Fugindo de Casa (2x03)

Conto de escritor xXx como (Seguir)

Parte da série Entrando de "Cabeça"

A minha mãe me encarava com um sorriso estampado no rosto. Ela desviou o olhar para relógio pendurado junto à parede da sala e depois, após o que pareceu ser longos segundos, ela voltou a sua atenção a mim. O sorriso continuava na ponta de seus lábios.

Ela sabia da festa, estava estampado em sua testa. E ela também sabia que a cada minuto que se passava eu perdia um pouco mais da incrível festa que acontecia. E, aparentemente, ela não se importava nem um pouco com isso.

- Você não vai comer? – Perguntou o meu pai inclinando a bacia de pipocas em minha direção. – Elas estão muito boas.

- Não, obrigado.

Eu apanhei o celular no bolso do meu moletom. Não havia mensagens. Nem do Patrick e nem mesmo uma dos meus amigos.

A verdade é que a única coisa que me reconfortava no momento era o fato de eles também não terem sido convidados pelo Rodrigo. Às vezes, é ótimo saber que você não está no fundo do poço sozinho. Ao menos os meus amigos estavam no buraco comigo, eu não seria o único a não participar da maior festa do ano. E sim, este era um pensamento muito egoísta da minha parte.

- Tem certeza? – Continuou o meu pai tentando jogar pipoca em minha boca. – Essas pipocas estão incríveis. E tem um pouco de bacon também.

- O que eu realmente quero é sair, mas pelo que vejo não vai rolar, não é? – Respondi. - Hein?

O meu pai encarou a minha mãe como se estivesse cogitando a ideia de me deixar sair.

- E posso saber onde você precisa ir às oito horas da noite? – Perguntou a minha mãe se fazendo de boba. – Então, estou esperando...

Ela sabia que eu queria ir à festa, é claro que ela sabia. Mas ela não se importava, estava muito ocupada bancando o papel de “Mãe do Ano” me castigando.

- Eu gostaria de ir a uma festa com o Patrick – eu disse enquanto encarava o tapete. – Todos vão estar lá e... Eu acho que finalmente vou ter a chance de aproveitar um momento com o meu namorado. Eu estou tão animado para isso que...

- Não!

- O que?

- Eu disse não - repetiu a minha mãe. - Você está proibido de sair e sabe bem o motivo.

- Então eu sou um prisioneiro?

- Sim, mas pense pelo lado bom, pelo menos você pode comer pipoca - disso o meu pai que tornava a apontar a tigela de pipoca para mim. - E tem bacon.

A minha mãe foi até a televisão e colocou o filme no aparelho de DVD. E eu me perguntava “quem ainda vai a uma vídeo locadora alugar um filme?”. Afinal, estamos na Era da Sky e do Netflix, não estamos?

- Coloque o Vovô sem Vergonha primeiro – o meu pai disse enquanto se apossava de todo o espaço no sofá. – Não aguento mais ver filmes dramáticos. É como se em nossa vida já não tivesse problemas o suficiente.

A minha mãe pareceu não dar atenção ao que ele dizia. Ela colocou um dos filmes, voltou para o sofá e deitou-se junto ao pai. Os dois começaram a se beijar.

Eu revirei os olhos. Certo, eu não podia transar com o meu namorado, mas os dois podiam fazer o ato bem na minha frente?

- Ei, vão para o quarto – eu disse irritado.

- Quanto mau humor pra uma pessoa só – disse o meu pai logo antes de voltar a beijar a minha mãe. – Se você fosse mais velho, então, eu diria que é falta de sexo.

- É parte do castigo dele - disse a minha mãe.

- O que?

- Ficar sem sexo - continuou ela explicando para o meu pai.

- Mas eles já estavam transando?

Ao contrário da minha mãe, ele ainda nutria a fantasia de que eu era um garoto inocente, coitadinho. Eu que não iria trazê-lo de volta para a realidade. No fundo, ele sabia que eu não era virgem, mas ainda pensava em mim como um garotinho, tão inocente quanto uma criança.

- Não, mas no caso de estarem... Esse foi um dos castigos - disse a minha mãe tentando desviar do assunto. - Enfim...

Quando o filme começou, eu li o título “Magic Mike”, não me controlei e comecei a rir.

- Isso não é o Vovô sem Vergonha – rebateu o meu pai.

- É melhor ainda, são jovens sem vergonhas – disse a minha mãe. – Jovens, lindos, supergostosos e sem vergonhas.

A ideia de assistir um filme sobre strippers masculinos não atraiu muito o meu pai. Bem, eu não podia culpá-lo. Eu me sentia constrangido toda a vez que passava uma cena de sexo. Pais normais jamais assistiriam a um filme assim com os seus filhos. Eles assistiriam Frozen ou Como Treinar o Seu Dragão.

- Tilcon, feche os olhos nessa parte – o meu pai não controlava o riso. – Agora ele já pegou ela, você já pode abrir... Não, não pode ainda. Erro meu. Feche os olhos de novo.

E foi assim até o final do filme. Eram dez e pouco da noite e eu ainda estava em casa assistindo a filmes com os meus pais. Que droga de vida eu tinha.

- Quem é que namora um stripper? É tão óbvio que ele vai trair ela – continuou o meu pai reclamando do final do filme. – É a mesma coisa que namorar um estripador e achar que ele não vai te matar de uma forma horrível.

- Eu vou dormir – eu disse bocejando. – Boa noite pra vocês, se divirtam com esses filmes.

- Ei, a gente ainda não assistiu o Caubói e as suas Cachor...

A minha mãe cutucou o meu pai o impedindo de terminar a sua frase.

- Esse é um filme adulto – disse ela em um tom baixo tentando disfarçar, o que foi um fracasso total.

O meu pai pareceu não entender, então a minha mãe se aproximou e cochichou algo ao pé do ouvido dele. Após ouvir, ele olhou para mim e disse: - Acho melhor você ir dormir.

- Ótimo, os meus pais vão ver pornô – eu disse indo em direção à escada. – Perfeito.

- Não é pornô – gritou o meu pai. – É só um filme com cenas de sexo explicitas que... É só para adultos... Mas isso não é... Não é pornô!

É claro que não é.

Quando cheguei ao meu quarto quase enfartei ao ver um garoto deitado em minha cama.

Era o Patrick.

- Oi – disse ele estendendo a mão para mim.

Eu apanhei a sua mão.

- Oi.

Deitei com ele em minha cama de solteiro, minha cabeça estava em cima do ombro dele. Ele começou a mexer no meu cabeço, o que me irritava muito, mas deixei que ele continuasse.

- Se meus pais te pegam aqui, você está morto.

- Eles não vão me pegar.

Como eu podia ser tão burro? Era óbvio que ele havia entrado pela janela, a mesma que o fez quebrar a perna.

- Não faz nem dois dias que você tirou o gesso – eu fiz uma pausa. – Você quer quebrar a perna de novo?

- Você se preocupa demais.

Ele me beijou. Seus lábios estavam tão quentes e conforme ele continuava a me beijar, o calor começou a emanar do meu corpo também. Uma chama queimava dentro de mim.

O Patrick beijava o meu pescoço enquanto desabotoava a camisa. Eu agarrei o seu pulso o forçando a parar.

- Espere...

- O que foi? Nós não teremos outra chance assim.

- Eu sei, mas tenho outros planos para a noite – disse sorrindo. – Nós vamos a uma festa de penetra.

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