Na cama do hospital (1x02)

Conto de escritor xXx como (Seguir)

Parte da série Adolescência a flor da pele

Eu estava deitado em uma cama de hospital, o que não era bom. O culpado por tudo – ao menos no meu ponto de vista – estava do lado de fora sentado esperando até que eu acordasse. Ele não sabia que eu estava acordado, ninguém sabia, ou seja, eu estava fingindo que ainda dormia.

Eu precisava pensar em uma maneira de tornar a situação melhor. Como eu diria para os meus pais sobre o que aconteceu? “Então, eu pisei várias vezes em cima de um celular, porque pensava que era de outra pessoa, mas ai o verdadeiro dono apareceu e me deu uma surra, é isso”. Eu não queria parecer um idiota. Não agora que eles estavam orgulhosos de mim por estar matriculado em uma faculdade, mesmo que fosse administração. Sim, eu tenho certo preconceito com o curso que estudo, mas não sou só eu e sim todas as pessoas. Por ser um curso muito procurado e, quando concluído apenas alguns se dão realmente bem, as pessoas costumam falar mal dele.

Voltando a minha situação. Eu não tinha ideias de como lidaria com aquele problema. Será que eu havia fraturado algum osso ou seria algo pior? Será que eu realmente queria saber ou preferia continuar na ignorância? Várias perguntinhas que eram tão relevantes quanto anúncios políticos.

Parei de bobeira e abri os meus olhos quando uma enfermeira entrou no quarto. Ela me cumprimentou como se eu estivesse desacordado há um ano.

- Quantas horas se passaram desde que cheguei? – perguntei.

Ela hesitou por alguns segundos.

- Horas? Faz duas semanas!

O que? Como algo assim aconteceu?

- Não... Mas...

Eu não conseguia completar as frases.

- O médico irá te dar todas as informações, mas por enquanto, apenas descanse – disse a gentil enfermeira.

Tentei relaxar, mas era óbvio que não conseguiria. Eu havia passado duas semanas no além. O engraçado é que para mim pareceram poucas horas. Eu não havia ouvido nada neste tempo desacordado, não havia saído do meu corpo, enfim, estas histórias de que quando se está em coma algumas “coisas” acontecem não pareciam ser verdade.

A porta do quarto se abriu novamente.

Um garoto de cabelos escuros aproximou-se da minha cama. Aqueles olhos verdes me encararam com uma profundidade estranha, nunca ninguém havia me olhado daquela maneira. Um sorriso tímido formou-se naqueles lábios.

- Então você acordou, não é gazeli...

Ele interrompeu a sua frase e olhou para o lado. O senhor de cabelos brancos havia entrado no quarto. Ao ver o seu jaleco branco deduzi que ele fosse o médico.

O senhor conversou comigo, contou sobre o meu estado... Disse que eu fiquei em coma por uma semana e seis dias e também comentou sobre os hematomas causados pela agressão que eu havia sofrido. Resumindo, eu estava bem e tinha sorte por ter acordado, porque de acordo com ele, alguns não tinham a mesma sorte de ficar apenas duas semanas no limbo.

Após me confortar ele deixou o quarto me deixando a sós com o garoto do ônibus.

- Você por aqui? – disse sem muita emoção.

- Não, na verdade eu estou em casa, apenas projetei o meu espírito para cá.

Eu revirei os olhos.

- Engraçadinho.

- Eu engraçado? Não... Irônico e sarcástico? Talvez.

Eu não estava com animo para o “papo fiado” com o garoto do ônibus. Qual era mesmo o nome dele?

- Qual o seu nome mesmo?

- Gabriel, você não sabe o meu nome? Que feio, afinal, eu te salvei – disse ele com um sorrisinho idiota.

Como ele sabia o meu nome? Eu não me lembrava de ter dito. Ah é, passei duas semanas em coma e, simplesmente, o tempo passou e, agora, nada é como antes.

- Eu não sei e também não faço ideia de como sabe o meu? E você não me salvou, apenas consertou um erro que causou.

- Eu mexi no seu celular, como acha que eu liguei para os seus pais? E eu te salvei sim! – Aqueles olhos verdes brilhavam de uma forma única.

Meu celular era um android, tinha uma senha padrão, então, como?

- Mas ele tem senha – disse de imediato.

- Você coloca um “Z” como senha padrão e não quer que as pessoas descubram?

Após ouvi-lo dizer daquele jeito eu me senti um pouco idiota.

- Você só ligou para os meus pais? – perguntei certo de que ele havia bisbilhotado as minhas mensagens e todo o resto.

Ele abriu um sorrisinho malicioso.

- É claro que fiz só isso.

Droga, ele viu! A última pessoa no mundo que eu queria que visse a minha intimidade, no fim acabou sendo a primeira. É como dizem: o celular é a alma de uma pessoa.

Eu desabei sobre a cama ruim do hospital.

- Aquelas mensagens... Eu posso explicar – disse por fim.

- Tudo bem, então, explique!

- Eu conheci uma pessoa pela internet e ele começou a mandar fotos sem roupa e eu parei de respondê-lo, mas ele continuou mandando.

- Sei.

- É a mais pura verdade.

E realmente era. Por mais que eu apagasse aquelas mensagens com fotos nojentas aquele idiota continuava a mandar mais e mais. Ao pensar mais um pouco sobre o assunto eu percebi que era melhor o garoto do ônibus ter visto, porque assim a minha mãe não veria. Ele não deixaria ela ver, não é?

- Meu nome é Gustavo.

- Você não tem cara de Gustavo, você tem cara de Rodrigo! – disparei.

- E você também não tem cara de Gabriel, porque anjo não fica trocando fotos nuas por mensagens.

-Eu nunca mandei nenhuma foto minha!

Era tão óbvio que ele não iria esquecer aquela história. Perfeito, agora seria zoado pelo Gustavo.

- Achou seu celular, Gustavo?

- Pode me chamar de Guto, todos me chamam assim pelo menos. E não, mas já comprei outro.

Se eu perdesse o meu celular, então, só iria comprar outro quando surgisse uma superpromoção e ainda parcelaria em dez vezes sem juros. Falando em celular... O Gustavo ainda estava com o meu?

- Gustavo eu não vou te chamar de Guto, porque não tenho intimidade com você e, assim você também não terá comigo. Agora, cadê o meu celular?

- Com os seus pais.

O que? “#naopodese”.

- Me diga que você apagou as mensagens?

- Mas eu iria precisar de intimidade pra isso, não? – perguntou ele me tirando do sério.

- Não é o momento para brincadeiras, GUTO!

- Infelizmente não apaguei não, mas como a sua senha padrão é supersecreta, você nem vai ter problema.

Não, não, não e não.

Quero agradecer os cometários, vocês são super legais :)

Comentários

Há 1 comentários.

Por jv em 2014-02-20 14:36:53
Coitado kkk, continua ta muito interessante