Tiro no Pé (3x07)

Conto de escritor xXx como (Seguir)

Parte da série Entrando de "Cabeça"

Quando adentramos na floresta, já estava tarde, por volta das cinco e meia, o sol estava quase se pondo. O meu maior medo se tornara realidade, nós caminharíamos à noite. Esse pensamente fez com que a mochila em minhas costas pesasse. Eu não carregava muitas coisas, deixamos a maior parte de nossos pertences no acampamento. Celulares, notebooks e outros eletrônicos ficaram para trás, assim como metade das roupas que a Bianca trouxe, ela exagerou na bagagem.

Eu encarei o rapaz a nossa frente, o nosso guia, ele era alto e forte, o que me passava muita confiança. Saber que estava seguro era o único motivo que me fazia continuar andando. Era tão bom saber que entre nós existia alguém experiente, alguém que conhecia aquela reserva e se arriscaria para nos salvar.

- Eu ainda não me conformo por não poder trazer o meu celular – eu comecei a dizer. – Ouvir as minhas musicas seria algo perfeito neste momento.

- Celular? As minhas roupas ficaram para trás. Os meus sapatos para chuva, as minhas rasteirinhas para dias ensolarados. Ficou tudo no acampamento – ela encarou-me como se fosse o fim do mundo. – E eu também deixei o meu estojo de maquiagens.

- Estou com pena de você – debochei. Eu olhei para a Bianca com uma expressão tristonha e continuei: - e se a gente precisar se maquiar no meio do mato? O que será de nós sem o seu estojo de maquiagens? Vamos morrer!

- Cale a boca.

Eu também deixei algumas roupas no acampamento. Nós iríamos para um resort, então, qual a lógica de levar roupas de frio? Deixei tudo que fosse pesado, cada um dos moletons que a minha mãe me obrigou a trazer. E agora que o vento soprava contra o meu rosto, sinceramente, eu estava começando a me arrepender.

- Você não está com frio? – Perguntou-me a Bianca encarando os meus braços descobertos. – Como você consegue usar só uma camiseta no meio da floresta?

Eu me aproximei do ouvido dela e quando tive certeza que ninguém iria ouvir, eu disse: - eu deixei as minhas roupas de frio no acampamento.

- Você o que?

- Nós vamos para um resort... Como eu deveria imaginar que aqui estaria tão frio?

- Frio? – A Bianca arregalou os olhos e começou a rir. Todos pararam de andar e passaram a prestar atenção em nossa conversa. Ela não se importou com os olhares e prosseguiu: - o frio é o de menos, pense nos bichos que podem morder os seus braços, pense nos pernilongos, nas moscas nojentas...

- Vocês vão ficar aí parados? – Queixou-se o guia. Ele me olhou dos pés a cabeça e disse: - E você, coloque uma blusa!

Eu assenti e nós voltamos a andar. Era impossível não me sentir a pessoa mais estúpida do universo. Era óbvio que eu precisaria de blusas em uma floresta. E depois que a Bianca começou a tagarelar sobre os bichos, eu acabei ficando com um receio muito grande.

- Você pode me emprestar uma blusa? – Eu sussurrei enquanto cutucava a Bianca. – Por favor.

- Eu até tenho, mas é cor de rosa – respondeu ela usando o mesmo tom de voz que eu. – E a outra que eu trouxe tem umas lantejoulas.

Eu não queria ser zoado pelos garotos, principalmente pelo nosso guia. Eu olhei para trás e observei o José. Eu queria pedir um casaco a ele, mas não consegui. O José estava calado desde o acampamento, não seria fácil chegar a ele e dizer: “Oi José, então, desculpe por ter feito você apanhar do meu ex-namorado... É, então, eu sei que você apanhou do cara que ama. Foi mal mesmo. Ei, pode me emprestar uma blusa?”.

- Bianc...

- Já não disseram pra você colocar uma blusa? – Disse o Patrick ao se virar. Uma expressão zangada ocupava a sua face. – Tilcon, coloque logo uma droga de blusa!

- Eu não trouxe... Nenhuma – a minha voz começou alta e depois foi diminuindo conforme a vergonha foi aumentando. – Eu não pensei bem, eu confesso.

O rapaz que nos guiava caiu na gargalhada. Eu fiquei tão vermelho quanto à blusa acolchoada que o guia usava. E mais uma vez, eu era motivo de chacota.

O Patrick tirou a blusa de moletom cinza que estava usando e me entregou dizendo: - coloque essa aqui. Já está quentinha.

Eu nem mesmo me dei ao trabalho de fingir que não aceitaria, peguei a blusa no mesmo segundo. O Patrick estava certo, o moletom estava mesmo quente. E o melhor, tinha o cheirinho dele. Ao vesti-lo, eu me sentia a pessoa mais segura e confortável daquele lugar, o que não era muito difícil.

A Bianca ria enquanto tagarelava atrás de mim. Quando me virei, fui surpreendido ao ver que o José conversava com a Bianca. Após me notar o observando, a expressão de José voltou a ser tímida e o garoto se manteve calado.

- O que foi? – Perguntei aos dois, curioso sobre o que eles dialogavam. Ninguém respondeu, então, eu prossegui: - vocês podem me contar.

A Bianca hesitou, mas acabou falando: - eu estava dizendo ao José que sou “Time Patrick”. Ele foi muito fofo ao te entregar a blusa.

O José riu e disse: - e eu estava dizendo a Bianca que sou “Time Rodrigo”. Todos podem ver o quanto ele gosta de você. Se o Patrick não tivesse tirado a blusa, o Rodrigo tiraria a dele, sem dúvida.

Eu olhei para frente e flagrei um dos olhares que o Rodrigo dava em nossa direção. Sem dúvida, ele ficou sem graça ao ser pego, passou os dedos pelos cabelos loiros e sorriu para mim e em seguida voltou a se concentrar na trilha que percorríamos.

- Ele está olhando para você Bianca – eu sussurrei para os dois. – Ele é apaixonado por você.

- Não, não e não! – Protestou o José. – O Rodrigo gosta de você e isso já está mais que óbvio.

- O Rodrigo pode até gostar dele, mas todos sabem que no final o Tilcon termina com o Patrick – intrometeu-se a Bianca. – O Rodrigo só existe pra atrapalhar o romance dos dois. Se isso fosse uma série de TV ou uma história de um livro – a Bianca sorriu – o Rodrigo seria aquele personagem que só serve para se intrometer no romance do casal da história.

- E como isso não é uma história de livro e muito menos uma série de TV – argumentou o José com um sorriso irônico. – Ele vai terminar com o Rodrigo. Na vida real, não existe esses encontros e desencontros. Os términos costumam ser para sempre. O Patrick é o passado, mas o Rodrigo é o presente do Tilcon.

Eu revirei os olhos. Era só o que me faltavam, duas pessoas discutindo sobre a minha vida – como se eu nem estivesse presente – como se ela fosse algo de utilidade pública. Eu ignorava todas as coisas que o José falava, ele só era “Time Rodrigo” porque queria o Patrick pra ele.

- Dá para o “clube da fofoca” parar de falar e andar mais rápido – o guia nos encarou com uma cara nada boa. – Vamos galera, eu pretendo chegar ao outro lado ainda hoje.

Andamos mais quinze minutos pela mata, a noite chegou mais rápido do que eu pensei. A escuridão veio de fininho, eu me distraí demais e quando olhei para cima fiquei assustado, pois ela já havia se alastrado por todo o céu.

- Vocês ouviram isso? – Perguntou o rapaz de vermelho. Ele levou um dos dedos aos lábios fazendo um sinal para que ficássemos em silêncio.

Eu só conseguia ouvir barulho de grilos e outros insetos dos quais eu nem mesmo sabia os nomes. Todos encaravam o guia que ainda possuía um olhar de preocupação. Mas, por algum motivo, ele não dividiu seus pensamentos com o resto do grupo.

- Esperem aqui... Eu vou ir ver o que é – voz dele soou como um sussurro, o que me assustou ainda mais. – Fiquem aqui, eu volto em menos de cinco minutos.

- Eu vou com você – anunciou o Patrick fazendo com que o meu coração falhasse em uma batida.

Neste momento o meu coração disparou. Eu não me preocupava nenhum pouco com o guia, mas com o Patrick era diferente, eu não conseguiria nem pensar enquanto ele estivesse correndo perigo.

Os dois seguiram rumo a uma trilha à direita, eu os observei até eles que desaparecessem em meio à vegetação que se perdia na escuridão. Eu queria correr em direção as sombras e, talvez, se eu tivesse sorte os encontrar em tempo de seguir junto a eles atrás do som estranho – um som que até agora eu não ouvi.

Ninguém se atrevia a dizer uma só palavra. Eu não parava de encarar a trilha na qual o Patrick partira, cada barulho, por menor que fosse, era uma esperança. Mas ninguém aparecia por entre as árvores.

“Eles já vão aparecer”, eu dizia a mim mesmo tentando me manter calmo, mas de nada adiantou. Os cinco minutos se estenderam por quase uma hora e ainda não havia sinais de nenhum dos dois.

- Eles vão voltar – eu disse em uma tentativa de acalmar a Bianca, mas, no fundo, estava tentando acalmar a mim mesmo. – Devem estar tentando assustar a gente.

- Eles estão conseguindo – respondeu a Bianca encarando o vazio. Quando os olhos da Bianca encontraram os meus, eu vi medo ali dentro. Talvez, mais medo do que eu estava sentindo.

Naquele instante, eu percebi que o sumiço dos dois não representava perigo apenas a eles, mas a nós também. O nosso guia – a única pessoa que conhecia a reserva – havia desaparecido. Sem ele, nós estávamos perdidos, literalmente. O Patrick ainda tivera a sorte de estar com o guia, mas e nós? O que faríamos? Como nos guiaríamos naquela floresta no meio da noite?

- Temos que continuar andando – a voz do Rodrigo soou como uma ofensa em meus ouvidos. – Eles não voltarão. E mesmo que voltem, não podemos esperar para sempre.

- Nós não iremos abandonar o Patrick – eu respondi ainda grogue com a frase que acabara de ouvir. – Como você pode propor algo assim?

- Ele está com o guia... Nós o encontraremos do outro lado!

Eu comecei a rir. Como é que nós chegaríamos ao outro lado? O Rodrigo não sabia o quanto estava soando ridículo. Eu continuei a rir. Talvez eu estivesse rindo porque queria mascarar o meu medo, usar o sarcasmo como defesa, para mim, já havia virado mais modinha que “Okay?” “Okay” no Facebook.

- Vamos para um resort – eu comecei a dizer em um tom de deboche. Os meus olhos fuzilaram o Rodrigo. – Será fácil, é só atravessar a reserva... Nada de errado vai acontecer. Afinal, nós teremos um guia.

Quando o Rodrigo começou a se pronunciar, eu levantei a mão para que ele me deixasse terminar. - Você nos arrastou para o meio do mato e agora estamos perdidos. E eu quero que você saiba que se nós morrermos aqui, a culpa será toda sua, seu idiota.

- Eu lembro que você me apoiou lá no acampamento, então, não venha me culpar – ele cuspiu aquelas palavras em cima de mim. – E não, eu não te arrastei, não obriguei ninguém a vir.

- Você é o culpado, confesse.

- Não importa – gritou a Bianca assustando a todos. Eu fui um dos que mais me surpreendi com aquela atitude – Não importa quem é o culpado, o mais importante, que é bolar uma maneira de sairmos daqui, ninguém não está pensando.

- Eu já disse – continuou o loiro aguado. – Nós temos que continuar andando. Não podemos mais ficar aqui.

- E eu já disse que não vou abandonar o Patrick – disse tentando soar o mais firme possível. – Ele nunca abandonaria um de nós.

E passei a mão pelo moletom cinza e, de alguma maneira, eu me senti mais próximo de Patrick, talvez fosse pelo cheiro que estava selado ao tecido – o cheiro que eu tanto amava.

- Podem ir se quiserem, mas eu ficarei aqui até ele voltar – continuei certo de minha escolha. Eu estava disposta a não falhar com o Patrick, não novamente.

O Rodrigo ainda estava com o sorriso debochado. Ele se aproximou de mim e agarrou o meu pulso enquanto dizia: - você vai nem que eu tenha que te arrastar.

- Me solte – eu ordenei enquanto o empurrava. Não funcionou, eu não tinha força nos punhos. – Eu não vou pedir de novo.

Ele não tirou as mãos de mim, o que me forçou a dar duas cotoveladas em seu estomago, o Rodrigo se afastou praguejando baixinho. Eu sorria enquanto a Bianca e o José encaravam a nós dois como se fossemos duas crianças do primário.

- Cara, ele nem é mais seu namorado, não precisa continuar agindo como se ele fosse – a voz do Rodrigo conseguiu despertar mais ódio do que pensei que sentiria. – Se valorize.

Eu segui em direção a ele e, desta vez, não o pouparia dos chutes que eu estava desesperado para desferir naquela face sarcástica. O problema foi que no segundo passo, eu acabei tropeçando e caindo no chão. Durante a queda, eu pude ouvir o meu osso estralando e a dor dilacerante me consumindo.

Eu arfei de dor. Só não chorei porque José e o Rodrigo me encaravam. Eu não conseguia mover o meu pé direito sem causar dor. Os meus olhos seguiram para as faces do restante. Eles estavam grogues enquanto encaravam o meu pé.

- Estamos oficialmente mortos. Estamos perdidos, sem guia – os olhos do Rodrigo passaram a fitar o chão – sem mapa, e agora, estamos com um peso morto. Alguém que não pode se locomover.

Eu não o odiei por se referir a mim como um “peso morto”, eu sabia que era isso o que eu havia me tornado, eu soube no segundo em que o meu pé estralou. Eu não havia condenado apenas a mim, mas a todos do grupo.

- E agora? – Perguntei tentando não entrar em total desespero. – O que vamos fazer?

- Rezamos – respondeu a Bianca ainda em estado atônito. Ela retirou as madeiras douradas dos olhos azuis e continuou: – temos fé que alguém não encontrará logo... Porque não acho que nós vamos durar muito aqui. Se não nos acharem logo, estamos mortos.

Gente, eu espero que vocês não estejam mal acostumados comigo postando capítulos todos os dias. Sempre que eu posso - e tenho capítulos prontos - eu faço isso. Mas já avisando, não sairá um novo capítulo deste conto nessa semana, só a partir da semana que vem. E me desculpe pelo final... Eu sei que parei na melhor parte. Não me odeiem. Obrigado por comentarem e caso queiram fazer pergunta, perguntem mesmo, eu não me incomodo em responder.

E como já virou tradição e chatice - eu sei que vocês odeiam isso. Me sigam no Wattpad gente. Deixem perguntas no meu mural, curtam e comentem no conto que não é anda popular lá - nos últimos dias até que os votos aumentaram (amo vocês). Enfim, vão lá por mim. A minha maior base de leitores está dividida entre a CDC e o RG. Então façam esse favorzinho pra mim que eu prometo retribuir com a qualidade nos textos, histórias interessantes e personagens cativantes (brincadeira gente, geralmente, eu sou humilde... Não me acho tão bom assim). E diz aí: você é "Time Patrick" ou "Time Rodrigo"?

Link do meu Wattpad (vão lá amores): http://www.wattpad.com/user/escritorxxx

Comentários

Há 1 comentários.

Por Puckerman em 2014-08-15 14:14:01
Time Rodrigo Forever kkkk Aaaah... queria mais capitulos!! Vamos esperar semana que vem! Quem sabe o tao esperado beijo saia??