O Outro Lado (3x06)

Conto de escritor xXx como (Seguir)

Parte da série Entrando de "Cabeça"

Se antes o meu estomago já não estava bom, agora, ele virara de vez. O Rodrigo só podia estar louco, bêbado ou as duas coisas.

- Como? – a voz da Bianca soou falhada. – Você não pode estar falando sério...

- Eu já tenho tudo planejado, não se preocupem.

- Você não vai me arrastar para o meio do mato, você não vai me forçar a fazer isso – eu disse a ele. Ops, aquelas palavras saíram totalmente fora de contexto. – Eu quero dizer, isso é loucura.

O garoto loiro ergueu a mão, ele segurava o mesmo papel que a senhora mal humorada entregara minutos antes. Não era um papel qualquer, mas um mapa.

- Eu tenho um mapa, também teremos um guia que nos deixará do outro lado... Vai dar tudo certo.

- Por que não saímos por onde entramos?

- Por que o meu pai vai saber, ele colocou os homens dele para me vigiar e se ele me vir saindo, podem ter certeza que os pais de vocês saberão também.

Por que o pai dele o vigiava daquela maneira? Eram tantas perguntas. Mas, no fundo, o que eu mais queria não era saber as respostas, mas escapar deste acampamento.

- Tudo bem, vamos seguir o seu plano – eu disse tentando ignorar o pressentimento que me matava por dentro. – Nós atravessamos a floresta e depois iremos para o resort, simples assim.

- Serão seis horas de caminhada – continuou o Rodrigo. – Talvez sete. Eu não tenho certeza.

Como assim ele não tinha certeza? Nós acabaríamos perdidos no meio do mato, morreríamos de fome e sede. “Você anda assistindo a muitos filmes, Tilcon”, eu disse a mim mesmo em uma tentativa de afastar aqueles pensamentos. “Isso não é Malhação para jovens acabarem perdidos na floresta”.

O meu olhar voou em direção ao José. Na verdade, existia uma pergunta da qual eu gostaria de saber a resposta.

- O que ele faz aqui? – Perguntei ao Rodrigo. Eu fixei os meus olhos naquele garoto irritante. O mesmo que me derrubara no ônibus. – Se você armou tudo, até mesmo o castigo daquela mulher, porque fez com que o José fosse incluído?

- Eu devia um favor a ele... E ele me pediu para vir, era uma ótima maneira de pagar – respondeu o Rodrigo. – Mas há algum problema com a presença dele?

- Sim, ele me odeia... Vai tentar me matar no meio do mato – eu disse como se aquelas coisas fossem óbvias demais. – Ele me derrubou no ônibus...

Droga, eu não deveria ter dito. Antes que eu pudesse terminar a frase o Patrick já estava socando o rosto do José. E conhecendo o meu ex-namorado, eu sabia que ele cumpriria a promessa que fez. Ele daria três socos.

Por sorte, após o primeiro soco, o Rodrigo empurrou o Patrick para longe do José. Eu fiquei com receio de olhar para o rosto do garoto estirado no chão, não queria me lembrar do André Carlos ensanguentado, mas era impossível bloquear as lembranças que chegavam.

- Por que você fez isso? – Gritou a Bianca, ela estava descontrolada. Não mais que o Patrick. – Você não precisa resolver tudo no soco, sabia?

- Eu disse a ele... Bem, ele deveria ter me ouvido – respondeu o meu ex-namorado. – Agora, vai pensar duas vezes antes de mexer com o meu... Com o Tilcon de novo. E saiam da frente, ainda faltam dois socos.

- Chega de brigas – eu comecei a falar enquanto olhava para o Patrick. – Precisamos parar de brigar. E precisamos parar agora.

Logo após terminar de falar, os meus olhos encontraram os do José no chão, o meu corpo foi inundado por culpa mais uma vez. Mas desta vez, a situação era muito pior. A culpa era tão forte que algo dentro de mim parecia ter se partido. Eu não recordei do Carlos quando olhei para o rosto machucado de José, eu recordei de mim mesmo. Eu me vi no dia em que o Patrick terminou comigo, o olhar tristonho de José era o mesmo que ocupava os meus olhos naquele dia.

Ao olhar para os machucados no rosto do José, os meus olhos começaram a lacrimejar. Eu pisquei duas vezes e me esforcei para que as lágrimas não despencassem pelo meu rosto.

Lágrimas caíram, mas não foram as minhas. O José estava chorando como uma criança. Eu desviei o olhar, não queria me sentir ainda mais culpado. Seria possível eu me sentir mais culpado?

- Na... Não me bata mais, por favor – pedia o José entre um soluço e outro. – Eu... Eu prometo me afastar – os olhos dele foram guiados até os de Patrick. – Só... Só não me bata mais.

Antes que o Patrick avançasse mais uma vez em direção ao José, eu o puxei pelo braço e o levei para dentro de um quarto. Sentei-me no beliche e bati com a mão no colchão para que ele sentasse também.

- Por que você está defendendo aquele idiota? – Perguntou-me o Patrick ao sentar. – Ele machucou você.

Talvez eu não devesse, mas comecei a rir. Essa deveria ser uma conversa séria, mas eu não pude me conter. Os risos escapavam por entre os meus lábios. Quando os risos cessaram, as lágrimas finalmente desceram pelas minhas bochechas. E mais uma vez, eu estava chorando em frente ao Patrick. Eu estava chorando logo após sorrir. E eu que pensava que isso só acontecia com pessoas em manicômios.

- Ei, chorar por ele já é demais, você não acha? – Os braços do Patrick rapidamente me envolveram. Ele era sempre tão protetor. – Você não tem culpa por eu ter batido nele, eu descobriria e isso acabaria acontecendo.

- Você não deveria ter feito aquilo – eu ainda chorava no ombro de Patrick. – Você não deveria.

- Ele iria continuar te ofendendo, te derrubando...

- Ele é apaixonado por você – eu disse me afastando lentamente. – Ele é gay.

O fato é que eu sempre soube que o José era gay. Mas só fui descobrir que ele amava o Patrick hoje. Eu finalmente descobri que o José nunca implicou comigo por ser gay, ele não me desprezava por sentir-se ameaçado por alguém semelhante a ele, não... Nunca foi isso. Ele me importunava tanto porque o Patrick era apaixonado por mim. Eu tinha o que ele mais desejava.

- Não, eu o conheço, ele é do time de futebol... Ele não é gay – o Patrick disse com um sorriso forçado. – Ele não é.

- Eu tenho certeza. Ele é gay – eu disse com um gosto amargo na garganta. - E é apaixonado por você.

- Como você pode ter certeza?

- Eu sempre soube que ele era gay, mas foi só hoje que eu descobri o porquê do ódio por mim... Quando eu olhei para os olhos dele, eu me vi. Eu vi o mesmo que eu senti quando você gritou comigo... Quando você estava desapontado comigo, eu tinha o mesmo olhar que ele. Aquele é o olhar que temos quando desapontamos alguém que amamos.

- Você era o herói dele, a pessoa que ele mais amava – eu continuei dizendo. – E quando a pessoa que ele mais amava o machucou, tanto no físico quanto no psicológico, ele se quebrou.

Do mesmo modo que eu havia me quebrado, eu fiquei em prantos quando o Patrick terminou comigo. E eu chorei novamente porque ao ver o José daquele jeito, eu me lembrei daquela cena em que o Patrick gritava comigo, eu me lembrei daquela dor.

O Patrick se levantou, eu o segui para fora do quarto. Quando chegamos ao corredor, eu avistei o José, ele ainda estava no chão, às lágrimas já estavam secando em seu rosto. Aquele olhar – o meu olhar – ainda pairava em seu rosto.

Eu me aproximei e estendi a mão para ele. Ao contrário do que eu pensei, ele a pegou. Assim que o José se levantou, o Patrick se aproximou dele. O garoto levou as mãos até o rosto, ele estava se preparando para outro soco, mas as mãos do Patrick pararam nos ombros dele, assim como ele sempre fazia comigo.

- Desculpe... Por isso – os olhos azuis de Patrick encaravam os machucados do garoto. – Eu não devia ter... Te machucado.

O José não retribuía o olhar, ele não fazia contato com o Patrick, seus olhos fitavam o piso do corredor. Ele brincava com os dedos, estava tão envergonhado.

- Ele te contou, não é? – Perguntou ele ainda com os olhos fixos no chão. – Contou o meu segredo...

- Está seguro comigo.

- Galera nós precisamos ir – a voz do Rodrigo soou tão alto que pareceu cortar a tensão que pairava sobre nós. – Temos que começar a caminhada.

A Bianca puxou o José pelo braço enquanto sorria, ele não retribuiu o sorriso, talvez porque sorrir o machucaria, os seus lábios estavam cortados. Mas eu sabia que ele estava grato. Grato, porque alguém entendeu a mão para ele quando não tinha nenhuma obrigação fazer. Grato, porque alguém o pegou pelo braço e o acompanhou para fora dos alojamentos.

O Patrick sentia-se envergonhado, eu podia ver a vergonha em seus olhos claros. A culpa o matava naquele momento. O “galinha”, o garoto que ficara com vinte e tantas garotas era, sem dúvida alguma, a melhor pessoa naquele corredor. O melhor de nós.

Quando o nosso guia finalmente apareceu, eu o encarei, olhei para os seus olhos cor de mel, para a sua boca rosada, para o seu queixo quadrado, para o seu corpo em ótimo estado físico e, por fim, olhei para o seu rosto e imaginei o que ele escondia. Afinal, todos nós escondemos algo. Usamos máscaras para esconder os nossos medos, defeitos e sonhos.

Por fora, todos nós estávamos seguindo para o mesmo lugar, um resort. Mas por dentro, traçávamos caminhos distintos. Eu caminhava em direção à mudança, eu precisava ser alguém melhor, alguém que não machuque as pessoas que ama. A Bianca, por mais que ela disfarçasse bem, eu sabia que ela seguia pela trilha do fortalecimento, ela queria desesperadamente ser alguém forte. Já o José, ele andava rumo a aceitação, rumava para um lugar onde ele não tivesse que mentir sobre quem era e sobre quem ele amava.

Mas não precisava ser um gênio para saber que nós três estávamos andando em círculos. Não precisava ser um gênio para saber que nós caíamos demais, errávamos o caminho constantemente, nos perdíamos na estrada da vida e vagávamos sem rumo. No fim do dia, eu ainda era o mesmo egoísta de antes, Bianca era a mesma fraca e o José, ele ainda era o mesmo covarde. Não haviam mudanças e tampouco esperanças para nós.

Gente, primeiro, eu quero agradecer por continuarem lendo o conto. Segundo, eu quero que vocês vão ao Wattpad e me sigam, votem e comentem no conto lá. Eu sei que isso já ficou repetitivo e chato, mas o conto lá e menos popular que aqui. Então eu necessito desta ajudinha de vocês.

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Comentários

Há 2 comentários.

Por Puckerman em 2014-08-13 20:42:09
Otimo :)
Por Rafinha sexy em 2014-08-13 20:18:48
Muitooooooo boooooom , esperando o proximo