O Beijo do Ano (3x09)

Conto de escritor xXx como (Seguir)

Parte da série Entrando de "Cabeça"

O barulho de água foi aumentando conforme andávamos. As pedras atrapalharam o nosso trajeto, principalmente, para o Rodrigo que me tinha nos braços. Mesmo com alguns tropicões, eu me sentia seguro sendo carregado por ele.

- Acho que podemos parar aqui – anunciou o Rodrigo. Ele me colocou em cima de uma pedra grande, sempre tomando todo o cuidado possível para não me causar dor.

- É uma cachoeira mesmo – eu disse tentando não soar idiota. Os meus olhos se perderam na paisagem. Sentado naquela pedra, eu podia ver a água que caia em cima de mais água, os litros daquele líquido cristalino despencavam em uma pequena lagoa. Mesmo com a escuridão tampando a maior parte dos detalhes, o lugar era lindo. Eu desejei que o Patrick estivesse ali comigo.

- Acho que podemos ir tomar banho lá – a voz do Rodrigo soou tímida demais. Ele pigarreou, desviou o olhar e tornou a dizer: - o que vocês acham?

- Pode ter cobras – eu disse com um pouco de receio. A ideia de entrar na água à noite me dava calafrios. – E eu não sou fã de cobras.

- Sei que você não gosta – comentou o José com uma malícia na voz. Por mais incrível que possa parecer, eu não me irritei com ele, levei como uma brincadeira e me deixei rir. Eu o encarei e respondi: - deste tipo de cobra eu até gosto. Mas das que podem ter naquela lagoa, não!

A brincadeira até quebrou um pouco da tensão entre nós. O Rodrigo se divertia com os meus comentários. A cada risada, a cada olhar, a minha dúvida aumentava, fazendo com que eu questionasse se o José estava mesmo certo em relação ao Rodrigo, se todos estavam. Será que ele sentia algo por mim?

Não, não era essa a pergunta que me atormentava por dentro. A pergunta certa era: o que eu sentia por ele?

- Você não vai entrar? – Os olhos de Rodrigo me observavam atentamente. Eu corei com o olhar dele sobre o meu rosto. – O que foi? – A sua voz me trouxe para a realidade.

- Eu não sei nadar – disse desviando o olhar.

No fundo, eu queria ter dito sobre as dúvidas que pairavam em minha cabeça. Mas e se eu estivesse fazendo papel de idiota? E se ele fosse hétero?

- Deve ter um lugar raso, aonde você possa só tomar banho e... Se você quiser, eu posso te ajudar com isso – desta vez, o sorriso em seu rosto não era malicioso, ele estava sem graça com a situação. Era constrangedor para nós dois. – Se você...

- Eu posso fazer isso sozinho – eu respondi forçando um sorriso. – Mas obrigado.

Os meus olhos voaram para o rosto de Rodrigo, o analisaram de cima a baixo, eles pararam em sua boca. Eu queria beijá-lo, mas eu não sabia o porquê deste desejo.

- Você está distante – comentou ele ao colocar a mão sobre o meu ombro. Os meus olhos ainda estavam em seus lábios, eu desejava senti-los, eu precisava saber o que eu sentia. Ele prosseguiu interferindo em meus pensamentos: - você está muito, muito distante.

Eu também precisava descobrir o que ele sentia por mim. Eu precisava saber se era mesmo da Bianca de quem ele tanto gostava. E como eu nunca fui de fazer cerimônias, eu resolvi tirar esta história a limpo.

- Eu tenho uma pergunta – a minha voz soou mais calma do que eu pensei ser possível. - Qual o seu interesse em tudo isso?

- Eu não en...

- Qual o seu interesse na gente? Qual o motivo de fazer todas essas coisas por nós? – eu perguntei o interrompendo. – Por mim...

- Se você está se referindo ao resort, eu os convidei porque são meus amigos. E eu te carreguei porque você é... Meu amigo.

Ele não havia entendido onde eu queria chegar. A verdade era que nem eu sabia.

- De quem você gosta... Eu quero dizer, por quem você está apaixonado?

Ele riu sem graça. Demorou, mas os seus olhos encontraram os meus e, juntos, nós olhamos para a água que caia na lagoa. Eu tornei a encará-lo, os seus cabelos dourados estavam bagunçados, eu me segurei para não levar as minhas mãos até a sua cabeça e arrumá-los.

- Eu não sei ainda... Tudo está muito confuso – ele disse sem me encarar. O Rodrigo fez uma pequena pausa, mas logo prosseguiu: - Quando eu descobrir, você será o primeiro a quem eu contarei. Eu prometo.

Os olhos do Rodrigo abandonaram a paisagem, logo que ele terminou de falar, o seu pescoço se virou e os seus olhos voltaram a me encarar e eu tornei a secar os lábios dele com o olhar. Os meus olhos não olhavam para outro lugar que não fosse aquele.

Eu me aproximei, no começo, o Rodrigo não entendeu o porquê e quando finalmente se deu conta, já era tarde demais, os nossos lábios já haviam se encontrado. Foi algo rápido, talvez tenha durado menos de cinco segundos. Eu pressionava a minha boca contra a dele com os meus olhos fechados. Talvez fosse porque eu sentia medo da sua reação. O Rodrigo, ao contrário do que eu pensei, não tentou se afastar, ele se entregou ao beijo, o retribuindo – talvez ele também tivesse dúvidas. Talvez ele também quisesse saber.

Quando nos afastamos, ele perguntou – então, beijar um cara é assim?

Eu fiz uma careta e neguei com a cabeça. Por algum motivo, este havia sido o pior beijo da minha vida. Foi algo tão nojento ao ponto de embrulhar o meu estomago.

- Geralmente, costuma ser melhor.

- Eu achei nojento... E estou com vontade de vomitar – ele disse levando a mão aos lábios. – Por que você foi fazer isso, Tilcon?

- Eu estava em dúvida sobre você e... Sobre mim. Eu precisava saber o que eu sentia – eu cuspi a saliva que ainda estava em minha boca e continuei: - mas, agora, eu sei que é só amizade mesmo.

- O pouquinho de dúvida que eu tive, morreu aqui – ele começou a rir da careta que eu estava fazendo. – E em caso de você tentar outro beijo, eu sou hétero mesmo, é certeza.

- Outro beijo? Se eu tivesse beijado a Bianca, coisa que eu não beijei, seria bem parecido com isso – eu disse ainda me lembrando da língua dele invadindo a minha boca. – Foi como beijar um irmão ou algo assim.

- Comigo foi diferente, foi como beijar o meu cachorro.

- Só pra constar, eu beijo muito bem, seu idiota – eu estava irritado com o comentário dele. Afinal, que é que gosta de ser comparado a um cachorro? Eu virei o rosto dizendo: – o problema é você.

- Acho que o problema somos nós dois – ele pegou a minha mão enquanto ria. – Nós temos tanta química quanto Nescau com café ou manteiga com maionese.

- Está mais pra dobradinha com sorvete – eu respondi entre risos. Eu apertei a mão dele. – Talvez, todas essas dúvidas foram uma maneira que a minha mente encontrou para afastar ainda mais o Patrick.

- Quando nós finalmente deixarmos esse fim de mundo, eu vou contar ao Patrick sobre o nosso beijo. Vou dizer a ele que foi o melhor que eu já tive em toda a minha vida, o que será a maior mentira do universo. E, então, ele se roerá de ciúmes.

Eu não ri da brincadeira. Então, o Rodrigo me deu um peteleco no braço, após colocar uma expressão animada no rosto, ele disse: - ei, ele vai voltar... Ainda vai pegar muito no seu pé. Acredite em mim, eu estou sempre certo.

Eu sabia que o Rodrigo estava tentando me dar esperanças de que nós veríamos o Patrick novamente, mas eu tinha as minhas dúvidas. Por mais que eu quisesse abandonar esse pensamento, ele sempre voltava para me assustar.

- Você sabe que vai apanhar, não é? – Eu perguntei tentando não pensar em todas aquelas coisas. – Ele vai te bater mais do que bateu no José.

- Falando de mim? – A voz surgiu de surpresa, se uma das mãos do Rodrigo não estivesse em cima da minha, eu teria pulado com o susto. O José juntou-se a nós. Após encarar as minhas roupas, ele comentou: - acho melhor se lavar e trocar esses trapos.

- E se alguma coisa me picar lá? – Eu perguntei sério. – E se...

- “E se”? Cara, nunca durma sujo pensando em um “e se”. Esse “e se” pode nunca chegar a acontecer.

Eu sabia que ele estava se referiando ao banho, mas eu peguei aquele conselho para os pensamentos em que eu imaginava o Patrick ferido, morto ou vagando sozinho pela reserva. Talvez ele estivesse bem. Eu não poderia deixar um “e se” me impedir de viver.

Mesmo com medo, eu andei em direção à água. Depois de andar vários metros, eu percebi que estava forçando o pé torcido. Droga. A parte estranha era que eu não sentia muita dor, às vezes, algumas pontadas, mas não passavam disso. Resolvi ignorar o meu pé e continuar andando.

A Bianca ainda se lavava, ela sorriu em me ver caminhando em sua direção – eu não sabia se era uma expressão de espanto. Quando eu estava pronto para entrar na lagoa, ela apontou para uma árvore e gritou: - ali tem shampoo, sabonete e condicionador, creme para o rosto, use o noturno e também deve ter um creminho para as mãos. E como você está andando?

Eu não me segurei e comecei a rir. Quem é que traz cremes para um acampamento, ou melhor, quem é que os coloca na mochila quando está fugindo dele? Era algo fútil, estranho na situação em que nos encontrávamos, mas eu não podia negar que amei o fato de ela ter shampoo, condicionador e sabonete. Podíamos passar fome, mas ao menos, morreríamos cheirosos.

Eu coloquei o moletom do Patrick em cima dos produtos da Bianca, eu não queria sujá-lo, não queria nem mesmo uma mínima manchinha de terra nele. Após perceber que ninguém me espiava, eu me despi, atirei as roupas no chão sem o menos cuidado – a única que eu amava ali era o moletom do Patrick.

Apanhei o sabonete e entrei na água. Eu nunca senti tanto frio em minha vida. A água não estava fria, era muito pior, como se eu estivesse deitado em um cubo de gelo, dentro de uma geladeira que se encontrava no Alasca. Talvez fosse exagero pensar desta maneira, mas, naquele instante, foi isso o que eu senti.

Eu fiquei em uma parte bem rasa da lagoa, a água estava batendo em minha cintura, eu não me atrevia a dar mais nem um passo. Eu me abaixei, era inevitável não molhar a parte de cima do meu corpo. Eu pensei que fosse morrer congelado ali dentro. Não fiquei nem três segundo de baixo d’água, mas assim que levantei, acabei me arrependendo, o vento cortava os meus braços.

Eu tomei um banho bem caprichado, ensaboei todas as partes do meu corpo, depois de usar o sabonete, eu pedi ajuda a Bianca, ela ensaboou a minha cabeça com shampoo e o condicionador. Após terminar, eu olhei para a Bianca com a testa franzida e disse: - como vamos nos secar? Como vamos sair daqui sem roupas, os garotos vão nos ver pelados?

- Está com vergonha de quem, do Rodrigo ou do José?

- Dos dois!

- Relaxa... Tipo, não tem toalha, vamos ter que nos secar com roupas limpas mesmo – respondeu a Bianca pensativa. – O que não será nada inteligente... Já que as roupas serão usadas amanhã, caso eles não nos encontre...

O Rodrigo aproximou-se de onde eu e a Bianca estávamos. Ele estava com uma toalha na mão... Não, eram duas toalhas.

- Saiam logo – disse o garoto loiro ao nos entregar as toalhas. – E não vão molhar as toalhas, depois eu e o José vamos precisar delas.

- Eu não vou sair com você ai – eu disse virando os olhos. – Você não vai nos ver sem roupa, principalmente, a Bianca – a minha voz aumentou no principalmente. Agora, eu sabia que ele era hétero, nunca deixaria que ele visse a minha amiga pelada. – Pode se virar.

Nós saímos da água e começamos a nos secar, a Bianca era muito mais rápida que eu – o que era uma grande ironia. Eu sempre dava algumas olhadas em Rodrigo para ver se ele não iria se virar e nos flagrar sem roupas, mas ele não o fez.

Quando eu e Bianca já estávamos enrolados nas toalhas, que eu ainda não sabia de onde o Rodrigo tinha tirado, eu disse: - pode se virar.

Quando dei o primeiro passo, eu quase desabei no chão. A dor quase me matou, o meu pé torcido finalmente dava indícios de que ainda não estava bem o suficiente para que eu ficasse saçaricando pela reserva. O Rodrigo me tomou nos braços, a toalha quase escapou do meu corpo. Eu estava tão envergonhado ao ponto de esconder o meu rosto sobre o braço esquerdo dele.

Ele ria baixinho, eu praguejava no mesmo tom. Ele deixou-me em cima daquela pedra, a mesma que eu ocupara minutos antes. Fez a gentileza de pegar a minha mochila. Eu troquei de roupa rapidamente – o Rodrigo estava de costas, é claro.

- Pode fazer um favor para mim? – Perguntei colocando uma camiseta azul. – Eu queria o moletom cinza, ele está perto da lagoa... Ao lado dos produtos da Bianca.

- Ao lado dos produtos do José – corrigiu o Rodrigo rindo. Eu não pude conter o riso também. Então, todos aqueles cremes eram do José? Bem, eu não estava nem um pouco surpreso. Eu encarei o Rodrigo com um olhar pidão. – Pode me trazer os cremes também?

Ele não disse nada, só sorriu e seguiu em direção à árvore. Eu não queria usar os cremes para ficar mais cheiroso, não era isso. Eu queria me sentir em casa, eu queria me sentir em qualquer outro lugar que não fosse numa floresta. Talvez ao usá-los, ao desfrutar de algo fútil, só talvez, eu não me sentisse perdido. Quem sabe a minha cabeça se deixaria enganar por algumas horas? Eu esperava que essa possibilidade realmente existisse.

Tenho uma notícia bem triste. Galera, esse será o último capítulo postado aqui no Romance Gay. Eu estou tendo problemas com a plataforma desde o meu outro conto. Eu não sei se vocês sabem, mas não tem como editar as séries... Se escrever errado já era. E foi isso o que aconteceu com um título de um capítulo do conto. Tentar remover conto? Nem pensar. Não existe essa opção. O que é ridículo já que o conto é meu... Eu exijo ter o controle sobre ele, e não é isso o que acontece aqui. Primeiro foi Adolescência a flor da pele e agora esse. Eu peço desculpas a vocês. O conto continuará a ser postado no Wattpad e Casa dos Contos. Não importa qual dos sites vocês escolham (Wattpad é melhor pra quem precisa de mais descrição e menos imagens pornográficas), eu só espero que continuem comigo. Desculpem mesmo. E galera, eu gostaria de pedir a vocês um favor. Se vocês tiverem o contato dos responsáveis pelo site (quando clino na página contato dá erro)me passem, por favor. Eu preciso entrar em contato com eles para resolver essa palhaçada. Galera, me ajudem com isso.

Comentários

Há 1 comentários.

Por Puckerman em 2014-08-23 00:32:07
Droga!!O beijo foi pior que eu esperava... Nada de Tilcon e Rodrigo juntos :/