Traído? Chifrado? ou Paranoico? (Especial)

Parte da série Adolescência a flor da pele

O mundo é um lugar estranho ao extremo e as coisas que acontecem nele são imprevisíveis. Um exemplo: comecei a namorar um garoto, o que já é estranho para algumas pessoas. Depois terminei com ele, na verdade foi ele quem terminou comigo, mas eu prefiro contar a história como se eu tivesse terminado, porque pra mim deste modo fica melhor.

Enfim, fui para um curso no exterior e comecei a namorar outra pessoa, alguém que eu não gostava muito. E ai que entra o estranho... Deu certo, mas por um tempo. O problema foi que na volta meus pensamentos mudaram, e com eles os meus sentimentos também, voltei a ter uma quedinha do centésimo andar pelo meu ex.

Eu fiquei tão pressionado que literalmente fugi da situação, e estava prestes a fazer a coisa mais estúpida da minha vida. Não, eu não comecei a usar drogas, se você pensou isso, então, está completamente errado. Eu fiz ainda pior, arrumei outro jeito de acabar com a minha vida, só que mais rápido. Pulei de um lugar alto e caí na água. O meu plano inicial era morrer afogado, achei que não iria sentir dor. Sim, é eu me enganei.

No final fui fraco, não consegui concluir o meu plano retardado. E fui salvo com a ajuda de uma amiga que pulou para me resgatar. Quando eu voltei eu acabei descobrindo que o meu namorado atual estava namorando o meu primo, o que era ridículo, mas não que eu estivesse com ciúmes, afinal, eu gostava do meu ex.

Dizem que ex-namorado se chama “ex”, porque o prazo de “ex”periência venceu, mas as vezes o prazo é bem mais longo, é igual a um iogurte vencido que não faz mal, é eu acabei de comparar o Junior com um iogurte vencido.

Deixe que eu resuma o resta: eu voltei com o meu ex e ficamos felizes para sempre, exceto pelo fato que não existe um “felizes para sempre”. Talvez em contos de fadas, ou ganhar na Mega Sena, o que é parecido com contos de fadas.

É, namorar não é tão bom, na verdade é tudo propaganda enganosa. Se você acha que vai começar a namorar e será a pessoa mais feliz do mundo, então, mude de ideia, porque as coisas não funcionam assim amigo, amiga ou como você se auto intitula.

Eu sei o que você deve estar pensando e só tenho uma coisa a dizer: não, eu não sou uma pessoa mal amada, nada disso. Pelo menos eu acho que não sou mal amado, mas como eu vou saber né? Não é tão simples perguntar a outra pessoa se ela realmente te ama, e se cada vez que ela diz aquela famosa frase – o eu te amo -, ela está mentindo e pensando o quanto te odeia.

Mas voltando ao assunto de namoro. É difícil conviver com uma pessoa, morar com o namorado não é pra qualquer um. E quando é você que está na casa dele a situação piora. Você se sente um invasor, e sempre quando ocorre uma briga séria eu fico esperando ele me mandar embora. E ainda bem que ele nunca me mandou ir embora, ainda.

E se a pessoa que você namora odeia a maior parte das coisas que você gosta, então, vocês irão brigar vinte e quatro horas pelo controle da televisão, vão discutir sobre o estilo musical, e todas as outras coisas.

Eu o conheci na escola, mostrei o lugar pra ele e menti muito, afinal, quem é que quer dar a impressão de ser um idiota. O problema é que a minha amiga, a Jessica, ela fala demais e acabou dizendo que eu odeio futebol e como muito, mas que não engordo. É, foi um dia bem embaraçoso.

A minha amiga boca aberta passou no vestibular e está cursando medicina, a minha outra amiga, Miranda, decidiu que queria ser atendente de caixa de mercado. Tá bom ela não decidiu, só aceitou o primeiro emprego que encontrou. E eu... A eu moro com o meu namorado, não trabalho, também não estudo e tenho um blog.

Eu sempre quis ser professor, o problema é que mudei de ideia depois de perguntar a alguns professores se eles gostavam da profissão. 90% das respostas foram: se eu gosto de ser feito de idiota na frente de um monte de adolescentes? Você só pode estar brincando. Definitivamente mudei de ideia.

Como não pago nenhuma conta na casa, eu me sinto um inútil. O meu namorado está cursando engenharia mecânica, e estagia em algum lugar. Sim de novo, eu não sei o nome do lugar onde ele estagia.

Vocês devem achar que minha relação com ele é uma droga, mas não são apenas coisas ruins, também tem... É não tem tantas coisas boas. Meu namoro era bom, mas depois que ele começou a se ocupar e não ter tempo pra nada – incluindo eu –, então, o negócio desandou.

Então eu sou um desempregado, sem objetivos, que tenho muito tempo – e só por isso estou aqui escrevendo isso –, e não vamos esquecer que talvez eu possa ser um mal amado também. Minha vida é incrível. Incrivelmente chata. Incrivelmente entediante. Incrivelmente sem sexo.

Então, também não tenho tido muitas relações sexuais, é sempre a mesma desculpa. Quando não é: estou ocupado, é: estou cansado. Quem é que está cansado pra sexo? Eu ainda estou esperando ele usar a desculpa da dor de cabeça, porque quando acontecer eu vou explodir.

Como eu tenho tempo de sobra, então, resolvi pesquisar isso na internet. E setenta por cento – na realidade eu nem sei se é 70% mesmo, só coloco estatística para parecer mais profissional –, das pesquisas apontaram que eu estava sendo traído. Eu poderia fazer duas coisas a respeito. Ou eu o seguia e descobria tudo de uma vez. Ou fechava o olho e fingia não ver nada, afinal, corno é só quem descobre que está sendo chifrado, não é? Ou será que eu sou corno mesmo assim? Enfim, eu escolhi a segunda, mas estou me arrependendo.

Decidi segui-lo hoje à noite, quando ele for para a faculdade eu vou ir junto com ele, não no mesmo carro é claro, mas pensando bem eu não tenho um carro. Enfim vou ver se o Junior está me colocando chifres. Acho que finalmente vou poder pronunciar aquela frase: “Táxi, siga aquele carro?”, o que será um sonho realizado.

- Você pediu alguma coisa para comer – Perguntou o Junior aproximando-se do computador. – O que é isso que você está escrevendo?

- Não, e nada demais.

- Só espero que não seja outro texto sobre corações partidos.

- Você leu aquele? – Perguntei surpreso.

- Sim, eu não disse que leria, então, acho que acabei gostando. Quero ler esse depois que você terminar.

Após dizer aquilo ele subiu as escadas e foi direto para o banheiro. Ou talvez ele não tenha ido direto, eu só sei que ele foi para o banheiro. Ele não poderia ler o que eu estava escrevendo, sem dúvida o Junior não gostaria de saber que eu duvidava da sua fidelidade. E caso ele olhasse aquele texto, então, saberia o quanto insatisfeito eu estava, sendo assim, eu teria de esconder o meu computador.

Depois de ouvi-lo dizer que leu o meu último texto me senti culpado, talvez o problema não fosse com ele, mas comigo. Talvez eu estivesse sendo paranoico, era uma possibilidade, mas não iria conseguir dormir se não tirasse aquela história a limpo. Eu precisava terminar o que havia começado.

Quando o Junior saiu do banheiro ele se aproximou e me beijou, foi um beijo rápido, mas bom. Não importava, mesmo que ele dissesse que me amava, e ainda sim eu iria segui-lo, e se caso ele estivesse me traindo eu iria... O que eu iria fazer? Terminar tudo ou fingir que não havia visto nada?

O que todos sabem é que eu sempre fui famoso pelos meus planos perfeitos. Eu confesso que nem todos deram certo... Tudo bem quase nenhum deu certo, mas ainda sim eles eram perfeitos, e eu mataria a pessoa que dissesse que não. Continuando... Eu estou usando muitas reticências, não? Mas enfim, eu arquitetei um plano incrível.

Quando o Junior saiu, eu o acompanhei, não deixei que ele me notasse, eu era muito bom em me camuflar.

- O que você está fazendo ai? – Perguntou ele se virando.

Eu saí de trás de umas plantas enquanto pensava em uma ótima desculpa.

- O que eu to fazendo aqui – Disse rindo. – Eu estou procurando o meu... Anel... É, estou procurando o meu anel.

- O que está no seu dedo, ou outro do qual eu não saiba da existência.

- Eu comprei hoje, e o perdi por aqui e achei que esse era o melhor momento para procurar – Respondeu sem graça. – Simples assim.

- À noite, o melhor momento para procurar uma coisa no chão?

- É que a luz atrapalha às vezes, e de noite é mais fresquinho.

Ele começou a rir.

- Você bebeu alguma coisa? Tomou algum remédio com vinho?

- Talvez.

Eu não fazia ideia do porque respondi aquilo.

- Tanto faz, eu tenho que ir agora. Espero que você ache o seu anel. Será mais fácil ligando a luz da varanda, você não acha?

- Ótima dica! Vou fazer isso agora.

Eu esperei que ele saísse da garagem com o carro, e então corri em direção à rua, parei um táxi. Eu entrei tão rápido no carro que o motorista se assustou.

Apontei na direção do carro do Junior e disse: – Táxi siga aquele carro!

O taxista olhou para trás e teve uma crise de risos, eu me senti a pessoa mais idiota do mundo. Foi nesse dia que aprendi uma grande lição: nunca acredite em tudo que você assiste nos filmes.

Ao menos o motorista foi atrás do carro do Junior, mas a crise de risos não parou, ele continuou rindo até nós chegarmos ao local onde o carro do meu namorado estacionou. E para a minha surpresa não era em nenhuma faculdade.

Alguns me conhecem, escrevi alguns contos aqui. Adolescência a flor da pele, O caso proibido, A lista de clientes... Esse é um novo capítulo do conto, até então encerrado Adolescência a flor da pele... Espero que os que leram o conto no passado gostem... E aqueles que não leram, leiam agora aqui.