Verdades Mentirosas (1x03)

Conto de escritor xXx como (Seguir)

Parte da série Entrando de "Cabeça"

Eu olhei o Patrick com um sorriso no rosto e tentei convencê-lo mais uma vez.

- É só sair com ela e ser uma pessoa desagradável – continuei dizendo em um tom animado. – E, então, ela vai pensar “como eu pude gostar deste idiota?”. E no final tudo acaba bem.

- Não. E nem tente me fazer mudar de ideia – respondeu o Patrick na defensiva. – Você está delirando. Só pode ser isso.

Eu fui em direção a minha cama. Ele estava sentado perto da cabeceira. Eu me aconcheguei próximo a ele e disse: - Talvez eu possa, sei lá, te recompensar.

- O que? Você acha que eu faria isso por sexo?

- Eu não sei. Você faria? – Disse com a minha voz “super sexy”.

- Não!

Eu o encarei com um olhar sério.

- Como? Você não acha que é uma boa proposta? – Perguntei. – Pense bem na resposta, porque se disser não, então, estará dizendo que o meu corpo não vale nada. O que é muito ofensivo.

- Digamos que você não é do tipo que fica sem sexo, ou seja, no máximo até a manhã você estará implorando por isso. E eu prefiro esperar até amanhã.

Eu me levantei da cama.

- Eu aguento, na verdade, eu nem mesmo preciso de sexo. Quem precisa disso? – andei até o espelho do meu quarto. – Eu acho que vou fazer aquele negócio.

- Que negócio?

- Aquele que você só pode fazer sexo depois do casamento – respondi como se fosse óbvio.

- Mas não precisa ser virgem pra fazer isso?

- Precisa? Droga!

Ele riu e abriu os braços o que significava: “venha até aqui que eu quero te agarrar”. Na verdade, não significava isso, ele só queria me abraçar.

- Eu não sei o que fazer – disse ainda o abraçando. – Ela é uma amiga muito importante. Tão importante quanto o André é para você. A Bianca e o André são pessoas incríveis, especiais e...

- Você odeia o André – disse o Patrick. – E falando neste assunto... Você ainda não me disse o porquê deixou o time.

Eu não podia dizer: “Porque o André, o seu melhor amigo, me disse que os outros descobririam sobre nós e para te proteger eu desisti de algo que eu queria muito”. Não, eu não poderia dizer isso.

- Eu estou precisando de um tempinho livre, é só por isso – menti. – Mas continuando... Ela não tem culpa por te amar. Você precisa sair com ela. Será como sair com uma fã.

- E se eu começar a chorar? Isso faria com que você mudasse de ideia? – Perguntei.

- Tudo bem, você me convenceu. Mas eu não vou fazer isso sozinho... Você irá comigo.

- A graça de encontros com pessoas que gostamos muito, muito, muito é que os amigos não estão do seu lado para melar as coisas. Eu tenho certeza de que é isso que está no dicionário.

- Sem chance. Diga que sairemos todos juntos. Eu, você, Bianca, André e a sua outra amiga da qual eu não lembro o nome – disse ele.

- Andreia. Mas se for todo mundo o Daniel terá que ir também, ele é o meu melhor amigo. Ir sem ele seria a mesma coisa que deixar o meu celular em casa.

- Você está comparando o seu melhor amigo com o seu celular?

- O que? É um ótimo Iphone, o Daniel se sentiria honrado pela comparação.

A minha mãe entrou no quarto e eu automaticamente me afastei do Patrick.

- Eu vim trazer um lanche para vocês – disse ela como se eu não soubesse que aquela bandeja com sanduíches era apenas um pretexto para me espionar. – Vocês deveriam ter ficado lá em baixo. Deixar o pobre Henrique subir as escadas não é uma coisa muito inteligente, não é?

- Patrick.

- Quem? – Perguntou a minha mãe.

- O nome dele é Patrick, não Henrique – repeti. – Mas agora que você já salvou as nossas vidas e não nos deixou morrer de fome por ficar, sei lá, uns vinte minutos sem comer... Acho que você já pode ir.

Ela sentou-se na cama ficando entre mim e o Patrick.

- Eu quero conhecer esse seu novo amigo – disse ela me empurrando para mais longe. – Eu pensei que os seus únicos amigos fosse a Bianca, a Andreia e o Daniel. Até porque você nunca teve muitos amigos.

- Mãe!

O Patrick sorria sem graça enquanto ela analisava cada canto do corpo dele. Aquilo estava sendo tão embaraçoso.

- Vocês se conhecem da escola, do shopping, do bar gay ou...

- Mãe, já chega!

- Da escola – respondeu o Patrick. – Até ontem nós éramos do mesmo time de futebol.

Ela encarou a perna engessada do Patrick e sorriu dizendo: - Te expulsaram por causa da perna, entendo.

- Algo parecido – disse ele.

O Patrick poderia ter quebrado as duas pernas, os dois braços e, ainda sim, os garotos o deixariam no time como um titular.

Ela sorriu e tirou um pacote de camisinhas do bolso fazendo com que eu perdesse o ar no mesmo segundo. Isso não podia estar acontecendo... Não podia ser verdade.

Ela entregou as camisinhas ao Patrick e disse: - É melhor vocês usarem. Não é porque dois homens não fazem um bebê que vocês podem transar por ai sem isso.

- Só esperem eu ir lá embaixo pegar uma cenoura, pepino ou algo para poder demonstrar como se usa isso – disse ela se levantando.

- Não precisa, eu consigo encaixar isso no pinto dele, eu te garanto – disse enquanto o meu rosto formigava.

- Eu pensei que vocês fossem só amigos – disse ela com um sorrisinho inocente. – Mas é bom saber.

Depois de me matar de vergonha ela saiu do quarto. Logo em seguida o meu pai entrou.

- A sua mãe falou sobre a camisinha para vocês?

Eu balancei a cabeça em sinal positivo.

Eu ainda estava sem palavras.

- Graças a Deus, eu pensei que teria que explicar parte por parte, mas já que ela fez isso...

Ele nem fez questão de terminar a frase e se retirou do quarto. Eu encarei o Patrick com as camisinhas na mão.

- Eu sinto muito por isso, muito mesmo.

Ele começou a rir.

- Se desculpa pelo que? Os seus pais praticamente nos disseram pra transar... Enfim, eu adoro eles.

Eu não conseguia ter a mesma paciência ou o mesmo senso de humor que o Patrick. Meus pais eram estranhos e me faziam passar a maior vergonha, não tinha como isso ser algo legal.

Depois da breve aparição da minha mãe ao quarto eu perdi totalmente a graça. Por mais que ele achasse tudo divertido eu estava muito envergonhado. O que resultou em uma das minhas desculpas. Eu disse a ele que estava com dor de cabeça, mas que às sete horas da noite eu estaria em perfeito estado para ir ao nosso encontro... Quer dizer, o encontro dele com a Bianca.

O dia passou bem rápido, não demorou muito para que o pai da Bianca estivesse com o carro estacionado em frente a minha casa. O pai dela era um pouco protetor demais.

- Oi – disse cumprimentando ele ao entrar no carro. – Você lavou o carro ou algo assim? Tá com um brilho diferente.

- É eu mandei lavar hoje – respondeu ele.

O Daniel e a Andreia estavam sentados ao meu lado no banco de trás. A Bianca estava ao lado do pai dela.

- Quem mais vai estar lá com vocês? – Perguntou o pai dela.

- Só uns amigos – disse a Andreia. – Eles são da escola.

A Bianca olhou para trás com uma expressão de “cale a boca”.

- Amigos – continuou o pai dela enquanto dirigia. – São meninos então... Bom saber.

A Bianca olhou para trás de novo, mas desta vez não era a Andreia a pessoa que ela encarava, era eu.

Eu respirei fundo e disse:

- Eles são garotos super educados, não se preocupe... Tem um deles que é um pouco babaca, mas ainda sim, você pode confiar. A sua filha não vai voltar grávida... E se voltar eu garanto que eles assumem o filho. Ou um deles pelo menos.

Os dois ali atrás me encaravam calados. Eu havia falado um monte de besteiras. Mas não adianta chorar o leite derramado, então, improvisei:

- Gente, vocês não tem senso de humor não?

A Bianca deu uma risadinha.

Quando o pai dela finalmente nos deixou no local combinado a Bianca veio em minha direção dizendo: - Se você quer me matar, saiba que existem maneiras mais fáceis. A sua sorte é que você é o amigo do qual o meu pai mais gosta.

Eu sorri olhando para os outros.

- Não se ache, ele só gosta mais de você porque sabe que você joga no mesmo time que eu – disse a Bianca. – É melhor a gente entrar, o Pat já deve estar esperando.

“Pat”?

Nós quatro entramos.

A primeira coisa que senti quando vi o Patrick sentado naquela mesa esperando pela Bianca não foi alegria por meu plano estar correndo bem, mas inveja, porque eu sabia que, no momento, eu não poderia ter uma noite assim com ele. Nós não poderíamos sair juntos, não sem as consequências.

- Tudo bem? – Perguntou ele enquanto beijava a bochecha rosada da Bianca.

Todos nós nos cumprimentamos. Eu ignorei o André totalmente e sorri para o Patrick como se ele fosse um simples conhecido.

- Como vocês chegaram aqui? – Perguntou a Bianca colocando a mão em cima da do Patrick. – A sua perna não aguentaria uma caminhada e também dirigir está fora de questão.

Ele sorriu. Eu amava aquele sorriso.

- O André pegou o carro do pai dele – ele trocou olhares com a Bianca. – Mas eu aguentaria vir até aqui andando, mesmo com a perna quebrada. E eu posso fazer muitas coisas com a perna quebrada.

Por que ele estava usando aquela voz sexy para falar com ela? A ideia deste encontro era ele ser um grosso e fazê-la o odiar. E não o contrário.

- Eu não duvido que você possa.

Eu me levantei.

- Eu preciso ir ao banheiro – disse.

Eu fiquei em pé encarando o Patrick.

- O que foi? – Perguntou a Bianca.

- Eu disse que quero ir ao banheiro, ou seja, os garotos também vão comigo. Eu preciso que eles me acompanhem – disse como se aquilo fosse normal.

- Isso só é normal para garotas – a Bianca disse confusa. – Mas para garotos é um pouco...

- E depois vocês querem igualdade – disse a interrompendo.

Eu levei todos os garotos da mesa para o banheiro comigo, até o André foi. Após entrarmos eu fechei a porta.

Eles me encaravam esperando.

- Que droga você está fazendo? – Eu perguntei ao Patrick. – Você tem que fazê-la te odiar e não amar ainda mais você.

- Digamos que eu não queira que ela me odeie, então, o que você vai fazer? – Perguntou ele em um tom de deboche. – Foi você que começou isso, agora, aguente!

Eu dei o meu riso “super-hiper-mega-ultra-sarcástico”.

- Você vai voltar lá e fazer aquela garota te odiar – coloquei as minhas mãos sobre os ombros dele. – E se não fizer isso, eu vou pegar uma faca e cortar o seu dedo. E antes que você diga: “eu posso fazer muitas coisas sem o dedo”, eu vou cortar aquele que fica entre as suas pernas!

Os outros garotos me encaravam sem reação.

- E o resto de vocês, vão agir como se eu não tivesse enlouquecido aqui dentro, ok? – eu voltei o meu olhar para o André. – E se você, estrume, interferir no meu plano... Ah, meu amigo, você está morto.

- Ouvindo você falar assim eu até fico com medo – disse o Patrick rindo. – Eu vou repetir: você começou, agora, aguente! E se você cortar o meu pinto, com o que é que você vai brincar?

Eu não respondi, ao invés disso encarei o espelho arrumei o meu cabelo e voltei para a mesa.

- Vocês demoraram, precisavam de alguém segurando o negócio de vocês enquanto faziam xixi? – Disse a Bianca tentando ser engraçada.

Aquela tentativa foi mais falha do que o meu plano. Ao invés de fazer com que os outros garotos começassem a rir, ela os fez ficar sem graça. Com exceção do Patrick, porque, naquele momento, ele estava cheio de graça.

- É que eles tiveram que segurar o meu, é tão grande que um só não dava conta – disse o Patrick olhando para ela. – Mas tudo ficou bem no final.

- Você é engraçado.

Ela se aproximou dele. O Patrick colocou os dedos nas madeixas loiras da Bianca, seus dedos subiram e acariciaram o rosto pálido da minha amiga. Cada toque no rosto dela era como uma facada no meu estomago. E, por fim, os lábios deles se uniram bem a minha frente. Foi um beijo que parecia ter surpreendido os dois.

Eu falava muita porcaria, mas a verdade era que eu sempre fui bom em esconder aquilo que eu não queria mostrar as outras pessoas. Do lado externo a minha expressão facial demonstrava que eu estava surpreso em ver a minha amiga beijando o capitão do time de futebol. Mas por dentro, tudo estava desmoronando rapidamente.

O pior era que eu havia causado tudo aquilo. Eu havia forçado o Patrick a este encontro ridículo, simplesmente, porque eu era egoísta demais para arriscar perder um deles. Egoísta demais ao ponto de querer ter tudo.

- O Patrick é gay – eu disse fazendo com que todos da mesa voltassem os olhares para o garoto ao lado da Bianca. – Nós estamos juntos.

Agora, eu era o centro das atenções na mesa. Mas o único olhar que me importava era o do Patrick. Eu fui egoísta demais ao ponto de expô-lo na frente de todos.

Ao contrário do que eu pensava, ele não me olhava com fúria nos olhos, mas com um sorriso nos lábios.

- Nós estamos juntos – disse ele ainda sorrindo.

Eu sorri para ele. Mas em seguida olhei para a Bianca e disse: - Eu não espero que me perdoe, mas seria bom se você conseguisse.

- Eu já te perdoei – disse ela rindo. – Deixe isso pra lá, que vocês sejam felizes.

Eu a encarei novamente.

- O que?

- Você não pediu para que eu perdoasse você? Então, eu te perdoei. Mas eu quero aquela sua pulseira também.

Eu não estava entendendo mais nada.

- Aquela pulseira foi presente meu – disse a Andreia. – Você não vai ficar com ela.

- Ei, nós estamos brigando pelo fato de eu ter traído uma das minhas melhores amigas ou por uma pulseira?

A Andreia começou a rir.

- Você acha graça nisso? – Eu perguntei.

Ela riu mais ainda.

- Na verdade, sim.

- Fique quieta! – Advertiu a Bianca.

- Desculpe, mas eu não posso deixar que o Ti saia como o vilão da história, simplesmente, por estar com o garoto que ele gosta – continuou a Andreia me deixando curioso.

Eu olhei para a Bianca e disse: - O que é?

- Ela nem liga mais do Patrick, já faz muito tempo – disse a Andreia antes que a Bianca começasse a falar. – Ela mentia e me puxou para esta mentira junto com ela.

- E o que você ganharia fingindo? – Perguntou o Daniel.

Todos a encaravam.

- Se eu fingisse gostar dele – ela olhou para o Patrick. – Então, vocês nunca descobririam de quem eu realmente gosto.

- E quem é esse? – Continuou o Daniel.

Eu podia sentir o quanto tudo aquilo o afetava. E como não afetaria? Ele amava a Bianca e ela nem mesmo notava.

- Não importa.

- Importa sim! – Disse ele se levantando. – Eu não vou sair da sua frente até você falar.

- O Jefferson...

- Um idiota da minha sala – eu disse a interrompendo. – Eu pensei que vocês fossem apenas amigos, mas eu estava errado.

Ela me lançou um olhar de alivio, pois sabia que o seu segredo estava seguro comigo. A verdade é que, assim que ouvi o nome Jefferson, eu sabia que ela não estava se referindo a nenhum garoto da escola. Mas ao Jefferson Wolf, o "PedoWolf", o professor de educação física.

- Tudo isso pra esconder que estava ficando com um idiota da sua sala? – Perguntou o André. – Vocês são muito estranhos.

O Daniel me encarou, o seu olhar era diferente dos outros. Ele também havia sacado de quem estávamos falando.

Comentários

Há 2 comentários.

Por ThiagoAraújo em 2014-06-18 23:02:37
muito engraçado, está otimo
Por Rei do Fogo em 2014-06-16 19:03:07
Amo seu conto.. Kk.. Muito engraçado...