Capítulo XXXVI

Conto de Drexler como (Seguir)

Parte da série O destino de Bruno

Música tema: Traição - Ana Carolina

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Não soube o que responder no primeiro instante. Eu já sabia que Alice estava gravida e que corria um boato de que eu seria o pai da criança, o que era uma total mentira. Minha primeira reação foi olhar para Carlos, que não moveu um músculo sequer, esperando uma resposta e me encarando serio. Quando voltei a olhar para André, ele estava discutindo “disfarçadamente” com Beatriz, certamente sendo recriminado pela pergunta inoportuna.

- Eu não sou o pai do filho dela. – tomei a atenção do casal novamente e, para minha surpresa, a expressão de André passou de deboche para irritação.

- Como não!? – gritou batendo as duas mãos na mesa e se levantando. – Vai negar que vocês estavam ficando antes de você ir pra Portugal? Ou está sugerindo que minha prima é uma vadia?

- Se acalme. – Bia tentou puxar o braço do namorado, mas o mesmo apenas o puxou irritado.

- Não, não vou negar que estávamos tentando algo. Mas como você mesmo disse, foi antes de eu viajar. Eu passei quase dez meses lá, com quantos meses de gestação ela está? – disse com a voz mais calma que conseguia. Ele não me respondeu, jogou sua cadeira para trás, derrubando-a e chamando a atenção de todos ao redor, e saiu do restaurante.

- Desculpa. – Beatriz disse correndo atrás dele logo em seguida.

A vontade que eu tinha era de também sair correndo daquele ambiente, mas por vergonha. A vergonha pelos meus pais, meus amigos, Carlos, seu irmão e esposa, sem falar nas demais pessoas que frequentavam o restaurante. Todos. No mínimo, aquele não era ambiente para tais questionamentos ou discursão. Eu não tinha cara para encarar as pessoas ali, mas também não poderia sair, afinal elas estavam ali por minha causa.

Ainda de cabeça baixa, senti uma mão alisar minhas costas, em movimentos circulares. Devido à tensão, foi preciso alguns instantes para eu reconhecer que eram de Carlos. Aos poucos fui levantando meu rosto em direção a minha mãe, e como esperado, esbanjava preocupação e, talvez alivio.

- Desculpa! – silabei sem qualquer som em sua direção.

- Izabeli! – A voz de Lucia ecoou pela mesa rompendo o silencio, ao mesmo tempo em que minha mãe maneava a cabeça me tranquilizando. – Não faz isso filha. Carlos, olha aí... – ao virar o rosto, encontrei a menina derramando refrigerante dentro do prato que pertenci ao meu professor, que parecia aéreo.

- Tá gostoso? – Zé Carlos incentivou a menina, que sorriu concordando freneticamente.

Mesmo que todos fingissem que nada houvesse acontecido, era nítida a tensão no ar. Durante o resto da noite recebi constantes olhares preocupados, constrangidos e nervosos. Poucos minutos depois do ocorrido, recebi uma mensagem da Beatriz desculpando-se mais uma vez pelo inconveniente, afirmando que conversaria com André e nos falaríamos no dia seguinte.

Mas eu não estava preocupado com nenhum primo ciumento, que queria proteger a honra, a virtude, a reputação, da prima, em pleno século XXI. Não, a única coisa que consegui pensar durante toda a noite era em tirar de toda aquela historia a limpo. Eu não voltaria para minha cidade natal antes de tirar satisfação com a fonte do fato, Alice. Se foi ela quem difundiu a noticia, ela tiraria.

Já passava da meia noite quando finalmente decidimos ir embora. Zé Carlos e Pedro, sob efeito da bebida estavam começando a fazer duelo de quem cantava mais alto, então obrigamos Guilherme a deixa-los no apartamento, tendo em vista que era no seu caminho. Meus pais haviam sido os primeiros a irem embora alegando que já estavam satisfeitos e que teriam muito tempo para matarem a saudade de mim, que eu deveria aproveitar um pouco mais com meus amigos. Meu primo, logicamente, ficou.

Após finalmente pagarmos a conta, saímos os demais juntos, onde me despedi de Cristian, Lucia e da menina que dormia no colo do pai. Como eu iria para a casa de Felipe, pedi para o mesmo me esperar com meu primo no carro, pois precisava conversar com Carlos um instante, e obviamente eles concordaram fazendo insinuações. Se havia algo do qual eu poderia me orgulhar de minha família e das amizades que construí, era visão de muno.

- Vai para sua cidade mesmo amanhã? – Carlos perguntou enquanto acendia um cigarro, algo que ele nunca fazia comigo ao seu lado e me deixou curioso.

- Não sei mais... – respondi em meio a uma careta. – Desculpa pelo aconteceu mais cedo. – disse desviando o olhar rapidamente em direção ao carro de Cristian.

- Não se preocupe, você usou o argumento mais logico. – apresou-se segurando meu rosto e fazendo-me encara-lo. – E se passou pela sua cabeça que fiquei com raiva disso, pode ficar sossegado. Sequer passou pela minha cabeça que aquelas palavras eram verdadeiras.

- E por que ficou tão tenso? – indaguei ainda mais curioso.

- Preocupação. Não gostaria de te ver falando coisas parecidas como o que disse em Portugal. – ao que a mão de Carlos soltou meu rosto, virei-o rapidamente, não conseguindo continuar olha-lo, por vergonha.

- Estou tentando superar meus conceitos.

- Eu sei que está. – disse acendendo finalmente o cigarro - Então, o que te fez mudar de ideia em ir embora amanhã? – por fim, tragou sua droga, me fazendo encara-lo novamente e franzi a testa.

- Vou conversar com Alice, isso já está indo longe demais.

- Deixe isso pra lá, Bruno. Isso só trará mais dor de cabeça pra você.

- Isso já me deu o que tinha que dar. Faz meses que esse boato corre e eu deixei passar, acreditei que era só um mau entendido, mas não. Mamãe me perguntou se era verdade, Beatriz, Felipe. E não foi hoje. – argumentei nervoso, gesticulando inquieto.

- Você quer que eu vá com você, então? – indagou tirando o cigarro na boca, o que já me estava tirando os nervos.

- Não. Melhor não, você foi professor dela, ela pode ficar mais intimidada.

- Certo. – sorriu finalmente, alisando meu rosto.

- Por que você está fumando? – tentei livrar-me da duvida que me corruíra.

- Eu sempre fumei. – riu irônico.

- Eu sei. Mas nunca fez isso perto de mim. – eu não poderia dizer, nesse momento, o quão aquilo me incomodava.

- Só fumo quando estou muito nervoso.

- E o que está te deixando nervoso? – após soprar a fumaça para fora de seus pulmões, Carlos aproximou-se de minha orelha, me assustando.

- Porque não posso te beijar. – dito, se afastou rindo abertamente, ao que o acompanhei. – Posso, mas não quero fazê-lo perto de meu irmão e de seus amigos, que são meus alunos.

- Só o Felipe é. – corrigi.

- Exatamente. Te convidaria para meu apartamento, mas estou sem apartamento, então. – entortou a boca em desaprovação, algo cômico, admito.

- Eu não aceitaria também, então. – imitei o ato.

Não pudemos conversar por muito mais tempo, Felipe começou a buzinar freneticamente para me apressar. Sem outra opção, despedi-me de Carlos, não antes de dar ao manos um selinho. Mesmo querendo voltar e ficar abraçado com ele, segui em direção ao carro, tentando conter o sorriso bobo, como sempre.

- Vocês vão passar mais de uma semana sem se ver, e tudo que rola é aquilo? – perguntou Patrick me encarando pelo retrovisor.

- Fica na tua. – os dois começaram a rir abusivamente, enquanto eu preferi virar o rosto na direção da janela, fingindo que não havia ouvido, ignorando-os completamente.

Não é como se eu esperasse outra coisa: fui o caminho inteiro de volta à casa de me meu amigo ouvindo o mesmo e meu primo fazerem piadinhas sobre o relacionamento que eu mantinha com Carlos. Questionamentos sobre o que tínhamos, elogios sobre ficarmos bonitinhos juntos, vozes infantis e melosas, corações com as mãos, musicas românticas e sofredoras, entre outras coisas, encheram meus ouvidos.

Meus pais já dormiam quando chegamos, o que os forçou a parar com a zombaria. A casa de Felipe possuía dois quartos, um dos cômodos foi ocupado pelos meus pais, e o outro, que era o de meu amigo, seria ocupado por nós três. Felizmente, para mim, os quartos eram vizinhos, o que impossibilitava com retomassem a chacota.

Não foi fácil pegar no sono. Logo depois de uma rápida higienização, puxei um colchão no chão e deitei-me com a finalidade de dormir, no entanto, tudo que consegui foi rodar de um lado para o outro, formulando discurso e pensando no que faria no dia seguinte, como falaria com meus pais, como faria para descobrir onde Alice morava, já que nunca soube seu endereço.

Se dormi, eu não sei, mas logo cedo levantei-me ao ouvir barulho de panela batendo na cozinha: Minha mãe. Não foi difícil convence-la de ficarmos até que eu resolvesse tudo. Meu pai, que estava na sala usando o computador, também concordou numa boa, afirmando não ter nenhum compromisso marcado na semana, mas que precisaríamos conversar. Eu já poderia prever de que se trataria, mas minha mãe não permitiu que continuássemos ou que eu me certificasse sobre o que era. Segundo ela, eu já estava com problemas suficientes para um recém-chegado da Europa, o que não era nem de longe mentira.

Quando Felipe finalmente acordou, sequer permiti que tomasse café, logo o abordei perguntando o endereço da garota. Contudo, ele não sabia informar, sugerindo que fossemos falar com Beatriz, que certamente saberia. Não permiti que comesse muito, eu estava mais aflito que na noite anterior, queria ir para minha cidade, queria ter um pouco de sossego.

A viagem até a casa de Beatriz foi descontraída, mesmo com o mau humor de Felipe por não ter comido o suficiente, o que me fazia questionar pra onde ia aquela quantia de comida, tendo em vista que ele tem baixa estatura e ainda sim, não é gordo. Fomos recebidos pela mãe de Beatriz, que rapidamente me abraçou, me cumprimentando e perguntando como havia sido a viagem, parando apenas quando sua filha apareceu à sala, com olhos cheios de olheiras.

- Pode conversar? – ela apenas acenou com a cabeça e nos chamou até o seu quarto. – Dona Rita, não pense que me esqueci da senhora. Trouxe algo pra você, mas com a pressa acabei esquecendo.

- Que é isso Bruno, não precisava se preocupar.

- Claro que precisava, eu tinha que compensar de alguma forma os bolos de nata. – disse rindo.

- Sabia que tinha interesse no meio. – recebi uma tapa leve no braço quando a mesma passou indo para a cozinha.

- Anda logo Bruno. – Felipe gritou já dentro do quarto.

Só então me de conta que estaria novamente de frente com Bia e Felipe, agora pessoalmente e a sós, depois do ocorrido via web chamada. Mesmo já termos superado esse fato, aquilo ainda mexia comigo de alguma maneira, principalmente por eu ainda não concordar, e agora mais ainda, com o namoro de minha amiga e torcer para que desse uma chance para meu amigo.

- Bruno, desculpa por ontem, eu não... – ela começou assim que coloquei o primeiro pé dentro do cômodo.

- Eu não vim falar sobre isso. – disse caminhando até a escrivaninha e sentando-me na cadeira de rodinhas.

- Não? – os dois gritaram juntos, surpresos.

- Quer dizer, vim, mas não sobre seu namorado. – ela desviou o olhar por alguns instantes.

- Só queria que você soubesse que conversei com ele ontem. Entenda o lado dele...

- Eu entendo. – a cortei. – É por isso que estou aqui. Preciso tirar toda essa historia a limpo, e isso quer dizer falar com Alice. Mas eu não sei onde ela mora.

- Não que isso fosse adiantar de alguma coisa, mas como você a namorou e não sabe onde ela morava? - Beatriz perguntou rindo irônica, como sempre.

- Primeiro, nós não namoramos, como você sabe bem. Depois, sempre nos encontrávamos em algum lugar, nunca fui a deixar em casa. – dei de ombros.

- Onde foi parar o romantismo de Bruno? – Felipe se meteu arrancando risadas de Bia.

- Na cama de Carlos! – a garota fez corações com as mãos, na intenção de debochar de minha cara.

- Ha ha ha! – ri ironicamente. – Não vim aqui para falar de Carlos. Diga logo onde Alice mora.

- Eu não sei onde ela mora. André disse que está morando com uma amiga, mas não sei onde é.

- Mas ela é daqui, não é? – Felipe indagou como não quer nada.

- É. Quando os pais descobriram que ela estava gravida a expulsaram de casa. – um peso ainda maior caiu sobre minha cabeça. Eu não sabia o que pensar ou dizer ou fazer. Bia continuou. – Eles queriam saber quem era o pai para casarem, mas ela se recusou a dizer. Você deve lembrar que te falei isso. – concordei rapidamente. – Ela já tinha sido expulsa de casa naquele dia. Ela não queria que ninguém soubesse que estava gravida, escondeu até quando pode, nunca entendi o porquê. Quando não pode mais esconder e as pessoas a perguntarem quem era o pai, bum! – ela imitou uma explosão com as mãos. Sem que eu entendesse, meus amigos começaram a rir descontroladamente.

- Essa foi bem. High five! – Felipe levantou a mão e Beatriz imitou o gesto em seguida, batendo as mãos no alto e me deixando confuso do porque estarem comemorando.

- Qual foi à piada? – perguntei confuso.

- Bum, Bruno... Entendeu? – Beatriz me respondeu como se não fosse obvio.

- Eu não posso acreditar que vocês estão brincando com uma situação seria dessas... Vocês são demais.

- Desculpa. – Felipe falou mordendo os lábios, segurando o riso.

- Então, eu não sei onde ela tá morando, mas posso perguntar a André. Não sei se ele vai querer dar sabendo que é para você, mas não custa tentar. – concordei rapidamente.

Imediatamente Beatriz pegou o celular e ligou para o namorado. Pelo que percebi, não foi fácil converse-lo de me fornecer o endereço, mas no fim, tudo deu certo. Inevitavelmente, durante todo o dialogo por celular, prestei bastante atenção na cara de desprezo de Felipe, aos ouvir os apelidos carinhosos com os quais nossa amiga se dirigia a André, algo que também me enojava. Contudo, eu não poderia dizer nada, afinal ela era minha melhor amiga, e como tal eu deveria respeitar suas escolhas, mesmo sendo contra. Um dos ensinamentos de Claudia.

Minutos depois já estávamos novamente, eu e Felipe, no carro dirigindo-se agora ao endereço que nos foi dado. A casa não ficava muito longe da faculdade, por isso foi fácil encontrar. A residência era na verdade uma republica onde moravam três meninas, as quis eu sempre via junto a Alice. Pedi que Felipe ficasse no carro, pois gostaria que esta conversa fosse apenas minha e de Alice, e adiantei que poderíamos demorar.

Quem me atendeu foi uma menina do curso de nutrição, a quem eu conhecia como Clara. Felizmente Alice estava em casa, no quarto, onde ficava a maior parte do tempo, segundo me informou sua amiga, que apenas concordou em me deixar vê-la por saber que eu era Bruno, certamente mais uma que acreditava que eu era o pai da criança.

Foi um pouco espantoso encontrar Alice tão diferente do que eu lembrava. Era estranho pensar que durante todo o período que fiquei distante, eu não tinha visto uma única foto dela, nem mesmo por curiosidade para ver o desenvolvimento de sua barriga, talvez pelas coisas que me disse antes de eu ir embora. O cabelo, que antes era cortado na altura dos ombros, agora estavam mais longos, na cintura, a barriga, como esperado para uma mulher gestante, enorme, os olhos extremamente vermelhos, como de quem havia chorado muito.

- Oi Alice. – rapidamente a garota tentou prender os cabelos em um rabo de cavalo.

- Bruno? O que faz aqui? – disse se ajeitando na cama.

- Queria conversar com você. Tudo bem? – eu ainda estava de pé, escorado no batente da porta.

- Claro, sente. – ri.

- Perguntei como você estava. – disse me dirigindo ao l ugar indicado ao seu lado na cama.

- Ah. Estou bem, obrigada. E você?

- Vou levando. – sorri fraco.

- Soube que tinha chegado, André me contou... – disse voltando o olhar para as mãos que brincavam com o celular. – Você veio tomar satisfação, não é? – uma barreira formou-se em minha garganta. De repente tudo que pensei durante a noite se esvaiu de minha cabeça.

- É. – foi tudo que consegui dizer.

- Desculpa Bruno. – o pedido veio depressa. – Eu não consegui pensar em mais ninguém. Quando meus pais descobriram que eu estava gravida, me mandaram embora. Se não fossem as meninas, eu estaria na rua. Nem meus tios quiserem me ajudar. – eu sabia que ela estava chorando, mesmo que sua voz não entregasse ou visse seu rosto, mas eu sabia, não era fácil.

- Os pais do André? – quis saber.

- Sim. Ele me ajuda de vez em quando também, mas ele nem trabalha ou qualquer coisa. Se meus tios descobrirem, nem quero pensar. – fechei os olhos e suspirei pesadamente, sentindo meu peito doer. Ela fungou e comprovei o choro silencioso antes de continuar. – Achei que se meus pais pensassem que você é o pai de minha filha, eles me aceitariam de volta, e foi verdade. Meu pai foi atrás dos seus para conversar, contar sobre a gravidez, e eles acreditaram. Mas eles devem ter conversado com você e você desmentiu, até porque nunca tivemos nada... – concordei com a cabeça como se ela pudesse ver. – Eles procuraram meu pai e falou que era mentira, e eles me mandaram embora novamente. Disseram... –

Ela não conseguiu terminar. Mais um soluço rompeu sua garganta acompanhado de outro, e outro, e outro. Não me contive e a abracei, tentando compartilhar sua dor. Eu não poderia acreditar que em pleno século XXI havia pais que expulsavam seus filhos de casa por simplesmente não saber quem era o pai do seu neto. Era inevitável não quer chorar ao ouvir aquele relato. Nem o homem com o coração mais duro suportaria. Mas naquele momento, eu tinha quer ser forte por ela. Forte o suficiente para dizer “tudo ficaram bem”. Mas nem eu sabia como tudo acabaria.

A verdade é que a gravidez era só o inicio do que ela enfrentaria. Quando a menina nascesse, suas amigas e primo, que sequer emprego tinha, Alice não poderia continuar ali. Como ela se sustentaria tendo uma filha para criar? Como poderia arranjar um emprego? E a faculdade, como conciliaria?

- Eles disseram que eu não era filha deles. – Alice me tirou de transe. – Disseram que prefeririam ter adotado um filho, a mim. – aquelas palavras me cortaram o coração.

- Alice... – ao perceber que ela estava mais tranquila, separei-me aos poucos para encarar seu rosto vermelho e molhado pelas lágrimas. Ela não me olhava nos olhos, estavam opacos. – Você sabe quem é o pai? – ela não respondeu, virou o rosto. Aquilo era um sim. Mas quem? – Quem?

- Bruno, por favor... – disse tentando se levantar, mas a segurei.

- Alice, por favor, eu só quero te ajudar, confie em mim. Não te jugarei. – ela enfim se acalmou, mas continuou em silencio, como se buscasse forças para revelar. E quando fez, meu mundo pareceu despencar.

- Fernando. – foi apenas um sussurro.

Imediatamente me afastei dela, sem acreditar. Ela o odiava, como eles poderiam ter um filho? Ele era gay, não era? Seria o mesmo Fernando que pensei? E ainda que fosse, por que ela teria vergonha de ter um filho com ele? Ele é tão estudioso, de boa família, quanto eu. Nada fazia sentido.

- Que Fernando? – quis me certificar.

- Exatamente, o irmão da professora Andrea.

- Como? – perguntei confuso comigo mesmo.

- Eu estava com raiva de você. – ela disse voltando a chorar. Não foi preciso eu perguntar nada, ela deu sequencia. – Quando você foi embora para Portugal, achei que você tinha terminado comigo para ficar com ele... Eu não suportei a ideia de ser traída por um homem, foi doloroso.

- Qualquer traição é dolorosa. – meu argumento não pareceu tão bom quanto foi na minha mente, mas ela não contestou.

- Eu queria te provar que ele não era fiel a você. – arregalei os olhos com a interpretação que tive. – Eu iria apenas ficar com ele e mostraria quem era seu namorado. Mas... Deu tudo errado. Acabamos saindo mais de uma vez e... Aconteceu.

Seria errado eu me responsabilizar por mais esse assunto?

- Ele sabe? – perguntei ainda em choque.

- Não. Por favor, Bruno, jure que não contará nada a ele! - ela segurou minhas mãos com força, seus olhos eram suplicantes e amedrontados.

- Desculpa... Não posso prometer isso, Alice. – desvencilhei-me de seu toque e me pus de pé. – Ele tem direito de saber. Além disso, ele é o pai, ele pode, e tem o dever, de te ajudar. Eu sei que ele nunca te deixaria na mão, ele vai cuidar do filho.

- Não quero que minha filha tenha um pai como ele... Drogado. – dei as costas, não podendo continuar a encara-la, era muito doloroso.

Eu também era culpado por Fernando ser um drogado.

- Prometa, Bruno. Prometa que não falará nada pra ele. – fechei meus olhos com todas as forças, eu não sabia o que fazer.

- Eu só posso dizer que não irei atrás dele para contar a verdade.

- Obrigada. – senti alivio em sua palavra.

- Alice... – disse me virando novamente. – Só me fala... Como pretende cuidar de sua filha?

- Eu não sei. – lágrimas.

- Você precisa contar a verdade a ele.

Foi tudo que eu disse antes de deixa-la sozinha. Eu não poderia ameaça-la, ou exigir que desmentisse para todos, eu não poderia fazer isso. Mas eu também não me responsabilizaria por uma criança que, tecnicamente, não tem nada a ver comigo. Se tinha algo que eu poderia fazer, e faria, era convence-la de contar a verdade, já que eu não poderia fazer isso.

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Para lembrar: Pedimos que enviem perguntas (sobre o livro, personagens, curiosidades, sobre eu, Drexler, sobre Cesária Évora, o que quiserem) e iremos responder tudo e postar aqui após o epílogo. Para cada pergunta, se necessário, terão duas respostas, sendo uma minha e outra de Cesária.

É importante que as perguntas sejam enviadas para o email, pois ficará melhor para selecionarmos. Além disso, dessa maneira haverá um pouco de suspense para os demais leitores interessados.

Até semana que vem, amados.

Comentários

Há 2 comentários.

Por H.Thaumaturgo em 2015-09-22 02:10:48
Mds, os 2 com raiva do Bruno, fud..... A própria vida --' e ainda assim é o Bruno q sofre, mt ridículo esses 2
Por Niss em 2015-09-20 22:16:13
Nossa, choquei! Fernando?? Serio?? Nossa, pelo menos o Carlos não se irritou... Espero pelo proximo, kisses, Niss.