Samuel Costa se mudou com a mãe e a tia para um grande prédio. Ele sempre foi muito retraído, e não conseguia interagir com outras crianças. Um dia, enquanto passeava pelo prédio, Samuel, encontrou uma garota brincando no pátio.

- Oi, garoto. Como você se chama? - ela perguntou sem obter uma resposta. - Já sei, você é mudo, né? Não tem problema. Me chamo Alana. Moro no 400. - entregando para Samuel uma boneca.

Sem entender nada, e ainda muito receoso, Samuel, senta perto da menina. Ela diz que está no horário de almoço da empresa, mas tem tempo para tomar um chá com as amigas. Eles brincam por quase uma hora. Ainda hipnotizado pela garota, Samuel, consegue se soltar.

- Me chamo Samuel. - ele disse sem olhar para Alana.

- Olha, você não é mudo. Que legal, garoto. Vamos brincar todos os dias. Os meninos do bloco não gostam de brincar comigo.

- Eu, eu, eu gostei. - afirmou Samuel enquanto trocava uma das roupas da boneca.

- afirmou Samuel enquanto trocava uma das roupas da boneca

SÃO PAULO – 2020

Nem sempre a vida de Alana foi fácil. Ela e a família se mudaram diversas vezes. Eles seguiam para onde o aluguel estivesse menor. Seu pai era um homem trabalhador, mas que não conseguia manter a família. E, por causa disso, ela se esforçava para se destacar na escola.

Só que naquela manhã, uma bomba caiu em cima da jovem. O pai havia perdido o emprego e fez uma dívida de 10 mil reais no banco. Assim como Samuel, ela era bolsista. Arrasada, Lana desabafou com os amigos.

Ela disse que se a situação agravasse, a família se mudaria para o Rio de Janeiro. Samuel se desesperou e começou a pensar em maneiras de ajudar amiga, em menos de dois minutos, ele deu soluções, quer dizer, pelo menos, era o que passava em sua cabeça.

- Podemos fazer uma venda de garagem, acho que as minhas HQ's servem para alguma coisa. – comentou Samuel.

- Você é louco? – interveio Lana.

- Eu faço qualquer coisa para você ficar.

- Eu tenho uns instrumentos que não uso, acham que serve? Eu não tenho dinheiro, já que alguém gastou dois mil reais em um óculos. – resmungou Jonathan.

- Eu mereci. - Samuel respondeu dando língua pro colega.

- Gente, não quero que vocês vendam nada. Agradeço a ajuda, mas não posso. – ela disse saindo da sala.

- E agora? – questionou Samuel. – Eu preciso pensar, - saindo da sala também.

- Ótimo, me deixem sozinho. – falou Jonathan abrindo o caderno.

A amizade de Lana era algo fundamental para Samuel. No intervalo, o jovem percebeu os altos preços dos lanches. Então, a ideia o acertou como um raio, literalmente, um trovão assustou a todos no refeitório. Após a aula, ele se despediu dos amigos e seguiu para o Centro da cidade. Lá, Samuel, comprou materiais necessários para a produção de bolos, o seu ponto forte.

SÃO PAULO – 2015

O aniversário de Isabella estava chegando, e Samuel, quis experimentar uma receita de bolo. Lana não estava muito certa daquilo. Afinal, quais as chances de dois pré-adolescentes conseguirem fazer bagunça na cozinha? Com todo cuidado do mundo, Samuel, mediu os ingredientes e começou a preparar tudo.

Quarenta minutos se passaram, e o cheio de bolo invadiu o apartamento de Isabella. Lana ficou impressionada com a habilidade do amigo. Ela tirou os glaces da geladeira e ajudou a enfeitar. Rosa, roxo e vermelho, as cores favoritas da mãe de Samuel.

- Você se supera a cada dia, sério. Estou boba. - confessou Lana.

- Isso é matemática, Lana. Não tem como dar errado.

- Samuel Costa, eu te amo. - ela soltou ficando vermelha e deixando o glace cair no chão.

- Eu também te amo, Lana. - Samuel respondeu sem perder a concentração.

- Sério. Você é o único menino desse prédio que cozinha bem, tira boas notas, faz aula de coreano, eita. São muitas qualidades.

- E você é a única menina que fala comigo. Que não me trata mal. Você é a única que me trata como um ser humano. Por isso, sim, eu te amo. Você é minha irmã. - ressaltou Samuel, dessa vez, olhando para Lana, que não aguenta e corre para abraçar o amigo.

- ressaltou Samuel, dessa vez, olhando para Lana, que não aguenta e corre para abraçar o amigo

SÃO PAULO - 2020

Ao chegar em casa, Wal, ficou surpresa com as sacolas e quis saber o motivo de tudo aquilo. Samuel explicou a situação de Lana, e falou que gostaria de fazer alguma coisa para ajudar. Só havia um problema, nem Wal ou Gláucio, já tinham visto Jonathan na cozinha. A única desculpa que colou foi a internet e vídeos de receitas.

Para aproveitar o momento com o enteado, Wal, topou fazer os bolos de pote. Ela e os empregados da casa ficaram abismados com a recém habilidade de Jonathan, quer dizer, pelo menos, eles pensavam dessa maneira. Após preparar os bolos, Samuel, perguntou se a madrasta de Jonathan não gostaria de patrocinar três camisetas, para ele e os amigos comercializarem os produtos na escola.

- Vou adorar. Você já tem um nome em mente? – perguntou a madrasta de Jonathan.

- Doces Sonhos. É brega, né?

- Não, querido, pelo contrário. É uma atitude nobre. Estou orgulhosa de você. – revelou Wal o abraçando.

- De nada. – ele respondeu ao abraçar Wal.

Jonathan e Lana chegaram na escola e não encontraram Samuel

Jonathan e Lana chegaram na escola e não encontraram Samuel. Eles estranharam, uma vez que, ele era considerado o rei da pontualidade. Mas, para a surpresa dos dois, Samuel apareceu com uma camisa no mínimo chamativa, nela, havia um bolinho e as palavras 'Doces Sonhos'. Lana, quis saber o motivo daquilo, e Samuel, todo orgulhoso, mostrou os bolos que estavam dentro de uma bolsa térmica.

- Vender bolinhos? – questionou Lana. – Isso não é meio que proibido?

- Ah, não. A Wal. – olhando para Jonathan, pois, ele não gostava da aproximação da madrasta e Samuel. – Desculpa, mas a Wal conversou com o conselho da escola e vamos fazer a venda de bolinhos no pote.

- É uma boa causa, né? – destacou Jonathan. – Eu deixo.

- E eu já fiz as contas. São 30 bolos, por R$ 3 cada, ou seja, R$ 90 por dia. Até o fim do mês levantamos quase três mil.

- Gente, isso é... você é.... – gagueja Lana.

- Sou o seu melhor amigo. Não quero te perder, então, cala boca e deixa eu te ajudar.

- E qual é o plano de ação? – perguntou Jonathan.

- Isso. – jogando as camisetas de Jonathan e Lana. – Com esse sorriso. – sorrindo e piscando para os amigos. – A gente vai arrasar nas vendas, eu garanto.

- Isso me prostitui. – reclamou Jonathan.

- Jonathan, Jon, Jonzinho. – disse Samuel abraçando o amigo. – É uma boa causa, esqueceu?

- Por favor, se vende por mim. – pediu Lana fazendo uma carinha de bebê pidão.

- Tá bom, pode usar o meu sorriso. Eu sabia que ele ia servir para alguma coisa. – se convenceu Jonathan.

- Er, Jonathan, eu posso falar com você? – interrompeu Lorena.

- Claro. – falou Samuel se afastando de Jonathan e seguindo a moça.

- Essa menina não me desce. – soltou Lana. – Desculpa, eu sei, ela é tua amiga, mas...

- Eu te entendo. Relaxa.

- Oi? – disse Daniel deixando Lana sem graça. – Camisa legal. Quanto tá o bolo?

- Er, o bolinho, esse bolinho... ele é... ele é...

- O que ela está tentando dizer é três reais. – cortou Jonathan entregando um bolo para Daniel.

- Obrigado, Samuel. – agradeceu Daniel pegando o bolo e saindo.

Não demorou para o trio vender todos os bolinhos feitos por Samuel. Só que teve um pequeno problema, o conselho da escola, esqueceu de avisar a demanda para o diretor Bartollo, ele chamou Samuel para conversar em sua sala. O jovem tentou explicar toda a situação, mas Bartollo o proibiu de vender os doces nas dependências do colégio.

- Diretor... é por uma boa causa. – explicou o jovem.

- Infelizmente, Jonathan, são regras. O conselho não me passou nada e alguns pais reclamaram, sinto muito, mesmo. Fora que você acabou de voltar de uma suspensão, não vai querer se complicar, né? – aconselhou o diretor.

- Isso é injusto. Gastei dinheiro com os materiais, olha, até blusinha mandei fazer.

- Essa é a palavra final. Não quero ter essa conversa de novo.

Lorena, uma das primeiras amigas de Jonathan na escola, achou estranha a aproximação dele com Samuel e Lana. Ela descolou o telefone de Kleiton, e questionou, se estava tudo bem com o amigo. Sem entender muito, o baixista da banda Black River, afirmou que sim, que depois do acidente, Jonathan, mudou, mas nada drástico.

- A gente podia se encontrar para conversar sobre o assunto, o que acha? – perguntou Kleiton.

- Acho que sim. Eu te mando uma mensagem. – afirmou Lorena.

A jovem decidiu que descobriria o motivo do distanciamento de Jonathan, e quando, Lorena colocava alguma coisa na cabeça, quase nada, eu disse, quase nada, conseguia mudar sua opinião. Ela apelou para a falsidade, se aproximou de Lana, e quis comprar um de seus bolinhos, mesmo que não comesse bolos ou massas.

- Obrigado, Lorena. – agradeceu Jonathan.

- De nadinha. Sempre fico feliz em ajudar os meus amigos. – pegando os produtos e saindo.

- Eu disse, ela é legal, basta só vocês a conhecerem melhor. – destacou Jonathan para Samuel e Lana.

- Claro, uma flor de pessoa. – respondeu Lana com um toque de ironia.

- Não se preocupe, assim que acabar toda essa confusão, você pode voltar para a sua amiguinha. – avisou Samuel. – Agora, olhem. Quanto dinheiro. – contando as notas. – Amiga, a gente vai conseguir levantar os 10 mil reais.

- Obrigada, gente, de verdade, eu não me imagino estudando em outra escola.

Samuel chegou na casa de Jonathan e agradeceu Wal pela ajuda, e Gláucio, pela primeira vez em muito tempo, ficou orgulhoso do comportamento do filho. Ele quis saber o que realmente estava acontecendo, e quem era a amiga que precisava desesperadamente de ajuda. Samuel explicou toda a situação de Lana, e deu uma bola fora, disse que Lana era sua melhor amiga desde a infância, mas logo se corrigiu.

- Me manda o currículo do pai dela, filhão. Vejo o que posso fazer. – pediu Gláucio.

- Sério, pai? O senhor faria isso? – perguntou Samuel.

- Claro, filho. Essa menina merece o mundo, nunca te vi tão preocupado com outra pessoa.

- Obrigado, o senhor é o melhor. – abraçando Gláucio. – Agora, eu preciso fazer o dever de casa. – subindo para o quarto.

- O que deu nesse menino? – questionou Gláucio olhando para a esposa.

- Não sei, talvez, essa menina seja uma namoradinha. – respondeu Wal enquanto tomava uma xícara de chá.

- Verdade, meu garanhão, tá crescendo.

Jonathan precisava pegar dois metrôs para chegar na casa de Samuel

Jonathan precisava pegar dois metrôs para chegar na casa de Samuel. A música era sua única companheira, ele adorava suas playlists no spotify, uma das mais tocadas era: "MÚSICAS FODAS". Em uma das trocas de estação, Jonathan, acabou sendo motivo de chacota de alguns estudantes, mas ao contrário de Samuel, o jovem se defendeu, usando até mesmo, palavras que o amigo nunca usaria. Depois do show gratuito, Jonathan, seguiu para as escadarias e esbarrou com um velho amigo.

- Oliver? – perguntou Jonathan.

- O ursinho delicia. – pensou Oliver. – Desculpa, mas eu te conheço?

- Ah, não, eu que preciso te pedir desculpa. Confundi com outra pessoa. – disfarçou Jonathan ficando vermelho.

- Estranho, alguém com o mesmo nome que o meu? – questionou Oliver.

- Desculpa, eu preciso ir.

- Não. – segurando no braço de Jonathan. – Podemos tomar um refrigerante?

- Como assim? Ele quer tomar um refrigerante com o Samuel? – pensou Jonathan.

- Oi? Você quer, tomar o refri? – perguntou, novamente, Oliver com medo de perder a oportunidade.

- Claro, vamos.

Quer saber um segredo? Jonathan era apaixonado por Oliver, quando os mesmos estudavam juntos, mas nunca teve coragem de assumir seus sentimentos. Só que por medo, e preconceito, ele não se declarou. Eles seguiram para uma lanchonete que ficava próxima a estação do metrô. Ainda envergonhado, Jonathan, deixava Oliver falar, a maioria das coisas, ele já sabia.

- Você não é de falar muito, né? – perguntou Oliver.

- Não. É que ninguém nunca me abordou assim. – revelou Jonathan.

- Um gordinho tão bonito. Acho difícil.

- Geralmente, os caras não gostam de gordos. – disse Jonathan, sem ter ideia do que estava falando.

- Entendi. – pegando o celular de Jonathan. – Uê. Jonathan?

- Oi? – perguntou assustado.

- Seu celular. Essa é a foto de um amigo meu. O Jonathan.

- Como assim? – pegando o celular e fingindo surpresa. – Essa não. Eu estudo com o Jonathan, a gente deve ter trocado. Você conhece, ele?

- Sim, um grande amigo. E gostaria de te pedir um favor. – falou Oliver.

- Claro, qualquer coisa.

- Não conta para ele sobre o nosso encontro. Ele é meio homofóbico. E pode espalhar para meus amigos. – revelou Oliver entregando o aparelho para Jonathan.

- Sim.

Oliver ficou feliz por ter esbarrado em Samuel

Oliver ficou feliz por ter esbarrado em Samuel. Ele estava quase indo para a casa de swing, quando, optou em voltar para seu apartamento. Algo mudava na vida do playboy, ele desejava Samuel, mas sua doença era algo que podia atrapalhar um possível relacionamento.

Na volta para casa, Jonathan, viu um anúncio de uma competição de bolos. Ele guardou o panfleto para mostrar para Samuel no dia seguinte. No quarto, o músico ficou na frente do espelho, sem conseguir entender como Oliver se sentia atraído pelo corpo do colega. Uma pele branca, uns pelos espalhados, uma barriguinha saliente, era tudo o que o jovem enxergava.

- Até que o Samuel tem um rosto bonito, mas acho que eu consigo melhorar. Tive uma ideia maravilhosa.

Samuel chegou cedo na escola, trouxe uma mesa dobrável e colocou em um ponto estratégico. Vestido com a blusinha do "Doce Sonho", o jovem chamou a atenção do diretor Bartollo. Antes mesmo das aulas iniciarem, Samuel, já estava na diretoria.

Segundo o diretor, vender alimentos nas dependências do colégio era inadmissível. Mas em sua defesa, Samuel, garantiu que estava vendendo os bolos na porta da escola.

Chateado, ele seguiu para a sala e todos riram de sua blusa, a raiva era tanta, que Samuel, esqueceu de tirar. Mesmo com os risos, ele entrou, sentou e, percebeu que Jonathan não estava lá. O jovem olhou no celular, para ver se tinha alguma mensagem, e nada. Só que ele não precisou esperar muito, já que Jonathan, entrou e a turma ficou surpresa.

Os cabeços loiros de Samuel, agora estavam coloridos com uma tinta azul, no nariz, um piercing falso, mas muito estiloso. Lana e Samuel não acreditaram no que viram, eles se olharam, incrédulos. Jonathan piscou para Lorena, que riu da atitude dele. O professor Bento, de química, pediu para os alunos ficarem em silêncio. O estresse em Samuel foi tão grande, que ele levantou, bateu com a mão na carteira e gritou.

- Que merda é essa?!

- Jonathan? – perguntou o professor.

- Er... – soltou Samuel com um sorrisinho amarelo.

- Professor... me desculpe. Eu não quis gritar e...

- Para a diretoria, os dois! – ordenou o professor.

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