Chorando o Leite Derramado (3x01)

Conto de escritor xXx como (Seguir)

Parte da série Entrando de "Cabeça"

Eu saí disparado pelos corredores vazios. Só existia uma única certeza sobre a situação da Bianca, ela ainda estava na escola. E eu precisava encontrá-la o mais rápido possível, eu precisava encontrá-la antes que fosse tarde demais.

- Ei, me espere, eu vou com você! – Gritou o Patrick no fim do corredor.

Eu me virei, olhei para ele e disse: - não precisa.

Eu não estava sendo tão honesto comigo mesmo. Talvez eu não estivesse correndo por causa da Bianca, talvez eu estivesse tentando fugir do Patrick, tentando fugir da vergonha e, principalmente, tentando fugir de toda a dor da rejeição.

Ele levantou as mãos e gritou de volta: - eu sei, mas eu quero ir.

Um frio tomou o meu estomago. Era como se ali, bem no fundo da minha barriga, eu abrigasse centenas de borboletas. Se eu ficasse mais um minuto ao lado do Patrick, seria inevitável, eu explodiria, me humilharia e depois, quando estivesse pegando no sono em minha casa, sem dúvida nenhuma, eu me arrependeria.

Ele correu e logo estava parado diante de mim, ficamos cara a cara novamente. Eu queria desviar o olhar, mas não conseguia. Eu queria ficar calado, mas haviam muitas palavras entaladas em minha garganta.

- Você tem ideia de onde ela possa estar? – Perguntou-me ele com um olhar curioso.

Eu suspirei e disse: - quem é a garota?

Ele pareceu não entender aonde eu queria chegar. Talvez nem eu soubesse.

- O que você disse?

Eu tentei controlar o sarcasmo, mas ele era forte demais e eu estava ferido, foi impossível não usá-lo como uma forma de defesa.

- Você já queria terminar, confesse! – Eu ria enquanto pronunciava aquelas palavras. – Quem é ela? Eu conheço?

Ele revirou os olhos e massageou a testa com os dedos. O Patrick estava perdendo a paciência. A pergunta o incomodou demais, e talvez por este motivo, eu desconfiei que o meu ex-namorado estivesse escondendo algo.

- Vamos acabar com isso de uma vez, vou fazer iguais a todos os términos, O.K? – Agora, era o Patrick quem ria. – O problema não é você, Tilcon, sou eu.

Antes que eu pudesse rir ou estrangulá-lo, o Patrick ergueu a mão direita sinalizando que ele ainda não havia terminado ou que queria acrescentar algo ao seu lindo discurso clichê.

- Não... O problema é você. Você é um péssimo namorado e eu já estou cansado – ele pareceu aliviado após dizer aquelas palavras. – E quer saber? O problema não foi apenas o Carlos, foi muito antes. Você errou mais vezes do que eu posso contar e o pior, você não aprendeu com esses erros.

Agora, eu me sentia totalmente ofendido. Eu lutei pelo nosso relacionamento tantas e tantas vezes. Eu fui expulso do time de futebol por ele, eu abandonei algo que eu gosto para protegê-lo. Eu me sacrifiquei por ele.

- Então, Patrick, você não sabe contar, pois eu só errei uma vez e...

- Vamos procurar pela Bianca? – Sugeriu o Patrick em um tom grosseiro.

Eu queria chorar novamente, mas não daria este gostinho a ele, não nunca mais ele me veria chorando.

Nós fomos até a quadra de futebol, olhamos cada canto dela, mas a Bianca não estava lá. Eu já estava perdendo as esperanças de encontrá-la na escola.

Quando estávamos saindo da quadra, o Patrick parou de andar, eu me virei e o encarei.

- Eu não queria dizer para não te machucar ainda mais – começou o Patrick. – Talvez você ainda não percebeu de fato ou talvez, você tenha percebido, mas não se importa, enfim, eu não sei.

Eu não entendi uma só palavra daquela frase.

- Se quer me dizer alguma coisa, então, vá direto ao ponto – eu disse a ele. – Eu já estou cansado de enigmas e indiretas.

Ele desviou o olhar.

- Eu não gosto de fazer drama, na verdade, odeio. Eu iria terminar o namoro e não te contaria, porque eu não queria que você se culpasse, mas eu também não quero sair como o vilão da história. Eu te amo e não quero que ache que te larguei por outra pessoa – ele disse tudo àquilo sem me encarar, o seu olhar fitava o gol. – Você é um péssimo namorado, talvez um dos piores.

Eu não estava gostando do rumo da conversa, mas desta vez, decidi não interrompê-lo. E pouco me importava o que ele diria, eu tinha absoluta certeza de que eu era um ótimo namorado, eu me sacrificava por ele, sempre.

- Quando todos descobriram que você era gay, eu não suportei a ideia de te ver passar por aquilo sozinho. Não, eu precisava te ajudar, eu precisava estar ao seu lado – ele continuou a dizer. Nós dois encarávamos a rede branca do gol. – E então, eu menti, eu disse a todos que era gay, mas só porque, deste modo, eu seria o mesmo que você é, e não te deixaria ser o “GAY” da escola sozinho.

- E eu te agradeci por isso, eu...

Ele levantou a mão e continuou a dizer: - O problema é que o apoio não foi mútuo. Eu era a única pessoa que realmente se importava. Eu estava sempre com você, se eu soubesse que alguém havia te ofendido, eu mataria esse ser.

Ele se aproximou e, desta vez, o Patrick encarou os meus olhos.

- Eu estava disposto a fazer qualquer coisa por você, mas só porque achei que você estaria ao meu lado. Mas as coisas não foram bem assim. Eu me assumi gay para a escola inteira e os meus pais nem imaginavam. Eles souberam pela boca de outras pessoas.

Eu estava grogue só de sentir o peso daquelas palavras. Talvez o Patrick sempre sofresse em silêncio e eu nunca percebi.

- Mas no fundo, nada disso me importava, eu tinha a certeza que no fim do dia, com ou sem o apoio dos meus pais, eu ainda teria o seu apoio. Mas no dia seguinte, você nem mesmo perguntou como os meus pais reagiram, você não me perguntou até hoje qual foi à reação deles.

Eu não consegui continuou olhando dentro dos olhos dele. Eu me ouvi dizendo – e qual foi à reação deles?

- Eles reagiram melhor do que eu havia pensado.

Em meus lábios um sorriso apareceu, era um sorriso de felicidade por ele, mas estava cedo demais para que eu pudesse supor algo.

- Eles fingem, fingem que eu estou em uma fase qualquer, que logo eu vou acordar e dizer “ei, eu acho que não me sinto mais atraído por homens”. Todos em minha casa evitam o assunto, agem como se não soubessem...

Aquilo me quebrou por dentro.

- E sabe o porquê eu não conto que sou bissexual? Por que quando o meu pai souber, ele não vai ver o “bissexual” como alguém que sente atração tanto por homens quanto por mulheres, ele verá isso como uma válvula de escape, uma forma de eu esconder o fato de que eu também sinto atração por homens, simplesmente, porque eu posso me apaixonar por uma mulher.

Eu estava vermelho, era muita coisa para ouvir, muita coisa que fizesse com que eu me sentisse culpado.

- Eu não sabia... De nada disso.

- É claro que não, você não me perguntou. Você não quis saber quantos dos meus amigos continuaram ao meu lado, você não quis saber quantas pessoas riam pelas minhas costas... Você não se importava, estava preocupado demais com a sua popularidade.

- Você vive falando mal dos seus pais, que eles te envergonham e que são diferentes... Mas acaba se esquecendo do fato de que eles te aceitam.

Eu poderia ficar quieto, poderia me contentar em ouvir apenas isso, mas não, agora, eu queria saber tudo, queria saber de todas as coisas que eu ignorei.

- O que mais? Eu quero saber de todas as coisas que eu fiz... De tudo.

- No dia da festa do Rodrigo, quando eu comprei o anel – ele riu. Eu me perguntava se eu chegaria a ver um de seus antigos sorrisos e não apenas o sarcasmo de Patrick. – Eu preparei uma noite perfeita, o Carlos me ajudou a fazer uns cartazes, nós dois arrumamos até uns garotos para tocar violão. Naquela noite, eu iria te surpreender, uma musica começaria a tocar, você olharia pela janela e veria pessoas segurando cartazes que formariam a palavra “EU TE AMO”. E ai, eu pegaria os anéis em meu bolso, seria tão perfeito.

Eu estava sem palavras, desta vez, eu não tentaria contra argumentar. Eu estava perdendo feio. Ele estava certo, eu era um péssimo namorado.

- Mas, como de costume, você precisava salvar a sua popularidade, então, teria que ir a festa do Rodrigo. Eu acabei cedendo porque queria que você estivesse feliz e mesmo que eu te segurasse em casa, você nem aproveitaria o momento, sua cabeça estaria naquela festa.

- O Carlos mentiu para você porque me prometeu que não contaria a ninguém que eu era bissexual. Ele realmente não gosta de você, mas ele te suporta porque eu te amo. Ele me ajudou a fazer coisas por você, várias vezes... Mas você não pode fazer o mesmo esforço? Não pode tentar ser legal com alguém que eu amo? Bem, eu não sabia que ele havia te expulsado do time, e ele não tinha esse direito, mas você devia ter me contado e não criado uma confusão enorme.

Eu ficaria parado diante do Patrick pelo resto do dia, mas então eu me lembrei de que a Bianca ainda estava em perigo.

- A Bianca...

- Vamos para o estacionamento, se ela não estiver lá, então, não está na escola – Após dizer, o Patrick saiu da quadra. Mas eu continuei parado, processando todas aquelas informações. Ele se virou e disse: - vamos?

Eu me sentia totalmente humilhado. Eu era tão fútil, tão narcisista ao ponto de nem mesmo perguntar como os pais dele reagiram ao saber que ele era gay, uma coisa que ele fez para poder estar ao meu lado. Eu realmente não o merecia.

Quando chegamos ao estacionamento, eu avistei uma garota loira com uma pedra gigante na mão. Ela segurava a pedra um pouco acima do queixo, eu já imaginava o que ela faria. A Bianca se atingiria com aquela pedra? Seria mesmo ela capaz de tirar a própria vida? (Hoje à noite no Globo Repórter).

Eu abandonei todos os meus pensamentos sobre o Patrick e corri em direção a ela enquanto gritava: - Não faça isso, não vale a pena se machucar por ele, Bianca. Não!

Ela se virou e fitou o meu rosto.

- Como?

- Você não pode fazer isso – continuei dizendo em uma tentativa de convencê-la do contrário. – Não tire a sua vida.

Ela começou a rir, o Patrick atrás de mim também ria. Eu ainda não entendia o porquê da graça. Até que eu vi o carro todo estilhaçado em frente a ela.

- Talvez eu tenha exagerado um pouco no telefone, mas eu não vou me matar, dãh! – Afirmou ela ainda segurando a pedra. – Eu só vou aliviar a minha raiva dando prejuízo ao Wolf. Ela não o chamou pelo primeiro nome.

Ela encarou o carro preto todo apedrejado à frente e lançou aquela pedra estilhaçando o para-brisa. Os estilhaços voaram para todos os lados, a Bianca abriu os olhos e apanhou a pedra caída no chão, logo ela estava pronta para jogá-la outra vez.

Ela inspirou e expirou todo o ar de seus pulmões e arremessou a pedra novamente enquanto dizia: - quem precisa de psicólogo quando se tem isso?

A minha amiga se abaixou rindo, pegou a pedra e a estendeu para mim.

- Quer tentar?

Eu encarei o carro do PEDOWOLF e sorri, aceitei a oferta. O Patrick nos encarava de uma maneira estranha. Voltei o meu olhar para o carro preto, sem nem pensar eu atirei a pedra no vidro da porta traseira.

A sensação de eliminar a raiva era mesmo incrível. Quando eu fui atirar aquela pedra pela sexta vez, um professor de educação física apareceu no estacionamento. Ele não era qualquer professor de educação física, mas o Wolf.

Ele avançou em minha direção, ele me socaria se o Patrick não estivesse entrado na frente.

- O que você está fazendo?

A Bianca disse rindo: - você me usou! Quando descobriu que os meus amigos sabiam da gente, você me mandou desaparecer... E eu só estou te ensinando a não mexer com uma garota do segundo ano, elas costumam ser perigosas.

- Você chamou o seu amiguinho, o arruaceiro, ou melhor, o Bambi arruaceiro – o Wolf ria com um ar superior. – Eu vou te matar seu...

- Eu vou te mostrar quem é o Bambi – ameaçou o Patrick levantando os punhos.

- Ninguém vai brigar aqui – eu disse entrando na frente do Patrick. – Você vai ficar feliz por termos quebrado apenas o seu carro – eu olhei nos olhos daquele traste – e vai agradecer por não te colocarmos na cadeia, onde é o seu lugar.

Eu entreguei a pedra ao meu professor, em seguida, desviei o olhar para o Patrick e depois para a Bianca, eu suspirei e disse: - vamos, ainda temos uma briga para vender.

Acho que esse foi o retorno mais rápido de temporada de todos os tempo, não foi? Eu estou feliz, acho que é por isso que não postei esse capítulo depois de um mês. Mas eu queria agradecer a vocês por continuar a ler o conto.

Comentários

Há 2 comentários.

Por GarotoComum em 2014-08-04 08:43:50
Nossa...que capítulo hein rsrs...gostei muito. Para mim, Patrick tem toda a razão, Tilcon precisa mudar um pouco U.U
Por ThiagoAraújo em 2014-08-03 22:42:37
fiquei meio chocado com tudo que o Patrick disse