Perdidos (3x08)

Conto de escritor xXx como (Seguir)

Parte da série Entrando de "Cabeça"

Eu me sentia em um desenho animado, onde o personagem diz “isso não pode piorar” e, de repente, começa a chover. Só que no meu caso foi muito pior, eu não me molhei, eu quebrei o pé.

O José se aproximou de mim, agachado ao meu lado, com muito cuidado, ele retirou o meu sapato, deixando o meu pé à mostra. O movimento mais delicado causava-me a maior das dores.

Após examinar o meu membro, ele se pronunciou: - o lado bom, é que ele não está quebrado, você só o torceu. Já o ruim, é que você não pode forçá-lo.

Incrédulos, todos encararam o José. Afinal, como o garoto sabia se o meu pé estava quebrado ou não? Ele sorriu dizendo: - calma gente, o meu pai é médico. E eu sei de algumas coisas... O básico.

Havia uma pergunta que ainda pairava no ar. “Como eu andaria pela reserva com o pé torcido?” Antes que eu pudesse dizer isso em voz alta, o Rodrigo se aproximou.

- Nós temos que ir. O Patrick terá que nos encontrar do outro lado... Não podemos continuar aqui – ele parecia estar preparado para outro de meus ataques histéricos. – Você entende, não é?

Eu não queria abandonar o Patrick, mas ele estava ao lado do guia – alguém que conhecia a reserva como a palma da mão –, ele tivera mais sorte que nós. O pensamento de que o meu ex-namorado estava em uma situação melhor que a minha – surpreendentemente – me confortou. Neste momento, eu não estava sendo egoísta.

- Eu me tornei um peso para vocês – eu disse ainda com um nó na garganta. – Eu não os culparia se me abandonasse aqui.

O Rodrigo pareceu ignorar a minha última frase e passou o braço direito pelas minhas pernas, o esquerdo parou em minhas costas. Em poucos segundos, ele já estava me carregando. O que era dez vezes mais humilhante que torcer o pé sozinho.

O meu rosto estava colado ao braço esquerdo de Rodrigo. As minhas bochechas, sem dúvida alguma, estavam coradas, permaneci tímido enquanto era carregado por ele, mas, ainda sim, eu disse: - obrigado por... Por não me abandonar.

Ele abaixou os olhos para encarar o meu rosto, os olhos castanhos quase me hipnotizaram, em seguida, eu pude ver um sorriso se abrir em seus lábios.

Se eu me sentia inútil? É claro que me sentia. Estava sendo carregado por um garoto e só estava aquecido porque vestia um agasalho cinza de outro garoto. Ao passar a mão pelo moletom que cobria o meu corpo, lembrei-me de Patrick. Será que ele estava bem? Eu esperava que sim.

Conforme andávamos, eu podia ver a Bianca fuzilar o José com o olhar, eles estavam logo atrás do Rodrigo. O José parecia ter sussurrado algo que a irritou. Eu não pude ouvir, mas estava certo de que ele disse algo como: “mais um ponto para o Time Rodrigo”.

O Rodrigo tropeçou e por pouco não rumamos ao chão. Ele me encarou com os olhos arregalados, e juntos, nós dois ríamos da possibilidade de sermos atirados ao chão. Talvez fosse dolorido, mas seria muito engraçado.

- Fique tranquilo, não vou te derrubar, donzela – disse o Rodrigo sem me encarar. Se ele pudesse ver a minha expressão facial, iria se assustar com o olhar psicopata que eu possuía. Ele começou a rir, como se estivesse se lembrando de algo muito engraçado, mas nem fez questão de compartilhar.

A cada passo que percorríamos, eu sentia que o Rodrigo estava mais cansado. Eu não era muito pesado, mas não deveria ser fácil caminhar com um peso desses por muito tempo. O Rodrigo deveria agradecer a Deus por eu não ter tantos músculos quanto o Patrick – ainda não me esqueci da vez em que eu e o Daniel o carregamos para o outro lado da rua, foi o maior sacrifício.

Sacrifício. Por algum motivo, essa palavra causava-me uma sensação gélida no estomago. No fundo, eu tinha medo dos sacrifícios que teríamos que fazer para sairmos da reserva. O que nós perderíamos entre as árvores daquela floresta? E se, por muita sorte, chegarmos a nos ver livres dela, o que seríamos ao deixá-la? Quem nós passaríamos a ser sem as coisas que perdemos?

- Ei, eu acho que consigo andar, é só você me dar apoio – eu disse olhando para cima. Eu me irritei ao ver um sorrisinho debochado por parte do Rodrigo. – Eu estou falando com você Rodrigo?

- Eu sei... Estou te ignorando.

- Como?

- Eu não vou te soltar, você não pode forçar o pé – respondeu ele, que desta vez olhou em direção aos meus olhos. – Eu vou te carregar até a gente sair desse mato nojento.

- Você é um idiota. E só pra constar, eu consigo me virar sozinho – eu tentei parecer confiante enquanto as palavras eram pronunciadas. – Eu...

- Vamos jogar o jogo do silêncio? – Propôs o Rodrigo ao me interromper. – Quem não falar nada até estarmos fora daqui ganha o jogo, combinado?

Eu me segurei para não soltar uma ofensa. Por mais que eu quisesse socar o rosto do Rodrigo, eu precisava me lembrar de que ele estava me fazendo um favor. Eu devia ser grato a ele.

O silêncio se estendeu por longos minutos. A parte boa era que eu pensava bastante, a parte ruim era que eu pensava bastante. Os nossos pensamentos podem ser as nossas maiores armas, mas também o motivo de nossos fracassos. Ao invés de pensar em uma maneira de nos tirar da reserva, a minha mente imaginava cobras, aranhas gigantescas e outros bichos dos quais eu tinha pavor.

- Gente – começou a Bianca. O Rodrigo olhou para trás com uma expressão nada boa e disse: - Bianca, você perdeu o jogo do silêncio.

- Eu só... Eu estou cansada – disse a minha amiga por fim. Ela estava um tanto hesitante em dizer aquelas coisas, não devia ser nada fácil para Bianca. – Eu não quero ser a fraca do grupo, mas eu estou cansada. As minhas pernas doem...

- Tudo bem – a voz do Rodrigo soou calma, quase reconfortante. – Nós vamos parar para descansar – o garoto loiro olhou ao redor e prosseguiu: - só não pode ser aqui. Vamos encontrar um lugar melhor, O.K?

A Bianca assentiu com um sorriso forçado.

Nós voltamos a andar. Eu comecei a pensar na dor que a Bianca dizia sentir nas pernas. Se ela estava cansada, imagina o quanto o Rodrigo não estava?

- Você não está cansado? – Perguntei com um sorriso nos lábios. Eu olhava para cima só esperando os meus olhos encontrarem os dele. – Rodrigo? Olhe pra baixo.

Ele olhou sério, mas logo a sua expressão séria se desfez e ele sorriu dizendo: - você perdeu o jogo do silêncio.

- Você também... No momento em que falou com a Bianca – respondi apertando o braço esquerdo dele. – O José ganhou.

- Ah, droga – o Rodrigo fingiu estar magoado com a pontuação do jogo. – Fiquei em terceiro lugar e olha que só tem quatro pessoas jogando.

Eu comecei a rir. Era uma das únicas vezes, naquela reserva, em que o meu riso era sincero e não de deboche. Eu não estava feliz, longe disso, afinal, o meu pé estava torcido, estávamos perdidos e eu estava longe de Patrick. Mas eu era grato por ter pessoas como Rodrigo e Bianca ao meu lado em um momento assim.

Quando nós paramos, eu estava pronto para descer dos braços do Rodrigo, mas ele não me soltou, ao invés disso, disse: - vocês ouviram?

Ficamos em silêncio. Eu tentei me concentrar no som que o Rodrigo dizia ouvir, tentei ignorar os grilos e outros insetos, após várias tentativas, eu consegui ouvir um barulho diferente, era... Água.

- Uma cachoeira – a voz era da Bianca, ela estava tão surpresa quanto eu. – Será que é longe?

- Vocês acham que conseguem andar mais um pouco? – Perguntou o Rodrigo, ele olhava em direção a Bianca. – Você consegue?

Ela balançou a cabeça em um sinal positivo.

- Eu consigo – eu disse olhando para o rosto dele. Ele não retribuiu o meu olhar, apenas disse: - você vai ficar onde está.

Nós seguimos rumo ao barulho, mas o caminho era complicado demais. Nós tivemos que sair da trilha, o que era outro risco que estávamos correndo. Loucura? Não. O Rodrigo sabia que, talvez, aquele caminho não nos levasse para o outro lado da reserva, mas para um “outro lado” bem no centro da reserva. Estávamos perdidos, com fome e sede. Nós precisávamos tentar algo diferente. Precisávamos de um plano B, e parte de mim sabia que ele não viria, não sem um sacrifício.

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Comentários

Há 1 comentários.

Por Puckerman em 2014-08-19 13:59:13
Muito bom! :)