Traído? Chifrado? ou Paranoico? (Especial - Parte 2)

Conto de escritor xXx como (Seguir)

Parte da série Adolescência a flor da pele

Era exatamente isso. O Junior estava me traindo por todo aquele tempo. Como eu pude ser tão idiota?

O que eu faria agora? Será que deveria entrar e pegar ele e quem quer que fosse bem no flagra ou iria embora e conversaria quando ele chegasse?

Eu optei pela primeira opção, iria entrar e ver o que quer que fosse. Eu precisava disso.

- Você me espera aqui! – Disse ao taxista. – Eu não vou demorar muito.

Ele confirmou com a cabeça e eu deixei o táxi. Eu estava com medo do que encontraria. Por mais que eu tivesse suspeitado que algo estava errado com o Junior, ainda sim, é diferente de ver com os próprios olhos. Eu realmente queria saber da verdade?

Ao entrar na casa eu me preparei para tudo. Para um beijo, uma agarração e até mesmo para o sexo explícito. Mas encontrei apenas uma pessoa ali dentro. O Junior estava sentado em frente a sua moto, a mesma que há alguns anos ele usava para me dar carona até o colégio. Como eu sentia falta daquele tempo. Os anos se passaram com tanta rapidez.

Ao ouvir o barulho da porta ele se virou e me encarou entrar. O Junior não estava muito feliz por me ter naquele lugar.

- O que você está fazendo aqui? Como encontrou este lugar? – Perguntou ele com o tom de voz mais alto do que o normal.

Por que ele estava gritando comigo? Será que era porque eu descobri o seu lugarzinho secreto que ele usava para me trair?

- Eu te segui – respondi com calma. – E, pelo que posso ver este lugar não se parece com uma faculdade.

Ele desviou o olhar, voltando a encarar a moto.

Eu me aproximei.

- Você não me contou que ainda possuía a moto. Ultimamente, existem muitas coisas que você não me conta – continuei.

- Você me seguiu até aqui, por quê? – Perguntou ele.

A pergunta foi como um balde de água fria em meu rosto quente.

- Você estava estranho e, você pode até não acreditar, mas eu sei quando mente para mim – eu disse cansado de fingir que estava tudo bem. – Você não é o mesmo.

- É verdade... Eu ainda tenho a moto, não consegui me desfazer dela. Vendê-la é como vender parte do nosso passado – disse o Junior mudando de assunto.

Eu ri com deboche.

- Você ainda se importa com o nosso passado? – Eu ainda ria. – Por que parece quem nem mesmo o presente está tendo alguma importância para você.

- Eu estou muito ocupado nas últimas semanas, me desculpe, mas a vida é assim. Eu não posso garantir que irei dar atenção a você sempre – disse o Junior. – Nós não estamos mais no colégio, David.

- Realmente, não estamos – eu disse sem encará-lo. – Por que eu me lembro de que lá nós éramos próximos.

Eu me sentei ao lado dele e disse:

- Você vai me dizer o que veio fazer aqui?

- Eu não...

- Você pode, mas não quer – disse o interrompendo. – Mas eu tenho um bom palpite do que é.

Ele voltou a me olhar e disparou:

- Então diga!

- Você está me traindo com alguém – disse por fim. – E eu não quero saber quem, mas o porquê de tudo isso.

Ele riu. Aqueles olhos azuis me encaravam enquanto ele gargalhava. Eu havia quase me esquecido o quanto era bom ouvi-lo rir.

- Isso é algo sério e não um motivo para piadas – disse.

- Você realmente acredita em algo assim? – Perguntou ele. – Qual seria o motivo para que eu te traísse?

- Você sabe. Faz tempo que nós não conversamos de verdade, você está distante – continuei.

- Eu não estou te traindo – disse o Junior soletrando.

Era estranho o fato de eu saber que ele dizia a verdade.

- Então porq...

- Eu não estou bem – disse o Junior me interrompendo. – Eu... Eu estou devastado.

Eu não sabia o que dizer. Eu conseguia sentir a dor nas suas palavras o modo como a sua voz falhava me mostrava que era algo sério. O Junior nunca foi de deixar transparecer alguma de suas fraquezas.

- Você sabe que pode me contar qualquer coisa, não sabe? – disse tentando fazê-lo falar.

Ele confirmou com a cabeça.

- Minha avó morreu há dois meses – disse ele com dificuldade. – Ela... Ela era a pessoa que eu mais gostava no mundo, depois de você.

Eu nem mesmo sabia que ele tinha uma avó. Este era o grande problema da minha relação com o Junior, ele não me contava certas coisas, ou eu descobria sozinho ou nunca ficaria sabendo.

- Você nem mesmo me disse que tinha uma avó.

- Eu sei que não disse – respondeu ele. – Ela não está bem há uns dois anos. Tinha câncer, melhorava e piorava constantemente.

Este não era um bom momento para brigar, mesmo que ele merecesse a briga.

- Você a visitava? Eu não em lembro de você visitá-la?

Ele forçou um sorriso.

- Toda semana. Eu não ia à casa do seu pai na sexta-feira, eu ia ver como ela estava – disse ele.

Eu não suspeitava porque o Junior e o meu pai eram melhores amigos, o que era estranho. No começo os dois se odiaram, mas isso não duraria muito tempo, afinal, ele tinham os mesmos gostos, o que significava gostos totalmente diferentes do meu. O meu pai viu no Junior o filho do qual ele sempre quis ter... E foi ai que a amizade começou.

- Por que você não me conta coisas assim? Você acha que eu não mereço saber?

- Não é isso – continuou ele. – Eu não queria mostrar a você o quanto eu era fraco. Eu não queria que você visse o meu medo por ela toda a vez que eu voltasse do hospital.

- Eu não queria te mostrar...

Antes que ele terminasse a frase eu o abracei o mais forte que pude. E depois disso aconteceu algo que eu pensei que nunca iria ver. O Junior estava chorando baixinho.

Quando em afastei foi estranho ver aqueles olhos azuis cheios de lágrimas. Foi estranho ver aquele líquido descendo por suas bochechas. Foi estranho vê-lo se abrir perto de mim.

- Eu não vou te acusar de não me contar as coisas agora, não agora – disse. – Mas eu quero que você saiba que não tem nada de vergonhoso em dividir os seus problemas comigo. Não tem nada de errado em chorar.

Ele limpou o rosto com o moletom. O Junior continuou encarando o vazio e eu sabia que ele não me diria outra palavra caso eu não interagisse.

- Você deve ter vários momentos bons com ela, então, é neles que você deve se apegar – eu disse. – E a única maneira de não esquecê-la é falando sobre ela.

Ele permanecia em silêncio. Eu escorei a minha cabeça em seu ombro e ele passou o seu braço ao redor do meu corpo e me apertou junto a ele.

- Me conte algo sobre ela.

- Ela... A minha avó era a pessoa mais incrível que eu conhecia, ainda é, ela ganha fácil de você – disse ele forçando um riso tímido. – Você a adoraria.

A sua outra mão apertou a minha e nós dois ficamos juntos naquela sala escura enquanto o Junior me contava histórias sobre a sua avó. Por mais que eu me culpasse por ter enlouquecido e ter tido uma impressão completamente errada sobre a situação, eu estava grato por tudo ter sido como foi. Caso nada daquilo houvesse acontecido eu ainda estaria sem saber das fraquezas do Junior, sem saber como ele se sentia. E por mais que eu amasse o passado e como as coisas costumavam ser, naquele momento eu nunca havia me sentido mais próximo dele, eu nem mesmo sabia que aquilo era possível. Nem mesmo no colégio estivemos tão próximos. Talvez este fosse um sinal de que coisas melhores poderiam acontecer, de que o nosso futuro poderia ser ainda melhor que o nosso passado.

Comentários

Há 1 comentários.

Por Victor *) em 2014-03-06 11:54:25
Owwwnn, qeria tanto reler esse conto, muito bom *-*