Ódio, ovos e um pouquinho de lama - Parte 1 - (1x04)

Conto de escritor xXx como (Seguir)

Parte da série Adolescência a flor da pele

Todos estavam tão animados para a festa que se iniciaria e eu... Eu não poderia me sentir mais culpado por não poder avisá-los, nem mesmo ao Henrique. Como pude ser tão burro, tão... Inocente ao ponto de pensar que havia sido convidado para uma festa por parecer legal. Que idiotice.

- Olha só este lugar – dizia o Henrique enquanto se maravilhava com a vista da propriedade.

- É mesmo incrível, os pais do Romanack devem ter grana – não pude deixar de concordar.

- Com certeza! Ei, eu não te agradeci ainda por conseguir o convite, obrigado.

- Não precisa agradecer, realmente não precisa – disse sentindo-me ainda mais culpado, como se isso fosse possível.

Todos estavam bebendo animados. A festa estava apenas começando, mas porque eu tinha a impressão de que ela não duraria muito?

Após me agradecer o Henrique se afastou, foi conversar com os amigos. E eu fiquei ali encarando a água da piscina. Eu não tinha muitos amigos, porque na primeira semana de aula bati com a cabeça, fiquei desacordado por duas semanas e, agora, parecia ser tarde demais, todos já tinham seus grupos e, ao que tudo indicava, eles se esqueceram de me incluir.

- Você está muito pensativo, espero que não seja sobre “aquilo” – disse a voz familiar vindo por trás.

Vi o reflexo do Gustavo na água, ele sentou-se ao meu lado. Era estranho como a sua presença fazia com que eu me sentisse um pouco mais a vontade com a festa.

- Às vezes me pergunto se você ainda se sente culpado por ter quase me matado – eu disse o olhando.

- Eu nunca “quase te matei”, mas eu me lembro de ter salvado você algumas vezes.

- É o que eu quero saber, se você não me livrou dessa por culpa, então, foi pelo quê? – perguntei encarando a água.

Ele não respondeu.

- E o que esse Edu é seu? – perguntei como se o estivesse interrogando.

Ele riu de um modo que me deixou vermelho.

- O que? – perguntei.

- Meu irmão.

Irmão? Interessante.

- Vocês não se parecem, não tem nenhuma semelhança física. E eu não gostei dele, confesso.

- Eu também não gosto algumas vezes – disse o Guto.

Eu me virei e o encarei com um olhar sério.

- Por que você me tirou da brincadeira?

- Se você soubesse o que é a brincadeira, apenas me agradeceria – continuou ele querendo mudar de assunto.

- Se isso não é algo legal, então, qual a razão de fazer isso com os outros? Eles também iriam querer sair, assim como eu consegui por sua causa.

Eu sabia a resposta para a pergunta. Só podia ser pena... Eu era uma pessoa digna de pena.

- É uma tradição, eu não controlo isso, todo o ano acontece, quer eu queira ou não. Mas eu não vou mentir e dizer que eu não gosto de participar, porque eu gosto. Só não iria gostar se você estivesse envolvido, neste caso eu odiaria – disse ele se aproximando.

- O que traz de volta a minha pergunta – continuei insistindo.

- Eu...

- Olha Gustavo Romanack eu posso ser um sem amigos e posso ter quase morrido, mas não preciso de sua pena, eu não a quero – eu disse o interrompendo.

Ele colocou as mãos sobre o meu ombro.

-Ei, eu não te acho digno de pena, O.K?

Era estranho, mas ao ser tocado pro ele eu me senti... Eu nem mesmo sabia descrever. Era como se eu fosse ter um infarto ou como se o meu coração fosse sair pela minha boca.

- Eu te tirei da brincadeira porque me importo com você. Acho que aquele incidente nos tornou amigos e, não pense que foi porque eu tenho pena de você. Você é alguém legal, acredite.

Algo mais estranho aconteceu. Ao ouvir a palavra “amigo” tudo se calou. Eu não sabia o porquê, mas não queria ser o amigo dele. Mentira. Eu sabia o porquê, eu estava gostando do garoto do ônibus. Não, gostando não, mas amando.

- Ai está você! – disse o insuportável do Edu.

- O que foi? – disse o Guto.

- Nós dois precisamos começar a nossa... Brincadeirinha.

Quando todos os calouros estavam reunidos em frente à piscina o Edu deu três passos a frente e encarou a todos.

- Então galera, o que vocês acham de uma brincadeira?

Todos adoraram a ideia e comemoravam.

- É o seguinte – disse o Gustavo (eu não queria mais chamá-lo de Guto, não queria ter mais nenhuma intimidade com ele), enquanto apontava para uma caixa bem a minha frente – Estão vendo essa caixa? Então ela está cheia de ovos.

Os olhares se voltaram para a caixa e consequentemente para mim, que não estava ao lado deles, onde deveria estar.

- O negócio é o seguinte. Estamos em uma casa de campo como vocês devem ter percebido e nela tem muito espaço... Tem uma floresta atrás da casa e ai que a brincadeira entra. O jogo será uma caça aos calouros, por nós os veteranos, claro – disse o Gustavo todo entusiasmado.

Ao ouvir as palavras do garoto do ônibus os veteranos gritaram.

- Vocês podem correr e se esconder, mas não podem deixar a reserva. Nós caçaremos vocês e aqueles que a gente achar será amarrado, levará um banho de ovos podres e só será desamarrado quando o sol nascer.

Toda a animação deixou os olhos dos calouros. Eu ainda estava absorvendo a ideia. E quase fiquei grato pelo Gustavo me tirar daquela. O meu problema era ser moralista demais. Ao ver os olhares deles em minha direção, o do Henrique especialmente, a culpa me tomou. Eu era o vilão, o calouro que os traiu.

Eu saí de perto do Gustavo e me dirigi aos outros calouros. Parei ao lado do Henrique. O Gustavo não estava entendendo a minha atitude. Eu voltei o meu olhar para o Henrique e forcei um sorriso, que foi retribuído. Nós, os calouros, éramos um grupo e ficaríamos unidos.

- Gabriel, eu posso falar com você? – disse o Gustavo me encarando.

Nós nos dirigimos para dentro da casa. Tudo era tão bonito. Eu analisei as coisas enquanto pensava o que ele iria me falar. Encarei os quadros, o papel de parede, o sofá bege, os degraus da escada e...

- Que porra é essa? – disse ele acabando com a minha analise da casa.

Eu nunca o vi tão irritado e era a primeira vez que eu o ouvia falar um palavrão na minha frente.

- Eu não entendi – disse espantado com aquela atitude.

- Você ignorou tudo o que eu fiz para te proteger! – berrou ele.

- E você achou que eu iria assistir eles serem amarrados? Eu não sou esse tipo de pessoa – respondi.

Ele riu, mas não era aquele riso do qual eu estava acostumado, era um riso de ódio.

- Você não vai participar e pronto.

Agora estava na minha vez de rir.

- Você não manda em mim, não decide nada por mim.

Ele passou a mão sobre a testa empurrando os cabelos escuros para o lado.

- Eu não quero discutir com você, O.K. E desculpe por gritar também, mas eu não vou te deixar participar e fim de papo.

- Que autoridade você acha que tem para interferir em minha vida?

- Tudo bem, se você quer assim, então, tudo bem! – Ele disse elevando o tom de voz.

- Ótimo, por favor, agora saia da minha frente para que eu posso me juntar ao meu grupo e correr de você na floresta.

- Eu nunca disse que te deixaria participar, eu não mudo de opinião tão fácil assim.

- Você não pode me segurar aqui.

- Ah é? Então vamos ver.

Ele simplesmente saiu correndo, passou pela porta, fechou ela e a trancou por fora antes que eu percebesse o que estava acontecendo.

Eu perdi a conta de quantas vezes bati na porta, mas não tinha efeito, ninguém se importava. Os calouros corriam, eu podia ouvir. A brincadeira havia começado sem mim e pelo jeito terminaria assim também.

Ele havia me prendido.

Oi, eu espero que vocês estejam gostando desta nova história. Na verdade eu preciso saber se estão, enfim, comentem ai embaixo...

Comentários

Há 1 comentários.

Por jv em 2014-02-23 11:56:28
A história ta muito interessante, to adorando espero q vc continue