01x04 - MEU ERRO

Conto de escritor.sincero como (Seguir)

Parte da série A VIDA QUE NÃO ESCOLHI

Cartolina, barbante, cola quente e criatividade. Samuel e Jonathan montaram um verdadeiro quartel-general no quarto de Samuel, e nomearam a operação de “Troca de Corpos”. Pela primeira vez desde o acidente, Samuel, não deitava em sua cama. Jonathan riu da situação, pois, o colega parecia muito feliz só de estar ali.

Os dois escutaram passos vindos do corredor, e tentaram agir da forma mais natural possível. Isabella esqueceu suas chaves no apartamento e precisou voltar. Ela deu uma olhada na bagunça, e pareceu chateada, mas tentou disfarçar por causa da visita.

- Filho, temos visitas? – ela perguntou entrando de uma vez.

- Mãe? – perguntou Samuel no corpo de Jonathan. – Digo, Dona Isabella. – ele falou nervoso e levantando da cama.

- Ah, mamãe. Esse é o Samu... digo... o Jonathan Godoy, meu colega de sala. – fala Jonathan se levantando com dificuldade. – A gente está fazendo um trabalho.

- Eu estou vendo. – analisando a situação do quarto de Samuel. – Você vai arrumar esse ‘trabalho’, né?

- Sim, pode deixar, a gente vai arrumar tudinho. – afirmou Samuel.

- É, mamãe! – olhando feio para Samuel. – Nós vamos.

- Muito bem. Ah, filho. Faz o almoço dos teus irmãos hoje?

- Claro. Pode deixar. – disse Jonathan colocando o caderno na mesa.

- Até mais, prazer te conhecer Jonathan.

- Sim. – respondeu Jonathan. – Quero dizer, ele está feliz em te conhecer também.

- Enfim, tchauzinho. E não aprontem nada. – pediu Isabella saindo.

- Ufa. – falou Samuel sentando no chão aliviado.

- Só tem um pequeno problema. – ressaltou Jonathan. – Eu não sei cozinhar.

- Sem problema, eu te ensino. Afinal, até a gente resolver essa treta, vamos ter que cooperar um com o outro.

Pela primeira vez em muito tempo, Jonathan se divertia com outra pessoa. Desde a morte da mãe, o jovem perdeu muito de sua inocência e companheirismo. Ele não sabia que cozinhar era tão fácil, quer dizer, Samuel deixava tudo muito dinâmico e simples de assimilar.

Olhando para o colega, Jonathan, percebeu que ele precisava mudar em muitas áreas de sua vida, e achava que a aquela situação poderia render bons frutos.

Já Samuel muitas vezes esquecia que estava no corpo de Jonathan, na cabeça dele, aquilo ainda era um sonho estendido. Aos poucos, um aroma gostoso tomar conta do apartamento.

Arroz, macarrão, frango e purê de batata, o primeiro prato que o Chef Samuel ensinou para o colega. Não demorou muito para que Sílvio e Sônia chegassem da escola, a missão de resgatar as crianças na escola era de Antonella que ficou encantada com a beleza de Jonathan.

- Samuel, não me falou que tinha amigos tão bonitos. – comentou Antonella sentando para almoçar.

- Tia. – disse Samuel que ficou calado.

- Tia, para com isso. O Jonathan vai ficar com vergonha. – interveio Jonathan.

- Mas é verdade. Imagino que o seu pai deve ser um gatinho, né? – olhando fixamente para Samuel, no corpo de Jonathan.

- Mano, sabe o que eu fiz hoje? – perguntou Sílvio para Jonathan.

- O quê? – perguntam Samuel e Jonathan ao mesmo tempo.

- Nossa que sincronia. – comentou Antonella.

- Enfim, Sandro, fala? – perguntou Jonathan.

- Sandro? Quem é Sandro? – questionou o pequeno.

- Sílvio. Desculpa, pode falar Sílvio. – corrigiu Jonathan.

- A professora pediu para fazermos um desenho da nossa família. – informou Sílvio correndo até a mochila e mostrando o desenho para todos.

- Que lindo desenho, garotão. – elogiou Samuel. – Teu irmão é um artista, né? – olhando para Jonathan.

- Claro, puxou isso de mim.

Na escola, Lana tentava sobreviver sem seu melhor amigo. Para piorar, Lorena queria conversar com ela. Na aula de educação física, Lana decidiu focar nas atividades passadas pelo professor, Jefferson. Com fones no ouvido, a jovem colocou para tocar sua playlist favorita ‘flashback’. O coração dela batia forte, Lana, adorava se desafiar na pista de corrida. No fim do percurso, o professor à para e parabeniza o seu tempo.

- Olha só. 20 segundos. É o recorde do terceiro ano.

- Sério, prof? Eu não acredito. – questiona Lana.

- Estamos criando uma equipe para participar dos Jogos Estudantis. Você não gostaria de participar? – convidou Jefferson, antes de entregar um cartão para Lana.

- Puxa, eu posso pensar?

- Alana, com licença, professor. – pediu Lorena morrendo de cansaço. – Eu preciso muito falar com a Alan

- Com licença. E quando terminarem, para o vestiário.

- Amiga...

- Não somos amigas, Lorena. O que vocês fizeram com o Samuel foi um crime.

- Para, não precisamos falar do passado, o Samugordo e o príncipe do Jonathan estão bem, né? – questionou a moça.

- É, graças a Deus. Enfim, o que você deseja?

- Fiquei de copiar os assuntos para o Jonathan, mas sabe como é, né? Me empresta as tuas anotações?

- Nem vem.

- Por favorzinho, Alana, de uma mulher para outra. Eu pago o teu lanche por duas semanas. Eu juro.

- Tá bom, duas semanas, hein. Te passo o conteúdo no fim da aula de hoje. Agora com licença.

Após o almoço, Samuel e Jonathan, lavaram as louças e voltaram para o quarto. Eles ficaram deitados na cama durante alguns minutos. Então, começaram a pensar em formas de voltarem aos seus corpos, porém, nada fazia sentido naquela situação. Do nada, Lorena, liga para Jonathan.

- Atende. – disse Samuel.

- Você que precisa atender. O celular é meu, mas a voz que ela quer ouvir é a sua. – explicou Jonathan.

- Droga, então é melhor não atender.

- E se for importante, puxa, eu passei três horas com tua amiga ontem. – apelou Jonathan.

- Aff. Tudo bem. – respondeu Samuel pegando o celular. – Alô? – revirando os olhos.

- Oi, Jon Jon, tudo bem? – perguntou Lorena.

- Eu estou ótimo. Mesmo que o nosso plano idiota tenha dado errado. A cabeça doí um pouco, mas estou bem. – respondeu Samuel.

- Escuta, eu estou com as anotações da escola, posso levar para você e...

- Puxa, Lorena, infelizmente, eu não posso. Acho que na sexta, eu estou livre. Que tal?

- Ah, entendi. Tudo bem. Até, sexta, beijinho e melhoras. – desejou Lorena ao desligar o celular.

- Tão obvio. – comentou Samuel.

- O que é obvio? – perguntou Jonathan.

- Nada, esquece. – levantando e olhando pela janela.

- Agora eu quero saber. O que é obvio?

- Você e a Lorena. – soltou Samuel.

- Ah, como você e o El Diablo, não fossem, né? – questionou Jonathan fazendo uma voz fofinha e cutucando Samuel.

- Quem te contou isso? Você leu meu diário? – quis saber Samuel indo até a escrivaninha e pegando seu diário.

- Claro que não, acha que sou fofoqueiro? A tua amiga que fala demais. E outra cara, você tem um diário?

- A Lana também não é fofoqueira, ela só pensa que você é eu. Enfim, eu não tenho nada a ver com o teu relacionamento. E, sim, tenho um diário, preciso desabafar de alguma forma.

- Tudo bem, só não usa o meu corpo para beijar o El Diablo. – pediu Jonathan fazendo uma careta.

A noite caiu na cidade de São Paulo, Samuel e Jonathan, acabaram adormecendo, afinal, planejar a troca de corpos não deve ser um trabalho fácil. Jonathan teve um pesadelo, o jovem viu todas as humilhações que fez o colega passar, mas só que era ele quem sofria tudo.

- O que vocês querem de mim? – perguntou Jonathan ao ver um grupo mascarado se aproximando dele.

- Seu gordo! – gritou uma mulher.

- Samugordo, você não tem noção de como é ridículo. – disse outro puxando o cabelo de Jonathan.

- Eu não fiz nada para vocês, parem. – pediu Jonathan assustado.

- Gordo. Ridículo. Ninguém te ama. – falou um homem tirando a máscara e revelando seu rosto. – Eu sou Jonathan Godoy, e decreto, a partir de hoje que você vai sofrer seu gordo!

- Não, não, por favor. – implorou Jonathan.

Lana decidiu visitar o amigo antes de ir para casa. Ela tinha acesso total ao apartamento de Samuel, até mesmo, a cópia da chave. A jovem encontrou Sílvio e Suellen assistindo televisão na sala, e seguiu para o quarto do melhor amigo.

- Tú não vai acreditar quem me pediu ajuda hoje? – ela disse pulando na cama, mas caindo em cima de Samuel, que está no corpo de Jonathan.

- Aaaaah! Não me matem, por favor! – grita Jonathan assustado e se levantando.

- Meu Deus? – diz Lana se afastando.

- O que aconteceu? – pergunta Samuel acordando. – Cadê?

- O que você está fazendo aqui? – perguntou Jonathan.

- Ei, os questionamentos são meus, o que Jonathan Godoy faz aqui?

- Amiga. – fala Samuel.

- Você não é nosso amigo. – puxando Jonathan para perto dela. – Por sua causa, Samuel, quase morreu, garoto.

- Jonathan. – Samuel olha para o colega. – Vamos contar.

- Você acabou de chamar, o Samuel de Jonathan? – pergunta Lana.

- Alguém precisa saber, e eu confio 100% na Lana. – Samuel falou no corpo de Jonathan, o que deixou a jovem muito confusa.

- Você que sabe. Lembra da Área 51, né? Eu não quero ser um experimento, ainda mais num corpo que não é meu.

- Corpo que não... – balbuciou Lana mais perdida que entrega da China.

- Amiga, eu sou o Samuel. – ele explica se aproximando.

- Qual é. – olhando para Jonathan. – Samuel, que brincadeira sem graça essa?

- Eu não sou o Samuel. Sou o Jonathan, infelizmente, mas sou o Jonathan. – sentando na cama.

- Isso... não... como assim? O que aconteceu com vocês? – indagou Lana ficando pálida.

- No acidente, alguma merda aconteceu e trocamos de corpos.

- Se você for o Samuel de verdade, vai saber responder as minhas perguntas. – ela anuncia ao pegar caneta e papel.

Lana sentou e ficou pensando em perguntas que só Samuel poderia responder. Enquanto isso, Jonathan, fazia o jantar dos irmãos do colega. Ele teve um excelente professor, e quando terminou, depois de várias trapalhadas, ficou orgulhoso do trabalho.

Depois da janta, a dupla seguiu para o quarto e Samuel precisou responder todos os questionamentos da amiga. Ele se sentiu em uma prova, afinal, as respostas definiriam sua credibilidade.

- Ah, eu lembro desse dia. – diz Samuel rindo. – Essa também é fácil. – ele destacou antes de escrever a resposta.

- Isso é muito estranho, nunca pensei que Jonathan Godoy responderia perguntas de amizades feitas por mim. – comentou Lana para Jonathan.

- Acredite, nem eu. – respondeu o jovem.

- Terminei! - gritou levantando o papel.

- Você sabe que isso não é do colégio, né? - ressaltou Jonathan sentando na cama.

- Deixa eu ver. – disse Lana praticamente arrancando o papel da mão de Samuel. – Nossa. Meu Deus. Isso não pode ser. – ela falou olhando para os dois. – Eu só preciso de.... – desmaiando.

- Lana! – exclamou Samuel.

- Eu falei, área 51, eu vou para a área 51. – ajudando Lana que estava no chão, literalmente.

Do outro lado da cidade, Oliver, bebia com um grupo de pessoas. Não demorou muito para a festa animada se transformar em uma verdadeira orgia. Existia algo dentro de Oliver, uma coisa que ele não conseguia controlar, não era fogo de adolescente, afinal, o jovem já havia passado dessa fase. Durante anos, Oliver, participou de grupos de terapia, mas desistiu completamente e abraçou sua doença.

- Hoje você quer a loira ou a morena? – perguntou um homem.

- Eu quero todas. – afirmou Oliver puxando o cabelo das duas mulheres que estavam em sua frente.

Na adolescência, a vida já é complicada demais, imagina em uma situação “cósmica”. Samuel e Jonathan sentam no chão, eles esperam Lana retornar, afinal, o sustou foi grande. Samuel contou para o colega como conhecer a melhor amiga. Eles eram unidos, nunca esconderam segredos.

- Ela é meu tudo. Esteve em todos os momentos da minha vida, os felizes e alegres. A primeira pessoa que soube da minha sexualidade foi a Lana. – explicou Samuel enquanto fazia carinho na amiga.

- Samuel, de verdade, eu sinto muito da forma como eu agi contigo. Eu sou um cara legal, só estou um pouco perdido. – disse Jonathan sem olhar para Samuel.

- Eu entendo, Jonathan, mas isso não te dá o direito de descontar nas pessoas.

- Sinto muito. – ele falou se levantando e saindo do quarto.

Oliver chegou em casa e encontrou seu amigo, Yago, na sala. Ele se assustou, pois, não o via há anos. Yago explicou que ainda tinha a chave do apartamento. Na verdade, os dois faziam um programa de terapia para jovens ninfomaníacos. Oliver não aguentou a pressão e acabou largando, enquanto o amigo seguiu e obteve sucesso.

- O que você quer? – perguntou Oliver.

- Quero que retorne, eu sei que errei em não vir atrás de você. – assegurou Yago levantando e tentando chegar perto de Oliver.

- Você não sabe como é. Todos me abandonaram, a minha família, meus colegas. Tudo por causa de um vídeo estúpido. – lembrou Oliver chorando e abraçando o amigo. – Eu odeio vocês.

- Desculpa, por favor. Volta. – pediu Yago.

- Eu só preciso de um beijo. – beijando Yago que percebe o gosto de bebida na boca de Oliver.

- Você está bêbado. – pegando na mão do jovem e vendo a pulseira da casa de swing.

- Foi só hoje, eu juro.

- Não foi só hoje, e nem vai ser. Eu pensei que. – Yago deixou cair algumas lágrimas e pensa nas próximas palavras. – Quer saber, a cura precisa começar por você, Oliver. Quer culpar a sua família e seus amigos, porém, não admite que você tem um problema. Eu preciso ir.

- Fica, por favor. – implora Oliver segurando o braço de Yago.

- Vir aqui foi um erro. – saindo e deixando Oliver sozinho chorando no chão.

A noite na capital paulistana é uma criança. Enquanto alguns, após um dia intenso de trabalho, voltam para as suas casas, outros preferem curtir. Antonella tinha um grupo de amigos seletos. Eles marcaram de se encontrar em um famoso bar na Avenida Augusta. Entre uns drinks e outros, a tia de Samuel era cortejada por alguém.

- Ei, gatinha. – disse Henrique, o amigo de Jonathan.

- Oi? – perguntou Antonella se aproximando do rapaz. – Está falando comigo?

- Sim, gatinha, com você mesma. – garante o rapaz se achando.

- Posso falar uma coisa no seu ouvido?

- Claro, mulheres bonitas podem tudo. – respondeu Henrique.

- Bem. – falou Antonella toda dengosa e se aproximando do ouvido de Henrique. – As fraldas podem ser compradas no mercado ali na frente. – ela ri e volta para o balcão do bar.

- Puta que pariu! – exclamou Kleiton voltando do banheiro e sentando ao lado de Henrique.

- Minha futura namorada. – garantiu Henrique sorrindo na direção de Antonella.

Cansados de toda essa desventura, Samuel e Jonathan, pensaram nas piores possibilidades de continuar um no corpo do outro. Como ter que se adaptar a uma nova realidade, amigos diferentes, e claro, a vivência entre as famílias. Lana passou 30 minutos apagada, então, eles tiveram um bom tempo para refletir.

- Como você acha que a Lana vai reagir? – perguntou Jonathan.

– Eu não sei, vamos ter que esperar.

- Pelo menos, se eu for para a Área 51 vai ser com você, né? – sentando ao lado de Samuel.

- Onde eu estou? – questionou Lana acordando.

- Em casa. – respondeu Samuel.

- Tive um sonho engraçado, sabe, que vocês dois tinham trocado de corpo. – disse Lana rindo e sentando. – Por que vocês não estão rindo?

- A piada foi boa Alana, mas a situação não. – falou Jonathan cobrindo o rosto com as mãos.

- Amiga, não sabemos o que fazer. – solta Samuel.

- Oh, Deus. – Lana olhou para os dois sem saber o que dizer.

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