Alianças Perigosas (2x10)

Conto de escritor xXx como (Seguir)

Parte da série Entrando de "Cabeça"

Debrucei-me sobre a mesa, espremi o meu rosto contra o meu caderno e mergulhei em meus pensamentos. O Carlos havia ido à enfermaria, ou seja, ele foi a uma salinha com várias pessoas sentadas em um banco. Lá, uma pedagoga qualquer ligava para os pais dos alunos e esperava pela chegada deles.

A coisa era assim:

“O que você tem querido?”, perguntava sempre a pedagoga metida à enfermeira.

“Meu pescoço... Cortaram... Ele tá sangrando. Eu prec-ciso de ajuda”.

“Só um minutinho, eu vou ligar para o seu pai. Ah, coloque a mão no corte, eu li que isso pode ajudar”.

Eles não podiam dar remédio a um aluno por não saber se o mesmo possuía alergia ou algo assim. E também não podiam, simplesmente, deixá-lo ir embora desacompanhado. No fim das contas, aquela salinha não servia para nada.

Mas o caso do Carlos não era tão grave assim. Afinal, ele só teve um dente quebrado, um corte nos lábio superior e alguns hematomas espalhados pelo corpo. Só isso. Não era tão grave ou era? Quem eu estava tentando enganar? Eu havia acabado com o garoto.

A professora Cristina falava, mas ninguém a ouvia, as pessoas na sala estavam mais ocupadas comentando sobre a briga no refeitório. Mas Cristina não aceitou isso bem, então, pegou o apagador e bateu duas vezes com ele no quadro negro, que na verdade, é verde. Será que alguma vez o quadro foi negro? De que isso importava?

- Silêncio!

Todos ficaram quietos, parte disso era devido ao risco de ela atirar aquele apagador na testa de quem continuasse a tagarelar.

- Como vocês sabem – ela começou a dizer ainda com o apagador na mão em tom de ameaça – Nós não seguimos o restante dos colégios, a nossas férias acontecem nas duas primeiras semanas de agosto.

Eu nunca entendi bem o porquê disso, mas eu não me importava, ainda mais no ano em que a Copa do Mundo aconteceu aqui no Brasil, onde dois meses tiveram mais dias em casa do que na escola.

- Mas este ano, como vocês notaram, a Copa atrapalhou o nosso calendário escolar. O que resultou em muitos e muitos dias sem aula – ela dizia aquilo com um sorriso no rosto, devia ter adorado se livrar de todos nós. Os alunos começaram a gritar “graças a Deus”, o que fez Cristina gritar “silêncio” novamente. – Como eu estava dizendo, e para compensar esses dias, no próximo bimestre, ou seja, a partir da terceira semana de agosto, quando as férias acabarem, vocês terão que comparecer a escola aos sábados.

Todos, incluindo eu, começaram a vaiá-la, a sala de aula tornou-se uma verdadeira zona. Ninguém que fosse normal iria curtir a ideia de comparecer a escola aos sábados de manhã.

Eu me levantei para protestar, mas nem deu tempo, a minha professora de arte deixou a sala. Sem dúvida, ela devia ter ido buscar auxilio do diretor. Nem mesmo ela conseguiria controlar a zona que a sala se tornou.

Eu me aproveitei do meio tempo para deixar a sala. Eu mandei uma mensagem para o Thiago pedindo para que ele me encontrasse no banheiro.

Sim, uma mensagem para o Thiago.

Eu fui estúpido ao pensar que aquela confusão não iria afetar a mim e ao Patrick. Bem, eu estava enganado. O Carlos foi quebrado ao meio pelos punhos do Thiago e o próximo a apanhar seria o meu namorado. Eu não achava o Patrick fraco ou incapaz, mas após ver o que o Thiago havia feito com o Carlos, era impossível não ficar com os dois pés atrás.

No fundo, eu sabia que era eu quem deveria apanhar por toda aquela zona armada. Eu era o culpado, eu poderia até dizer que o Carlos merecia aquilo por ter me enganado, por ter conspirado para me expulsar do time e por todas as nossas outras desavenças, mas no fim do dia, a culpa por tudo aquilo ainda seria exclusivamente minha.

Eu tentei convencer o meu namorado a não brigar, mas ele não me ouviu e nem me ouviria, não depois de ver o seu amigo todo estilhaçado no piso do salão. Quem poderia culpá-lo por querer brigar? Eu? Não, eu não podia. Mas eu teria que agir ou mais alguém iria se ferir por minha culpa. E se fosse o Patrick, eu não me perdoaria tão cedo. Eu comecei aquela briga, então, nada mais justo que eu a finalizasse.

Eu caminhei até a última divisória do banheiro.

Após me ver o Thiago abriu um sorriso, hesitante eu o retribui. Só de me imaginar sorrindo para aquele idiota eu sentia vontade de socar a mim mesmo, mas era preciso. Afinal, diferente de todas as vezes em que nos encontramos, agora, eu necessitava dele.

- Eu estou confuso – começou o garoto a minha frente. – Primeiro você manda alguém para me bater e, agora, simplesmente, me convida para vir aqui?

- Você sabe exatamente pra quê eu o chamei.

- Eu sei?

Eu suspirei.

- O Patrick não vai desistir desta briga... Você acabou com o amigo dele.

- Ops, correção – ele apontou o dedo para mim. – Você acabou com o amigo dele.

Eu revirei os olhos. Desde quando o Thiago tinha o direito de me julgar? Ele era uma pessoa tão ruim quanto eu.

- O que eu quero dizer é que... Sou eu quem vai brigar com você e não o meu namorado – disse por fim. – É assim que tem que ser.

Primeiro, ele me lançou um olhar curioso, sua expressão estava séria, em seguida, após perceber que eu também permanecia sério, ele caiu na gargalhada. Ele riu por um minuto inteiro.

- Você me tirou da aula pra isso? Para me contar uma piada?

- A “briga” – eu fiz aspas com os dedos enquanto falava – não irá realmente acontecer, idiota. É claro, haverá o primeiro golpe e em seguida o Patrick irá interrompê-la, ele nunca me deixaria apanhar.

- Eu não...

- Eu vou confrontar o meu namorado – eu disse o interrompendo. – Vou dizer que se ele insistir nesta briga, quem irá lutar será eu, ele vai insistir, pois é teimoso. Então, eu tomarei o lugar dele na luta, quando ela começar, você me atingirá com um golpe... O Patrick irá nos separar, e se ele tentar te bater, eu me colocarei na frente novamente, direi a ele que sou eu quem deve lutar e, então, o Patrick não terá outra saída a não ser atender ao meu pedido – eu conclui. – Nada de luta. Todos vencem.

- E o que eu ganho com isso mesmo?

Eu sorri.

- Se você continuar com a luta e o Patrick se machucar muito, todos vão passar a odiar você. Thiago, você será chamado de homofóbico e entre outras coisas. E por outro lado se você simplesmente abandonar a luta, será chamado de covarde – eu sorri para o Thiago, um de meus sorrisos persuasivos. – Mas se o Patrick não lutar, e tudo para me proteger, será algo incrível. Ele não será chamado de covarde, você não será chamado de homofóbico. E a luta tornará a todos nós ainda mais populares.

Ele pensou por alguns segundos, voltou o seu olhar para a minha direção, e em seguida, o Thiago entendeu a mão, eu a apertei. Tínhamos um acordo.

- O que você quer que eu faça?

- Eu não quero que o golpe seja no meu rosto e nem em meu estomago, me bata no ombro ou algo assim. Tem que parecer real, mas ainda sim, você não precisa por tanta força no punho.

Ele riu ainda pensativo.

- O que? – Eu quis saber de seus pensamentos.

- E se o Patrick não interromper a briga?

- Ele vai interromper.

- Mas...

- Se ele não interromper, então, me bata com toda a força... Me deixe todo roxo – eu encarei o chão, eu sabia que o Patrick nunca me deixaria apanhar, eu sabia. – Eu coloco a minha mão no fogo por ele.

- Mas, caso isso ocorra, eu serei chamado de homofóbico por bater em você, ou eu estou enganado?

- E se não me bater, será chamado de covarde... Você decide qual é o pior.

- Então, eu espero que o seu namorado interrompa mesmo a briga ou você vai sair de lá em uma maca.

- Ele vai interromper.

Eu realmente espero que interrompa – pensei, mas não disse.

Eu quero agradecer por todos os comentários e votos. E também quero pedir mais uma vez para que vocês vão até o Wattpad e me sigam, comentem e votem no conto lá. Ele não é tão popular lá quanto aqui. E vocês são são meus leitores mais fiéis, enfim, façam esse favorzinho gente.

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E quero avisar também que o próximo capítulo é o último da temporada.

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