O Mentiroso e o Atrevido (2x09)

Conto de escritor xXx como (Seguir)

Parte da série Entrando de "Cabeça"

Após dizer todas aquelas coisas ao Carlos, eu fui ao encontro do Patrick, afinal, eu tinha que entregar o lanche para ele na quadra. Quando cheguei até ele, uma multidão correu em direção ao refeitório. Eu ignorei e entreguei o sanduíche e o suco de laranja ao meu namorado.

“Deve ser mais uma dessas briguinhas por garotas”, pensei. Como esses garotos eram idiotas.

- O que está acontecendo? – Perguntou-me ele enquanto observava as pessoas correndo desesperadas. – Você acabou de sair de lá, não viu algo?

Eu balancei a cabeça em sinal negativo e me sentei ao lado dele. Os olhos azuis de Patrick ficavam ainda mais claros sob a luz do sol. Ele voltou o olhar em minha direção, eu retribuí o olhar, nós dois sorrimos. Quando ele se inclinou para me beijar alguém gritou.

- Briga! – Berrava um garoto idiota próximo de onde estávamos sentados. – Thiago e Carlos perto do banheiro, Briga!

Eu fechei os olhos.

Droga!

O Patrick se levantou no mesmo segundo.

Meu rosto ficou vermelho e um frio tomou conta da minha barriga, era como se eu estivesse em uma montanha russa. A diferença era que essa sensação não passaria logo.

Por mais idiota que pudesse parecer, eu não pensei bem nas consequências antes de armar toda aquela confusão. Eu estava com raiva do Thiago e ainda com mais raiva do Carlos, então, pensei em resolver tudo com uma mentira só. Pensei em me vingar deles, de um por ser um mentiroso descarado e do outro por ser, talvez, atrevido demais.

Eu segui o Patrick até o refeitório, onde uma rodinha repleta de adolescentes gritavam “BRIGA!” para os quatro cantos do salão, enquanto isso, dois garotos se encontravam no centro da roda, eles se encaravam e trocavam xingamentos.

Eu fui empurrando todas as pessoas que estavam na minha frente até ter uma boa visão dos garotos. O Carlos estava com cara de poucos amigos, seus punhos estavam erguidos ao alto, ele estava pronto para socar o adversário. Já do outro lado, estava um tranquilo Thiago, com um sorriso no rosto mostrando os dentes, era como se ele subestimasse o Carlos, como se não se importasse com o perigo que ele ameaçava. Ele estava adorando toda aquela atenção.

O Carlos arriscou o primeiro golpe e acertou em cheio o estomago do Thiago. Foi tão bom ver aquele sorrisinho irritante deixar os lábios dele, vê-lo se transformar em um gemido de dor. Eu podia odiar o Carlos, mas ainda torcia por ele, enfim, eu era #TeamCarlos.

Não, eu estava enganado. Não era um gemido de dor, era uma gargalhada. O Thiago estava rindo mesmo após levar um golpe no estomago.

- É só isso que você consegue? – Debochou o garoto atrevido. – Bate tão bem quanto uma menininha.

O Carlos avançou novamente, mas desta vez o Thiago desviou do golpe. As pessoas gritavam, estavam animadas com o duelo que ocorria próximo ao banheiro. Por mais que eu me sentisse culpado pela briga, eu não podia negar que também gostava do que via. O Thiago levantou as mãos em um pedido para que as pessoas da rodinha gritassem mais alto. Neste meio tempo, o Carlos tentou aproveitar-se da oportunidade para emendar outro soco, mas o Thiago era ágil demais e desviou do golpe novamente. Ele agarrou o punho do Carlos e o torceu. O amigo de Patrick arfou de dor e se afastou logo após o Thiago o soltar.

- Você me perguntou se eu falei todas aquelas coisas? Bem, eu falei mesmo – Gritou o Thiago para quem quisesse ouvir. – Eu disse que você era uma putinha inútil, e pelo que vejo, eu estava certo.

Ele estava mentindo. Por que ele não disse que eu havia inventado tudo? Por mais que aquela mentira estivesse aparentemente me beneficiando, eu sabia que não era bem assim. Agora, eu estava nas mãos do Thiago.

Após humilhá-lo ele andou em direção ao Carlos e golpeou duas vezes o rosto dele. À distância eu podia sentir o barulho causado pelo impacto dos socos. O Carlos caiu colocando as mãos sobre o rosto enquanto gritava.

Eu não sabia se aqueles ferimentos eram tão graves quanto aparentavam ou se o sangue saindo das feridas me passava esta impressão.

Ele apanharia mais se o Patrick não tivesse entrado na frente para proteger o amigo. Quando eu o vi, pensei que teria um ataque do coração.

- Só falta a pipoca – comentou a voz familiar atrás de mim. – Ei galera, querem apostar novamente? Eu coloco o meu dinheiro no Thiago de novo.

Eu me verei e encarei o Rodrigo.

- O que você está fazendo? – Perguntei ao vê-lo colocar uma nota de cinquenta reais na mão de outro garoto. – Me divertindo.

Eu continuei encarando.

- Estou apostando que o seu namorado vai levar uma surra... Uma tão boa quanto o amigo dele levou.

Eu respirei fundo. A minha vontade era de quebrar todos os ossos do corpo do Rodrigo. Mas eu precisava da ajuda dele, os garotos o ouviria, talvez, ele conseguisse até impedir a briga. O Rodrigo era bom com as palavras.

- Você não vai fazer nada para impedir?

- E eu deveria por que mesmo?

- Por que eu sou seu amigo – eu disse com um olhar sério. – E preciso impedir essa briga.

- Amigo? Sei não...

- Vai me ajudar ou não, Rodrigo?

Ele deu uma risadinha e levantou as mãos dizendo: - deixa comigo, meu... Amigo.

Ele se enfiou no meio da roda ficando entre o Patrick e o Thiago. O Carlos ainda gemia no chão. Eu mal conseguia olhá-lo por muito tempo. A culpa estava começando a me azucrinar.

- Então – o sorrisinho continuava nos lábios daquele cretino. – Não vai mais ter luta.

- E por que não? – Questionou o Patrick. – Você vai me impedir?

- É... O que você pode fazer pra impedir? – Apoiou o Thiago.

O Rodrigo levantou as mãos e riu.

- Meus amigos, pensem... Daqui a dois minutos alguém da secretaria virá impedir vocês. Vai chover advertência.

Ele foi até o Patrick e disse: - caí entre nós, à mãe do seu namorado é pedagoga, você vai querer queimar o filme com ela?

Após dizer, o Rodrigo se aproximou do Thiago, deu dois tapinhas no ombro do garoto, o que pareceu irritá-lo ainda mais que a intromissão na briga.

- Parceiro, você quer mesmo brigar com um dos membros do “casal gay da escola”? Então, isso não vai pegar bem. Bater nele vai te deixar com uma imagem homofóbica.

Tanto o Patrick quanto o Thiago estavam desistindo da briga. Mas então o Rodrigo abriu um sorriso e disse: - Ou a gente pode continuar essa briga na minha casa depois da aula. Os meus pais ainda estão viajando.

Eu não estava acreditando.

- Lá vocês podem brigar igual a homens de verdade... Não vai ter ninguém pra impedir e o melhor, vai ter bebida e garotas – ele olhou para mim – e garotos torcendo.

O Thiago sorriu, pareceu ter gostado da ideia. Ele tornou a pensar e, por fim, disse: - Por mim, está marcado.

- E você senhor “quem vai me impedir?” – Perguntou ele olhando para o Patrick.

- Combinado – respondeu o Patrick.

O Rodrigo voltou o olhar para as pessoas que assistiam a luta.

- Galera, depois da aula na minha casa – Gritou o Rodrigo. – Avisem todo mundo.

Após dar o seu showzinho, ele veio em minha direção.

- Seu desgraçado... Eu disse pra você impedir e não remarcar – eu disse o empurrando. – Você tinha convencido eles e depois... Depois você ferrou tudo porque é um imbecil.

- Eu impedi a briga, acho que mereço um obrigado, não?

Eu me segurei para não socar a cara dele. O Patrick me chamou e eu deixei o Rodrigo rindo sozinho.

Comentários

Há 2 comentários.

Por Puckerman em 2014-07-28 22:11:27
Um dos melhores contos... pena q demora muuuito pra postar!
Por perry201 em 2014-07-28 20:22:23
Continuaaaa!