"Viciados" ou "Viados"? (1x04)

Conto de escritor xXx como (Seguir)

Parte da série Entrando de "Cabeça"

Ao chegar na minha casa eu tentei não fazer barulho, afinal, a última coisa que eu queria era acordar os meus pais. Eu comecei a andar nas pontas dos pés e continuei assim até subir todos os degraus da escada.

Eu havia conseguido. Fui em direção ao meu quarto com um sorriso no rosto.

Quando abri a porta encontrei os meus pais sentados na minha cama me esperando. Droga. Alegria de pobre não dura pouco, não dura é nada.

- Nossa eu estou morrendo de sono – disse bocejando. – E amanhã tenho aquela peça idiota.

- Tudo bem, mas já que você está com tanto sono, eu acho que nem vai se importar de nos entregar o seu celular – disse o meu pai.

- O que? – Perguntei surpreso.

Meus pais nunca foram de castigar. Nunca mesmo. Se eu fugisse de casa, quando eu voltasse, eles me dariam um presente por eu ter voltado.

A minha mãe se levantou e disse: - É que a Eva, uma das mães do grupo “TODTUFG” nos disse que nós precisamos puni-lo por suas más atitudes. E como você chegou ás três horas da manhã...

- Qual é mãe, você vai mesmo deixar que uma mulher do grupo “Tenho Orgulho de Ter um Filho Gay” te diga como você deve criar o seu filho? – eu perguntei abrindo os braços em uma expressão de “Qual é cara?”. – Eu acho isso humilhante.

Ela encarou o meu pai e pensou por alguns segundos.

- O Ti tem razão – disse ela ao meu pai. – Não devemos deixar aquela mulher nos dizer o que fazer!

- Não deveriam mesmo, porque vocês são ótimos pais – eu continuei mentindo. – Me criaram tão bem que eu não estava vagabundando, mas estava na casa da Bianca vendo filmes.

- Nós perdemos a hora e, enfim, eu cheguei aqui às três horas da manhã.

Meu pai riu e disse: - isso foi antes ou depois de ela ligar aqui te procurando?

Agora, estava na minha vez de rir.

- Eu disse Bianca? Mas eu queria dizer Andreia, ops um pequeno engano – continuei me enforcando com a minha própria mentira.

- Ela estava no telefone com a Bianca, eu ouvi a voz das duas.

- Eu desisto – disse entregando o celular para ele. – Agora, podem sair e me deixem dormir. E vocês são péssimos pais.

Era óbvio que eu não contaria onde eu estava... Que por acaso era no quarto do Patrick transando com ele. O que era ficar sem o meu celular? Na verdade, seria uma droga. Eu ficaria sem whatsapp. Mas seria melhor do que eles descobrirem a verdade. E a quem eu estava tentando enganar? No dia seguinte eles já teriam se esquecido disso.

Eu coloquei a minha roupa de dormir e me joguei na cama porque eu estava quebrado e, desta vez, eu não estava exagerando. Eu tinha que começar a ir com mais calma ou fazer o Patrick ir com mais calma. Mas pensando bem... Eu gostava demais do modo como estávamos “fazendo”.

Aqueles pensamentos estavam me excitando muito, eu tirei a coberta de cima do meu corpo e coloquei a mão dentro do meu calção. Eu nunca fui muito fã de masturbação. Digamos que eu perdi a virgindade bem cedo, então, quando sentia vontade, eu fazia com outro garoto. Mas, naquele momento, eu precisava me aliviar.

Eu comecei a lembrar do que havia acontecido comigo e com o Patrick no quarto dele... Estava tão bom. Mas então o meu pai abriu a porta do meu quarto e me flagrou com a mão no meu pênis.

Eu me cobri no segundo em que eu o vi, mas ainda sim, era tarde demais. Eu o encarei com ira nos olhos.

- É que eu cheguei a conclusão de que tirar o seu celular é um castigo muito severo, então, eu vim devolver – disse ele colocando o celular em cima da cabeceira da cama. – Eu vou fingir que quando eu entrei você estava dormindo.

- Faça isso – eu disse.

Droga. Quando ele saiu do quarto eu ergui o meu calção e fui dormir. O meu pai me havia feito perder toda a excitação e o resto de dignidade que me restava.

No dia seguinte, eu acordei atrasado para variar. E ainda teria uma peça ridícula da qual eu era um dos atores principais. Meu pai teve que me levar para a escola.

Quando cheguei à minha sala ela já estava vazia, todos já estavam no palco. Eu corri até lá e, então, a peça finalmente começou.

- Meu nome é André, e eu sou um viciado – disse enquanto encarava o olhar duro daquelas pessoas sobre o meu rosto.

Elas olhavam tão intensamente para mim que foi impossível não ficar com o rosto tão vermelho quanto uma pimenta.

A líder do grupo sorriu ao encarar o círculo de pessoas a sua volta e disse:

- Conte-nos mais André.

Eu respirei fundo, tentei procurar as palavras da qual eu deveria dizer, mas nada veio. Eu encarei a plateia e sorri.

Droga, droga e mais droga. Eu estava no meio de uma peça e esqueci as drogas das minhas falas. O fato de eu pensar tanto em “droga” era porque a DROGA da minha peça era exatamente sobre isso: drogas.

Sem ter o que fazer, eu tive que improvisar:

- Eu estou limpo há uma semana – disse. – É tão doloroso para mim recusar, mas eu preciso ser forte.

O resto das pessoas da peça me encarou com um olhar de: “O que você está fazendo?”.

A líder – a Andreia que interpretava a líder – sorriu mais uma vez dizendo: - Isso já é uma vitória.

Sim, ela também estava improvisando.

- Diga-me André – ela se levantou. – Você é viado há quanto tempo?

Minha barriga congelou. A Andreia se tocou que havia errado a fala e ainda por cima me envergonhado na frente de toda a escola. A idiota trocou as palavras “Viciado” por “Viado”. Todos riam enquanto nós, que estávamos em cima do palco, permanecíamos parados, sem reação.

Eu precisava fazer algo, ou seria zoado para o resto da minha vida.

- Há dois anos, mas parecem vinte – respondi com um olhar triste. – E, às vezes, sinto uma dor incomum.

- Oh, e onde é essa dor? – Perguntou ela entendendo a minha intenção.

Eu me levantei e fui até ela fingindo cochichar algo ao pé de seu ouvido. Em seguida eu me afastei.

- Hum, então, é mais complicado do que eu pensei – disse ela fazendo com que a plateia se matasse de rir lá em baixo. – Eu te recomendo maneirar na farra, André. Você precisa ser forte.

- Mas eu não sei se consigo, o psicólogo é tão... Como vou resistir? – Disse.

- Seja forte como um homem, ou quase isso...

Nossa professora de Artes subiu no palco e sorriu. O diretor a fuzilava com o olhar.

- Acabou a peça – disse ela. – Obrigado por assistir esta peça teatral educativa sobre viados... Quer dizer viciados. Digam não as drogas.

Nós saímos do palco e quando chegamos à sala a professora Cristina fechou a porta e a expressão “calma” se tornou uma expressão de “por que vocês me envergonharam seus demônios?”.

- Vocês enlouqueceram? – Ela gritou. – Querem me ver ser demitida? Suas pestes.

- A gente esqueceu as falas e tivemos que improvisar para não passar vergonha lá em cima – eu disse. – É melhor que riam da peça do que rirem de nós.

- Isso ai! – As pessoas da sala me apoiaram.

Ela saiu da sala ou arrancaria a cabeça de um de nós. Quando o sinal do intervalo finalmente tocou, todos me cumprimentavam dizendo ter gostado do improviso.

Eu quero agradecer por todos os comentários, obrigado gente. Infelizmente o conto não conseguiu colocar nenhum capítulo no Ranking, mas quem sabe mais pra frente. Espero que continuem acompanhando e divulguem o conto.

Comentários

Há 2 comentários.

Por ThunderBlade em 2014-06-19 14:46:59
A sua serie e uma das melhores!Capitulo otimo!
Por ThiagoAraújo em 2014-06-18 23:25:48
está muito bom, o meu tambem nunca entrou, as pessoas que mais então no site parece que só vão direto nos contos e deixam as series de lado