08 - UM NOVO HOMEM

Conto de escritor.sincero como (Seguir)

Parte da série A VIDA QUE NÃO ESCOLHI

Matérias, provas, ensaios e troca de corpos, Samuel e Jonathan, estavam cortando um barato para equilibrar tudo. Ainda mais agora com o segredo de Jonathan martelando na cabeça de Samuel. Antes da aula, os dois conversaram, e Samuel, aproveitou para tirar uma graça da cara do amigo.

- Jonathan. – disse Samuel cutucando Jonathan, fazendo uma expressão fofa.

- O quê? – respondeu Jonathan, enquanto olhava para o caderno.

- Sabe quem me ligou hoje?

- Quem?

- O Oliver. – ficando vermelho e sorrindo. – Ele é realmente muito bonito, né?

- Ei. – Jonathan protestou ficando revoltado. – Ele é meu.

- Eu poderia fazer a ponte, né? Afinal, o corpo é meu. Já pensou quando a gente destrocar?

- Verdade. E agora?

- Pois é. Você poderia engordar, já que o Oliver gosta de gordinhos.

Na hora do intervalo, Lana, se preparou toda para o teste com o professor de educação física. Ela queria criar mais vínculos e ter novas conquistas, mesmo tendo o risco de sair da escola por causa de seu problema familiar. A moça trocou de roupa no vestiário, colocou o tênis de corrida e seguiu para o campo do colégio. Lá, o professor avisou que ela competiria contra o maior corredor da equipe, Daniel.

- Não pode ser? – questionou Lana.

- Oi, professor. Oi, Lana. – cumprimentou Daniel.

- Bom dia, Daniel. Vá se aquecer, a Lana já está preparada. – pediu o professor.

O coração de Lana parecia que ia sair pela boca, ela nunca imaginou ter um contato direto com Daniel. Eles se posicionaram na marca indicada pelo professor, aguardaram a partida e correram. Lana estava concentrada, naquele momento, esqueceu de tudo, principalmente, dos problemas e não percebeu que havia ganhado a corrida. O professor marcou o tempo e parabenizou os dois.

- Parabéns, Lana, você arrasou. – parabenizou Daniel.

- Obrigada.

- Lana, adorei. Você se concentrou e bateu o Daniel. – disse o professor, entregando uma camisa para a jovem. – Você faz parte da nossa equipe. Os treinamentos são nas segundas e sextas. Venha preparada. Com licença.

- Olha. Que tal a gente comemorar tomando um sorvete? – perguntou Daniel.

- Nós dois?

- Sim, eu e você. – ele disse sorrindo.

- Pode ser na sexta, depois do treino?

- Claro.

Jonathan chegou em casa e fez comida para os irmãos de Samuel. Ele foi para o quarto e começou o dever da escola. Depois, o jovem decidiu tomar banho, Jonathan, seguiu para o banheiro e ficou se olhando no espelho. Naquele momento, Jonathan, se desfez de todos os preconceitos, sentou no vaso e descobriu o corpo de Samuel. Ele ficou surpreso com as coisas que viu, não imaginava aquilo no amigo.

- Samuel deve fazer sucesso, por isso, que o El Diablo ainda procura ele. – pensou Jonathan.

Como são as coisas, né? Na casa de Jonathan, Samuel fazia a mesma coisa, só que dentro da banheira. Depois que descobriu que o amigo era gay, Samuel, resolveu explorar mais a sexualidade de Jonathan. Ele precisou de uma ajuda externa para se inspirar, e recorreu a internet, não demorou muito para ele terminar o serviço.

- Apressado esse menino. – comentou Samuel.

Depois do banho, Samuel, deitou e cochilou. Só que a tarde dele seria atrapalhada. Henrique e Kleiton, sentiram falta de Jonathan. Eles decidiram visitar o amigo, afinal, a banda precisava de ensaios. Wal adorou ver os amigos do enteado, mesmo contra vontade, Samuel, desceu e recebeu os colegas. Ele fez um esforço para tratá-los bem, só que foi quase impossível.

- Pô, a Lorena, falou que você a deixou de lado. – comentou Henrique.

- Sacanagem, hein, Deixar uma gatinha daquelas sozinha. Ainda mais pelo baleia e a feminista. – completou Kleiton.

- Só pode ser sacanagem. – pensou Samuel. – Olha, gente. Eu fiz muito mal para o Samuel, ele é um bom garoto. E a Lana está precisando da minha ajuda.

- Fora que você faltou dois ensaios, a gente sabe que você está se recuperando, mas... – tentou falar Henrique.

- Eu vou voltar para os ensaios, não se preocupem, só preciso de tempo. – falou Samuel.

- Meninos, trouxe um lanchinho. – anunciou Wal segurando uma bandeja cheia de guloseimas.

- Não precisa, Wal. De verdade. – pediu Samuel.

- Claro que precisa, tia. – gritou Henrique.

- Você me paga. – Samuel digitou no celular e enviou para Jonathan.

Jonathan adorava ler para os irmãos de Samuel. Ele terminou ‘O Pequeno Príncipe’, e começou a leitura de Harry Potter e a Pedra Filosofal. Jonathan lembra com carinho, quando a mãe lia as histórias do bruxinho antes de dormir. A versão que o jovem conseguiu era digital, mas, Silvio e Suelen, prestavam atenção em cada palavra, uma vez que, Jonathan ficou especialista em imitar vozes de personagens.

- Alvo Dumbledore não parecia ter consciência de que acabara de pisar numa rua onde tudo, desde o seu nome às suas botas era malvisto. Estava ocupado apalpando a capa, procurando alguma coisa. – leu Jonathan, quando percebeu que as crianças dormiam. – Bem, boa noite, pestinhas.

- Samuel. – disse Silvio, assustando o jovem.

- Era para você estar dormindo. – falou Jonathan.

- Meus amigos bagunçaram comigo hoje.

- Mesmo. Por quê? – questionou o jovem, sentando ao lado de Silvio.

- A gente não tem pai. – revelou a criança.

- Ei, a gente pode não ter pai, mas temos uma mãe que trabalha mundo para nos dar tudo. Você deveria ter orgulho em dobro por não ter um pai.

- Eu sei, mas eu sinto falta dele. A mamãe nunca fala sobre ele.

- Eu sinto muito, maninho. – tentou amenizar.

- Você sente falta do teu pai?

- Demais. Ele é o cara mais legal que eu conheço, sempre esteve ao meu lado. – Jonathan relembrou do pai e se emocionou. – Enfim, o importante é que temos a mamãe.

- Samuel, você pode dormir aqui comigo? – perguntou Silvio.

- Claro, afasta aí. – pediu o jovem.

Samuel acordou cedo para conversar sobre a vaga de emprego para Caio, o pai de Lana. Ele entregou o currículo para Gláucio, e praticamente implorou para o pai de Jonathan conseguir uma vaga. Wal também deu uma forcinha, e a cada dia, Samuel, gostava mais de sua nova mãe. Na escola, Lana, recebeu com alegria a notícia de um possível trabalho para Caio.

- Sério, Samuel. Eu não saberia o que fazer sem você. – abraçando o amigo.

- Para, assim eu fico convencido. – pediu Samuel rindo.

- Estou atrapalhando o casal? – perguntou Jonathan.

- Claro que não. – assegurou Lana. – Ah, e o seu pai é o melhor.

- Eu sei. E, Samuel. – tirando o papel do bolso. – Vai ter uma competição de doces, o valor do prêmio é de R$ 10 mil.

- Cadê? – olhando o folheto. – Gente, é verdade. Será que eu consigo?

- Consegue, sim. Os seus doces são os melhores. – garantiu Jonathan.

- Você participaria por mim? – perguntou Lana se emocionando.

- Eu já disse, por você, faço qualquer coisa.

- Precisamos correr com a inscrição. – alertou Jonathan.

Os três correram para a casa de Jonathan. Eles produziram um vídeo de Samuel cozinhando, ele preparou um bolo espelhado. Wal entrou na cozinha e pensou que um furacão havia passado no local. Ela ficou feliz ao ver Jonathan com seus amigos. Já o jovem quase teve um troço quando viu que Samuel e Wal se tornaram amigos. Gláucio que decidiu sair mais cedo do trabalho encontrou toda a família degustando a receita de Samuel.

- Pai, eu sei que é complicado, mas o senhor, tipo, já tem alguma resposta sobre o emprego do seu Caio? – perguntou Samuel.

- Sim, filhão. Já passei para o RH. A entrevista será na sexta-feira. – avisou Gláucio. – Mas tu sabes que tudo tem uma consequência, né?

- Tem, é? – questiona Samuel fazendo uma careta.

- Sim. Semana que vem, uma comissão do Japão vai chegar na empresa. E teremos um jantar especial, então, gostaria que você tocasse para nós.

- É, sério? – pergunta Jonathan, chamando a atenção de todos.

- Er, mas pai. Eu acabei de sofrer um acidente e...

- Ele toca, seu Gláucio. Qual é, Jonathan. Vai ser moleza. – diz Jonathan sorrindo.

Samuel e Lana se olham sem acreditar na enrascada que se meteram. Samuel mais uma vez agradece ao pai do amigo. Sem saber de nada, Gláucio, acaba perguntando se Lana é namorada de Jonathan, Samuel, ficou nervoso, claro, mas garantiu que são apenas amigos. Wal convida os amigos do enteado para jantar, prometeu levar todos para casa, eles aceitaram, afinal, quem negaria comida gratuita, ainda mais com carona.

- Ei, eu falei para você não criar laços com a Wal. – Jonathan falou surpreendendo Samuel.

- Que susto, garoto. – reclamou Samuel. – Nem começa, você disse também que não era para prostituirmos o corpo um do outro. Você cumpriu a sua parte? Hein, HEIN? – questionou Samuel. – E outra, eu vivo sozinho nessa casa gigante, sinto falta de falar com alguém.

- Desculpa, só não quero dar aberturas. – sentando na cama.

- Ei, a Wal, não é a tua inimiga. Ela quer o teu bem.- pegando na mão de Jonathan. – Eu sei que você perdeu sua mãe cedo, mas a Wal não tem culpa disso.

- Eu sei. – segurando forte na mão de Samuel. – Só que... – chorando e abraçando o amigo..

- O que foi?

- O papai, ele nunca se importou com a minha música. Ele quer que eu toque no jantar dele. Desculpa, parecer uma bicha. – limpando os olhos.

- Você é uma bicha. E não é vergonha chorar de felicidade. Só que tem problema. – avisa Samuel.

- Qual?

- Eu nunca fiz um show! – se jogando na cama.

- É mesmo. – deitando perto de Samuel, olhando para o amigo e rindo.

- Qual é a graça?

- Estamos fodidos, né?

- Demais. – garante Samuel rindo com o amigo. – Muito. – limpando as lágrimas de Jonathan. – Ei, não chora. Já te disse. Isso é motivo de celebração. Fora que a minha cara fica mais inchada quando choro.

- Obrigado, Samuel. Nunca pensei que fosse dizer isso, mas agradeço ao acidente. Apesar de tudo, a nossa troca está tendo um impacto positivo na minha vida.

No dia seguinte, os três enviaram o vídeo da receita feita por Samuel. Eles queriam muito ganhar a competição. Jonathan mandou uma mensagem para os amigos, ele queria marcar um ensaio para o jantar de Gláucio. Samuel por outro lado ficou bastante nervoso, nunca passou pela cabeça dele, cantar em um show. Lana decidiu acompanhar o ensaio, ela queria mostrar que também estava ao lado de Samuel.

Para a apresentação, o grupo decidiu por um repertório mais voltado para o MPB. Samuel até que tentou, mas o nervosismo era maior. Ele travou e não conseguia cantar uma música. Henrique e Kleiton estranharam aquilo, já que Jonathan nunca errou uma nota na vida. Para ajudar o amigo, Jonathan, pegou o violão e o acompanhou. Nem precisa dizer, que os integrantes da banda se sentiram incomodados.

- Ei, relaxa. – pediu Jonathan.

- Tudo bem. – tocando o teclado. – Vamos começar.

MÚSICA: COMO NOSSOS PAIS

CANTORA: ELIS REGINA

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Não quero lhe falar meu grande amor

Das coisas que aprendi nos discos

Quero lhe contar como eu vivi

E tudo o que aconteceu comigo

Viver é melhor que sonhar

Eu sei que o amor é uma coisa boa

Mas também sei que qualquer canto

É menor do que a vida

De qualquer pessoa

Por isso cuidado meu bem

Há perigo na esquina

Eles venceram

E o sinal está fechado prá nós

Que somos jovens

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Gláucio pega uma pasta com várias fotos, e em uma delas, estão dois garotinhos. Ele abraça o retrato e começa a chorar copiosamente. Wal vê a cena e o abraça com força. Ela sabe do peso que o marido carrega, então, não diz nada, apenas o abraça. Uma dolorosa lembrança volta ao coração dele.

- Quando essa dor vai passar? Quando? – pergunta Gláucio.

- Querido. Não se preocupa, estou aqui com você. Não se preocupa.

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Para abraçar seu irmão

E beijar sua menina na rua

É que se fez o seu braço

O seu lábio e a sua voz

Você me pergunta pela minha paixão

Digo que estou encantada

Como uma nova invenção

Eu vou ficar nesta cidade

Não vou voltar pro sertão

Pois vejo vir vindo no vento

Cheiro de nova estação

Eu sei de tudo na ferida viva

Do meu coração

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- Ele mandou uma carta. – avisa Isabella preocupada.

- Como assim, irmã? – questiona Antonella.

- O João.

- Como assim? Quando? – se assustando. – É impossível.

- Eu sei. Ele quer ver o Samuel.

- Irmã, você não pode deixar esse homem chegar perto do Samuel, não pode! – ela disse entre lágrimas.

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Já faz tempo eu vi você na rua

Cabelo ao vento

Gente jovem reunida

Na parede da memória

Essa lembrança

É o quadro que dói mais

Minha dor é perceber

Que apesar de termos

Feito tudo o que fizemos

Ainda somos os mesmos

E vivemos

Ainda somos os mesmos

E vivemos

Como os nossos pais

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Jonathan ficou encantado com a apresentação de Samuel. Ele sentiu no amigo uma força incrível, ainda mais quando Samuel começou a tocar o teclado. Jonathan viu delicadeza, dedicação e paz. Naquele instante, o jovem se sentiu envergonhado por tudo que fez Samuel passar, e seus olhos logo ficaram marejados.

- Ei, queria te pedir desculpas. – disse Jonathan.

- Por quê? – quis saber Samuel.

- Sabe aquela história de que só para estar na pele do outro para sabermos o que ele passa?

- Sim.

- O que eu fiz você passar, cara, foi horrível. Peguei no seu pé e você nunca fez nada. Eu fui um babaca. – reconheceu Jonathan.

- Jonathan, relaxa. Com toda essa situação, você acabou ficando mais sensível, mas quando tudo isso acabar, as coisas vão voltar para como eram. – disse Samuel.

- Você acha isso?

- O quê? – questionou Samuel.

- Que se a gente trocar de corpos, tipo, não vamos mais ser amigos?

- Jonathan, qual é, não temos nada em comum. Deixa eu lavar a minha mão. – levantando da cama em direção ao banheiro.

- Mas... – pensou Jonathan.

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Nossos ídolos ainda são os mesmos

E as aparências

Não enganam não

Você diz que depois deles

Não apareceu mais ninguém

Você pode até dizer

Que eu tô por fora

Ou então que eu tô inventando

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- Filha. – disse Ana Célia abraçando Lana. – Adivinha só. Ligaram para o seu pai, ofereceram um emprego para ele.

- Sério? – perguntou Lana.

- Sim, o salário é bom, vai dar pra cobrir parte da dívida. Agora só preciso achar os R$ 10 mil. Eu falei que ia dar certo. – falou Caio abraçando e beijando Lana no rosto.

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Mas é você que ama o passado

E que não vê

É você que ama o passado

E que não vê

Que o novo sempre vem

Hoje eu sei que quem me deu a ideia

De uma nova consciência e juventude

'Tá em casa

Guardado por Deus

Contando vil metal

Minha dor é perceber

Que apesar de termos feito tudo, tudo

Tudo o que fizemos

Nós ainda somos os mesmos

E vivemos

Ainda somos os mesmos

E vivemos

Ainda somos os mesmos

E vivemos como os nossos pais

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- Nossa, foi demais. – disse Henrique.

- Vocês gostaram? – perguntou Samuel.

- Sim! – disseram Jonathan, Lana, Kleiton e Henrique juntos.

- Agora, eu estava pensando. E que tal cantarmos uma música em Japonês.

- E você sabe cantar em Japonês? – questionou Jonathan, deixando o violão na base.

- Claro, fiz quatro anos de Japonês. Acha que eu assisto animes com legenda é? – se gaba, Samuel.

- Podemos tentar. – fala Jonathan sorrindo. – Cada dia me surpreende mais. – pensa o jovem.

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