Capítulo XXXV

Conto de Drexler como (Seguir)

Parte da série O destino de Bruno

Música tema: De volta pro meu aconchego – Elba Ramalho

Boa leitura amados!

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- Oh Bruno... – Claudia me agarrou em prantos assim que o nosso voo foi anunciado. Desde que deixamos sua casa, ela estava calada, tentando conter as lágrimas, enquanto sua sobrinha não parava a boca um instante desejando boa viaje e pedindo que voltássemos logo trazendo presentes para ela, ou que logo iria nos visitar.

- Fica tranquila Claudia... – não consegui concluir meu raciocínio, ou eu não saberia como concluir.

- Mãe, para com isso, ele virá te visitar. – Gabriel dizia no mesmo instante que tentava puxar seu corpo que me prendia soluçando baixo, assim como eu. Como Claudia é baixinha, seu rosto ficava encostado em meu peito, me fazendo cocegas, enquanto minha cabeça estava afundada em seus cabelos loiros. – Eles vão se atrasar, vem.

- Olha, assim que chegarem lá, me liguem. Toda semana, melhor, todos os dias, vocês tem que me darem sinal de vida. Ouviram? – exigiu me soltando e limpando as lagrimas, me fazendo rir.

- Prometo.

- Claudia... – Carlos se aproximou envolvendo-a em um abraço e falando algo em eu ouvido.

- Ai! – ouvi um grito estridente, identificando logo como sendo de Cecilia, pelo puxam que recebi do pescoço seguido de um abraço apertado. – Volta logo amadinha. Eu amo o Brasil. Aquelas praias, o sol... Ah! Se a ti não for, eu irei só, mas irei te visitar. Posso ficar na tua casa, né? Se não deixar, vou assim mesmo, o Carlos me receberá. Vou sentir tanta falta de vocês aqui. Gabriel é tão chato. – a menina tagarelava e eu apenas ria de sua imperatividade.

- Não sou chato, você que é insuportável. – Gabriel bufou ao meu lado.

- Vocês não podem ser da mesma família. – brinquei soltando-me do abraço.

- Carlos! – Cecilia gritou e correu para abraça-lo, mostrando a língua para o primo, antes.

- Espero que faça uma boa viagem. – Gabriel estendeu a mão em cumprimento. Ri ironicamente e a segurei, puxando-o para um abraço.

- Você ser assexuado não significa que não podemos nos abraçar. – disse rindo, ao que ele correspondia.

- Você é um escroto. – me empurrou, por fim.

- Você me ama, sempre me amou. Desde o momento que me viu na ponte. – ele não respondeu, apenas revirou os olhos e seguiu em encontro a mãe.

- Bruno! – Carlos me chamou quando, mais uma vez, o voo foi anunciado.

- Tchau Claudia. Muito obrigado por tudo que a senhora me ofereceu, pela ajuda, não só psicológica, mas em tudo. Na minha vida pessoal, amorosa, familiar, nos meus conceitos... A senhora é muito importante para mim e nunca vou esquecê-la. Te amo muito, mãe. – Dei um ultimo abraço, deixando escapar mais uma lagrima e segui em destino a porta de embarque com a mão segurando a de Carlos.

Despois do réveillon, minha vida teve uma única rotina: Carlos. Passei basicamente a morar com ele, ia à casa de Claudia apenas para as ultimas consultas, que foram com elas. Na verdade, eram mais questões de atestados, declarações, requisições para exames antes da viagem etc. E era lógico que ela aproveitava para me fazer os últimos mimos, que eu também não deixava passar. Gabriel também estava sempre nas consultas ou almoço, além de Carlos que fazia questão de me acompanhar – a convite de Claudia também.

Outra pessoa que passou a fazer parte de minha rotina e de Carlos, foi Evandro, que não sei quanto ou como, passou a ter uma amizade forte com meu professor, mantendo algum segredo que não me foi revelado. Sempre que me aproximava, mudavam de assunto como se eu não percebesse. E eu fingia não perceber, claro.

Com uma semana passado o réveillon, retornamos as atividades na faculdade. Como Carlos já havia “concluído” a pesquisa, restou apenas preparar a defesa da tese e as questões burocráticas na Universidade de Lisboa. Eu, por outro lado, além de me preparar para a defesa, tive de preparar minhas ultimas semanas de aula de Língua Francesa. Felizmente, ou não, eram apenas revisão e aplicação de prova. Contudo, para minha surpresa e satisfação, no dia da entrega dos resultados, fui surpreendido com uma pequena confraternização, e é claro que toquei uma ultima música para os meu, agora, ex-pupilos.

Na ultima semana, depois de termos concluído todos nossas compromissos profissionais, eu e meu professor passar a morar na casa de Claudia a seu pedido, o que foi uma boa ideia, já que Carlos aproveitou para entregar o apartamento e presentear Elizabeth com uma quantia estra pelo trabalho prestado durante todo o período que estivemos em Lisboa.

Claudia acabou conseguindo um afastamento dos trabalhos para poder nos fazer mais mimos, o que achei encantador de sua parte. Vale lembrar, que sempre a encontrava chorando pelos cantos, o que partia meu coração. Era fato que demoraria muito tempo para nos vermos novamente e tínhamos nos apegado bastante devido os acontecimentos torturantes em minha vida.

Estávamos sempre juntos – eu, Carlos, Claudia e Cecilia -, o que para Gabriel era uma grande besteira: nas refeições, nos passeios, nas ultimas visitas a casa de Rafael, Marcel e, agora definitivamente, de Cristal, já que passaram a viver todos juntos, no apartamento de Evandro, de Stafanni, a amiga de Carlos que não via a algum tempo, entre outros amigos que construímos. Nas ocasiões que saiamos a passeio, íamos sempre a algum ponto turístico que ainda não tínhamos tido a oportunidade de conhecer e a sobrinha de minha segunda mãe fazia questão de visitar. Era impossível que voltássemos ao Brasil sem que fossemos ao Jardim da Luz, nosso lugar. Mas neste fomos a sós, obviamente.

Na véspera de nosso retorno, Claudia fez questão de preparar uma despedida para nós. Mas ao contrario da que houve no Brasil, havia uma tensão no ar. Eu não voltaria tão cedo ao país, e com isso, não veria aquelas pessoas pessoalmente por um longo tempo. Claudia manteve uma expressão triste no rosto durante toda a solenidade, como se estivesse perdendo um filho. E por falar em filho, Gabriel não saiu de seu lado nenhum instante, já que eu me desdobrava dando atenção ao máximo de pessoas possíveis.

A viagem de volta foi como sempre: Dormindo. Por mais que eu tentasse o contrario, ao entrar no avião, a sonolência invadiu meu corpo. Não lutei contra, apoiei meu corpo contra a poltrona e deixei a cabeça escorada na direção da janela, na direção oposta de meu companheiro de voo. Contudo, antes que eu terminasse de me apoiar, Carlos me puxou, fazendo-me deitar sobre ele. Sorri agradecido e ganhei um rápido selinho em resposta.

Não demorou muito para que eu caísse no sono. Acordei horas depois assustado com uma turbulência sobre o Oceano Atlântico. Não tardou muito que eu adormecesse novamente logo que teve fim a turbulência. Desta vez fui direto para o ombro de Carlos, e mesmo apoiou sua cabeça sobre a minha. Dormimos. Na segunda vez, acordei com uma nova agitação na aeronave, mas agora por estarmos perto de aterrissar. Logo o nervosismo tomou conta de meu corpo, finalmente eu iria rever meus pais depois de tanto tempo.

Havia combinado com Felipe que meus pais ficariam novamente em sua casa para que fossem me buscar no aeroporto. Desta vez, pedi que meus pais viessem de carro, pois gostaria de ir para casa no dia seguinte, o que não agradou muito meu professor. Tudo que eu queria, era passar um bom tempo com meus progenitores, matando a saudade de tanto tempo distante fisicamente. Havia tanta coisa que eu gostaria de saber, as novidades, brigar com meu primo, abraça-los... Ficar com eles.

Foi engraçado perceber que um sorriso doloroso prendeu-se em meu rosto sem que eu percebesse. Enquanto esperávamos nossas malas chegarem, senti dedos cutucarem minhas bochechas: Carlos. Quando o olhei, ele ria de lado fitando-me debochado.

- Que foi? – perguntei sem graça.

- Esse sorriso é tudo saudades de seus pais? – antes que eu pudesse responder, uma de minhas malas apareceu na esteira.

- Acho que sim. – respondi depois de pega-la.

- Alguém virá te buscar? – indagou pegando mais uma mala que aprecia.

- Acho que meus pais, não sei ao certo que virá. – fui em direção a uma fileira de carrinhos de bagagem para colocar a grande quantidade que inda faltava. – E você, alguém virá?

- Cristian. Meu irmão. – completou depois que viu minha cara de confusão.

Era engraçado pensar que nunca havíamos discutido sobre sua família ou amigos. Tudo que eu sabia era que Carlos era assumidamente homossexual e aceito pela família, era amigo da Professora Andrea e os amigos que conheci em Lisboa. Nada mais.

Depois de quase uma hora esperando que todas as malas aparecessem, liguei para meu pai para saber se ele viria me buscar e descobri que já estavam no aeroporto há horas tão ansiosos quanto eu pela minha chegada. Pegamos, eu e Carlos, os dois carrinhos carregados de malas e seguimos da sala de desembarque. Não encontrei meus pais de imediato, os meus, além de Beatriz, Felipe e Patrick, estavam em pé me esperando em frente a uma loja de lembrancinhas. Sorri grande, já sentindo as lagrimas e formarem em meus olhos, e segui apressado na direção deles.

- Bruno! – Beatriz, uma quase versão de cabelos cacheados de Cecilia, gritou.

- Oi desmiolada. – desviei do seu abraço e fui até minha mãe. – Que saudade. – disse a abraçando.

Posso jurar que ficamos cerca de meia hora abraçados, ouvindo minha mãe chorar e as lágrimas molharem meu ombro. Eu sabia veementemente de onde havia herdado tanta sentimentalidade. Aos poucos, com os protestos de meu primo, minha Dona Maria das Graças foi me soltando e revelando seu rosto e olhos avermelhados. Repeti o ato com todos. Meu pai, tentando se mostrar um homem forte, não chorou. O mesmo pode se aplicar a Patrick e Felipe, já que Beatriz se desmanchou em um choro escandaloso, até.

- Achei que esse avião tinha caído no mar. Você demorou muito. – brincou meu primo e, para não perder o costume e me fazer rir, levou um tabefe de meu pai.

- Vire essa boca pra lá.

- Ocorreu tudo bem no voo? – mamãe perguntou me estendendo uma garrafinha de água.

- Houve uma turbulência no caminho, mas nada demais. Se aconteceu algo mais, não porque estava dormindo. – somente nesse instante recordei-me que havia deixado Carlos para trás. Virei-me apressadamente para procura-lo, mas não o vi mais, me deixando confuso.

- Tá procurando alguém? – Beatriz perguntou com seu típico ar irônico. – Ele saiu com outro rapaz. – o irmão dele, deduzi.

- Faz tempo? – quis saber.

- O professor? Assim que você veio até nós. – meu pai respondeu pela minha amiga. Apenas concordei com a cabeça, voltando a sorrir. – Vamos? – concordei mais uma vez abraçando-me a minha mãe e caminhando em direção à saída.

Antes de entrar no carro recebi uma mensagem de Carlos desculpando-se por ter saído sem se despedir, uma vez que não queria atrapalhar o momento com minha família e que nos falaríamos quando estivéssemos mais tranquilos. Além disso, seu irmão estava muito apressado, pois iria buscar a espessa no trabalho. A mensagem dizia ainda que ficaria alguns dias na casa de Andrea e depois iria para a casa da mãe até seu apartamento ficar estar, como ele disse, habitável novamente. Respondi:

“Tudo bem. Só fico triste porque ficaremos sem nos ver por um tempo.” – não demorou que houvesse um retorno.

“Irá mesmo amanhã para sua cidade?”

“Sim, irei embora amanhã cedo, mas volto na próxima semana, eu acho.”

Não pude continuar com a conversa, pois meu celular foi arrancando de minhas mãos por minha mãe, protestando que agora era hora de dar atenção a ela, que as outras pessoas poderiam aguardar para falar comigo. Em resposta, tão-somente ri abertamente querendo não me lembrar naquele instante todos os problemas que reapareceriam em minha vida a qualquer momento.

Iam no mesmo corro que eu apenas minha mãe, meu pai e Patrick, e no outro Felipe e Beatriz, já que eu trazia muitas malas carregas, além de roupa, de livros e presente, que recebi, para presentear e que repassaria. Meu primo, que ia ao meu lado no banco de trás, foi todo o percurso até a casa de meu amigo reclamando de algum objeto dentro da mala que trazia em seu colo que estava o furando a coxa, causando estres em minha mãe e fazendo eu e meu pai rirmos.

Quando finalmente chegamos, para o alivio da coxa de meu primo e ouvidos dos demais, Felipe já tinha aberto a casa e levava a primeira mala para dentro de sua casa, enquanto Beatriz estava ao telefone conversando, ao que supus pelas palavras carinhosas, com André. Sem demora fomos levando algumas coisas que não levaria para a casa de meus pais, já que havia feito uma pequena seleção no aeroporto e colocando no carro de meu pai as que levaria para nossa cidade e no carro de Felipe as que ficariam em sua casa até que eu voltasse para São Paulo.

- Precisava de tudo isso? – Patrick jogou a ultima bolsa que trazia em meu colo. Por sorte era uma bolsa não tão grande e que não trazia nada quebrável.

- Claro, foi quase um ano. – disse colocando no chão e sentando-me no sofá em seguida.

- Então, o que trouxe pra mim? – sentou-se ao meu lado abraçando meu ombro.

- Um livro. – sorri em deboche, sabendo que meu primo odeia ler, diferente de mim. – É serio. “Ensaio sobre a cegueira”, do José Saramago.

- Fala serio Bruno... – protestou levantando-se. – Eu carreguei meio mundo de mala para ganhar um livro? – sequer tive tempo para responder, Patrick saiu pisando firme e esbarrando em Beatriz que ainda estava no telefone e arregalou os olhos para mim. Rimos.

- Teu primo é louco. – Ela despediu-se do telefone e veio sentar-se, no mesmo lugar que Patrick estava antes – Quem era aquele com quem Carlos saiu?

- O irmão dele.

- ...Deixa de besteira, ele vai com a gente... – meu pai entrou quase gritando com minha mãe que logo se sentou ao meu lago.

- Fui bem eu que fiquei mais de uma semana trancado no banheiro chorando por Bruno ter ido embora. – Eu e Beatriz não aguentamos e rimos abertamente. Eu não duvidava que fosse verdade, ele sequer queria que eu fosse. Além disso, era nítido o quanto ele se esforçava para não chorar quando me viu. – Sua tia me falou que te deu o relógio de seu avô...

- Foi. – tirei do bolso e a entreguei. – Ela disse que Vó Edith gostaria que ficasse para mim.

- Ela tinha muito ciúmes desse relógio. – minha mãe disse examinando-o. – Digo, mamãe. Não saia do bolso dela. – eu podia jurar que vi mais lagrimas formarem-se nos olhos de minha mãe. Mas ela foi mais rápida em limpa-las.

- Eu lembro. – olhei rapidamente para meu pai que estava serio nos encarando.

- Mas enfim... – ela me devolveu. Mãe não teve a oportunidade de visitar minha avó ainda em vida, ou mesmo ir ao teu sepultamento, e era certo que, mesmo passado alguns anos, a dor pela perda ainda era presente.

- Tia mandou algo pra senhora. – mudei de assunto levantando-me e procurando os presentes nas malas tiradas do carro. Não foi fácil encontrar, mas consegui.

- O que é isso? – perguntou franzindo o cenho e apenas ri de sua expressão de espanto ao abrir o envelope e encontrar uma foto sua ainda criança chorando agachada ao lado de sua irmã. – Não acredito!

- Ela tinha tantas fotos de vocês... Até do tio Flaubert. Ele morreu com quantos anos?

- Tinha vinte. Eu nem tinha casado ainda.

- Você parece muito com seu tio, Bruno. – meu pai sentou-se ao lado de minha mãe rindo da foto também.

- Eu percebi.

- Olha, eu não queria dizer, mas... Eu estou aqui apenas esperando meu presente. – Beatriz disse sorrindo falsamente.

- Não devia te dar nada por me esconder as coisas. – aproveitei para introduzir que ainda conversaríamos sobre André, mesmo que isso me trouxesse más lembranças. Em retorno, minha amiga mostrou-me a língua. – Quanta criancice. – peguei uma mala com algumas coisas e levei até o centro da sala e sentei-me no chão abrindo-a em seguida.

- Nem peçam, não darei minhas torres Eiffel’s.

- Não acredito que você comprou uma miniatura! – Beatriz gritou fazendo minha mãe tapar os ouvidos e fazer uma careta em sua direção. – Você comprou duas, me dá uma.

- Essa é para o escritório do papai. – a entreguei ainda coberta por plástico bolha.

- Obrigado, galego.

- Mãe, encontrei um exemplar de “O corcunda de Notre Dame” em francês pra senhora. Só não sei onde coloquei. – parei para refletir um pouco onde havia colocado, mas nada passou por minha cabeça.

- Depois você procura o presente de sua mãe, foco aqui, por favor. – evitei olhar para minha mãe. Eu poderia jurar que a ouvi bufar indignada.

- Pega logo. – entreguei uma agenda que comprei no museu do Louvre, estampado com algumas obras famosas lá expostas. Em troca, recebi mais um grito histérico acompanhado de um abraço sufocante e vários beijos no rosto. – Para Bia.

- Presente... – Felipe apareceu acompanhado de Patrick, não me olhava com desdém.

- Pega Patrick. – o destino estava jogando do meu lado, pois por um acaso encontrei um exemplar do livro dentro de um bolso na lateral interior da bolsa. Ele recebeu sem nenhuma emoção e, depois de analisar o livro, jogou sobre a mesa de centro.

- Obrigado. – ri.

Continuei com a entrega de presentes pelo resto da tarde, até decidirmos ir jantar fora. Eu, que amo frio, já estava me sentindo incomodado com a mudança de temperatura. Nem no período mais quente em Portugal era tão quente como aqui em são Paulo. Lá, nas outras estações que não o inverno, estava sempre em uma temperatura agradável, sobretudo na primavera.

Antes de sairmos para a jurrascaria, que eu fiz questão de irmos, visto que estava com saudade da comida brasileira, liguei rapidamente para Claudia avisando que havia chegado, que estava tudo bem etc. Mamãe também quis falar com ela, agradecendo por tudo que ela fez por mim, convidando-a a nos visitar e, para minha total surpresa, rindo ao, que entendi, falarem de mim, o que me fez refletir sobre quando minha mãe biológica havia acabado com a implicância com Dona Claudia.

Por fim, dentro do carro, mandei uma mensagem para Carlos convidando-o a juntar-se a nós, e, como se ele estivesse com o celular na mão, respondeu: “Obrigado pelo convite pupil, mas combinei com o Cristian e Belzinha de jantarmos juntos hoje. Marcamos quando você voltar?”. Sorri do apelido que se tornou habito.

“Não quero parecer insistente, mas pode estender o convite ao Cristian e a Bel. Seu irmão e cunhada, certo?”

“Sim e não. Meu irmão e sobrinha. Risos. Farei o convite a eles, pra onde vocês irão?” – respondi uma mensagem me desculpando pelo mal entendi e em seguida mandei o endereço do restaurante. “Tudo bem, daqui a pouco te dou um retorno, ok? Beijos!” – outra mensagem chegou logo em seguida – “Se a resposta for sim, seus pais não irão ficar incomodado com minha presença?”.

“Não se preocupe com isso, eles já estão se acostumando com a ideia. Meu pai perguntou por você hoje, inclusive. Risos.”

“Isso é bom, quero conhece-los logo que possível.”

Quando percebi já estávamos no restaurante, por isso não respondi mais nenhuma mensagem. Guilherme, Zé Carlos e Pedro, que também tínhamos convidado, já estavam sentados em uma mesa; Beatriz chegou logo depois com o namorado, quando eu estava dando um abraço em meu ex-colega de quarto. Eu nunca tive uma relação muito intima com André, e a expressão com que ele olhava para mim não era nada boa, a qual eu não entendi o motivo. Para o meu descontentamento, o rapaz acabou sentando-se de frente para mim, sem sequer desejar boa noite a qualquer pessoa.

- Acho que Bia poderia ter arranjado um namorado melhor. – comentei com Guilherme que estava do meu lado.

- Por quê? – indagou e levou seu copo de cerveja, que já haviam pedido, até sua boca. Apenas dei de ombro.

- Vocês não perdem tempo, hein? – comentei para Zé Carlos e Pedro sobre a torre de cerveja no centro da mesa.

- Claro. Aceita um copo, Seu Flavio? – Pedro falou erguendo o copo em minha direção e de meu pai lego depois.

- Eu não bebo, agradecido.

- Ah, o negocio é de família. – Zé Carlos riu-se.

Não tardou muito para que o garçom viesse nos atender. Para a surpresa de todos, sugeri a meu pai que tomássemos um vinho, que a única bebida alcoólica que ele e minha mãe consumiam e que aprendi a degustar com Carlos. Contudo, minha proposta não foi aceita sob o argumento que o vinha não seria um bom acompanhamento para o prato e que, talvez sequer tivesse um bom vinho no lugar, o que causou risos a todos, me deixando completamente constrangido.

- Hm, então esse é um jantar para apresentar o namorado à família? – Guilherme falou, algum tempo depois, baixo suficiente para que somente eu ouvisse.

- Como assim? – perguntei confuso e ele me apontou com o queixo a entrada do restaurante.

Não soube com reagir. Eu queria que ele viesse, muito, mas esperava uma resposta para que eu pudesse me preparar ou avisar antecipadamente a meus pais sobre sua vinda. Invés disto, Carlos chegou me deixando sem qualquer reação, acompanhado de um rapaz aparentemente mais novo que ele, de mesma estatura e muito parecido com ele, porém sem barba, segurando uma garotinha nos braços, que interpretei ser sua sobrinha, Belzinha, e outra mulher, morena, de expressão risonha. Carlos conversava com a mulher no mesmo tempo em que olhava de um lado para o outro do restaurante a minha procura, supus.

Sem que eu percebesse, Beatriz acenava em sua direção freneticamente sem que levantasse definitivamente da cadeira, mas apenas o suficiente para ser percebida. Suspirei fortemente o olhei em sua direção sorrindo e o convidando com um de minhas mãos. Quando voltei meu olhar para minha mãe e meu pai, eles estão me encarando como se esperassem alguma resposta.

- Esqueci-me de avisar que o convidei. Tem algum problema? – disse para eles que estavam do meu lado.

- Uma hora eu teria que falar com ele, não é? – disse meu pai erguendo uma sobrancelha. Minha mãe simplesmente sorri e deu de ombros.

- Boa noite a todos. – Carlos materializou-se ao meu lado, entre eu e Guilherme. Senti sua mão pesar em meu ombro e o encarei sorrindo e convidando-o a sentar-se.

Imediatamente Zé Carlos pediu ao garçom que trouxesse mais uma mesa para unir a nossa. Quando Carlos fez menção em sentar-se no outro extremo da mesa, onde a outra havia sido posta, Guilherme o impediu fazendo sentar-se ao meu lado e foi para o outro lado.

- Belzinha ficou tanto no meu pé, que me esqueci de te avisar que vínhamos. – cochichou.

- Tudo bem.

- Ah, desculpem- me a falta de educação! Este é meu irmão, o Cristian; sua esposa, Lucia e sua filha, Izabeli. – apresentou a todos da mesa.

- Então você é o professor Carlos. – minha mãe debruçou-se sobre mim a fim de falar com ele.

- Oi Dona Graça. – ri com Beatriz pela cena, eu de constrangimento, Bia por achar realmente engraçado.

- Finalmente nos conhecemos pessoalmente.

- Pois é, estava muito ansioso para fazê-lo. Bruno sempre falou muito bem da senhora e de seu marido. – minha mãe apenas sorriu em agradecimento, se recompondo.

- Bruno também falava muito bem de você. – enfatizou o pronome ironicamente, o fazendo rir.

- Titio! – Izabelli apareceu do meu lado, tomando nossa atenção. – Quero me sentar com você. – Ouvi meus pais acompanhar o riso de meu professor, e o mesmo a pegou no colo. – Ele é seu namorado?

Arregalei os olhos espantado com a pergunta. Em parte por partir de uma criança, mas principalmente por eu e Carlos, depois de termos “voltado”, não termos conversado a respeito sobre o assunto, e isso me deixou um pouco apreensivo pela resposta. Contudo, ele não respondeu, tão-somente riu. Sequer passou pela minha cabeça qual tinha sido a reação das outras pessoas na mesa, já que todos haviam ouvido. Minha mãe, meu pai e Cristian, foi com eles que mais me preocupei quando finalmente me dei conta do ocorrido.

Mas toda minha preocupação sumiu quando o garçom apareceu novamente trazendo alguns pratos com variados tipos de carne, as piadas de Zé Carlos e Felipe voltaram a tirar risos, estridentes no caso de Beatriz, e o fato de Izabelli querer correr pelo ambiente, fazendo o Carlos vez ou outra ir atrás dela, já que ele parecia amar a menina. Não demorou muito para que meu pai fosse sentar-se ao lado de Cristian para conversa, já que o rapaz e a esposa também eram advogados.

- A Alice já sabe que você voltou? – André fez o sorriso de meu rosto sumir no mesmo instante com uma ruga de duvida surgiu em mim.

- Não tive a oportunidade de falar com ela, por quê?

- Não sei, talvez porque vocês terão um filho juntos. – no mesmo instante as vozes e risos sumiram, deixando um silencio carregado de tensão e olhares sobre mim.

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SPOILER: Virá uma pessoa para o Brasil e alguém irá morrer. Imaginam quem? Risos.

Para lembrar: Pedimos que enviem perguntas (sobre o livro, personagens, curiosidades, sobre eu, Drexler, sobre Cesária Évora, o que quiserem) e iremos responder tudo e postar aqui após o epílogo. Para cada pergunta, se necessário, terão duas respostas, sendo uma minha e outra de Cesária.

Já recebemos algumas, uma em particular muito bem formulada, o que é ótimo. Continuem enviando.

É importante que as perguntas sejam enviadas para o email, pois ficará melhor para selecionarmos. Além disso, dessa maneira haverá um pouco de suspense para os demais leitores interessados.

Até semana que vem, amados.

Comentários

Há 2 comentários.

Por CarolSilva em 2015-09-14 21:49:26
Bruno tem que ser forte pra não deixar que situações como as que já ocorreram afeta a sua estabilidade emocional.
Por Niss em 2015-09-13 23:15:52
Nossa que cara filho da puta!!! Não precisava ele ter falado assim descaradamente.... Acho que quem vem é a Claudia e a Alice morre e Bruno vai ter que criar o filho... Uma pergunta: Essa obra é veridica? Aconteceu realmente? Kisses Niss.