CAPITULO 2: MEU ERRO

Conto de escritor.sincero como (Seguir)

Parte da série A VIDA QUE NÃO ESCOLHI

Jonathan passou meia hora na frente do espelho. Ele ficou com nojo do corpo de Samuel, não entendia, como alguém podia ser tão descuidado com a alimentação. Antes de descer para o café, Jonathan, fez flexões, mas não passou de 14, afinal, Samuel não era adepto de atividades físicas, e Jonathan, conseguia sentir. Ele foi para a cozinha, e encontrou toda a família reunida, os irmãos fizeram um cartaz de boas-vindas, e correram para abraçá-lo.

- Ei, crianças, calma. O Samuel ainda não está 100%. Filho, eu liguei para o diretor Bartollo, levarei o atestado para a escola. Fica em casa até sexta-feira. – avisa Isabella.

- Pestinhas? Vamos. – diz Antonella. – Hoje vocês vão com a tia mais gata desse condomínio.

- Cuidado com o vizinho do 409. – alerta Isabella. – Ah, e valeu irmã, juro que compenso nessa semana.

- Sem problemas. O trem partiu! – exclama Antonella fazendo barulho de trem.

- Vamos! – exclamam as crianças juntos.

Isabella pediu para que o filho pegue duas colheres no armário, mas esse detalhe, Jonathan não havia conversado com Samuel. Ele ficou perdido por alguns minutos, e depois de um tempo encontrou as colheres. Isabella fez um café da manhã especial para o filho, um verdadeiro banquete. Ela colocou os pratos na mesa e estranhou a reação de Samuel, ou melhor, Jonathan.

- Por isso que é gordo. – falou baixinho. – Mamãe, acho que vou pular o café, eu, sei que fez tudo com carinho, mas preciso perder uns quilinhos.

- Filho, já falamos sobre isso. – sentando ao lado de Jonathan. – Você é especial de qualquer jeito, mas se é isso que deseja, tudo bem também.

- Ah, Samuel. – entregando uma calça para Jonathan. – Desculpa, filho, mas não deu para comprar duas calças, eu mandei a costureira arrumar essa.

- Entendi. – falou Jonathan pegando a calça e vendo os remendos.

Jonathan lembrou de todas as vezes que humilhou Samuel na escola. Nem ele mesmo conseguia entender os motivos que o levaram a agir como um idiota com o colega. Após ficar sozinho na casa de Samuel, Jonathan, vasculhou cada detalhe do apartamento. Eram basicamente cinco cômodos, o escritório virou o quarto de Antonella, os gêmeos dormiam no quarto de Isabella, e Samuel, como um adolescente, tinha um lugar para chamar de seu.

- Pelo menos isso. – pensou Jonathan. – Pobre, Samuel, além de gordo é pobre.

Os exames de Samuel saíram e tudo estava perfeito, mas ele não conseguia esquecer a senhora que o visitou na noite passada. Cada palavra era martelada na cabeça do jovem. Wal entrou no quarto com um suco vegano, de acordo com ela, o preferido do enteado. Samuel olhou com nojo para o copo, porém, precisou tomar até a última gota, a madrasta de Jonathan, trouxe cookies sem lactose, Samuel quase engasgou, não sabia o que era pior: o suco ou o biscoito da morte.

- Wal, acha que hoje eu vou para casa? Preciso falar com o Jonatha... digo... o Samuel, o amigo que estava comigo na cápsula.

- Sim, filho, digo, Jonathan. Os médicos vão vir aqui às 12h. Você deseja mais alguma coisa?

- Não. Estou ótimo. – fala Samuel com um sorriso amarelo.

Lana decidiu faltar aula para cuidar de Samuel. Ela chegou cedo com várias guloseimas para o amigo. Jonathan tentava sintonizar a TV a Cabo, mas teve vários problemas, como o controle da televisão que estava quebrado. Lana entra e assusta Jonathan, ela estranha a reação, já que estava acostumada a entrar daquele jeito na casa do melhor amigo. Lana sente algo diferente em Samuel, mas não comenta nada.

- Então? Cara, eu dei uma surra nos amigos babacas do Jonathan. Sabe como eu sou mestre, né? – ela diz fazendo um golpe de karatê. – Só não dei uns tapas na Lorena, por que, fiquei preocupada com você. – abraçando Jonathan.

- Elana, tá tudo bem. Estou 100%. E o coitadinho do Jonathan não teve culpa de nada.

- Coitadinho? Você pirou? Bateu a cabeça forte demais naquele brinquedo, só pode ser isso. O que é dele tá guardado, consegui estragar a participação dele no Anime Plus, vou fazer ele pagar o maior mico na escola.

- Então foi você? Toda aquela história de Boruto,... – questiona Jonathan fazendo uma careta engraçada.

- Qual o teu problema, Samuel?

- Er. Nenhum. Quer dizer, não estou conseguindo conectar a TV a Cabo. – andando até a televisão.

- Que TV a Cabo? Deve ter sido o acidente. Espera aí. – indo até o quarto de Samuel e pegando o notebook. – Vamos assistir ‘Jardim de Meteoros’, estou louca para saber se a Dong vai ficar com o Daoming.

- Isso é coisa de viado. – comenta Jonathan sem pensar direito.

- Samuel Costa. Que comentário ridículo.

- Desculpa. – diz Jonathan revirando os olhos e sentando no sofá. – Tá, vamos assistir.

Samuel chegou na casa de Jonathan e ficou assustado com o tamanho do lugar. Era uma casa de dois pisos, toda no vidro temperado, um verdadeiro sonho. Gláucio e Wal, o levaram para almoçar no jardim. Samuel quase vomitou quando viu as ostras, segundo Wal, outro prato preferido do enteado. Samuel perguntou se teria outra opção de almoço, e pediu apenas um frango grelhado.

Após comer, Gláucio precisou sair para uma reunião, e Wal, começou os trabalhos de jardinagem. Samuel subiu para o quarto e mandou várias mensagens para Jonathan. Ele acabou se perdendo e entrou em um quarto diferente, uma foto se destacava na parede, era os pais de Jonathan e mais duas crianças pequenas. Samuel decidiu sair e chegou finalmente no quarto do colega. “Que sonho”, pensou Samuel. O quarto de Jonathan parecia ter saído de uma foto do Pinterst. Enquanto um se encantava, o outro chorava.

- Como assim? Isso é tão injusto. – disse Jonathan chorando. – Como eu nunca assisti isso?

- Já assistimos essa série umas cinco vezes. Em todas, a gente chora.

- Adorei a determinação da Dong. Pareço um gayzinho. – rindo e chorando ao mesmo tempo.

- Credo, para de falar assim. Isso é tudo por causa do Nando?

- Que Nando? – Jonathan pergunta enxugando as lágrimas.

- O El Diablo, teu ex-namorado.

- Além de tudo, ele ainda é gay? Cheio de surpresas, hein, Samuel. – pensou Jonathan. – Lana, podemos falar de outra coisa, por favor?

- Sim, meu novo plano para acabar com a reputação do Jonathan.

- Isso de novo, não. Por favor. Podemos ver mais um capítulo de ‘Jardim de Meteoro?

- Sim, mas para de ficar perguntando. Até parece que está assistindo pela primeira vez.

- Não, eu assistindo pela primeira vez? Você me conhece, sabe como sou esquecido. E tem o acidente também. – diz Jonathan nervoso.

A cabeça de Samuel ainda girava, para diminuir a dor, o médico recomendou fortes anestésicos. Na hora do banho, o jovem tomou um susto, o motivo? O corpo de Jonathan era perfeito, tudo no lugar. O banheiro tinha quase o tamanho do apartamento de Samuel, o que lhe chamou a atenção foi uma banheira. No armário, Samuel escolheu alguns sais para deixar aquele momento mais gostoso.

- O Jonathan tem a vida perfeita, e ainda assim, consegue ser um idiota. – pensou ele.

Samuel dormiu na banheira, ele acordou por causa da dor na cabeça. Seus dedos dos pés e mãos estavam engraçados. Ele passou em frente a um espelho e ficou olhando para o espelho, ao verificar os atributos de Jonathan, Samuel começa a pular e rir da situação. “Parece um pêndulo”, pensa o jovem. As surpresas não para por aí, o closet de Jonathan quase faz Samuel desmaiar, o lugar era gigantesco. Vários tênis, óculos de sol, bonés e roupas de marcas famosas.

- Caramba. Acho que nunca vi tanta roupa de marca. – pegando um chapéu e colocando. – Esse cara tem tudo.

Wal levou um lanche para Samuel, a mulher ainda estava arisca, pois, temia a reação dele. Samuel perguntou se eles não poderiam tomar café no jardim, a madrasta adorou a ideia. Apesar de todas as humilhações de Jonathan, Wal, o amava, logo quando ela chegou na casa, o jovem a adorava, mas com o passar dos anos, o desprezo cresceu e a relação entre eles se tornou impossível. Já Samuel sentia a falta da família, e principalmente, de alguém para conversar.

- Você faz um ótimo trabalho com as flores. – comenta Samuel comendo igual um desesperado.

- Obrigada. Pensei que você não prestasse atenção nas coisas que eu faço.

- Wal, eu quero te pedir desculpas, eu nasci para ser um babaca e... eu sei que você é uma boa pessoa. – diz Samuel, depois de muito pensar em uma resposta.

- Eu... – ela falou com os olhos vermelhos. – Com licença.

Durante a noite, Jonathan, jantou com a família de Samuel. O caos de sempre deixou o rapaz zonzo, afinal, Isabella, Antonella e as crianças, podiam ser um pouco barulhentos. Ele foi obrigado por seus irmãos a continuar a história do ‘Pequeno Príncipe’, no início Jonathan ficou desconfortável, mas pegou o jeito rápido, inclusive, para inventar vozes fictícias para os personagens.

- Disse a flor para o pequeno príncipe: É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas. – lê Jonathan fazendo uma voz fininha. – Bem, agora eu preciso descansar, seus pestes.

- Samuel, obrigado. – agradece Silvio.

- Não precisa. Agora vai dormir.

Ao entrar no quarto, Jonathan, ligou o computador e acessou um aplicativo de conversa por vídeo. Não demorou muito e Samuel entrou em contato. Os dois não tinham nenhuma pista sobre o que aconteceu no ‘Ciência Maluca’, até que Samuel lembrou da velha no quarto do hospital. Jonathan achou a história um tanto irreal, mas na situação em que se encontrava, qualquer coisa era uma informação válida.

- Samuel. E se a gente trocar enquanto estiver dormindo? Quem sabe?

- Eu não quero ficar preso no seu corpo para sempre. A minha família precisa de mim. Espero que não tenha dado bandeira com ninguém.

- Claro que não, tá maluco. Só a Lana que estranhou a minha reação, fui obrigado assistir um dorama hoje.

- Sério? Qual?

- O Jardim de Meteoros ou algo do tipo. Enfim, e você acha que eu quero ficar preso no corpo de alguém....

- De alguém, gordo, né? Você é muito ridículo. Escuta, assim que der a gente volta naquele maldito parque e faz a troca, ok?

- Samuel, não fica bravo, eu sei que sou um babaca, tá. A gente vai sair dessa, eu prometo.

- Filhinho. – diz Wal entrando com um copo de leite. – Eu trouxe para você tomar antes de dormir, li em um artigo que faz bem para pessoas que bateram a cabeça. – deixando o copo na mesinha de Jonathan.

- Tudo bem, boa noite e obrigado. – agradeceu Samuel.

- Tchau, filhinho e amanhã conto com sua ajuda no jardim. – comenta Wal antes de sair.

- Pode deixar.

- Você vai ajudar a Wal? Sabe há quanto tempo eu trato essa mulher mal? Anos... anos...

- Qual é, Jonathan. A Wal não é sua inimiga.

- Samuel, não se mete na minha vida, ok? Eu estou fazendo de tudo para deixar suas coisas no lugar. Não fique amigo dela.

- Eu... eu não sei destratar as pessoas Jonathan, mas prometo que vou manter distância. – assegurou Samuel, mesmo sabendo que não conseguiria cumprir a promessa.

- Ótimo. Amanhã a gente se fala. Vou aí em casa para conversamos melhor.

Na madrugada, Samuel sonhou com a senhora que encontrou no hospital. Novamente, a mulher falou que ele era responsável por tudo o que estava acontecendo. Samuel acordou assustado e começou a chorar copiosamente. Enquanto isso, Jonathan, teve um pesadelo com o acidente no brinquedo. O jovem sentiu todas as emoções possíveis, e no fim, viu seu corpo caído no chão. Ao acordar, Jonathan, pegou na pancinha de Samuel, e percebeu que continuava no corpo do colega.

- Merda, mais um dia preso aqui. Que raiva. Pelo menos não preciso estudar. – levantando.

Já na casa de Jonathan, as coisas estavam divertidas, Wal e Samuel, preparavam o café da manhã juntos, aquilo era inédito para a família Godoy, Gláucio ficou surpreso com a atitude do filho. Samuel decidiu fazer panquecas no estilo americano para os pais de Jonathan. Durante o café, eles riram bastante, Samuel adorou conhecer mais histórias embaraçosas do colega de classe.

- Bem, eu preciso ir. Jonathan, juízo, por favor. – pediu o patriarca.

- Pode deixar pai.

- Pai? – questionam Wal e Gláucio juntos.

- E o que aconteceu com o papai? – perguntou Wal.

- Claro, pode deixar, papai.

Jonathan esperou a família de Samuel sair. Depois, ele desceu o prédio e pegou o metrô. Enquanto esperava o vagão, Jonathan, foi abordado pela misteriosa senhora. A mulher dessa vez, vestia trapos e não parecia tão amistosa quanto antes. Ela afirmou que o caminho de Jonathan seria doloroso, e se ele não confiasse em Samuel, as coisas ficariam complicadas.

- Existe beleza na sua dor, mas não pode deixar isso te consumir. O seu amigo, o Samuel, tem muita coisa para te ensinar, não o deixe escapar. – ela disse se afastando e sumindo no meio da multidão.

- Que doideira. Quem é essa maluca? Será que ela é a culpada de tudo?

Quando saiu da estação, Jonathan, viu um antigo conhecido, o nome do rapaz, Oliver, eles estudaram juntos, mas Jonathan repetiu de ano e não entrou para a universidade. Por pouco, os dois não se cruzaram na rua. Oliver seguia para um bar, em plena luz do dia. Ele entrou e deixou todos os pertences em uma espécie de armário. Em seguida, o jovem retirou toda a roupa, em nenhum momento se constrangeu com as pessoas que passavam.

- Oi, gostosão? – perguntou um homem de mais ou menos 50 anos.

- E aí, coroa? Qual é a boa? – perguntou Oliver.

- A boa? É essa. – disse o homem se abaixando.

- Eu... – Oliver tentou falar, mas apenas fechou os olhos e curtiu o momento.

O quarto de Samuel estava de cabeça para baixo, ele e Jonathan, decidiram fazer um Quartel General para a operação ‘Troca de Corpos’. Jonathan riu ao ver Samuel deitado em sua cama, o jovem parecia muito feliz por deitar ali. Isabella esqueceu suas chaves no apartamento e precisou voltar. Ela ouviu uma movimentação diferente no quarto do filho e foi investigar.

- Filho? Temos visitas? – ela perguntou entrando de uma vez.

- Mãe? – perguntou Samuel no corpo de Jonathan. – Digo, Dona Isabella. – ele falou nervoso e levantando da cama.

- Ah, mamãe. Esse é o Samu... digo... o Jonathan Godoy, meu colega de sala. – fala Jonathan se levantando com dificuldade. – A gente está fazendo um trabalho.

- Eu estou vendo. – analisando a situação do quarto de Samuel. – Você vai arrumar esse ‘trabalho’, né?

- Sim, pode deixar, a gente vai arrumar tudinho. – afirma Samuel.

- É, mamãe! – olhando feio para Samuel. – Nós vamos.

- Muito bem. Ah, filho. Faz o almoço dos teus irmãos hoje?

- Claro. Pode deixar. – diz Jonathan colocando o caderno na mesa.

- Até mais, prazer te conhecer Jonathan.

- Sim. – diz Jonathan. – Quero dizer, ele está feliz em te conhecer também.

- Enfim, tchauzinho. E não aprontem nada. – pede Isabella saindo.

- Ufa. – falou Samuel sentando no chão aliviado.

- Só tem um pequeno problema. – ressaltou Jonathan. – Eu não sei cozinhar.

- Sem problema, eu te ensino. Afinal, até a gente resolver essa treta, vamos ter que cooperar um com o outro.

Pela primeira vez em muito tempo, Jonathan se divertia com outra pessoa. Desde a morte da mãe, o jovem perdeu muito de sua inocência e companheirismo. Ele não sabia que cozinhar era tão fácil, quer dizer, Samuel deixava tudo muito dinâmico e simples de assimilar. Olhando para o colega, Jonathan, percebeu que ele precisava mudar em muitas áreas de sua vida, e achava que a aquela situação poderia render bons frutos.

Já Samuel muitas vezes esquecia que estava no corpo de Jonathan, na cabeça dele, aquilo ainda era um sonho estendido. Aos poucos, um aroma gostoso tomar conta do apartamento. Arroz, macarrão, frango e purê de batata, o primeiro prato que o Chef Samuel ensinou para o colega. Não demorou muito para que Silvio e Sônia chegassem da escola, a missão de resgatar as crianças na escola era de Antonella que ficou encantada com a beleza de Jonathan.

- Samuel, não me falou que tinha amigos tão bonitos. – comentou Antonella sentando para almoçar.

- Tia. – disse Samuel que ficou calado.

- Tia, para com isso. O Jonathan vai ficar com vergonha. – interveio Jonathan.

- Mas é verdade. Imagino que o seu pai deve ser um gatinho, né? – olhando fixamente para Samuel, no corpo de Jonathan.

- Mano, sabe o que eu fiz hoje? – perguntou Silvio para Jonathan.

- O quê? – perguntam Samuel e Jonathan ao mesmo tempo.

- Nossa que sincronia. – comenta Antonella.

- Enfim, Sandro, fala? – perguntou Jonathan.

- Sandro? Quem é Sandro? – questionou o pequeno.

- Silvio. Desculpa, pode falar Silvio. – corrigiu Jonathan.

- A professora pediu para fazermos um desenho da nossa família. – informou Silvio correndo até a mochila e mostrando o desenho para todos.

- Que lindo desenho, garotão. – elogiou Samuel. – Teu irmão é um artista, né? – olhando para Jonathan.

- Claro, puxou isso de mim.

Na escola, Lana tentava sobreviver sem seu melhor amigo. Para piorar, Lorena queria conversar com ela. Na aula de educação física, Lana decidiu focar nas atividades passadas pelo professor, Jefferson. Com fones no ouvido, a jovem colocou para tocar sua playlist favorita ‘flashback’. O coração dela batia forte, Lana, adorava se desafiar na pista de corrida. No fim do percurso, o professor à para e parabeniza o seu tempo.

- Olha só. 20 segundos. É o recorde do terceiro ano.

- Sério, prof? Eu não acredito. – questiona Lana.

- Estamos criando uma equipe para participar dos Jogos Estudantis. Você não gostaria de participar? – convida Jefferson

- Puxa, eu posso pensar? – Essa semana tem sido peculiar.

- Alana, com licença, professor. – pediu Lorena morrendo de cansaço. – Eu preciso muito falar com a Alana.

- Com licença. E quando terminarem, para o vestiário.

- Amiga...

- Não somos amigas, Lorena. O que vocês fizeram com o Samuel foi um crime.

- Para, não precisamos falar do passado, o Samugordo e o príncipe do Jonathan estão bem, né? – questiona a moça.

- É, graças a Deus. Enfim, o que você deseja?

- Fiquei de copiar os assuntos para o Jonathan, mas sabe como é, né? Me empresta as tuas anotações?

- Nem vem.

- Por favorzinho, Alana, de uma mulher para outra. Eu pago o teu lanche por duas semanas. Eu juro.

- Tá bom, duas semanas, hein. Te passo o conteúdo no fim da aula de hoje. Agora com licença.

Após o almoço, Samuel e Jonathan, lavaram as louças e voltaram para o quarto. Jonathan se arrependeu das coisas que fez e disse para o colega de classe, ele não imaginava que a vida do jovem fosse tão difícil. Eles ficaram deitados na cama de Samuel durante alguns minutos. Os dois começaram a pensar em formas de voltarem aos seus corpos, porém nada fazia sentido naquela situação. Do nada, Lorena, liga para Jonathan.

- Atende. – disse Samuel.

- Você que precisa atender. O celular é meu, mas a voz que ela quer ouvir é a sua. – explicou Jonathan.

- Droga, então é melhor não atender.

- E se for importante, puxa, eu passei três horas com tua amiga ontem. – falou Jonathan.

- Aff. Tudo bem. – respondeu Samuel pegando o celular. – Alô? – revirando os olhos.

- Oi, Jon Jon, tudo bem? – perguntou Lorena.

- Eu estou ótimo, a cabeça doí um pouco, mas estou bem. – respondeu Samuel.

- Escuta, eu estou com as anotações da escola, posso levar para você e...

- Puxa, Lorena, infelizmente, eu não posso. Acho que na sexta, eu estou livre. Que tal?

- Ah, entendi. Tudo bem. Até, sexta, beijinho e melhoras. – desejou Lorena ao desligar o celular.

- Tão obvio. – comentou Samuel.

- O que é obvio? – perguntou Jonathan.

- Nada, esquece. – levantando e olhando pela janela.

- Agora eu quero saber. O que é obvio?

- Você e a Lorena. – soltou Samuel.

- Ah, como você e o El Diablo, não fossem, né? – questionou Jonathan fazendo uma voz fofinha e cutucando Samuel.

- Quem te contou isso? Você leu meu diário? – quis saber Samuel indo até a escrivaninha e pegando seu diário.

- Claro que não, acha que sou fofoqueiro? A tua amiga que fala demais. E, outra cara, você tem um diário?

- A Lana também não é fofoqueira, ela só pensa que você é eu. Enfim, eu não tenho nada a ver com o teu relacionamento. E, sim, tenho um diário, preciso desabafar de alguma forma.

- Tudo bem, só não usa o meu corpo para beijar o El Diablo. – pediu Jonathan fazendo uma careta.

A tarde noite caiu na cidade de São Paulo, Samuel e Jonathan, acabaram adormecendo, afinal, planejar a troca de corpos não deve ser um trabalho fácil. Jonathan teve um pesadelo, o jovem viu todas as humilhações que fez o colega passar, mas só que era ele quem sofria tudo.

- O que vocês querem de mim? – perguntou Jonathan ao ver um grupo mascarado se aproximando dele.

- Seu gordo! – gritou uma mulher.

- Samugordo, você não tem noção de como é ridículo. – disse outro puxando o cabelo de Jonathan.

- Eu não fiz nada para vocês, parem. – pediu Jonathan assustado.

- Gordo. Ridículo. Ninguém te ama. – falou um homem tirando a máscara e revelando seu rosto. – Eu sou Jonathan Godoy, e decreto a partir de hoje que você vai sofrer seu gordo!

- Não, não, por favor. – implorou Jonathan.

Lana decidiu visitar o amigo antes de ir para casa. Ela tinha acesso total ao apartamento de Samuel, até mesmo, a cópia da chave. A jovem encontrou Silvio e Suellen assistindo televisão na sala, e seguiu para o quarto do melhor amigo.

- Tú não vai acreditar quem me pediu ajuda hoje? – ela disse pulando em cima da cama, mas caindo em cima de Samuel, que está no corpo de Jonathan.

- Aaaaah! Não me matem, por favor! – grita Jonathan assustado e se levantando.

- Meu Deus? – diz Lana se afastando.

- O que aconteceu? – pergunta Samuel acordando. – Cadê?

- O que você está fazendo aqui? – pergunta Jonathan.

- Ei, os questionamentos são meus, o que Jonathan Godoy faz aqui?

- Amiga. – fala Samuel.

- Você não é nosso amigo. – puxando Jonathan para perto dela. – Por sua causa, Samuel, quase morreu, garoto.

- Jonathan. – Samuel olha para o colega. – Vamos contar.

- Você acabou de chamar, o Samuel de Jonathan? – pergunta Lana.

- Alguém precisa saber, e eu confio 100% na Lana. – continua Samuel, no corpo de Jonathan, o que deixa a amiga muito confusa.

- Você que sabe. Lembra da Área 51, né? Eu não quero ser um experimento, ainda mais num corpo que não é meu.

- Corpo que não... – balbucia Lana mais perdida que entrega da China.

- Amiga, eu sou o Samuel. – ele explica se aproximando.

- Qual é. – olhando para Jonathan. – Samuel, que brincadeira sem graça essa?

- Eu não sou o Samuel. Sou o Jonathan, infelizmente, mas sou o Jonathan. – sentando na cama.

- Isso... não... como assim? O que aconteceu com vocês? – indagou Lana ficando pálida.

- No acidente, alguma merda aconteceu e trocamos de corpos.

- Se você for o Samuel de verdade, vai saber responder as minhas perguntas. – ela anuncia ao pegar caneta e papel.

Lana sentou e ficou pensando em perguntas que só Samuel poderia responder. Enquanto isso, Jonathan fazia o jantar dos irmãos do colega. Samuel era um excelente professor, e Jonathan, pela primeira vez ficou orgulhoso de algo que fez. Depois do jantar, a dupla seguiu para o quarto e Samuel precisou responder todos os questionamentos da amiga. Ele se sentiu em uma prova, afinal, as respostas definiriam sua credibilidade.

- Ah, eu lembro desse dia. – diz Samuel rindo. – Essa também é fácil. – ele destacou antes de escrever a resposta.

- Isso é muito estranho, nunca pensei que Jonathan Godoy responderia perguntas de amizades feitas por mim. – comentou Lana para Jonathan.

- Acredite, nem eu. – respondeu o jovem.

- Terminei.

- Deixa eu ver. – disse Lana praticamente arrancando o papel da mão de Samuel. – Nossa. Meu Deus. Isso não pode ser. – ela falou olhando para os dois. – Eu só preciso de.... – desmaiando.

- Lana! – exclamou Samuel.

- Eu falei, área 51, eu vou para a área 51. – ajudando Lana que estava no chão, literalmente.

Do outro lado da cidade, Oliver, bebia com um grupo de pessoas. Não demorou muito para a festa animada se transformar em uma verdadeira orgia. Existia algo dentro de Oliver, uma coisa que ele não conseguia controlar, não era fogo de adolescente, afinal, o jovem já havia passado dessa fase. Durante anos, Oliver, participou de grupos de terapia, mas desistiu completamente e abraçou sua doença.

- Hoje você quer a loira ou a morena? – perguntou um homem.

- Eu quero todas. – afirmou Oliver puxando o cabelo das duas mulheres que estavam em sua frente.

Música: My Mistake

Artista: Gabrielle Aplin

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Hoje eu acordei tarde de novo

E eu estou com medo de tudo

Não me atrevo a sonhar

Eu tenho uma imaginação sombria

Essas horas desperdiçadas

Uma dívida que eu nunca vou pagar

Eu estou falando com as paredes

Mas as paredes continuam desmoronando

Elas amplificam meus pensamentos

Eu realmente quero conversar

Mas eu deixo isso escapar

Uma dívida que eu nunca vou pagar

Preocupação, preocupação , oh

É engraçado como as coisas mudam

Quando nada realmente muda de fato

Estou exausta?

Deveria me sentir assim?

Eu sou uma perdedora

Sendo derrotada pelo meu próprio jogo

Mas se eu vacilar

Bem, pelo menos seria erro meu

Oh, pelo menos seria erro meu

Porque eu escolhi ser assim

Eu sou uma perdedora

E eu me auto deprecio

Então quando eu vacilar

Bem, pelo menos seria erro meu

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Samuel e Jonathan sentam no chão, eles esperam Lana retornar, afinal, o sustou foi grande. Samuel contou para o colega como conhecer a melhor amiga. Eles eram unidos, nunca esconderam segredos.

- Ela é meu tudo. Esteve em todos os momentos da minha vida, os felizes e alegres. A primeira pessoa que soube da minha sexualidade foi a Lana. – explicou Samuel enquanto fazia carinho na amiga.

- Samuel, de verdade, eu sinto muito da forma como eu agi contigo. Eu sou um cara legal, só estou um pouco perdido. – disse Jonathan sem olhar para Samuel.

- Eu entendo, Jonathan, mas isso não te dá o direito de descontar nas pessoas.

- Sinto muito. – ele falou se levantando e saindo do quarto.

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Eu vi minha amiga hoje

Ela tentou me confortar

Mas eu a dispensei

Há uma mágica nessa miséria

Então não importa o que você diga

Eu não acho que eu irei mudar algum dia

Preocupação, preocupação, oh

É engraçado como as coisas mudam

Quando nada realmente muda de fato

Estou exausta?

Deveria me sentir assim?

Eu sou uma perdedora

Sendo derrotada pelo meu próprio jogo

Mas se eu vacilar

Bem, pelo menos seria erro meu

Bem, pelo menos seria erro meu

Porque eu escolhi ser assim

Eu sou uma perdedora

E eu me auto deprecio

Então quando eu vacilar

Bem, pelo menos seria erro meu

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Oliver chegou em casa e encontrou seu amigo, Yago, na sala. Ele se assustou, pois, não o via há anos. Yago explicou que ainda tinha a chave do apartamento. Na verdade, os dois faziam um programa de terapia para jovens ninfomaníacos. Oliver não aguentou a pressão e acabou largando, enquanto o amigo seguiu e obteve sucesso.

- O que você quer? – perguntou Oliver.

- Quero que você volte, eu sei que errei em não vir atrás de você. – assegurou Yago levantando e tentando chegar perto de Oliver.

- Você não sabe como é. Todos me abandonaram, a minha família, meus colegas. Tudo por causa de um vídeo estupido. – disse Oliver chorando e abraçando o amigo. – Eu odeio vocês.

- Desculpa, por favor. Volta. – pede Yago.

- Eu só preciso de um beijo. – beijando Yago que percebe o gosto de bebida na boca de Oliver.

- Você está bêbado. – pegando na mão do jovem e vendo a pulseira da casa de swing.

- Foi só hoje, eu juro.

- Não foi só hoje, e nem vai ser. Eu pensei que. – Yago deixa cair algumas lágrimas e pensa nas próximas palavras. – Quer saber, a cura precisa começar por você, Oliver. Quer culpar a sua família e seus amigos, porém, não admite que você tem um problema. Eu preciso ir.

- Fica, por favor. – implora Oliver segurando o braço de Yago.

- Vir aqui foi um erro. – saindo e deixando Oliver sozinho chorando no chão.

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E realmente não me importo com o quê os outros falam

Eu pouco me importo com o quê os outros falam

Eu não quero pensar sobre nada

Eu não quero pensar sobre nada

E realmente não me importo com o quê os outros falam

Eu não preciso de opiniões ecoando na minha cabeça

Eu realmente não me importo com nada

Eu realmente não me importo, eu realmente não me importo de verdade

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- Ei, gatinha. – diz Henrique, o amigo de Jonathan.

- Oi? – perguntou Antonella se aproximando do rapaz. – Está falando comigo?

- Sim, gatinha, com você mesma. – garante o rapaz se achando.

- Posso falar uma coisa no seu ouvido?

- Claro, mulheres bonitas podem tudo. – responde Henrique.

- Bem. – falou Antonella toda dengosa e se aproximando do ouvido de Henrique. – As fraldas podem ser compradas no mercado ali na frente. – ela ri e volta para o balcão do bar.

- Puta que pariu! – exclama Kleiton voltando do banheiro e sentando ao lado de Henrique.

- Minha futura namorada. – garante Henrique sorrindo na direção de Antonella.

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Estou exausta? (Exausta)

Deveria me sentir assim?

Eu sou uma perdedora

Sendo derrotada pelo meu próprio jogo

Mas se eu vacilar

Bem, pelo menos seria erro meu

Bem, pelo menos seria erro meu

Porque eu escolhi ser assim

Eu sou uma perdedora

E eu me auto deprecio

Então quando eu vacilar

Bem, pelo menos seria erro meu

Bem, pelo menos seria erro meu

Bem, pelo menos seria erro meu

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- Como você acha que a Lana vai reagir? – pergunta Jonathan assustando Samuel.

- Nossa, garoto, não chega assim. – se recompondo. – Eu não sei, vamos ter que esperar.

- Pelo menos se eu for para a Área 51 vai ser com você, né? – sentando ao lado de Samuel.

- Onde eu estou? – questiona Lana acordando.

- Em casa. – responde Samuel.

- Tive um sonho engraçado, sabe, que vocês dois tinham trocado de corpo. – diz Lana rindo e sentando. – Por que vocês não estão rindo?

- A piada foi boa Alana, mas a situação não. – fala Jonathan.

- Amiga, não sabemos o que fazer. – solta Samuel.

- Oh, Deus. – Lana olha para os dois sem saber o que dizer.

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