Capítulo XXXIV

Conto de Drexler como (Seguir)

Parte da série O destino de Bruno

Desculpem a demora, semana corrida. Boa leitura amados!

Música tema: Poema – Ney Matogrosso

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- Bruno! – ouvi uma voz ao longe me chamar e meu corpo sacudir de forma brusca.

Aos poucos fui abrindo, com medo, um olho e me deparando com aqueles olhos negros me fitando de forma assustada. No mesmo instante me desvencilhei de seu toque, caindo no chão assustando. Senti uma dor alucinante ao que minhas nádegas chocaram-se ao chão. Mas a dor que sentia em meu emocional era muito maior. Ele não poderia ter feito àquilo comigo. Não podia. Não comigo.

Eu entendia, em meu subconsciente, que ele apenas havia feito o mesmo que um dia eu fizera com Fernando, que era justo eu sofrer tanto ou mais que ele, que eu mesmo nunca me perdoaria por ter causado tanto mal e tanta dor. Mas Carlos me fez ama-lo como já mais pensei que fosse possível. Ou melhor, ele me fez acreditar no amor, me fez amar. Ama-lo. Apenas para depois de me foder, me virar às costas e quebrar meu coração.

- Não me toque! – gritei em plenos pulmões. – Não me toque... – na segunda vez, minha voz saiu mais falha do que eu imaginara. Sentia-me fraco, desamparado.

- Bruno?! – chamou-me novamente com a voz carregada de preocupação.

Eu não tinha forças para falar novamente, estava em prantos novamente. Lágrimas incessantes escorriam sobre meu rosto enquanto eu tentava limpa-las em vão, sem forçar para me levantar e sair daquele ambiente carregado de lembranças lindas e amargas.

- Me fala o que está acontecendo... Por favor... – sua voz era suplicante; mesmo eu evitando olha-lo, sentia seus olhos varrerem meu rosto molhado; suas mãos queriam tocar meu corpo tremulo, mas ao mesmo tempo estava temeroso. Aos poucos Carlos foi agachando-se ao meu lado, ao mesmo tempo em que eu me recuava até encosta minhas costas no guarda-roupa, me deixando sem saída.

Sem ter mais para onde me esquivar, finalmente ele me alcançou, segurando meu rosto e me fazendo encara-lo finalmente. Assim como eu, meu professor tinham os olhos carregados de água, embora lutasse para conte-las. Aos poucos ele foi limpando minhas bochechas e puxando-me para si, abraçando meu corpo fraco. Tão vagarosamente, meu rosto foi encostando-se a pele de seu peito nu, agora afagando meus cabelos e acariciando minhas costas.

- Passou meu amor... Passou. – fui fechando meus olhos aos poucos, tentando acreditar que aquele era ele mesmo. Tentando me enganar. – Pode me falar o que aconteceu? – perguntou depois de algum tempo. Respirei fundo, tomando folego para dizer alguma frase coerente.

- Você... – minha voz saiu mais tremula do que imaginei. – Você disse que me odiava... – mais uma vez não consegui conter as impiedosas lágrimas, que queimavam meu rosto.

- Nunca! Nunca mais diga isso! – disse depressa segurando meu rosto novamente em direção ao seu e selando nossos lábios. – Eu jamais diria uma coisa dessas. Eu te amo. Ouviu bem? Te amo! Foi tudo um sonho. Um pesadelo. – corrigiu-se imediatamente. Carlos estava tão desesperado quanto eu.

Um pesadelo... Tudo havia sido um pesadelo. Um horrível, traumatizante pesadelo.

Aquelas palavras fizeram meu peito aliviar. Agora mais calmo eu podia comprar como suas palavras eram verdadeiras: ainda estávamos no quarto, estávamos nus, como havíamos adormecidos, os cabelos de Carlos estavam despenteados e em seu peito ainda estavam visíveis marcas de horas atrás. Ainda era noite, pelo que pude ver entre as cortinas entre abertas do quarto. O quarto também estava meramente escuro.

Como cuidado, Carlos foi me erguendo junto ao seu corpo e me levando até a cama. Sentou-me na ponta e seguiu até a cômoda, vestindo uma roupa intima e me trazendo outra. Em vão, estendi uma das mãos para que pudesse vestir-me. Em vez disso, ajoelhou-se a minha frente e, colocando pé por pé nos espaços apropriados, subi o tecido pelas minhas pernas. Como se supunha, na altura das coxas, tive que me levantar para concluir o ato. Por fim, sorri fraco para ele, que retribuiu depositando um beijo em meus lábios.

Novamente, Carlos segurou meu corpo e foi conduzindo para que eu me deitasse, como se eu fosse uma criança sob seus cuidados. Em seguida deitou-se ao meu lado e cobriu nosso corpo com o grosso coberto e, enfim, me abraçou, enlaçando seus braços em torno de minha cintura e me fazendo apoiar minha cabeça sobre seu peito.

- “Cantiga de amor sem eira

Nem beira,” – ouvi sua voz me acalentar, calma e suave, ao mesmo tempo grossa e protetora.

“Vira o mundo de cabeça

Para baixo,

Suspende a saia das mulheres,

Tira os óculos dos homens,

O amor, seja como for,

É o amor.

Meu bem, não chores,

Hoje tem filme de Carlito.

O amor bate na porta

O amor bate na aorta,

Fui abrir e me constipei.

Cardíaco e melancólico,

O amor ronca na horta

Entre pés de laranjeira

Entre uvas meio verdes

E desejos já maduros.

Entre uvas meio verdes,

Meu amor, não te atormentes.

Certos ácidos adoçam

A boca murcha dos velhos

E quando os dentes não mordem

E quando os braços não prendem

O amor faz uma cócega

O amor desenha uma curva

Propõe uma geometria.

Amor é bicho instruído.

Olha: o amor pulou o muro

O amor subiu na árvore

Em tempo de se estrepar.

Pronto, o amor se estrepou.

Daqui estou vendo o sangue

Que corre do corpo andrógino.

Essa ferida, meu bem,

Às vezes não sara nunca

Às vezes sara amanhã.

Daqui estou vendo o amor

Irritado, desapontado,

Mas também vejo outras coisas:

Vejo beijos que se beijam

Ouço mãos que se conversam

E que viajam sem mapa.

Vejo muitas outras coisas

Que não ouso compreender...”

Adormeci. As ultimas palavras do poema não passaram de sussurros aos meus ouvidos. Não tive mais sonhos no decorrer daquela noite. Quando acordei de manhã, pera meu espanto, Carlos não estava mais a cama, como no pesadelo, me fazendo temer o que viria a seguir. Em vez disso, como toda historia clichê, como o poema de Camões, como era, e é, o amor: clichê, uma bandeja estava ao meu lado da cama, acompanhado de um exemplar de “Euteamo e suas estreias”, da Elisa Lucinda. Meu livro de poesia preferido, meu livro de cabeceira.

Peguei o livro entre as mãos e percebi, com um sorriso, que estava marcado na pagina do poema “Da chegada do amor”, o mesmo poema que ele me recitou enquanto me dava banho, quando quebrei a perna ao pular da ponte.

Era incrível como Carlos dava valor a cada pequeno gesto. Como ele se importava com cada pequena coisa. Aquilo não era apenas um café, era um recomeço. Nosso começo sem aviso, nossa primeira transa, os poemas sem inesperados, o café da manhã compro na cafeteria ao lado do prédio... Um recomeço.

- Bom dia! – virei-me de abrupto em sua direção, sorrindo bobo ao encontra-lo parado a porta vestido com uma calça moletom cinza e uma camisa branca.

- Bom dia! – de mansinho Carlos aproximou-se da cama e sentou-se ao meu lado, me dando um rápido selinho. – Onde está minha calça? – perguntei lembrando-me do presente no bolso.

- Coloquei no cesto pra ir para a lavanderia. – respondeu deitando o corpo sobre minhas pernas para alcançar a bandeja e pegando um pãozinho.

- Não! – arregalei os olhos. Em passo acelerado desvencilhei-me do lençol e pulei da cama, correndo para o banheiro.

- Não está aí. O que foi? Se não trouxe outra, pode pegar uma minha. Mas não vamos...

- Preciso da minha! – o cortei desesperado. – Onde ela está?

- Por que quer tanto ela? – mesmo sem vontade, revirando os olhos, Carlos levantou-se da cama e foi até a cozinha, comigo em seu encalço. A sacola com roupas estava pronta para ser jogada no laundy chute.

Suspirei aliviado e comecei a procurar minha peça de roupa e, logo em seguida, a tatear os bolsos a procura da pequena embalagem, sendo assistido curiosamente por Carlos ao meu lado. Por um segundo achei que ele tivesse olhado os bolsos, mas finalmente achei no bolso esquerdo da frente.

- Que isso? – perguntou olhando a embalagem em minha mão. Sorri de lado e ergui uma sobrancelha, caminhando até o quarto sem respondê-lo. Sentei-me na cama e bati ao meu lado para que o mesmo senta-se, e ele o fez. – Não estou entendendo nada...

Sorri desafiador e alisei a tatuagem em suas costelas: “I believe in Angels”. Coincidentemente, na ocasião que percebi sua tatuagem, quando ainda estávamos nos aproximando, Carlos me contou ter mais duas tatuagens, embora fossem sempre escondidas com maquiagem. Elas eram uma coruja e o símbolo das Relíquias da Morte, da serie Harry Potter, a qual era fã.

- É seu aniversario... – disse entregando o pequeno embrulho. Vi, agraciado, os olhos de Carlos arregalarem em surpresa e, timidamente, estender a mão para segurar o presente.

- Não precisava... – sorriu abrindo a caixinha.

- Precisav... – antes que eu concluísse, meu professor caiu deitado sobre a cama rindo abertamente, segurando a caixa preta sobre seu peito, deixando completamente confuso. – O que foi? – perguntei virando-me em sua direção com a testa franzida. – Não gostou? Por que tá rindo? Carlos! – dizia tudo muito rápido, sem ter certeza de que ele estava me ouvindo.

Com o tempo, Carlos foi se recuperando do ataque de risos e voltou a sentar-se. Com os olhos úmidos, ele abriu novamente a caixinha, ainda com um sorriso debochado, e ergueu a corrente com o símbolo das Relíquias da Morte entre nós, fazendo o objeto rodar no ar. Isso soava pior que no pesadelo.

- Você não gostou não foi? – perguntei desviando o olhar.

- Eu amei! – olhei incrédulo.

- Não precisa mentir. Tudo bem... Eu só achei que...

- Ei. – me cortou. – De verdade, eu amei. Só ri porquê... Olha pra mim! Eu sou um velho... É tão engraçado. – eu estava mais confuso que antes. – Já fui tão criticado por ser fã do Harry...

- Como assim?

- As pessoas não entende a pedagogia que existe nos livros e filmes, só veem a bruxaria, a superficialidade da serie. Existe muito mais que um menino tentando salvar o mundo bruxo e trouxa. Harry luta contra o preconceito. E isso é lindo.

- Eu nunca olhei por esse lado.

- Poucos olham. – ficamos em silencio nos encarando, enquanto Carlos sorria abertamente em minha direção. – Você é lindo! – disse em um sussurro e sentou-se em meu colo. – Obrigado. Je t'aime. – falou erroneamente me fazendo rir antes de selar nossos lábios em um beijo calmo, cheio de carinho. – hm... – ouvi seu gemido finalizando nosso beijo com vários selinhos. – Vai escovar os dentes para comermos, o café está esfriando.

Fiz uma careta ao recordar que realmente não havia escovado devido à correria para recuperar o presente. Quando finalmente Carlos deu o ultimo selinho, desmanchando minha carranca, e levantou-se de meu colo, fui fazer minha higienização. Quando voltei ao quarto, meu professor estava deitado sobre a cama, escorado na cabeceira, segurando um DVD e logo sorriu me mostrando a capa.

- Isso tem alguma coisa haver com ontem à noite? – perguntei sentando-me ao seu lado e tomando o objeto de suas mãos para analisar qual era o filme.

- Como assim? – indagou de boca cheia.

- “Hoje tem filme do Carlitos” – imitei sua voz ao recitar o poema de Drummond e mostrando a capa do filme ‘O Garoto’, de Charles Chaplin.

- Juro que não foi intencional. – fez um ‘X’ n o lado esquerdo do peito com o dedo me fazendo rir.

De verdade, o ano não poderia começar melhor. Passamos à tarde inteira deitados a cama, conversando, assistindo filmes, comendo besteiras, namorando e, principalmente, amando. Sequer almoçamos naquele dia. Não atendemos telefone, não ligamos para ninguém, não falamos com ninguém. Era somente nós dois no primeiro dia do ano. E mais uma vez, após uma noite de caricias intimas, dormimos abraçados, como deveria ter sido sempre.

No dia seguinte, acordamos já próximo ao horário do almoço. Quando liguei o celular havia cerca de 30 ligações não atendidas, entre elas, algumas vindas do Brasil, até de números desconhecidos. Apenas liguei para Claudia avisando que iriamos almoçar em as casa, o que foi uma tremenda cara de pau de minha parte, e mandei uma mensagem para minha mãe avisando que falaria com ela a tarde por vídeo-chamada.

Depois de estarmos devidamente prontos, seguimos para o nosso destino. Para minha total surpresa, Gabriel estava na frente da casa acompanhado de Rafael. Sorri para o filho de Claudia e recebi o gentil dedo anelar como resposta. Para minha sorte, Carlos, que estava de mãos dadas comigo, não questionou nada, ao que entrei na casa rindo abertamente.

Claudia estava na cozinha, conversando com outra mulher que eu não conhecia, enquanto terminava de preparar o almoço. Logo supus que a mulher era alguma parenta, tendo em vista que era tão baixa quanto à dona da casa, porém mais magra e, igualmente tinha os olhos verdes e os cabelos loiros.

- Bom dia. – cumprimentei sorrindo.

- Oh. Criança. – veio me abraçar, desejando-me novamente feliz ano novo. Em seguida fez o mesmo com Carlos, sorrindo encantada entre mim e meu professor, me fazendo revirar os olhos.

~ Mães... ~ debochei mentalmente.

- Queridos, está é Clarice, minha irmã.

- Olá. – Carlos a cumprimentou com um aperto de mão e apenas sorri simpático.

- Clarice, este Bruno, meu filho de coração, e Carlos,... Amigo da família. – senti que Claudia estava um pouco perdida ao referenciar meu professor. Contudo, eu estava muito emocionado com sua consideração para comigo, já que também a considerava uma segunda mãe. – Não tive como apresenta-los na noite de réveillon, mas tudo bem.

- A senhora é mão do Ra...

- Rafael? – Clarice me cortou rindo. Fiquei ainda mais confuso. – Não, não. Ele é namorado da minha filha. – tentei, a todo custo esconder minha surpresa.

- E por falar em Cecilia... – Claudia sorriu apontando na direção em que estávamos. Sem dúvida, Cecilia, a sobrinha de Claudia, era linda. Ela, diferente da mãe e tia, era alta, mas igualmente loira, os mesmos olhos verdes. Era sem duvida uma linda mulher.

- Oi! – cumprimentou com um abraço e sorrindo largo. O mesmo fez com Carlos, me fazendo rir ao que trocamos olhares cumplices e surpreso com tamanha simpatia. –Bruno e Carlos, certo? – acenamos com a cabeça. – Gab’s me falou de vocês. A tia também. Ela ama vocês, de verdade. Sinto muito pela situação em que vocês se conheceram, mas que bom que essa fase obscura já passou. E embora esteja triste por só estarmos nos conhecendo agora, ainda teremos muito tempo para nos conhecer. Vou ficar um bom tempo aqui na casa da tia, vamos poder sair para vários lugares, isso quando vocês tiverem tempo. Soube que fazem uma pesquisa e dão aula de língua estrangeira, eu amo aprender coisas novas. Eu conheço algumas coisas, posso te apresentar, e vocês me apresentarem outros que não conheço. Será legal, não acham? Além...

- Quando ela abre a boca, não para mais. – a mãe repreendeu dando as costas para nós e sentando-se a mesa novamente.

- Infelizmente, Clarice, eles só ficaram aqui por mais três semanas. – Claudia me olhou sorrindo triste.

- Como assim? – a garota me olhou chocada. – Não era um ano? Vocês não ficariam aqui por um ano?

- Devido algumas circunstancias, acabamos mudando os planos. Agora, mesmo que quiséssemos não poderíamos mudar. – Carlos explicou, voltando a segurar minha mão e a apertando forte.

- Isso é horrível. – disse colocando a mão no peito dramaticamente e caminhando até a mesa e sentando-se ao lado da mãe. Disfarçadamente, Claudia gesticulou o dedo ao dedo da orelha, insinuando que sua sobrinha era louca, o que me fez rir.

Ficamos conversando por um bom tempo no mesmo cômodo até que resolvemos almoçar e chamaram os meninos que ainda estavam na frente da casa. Nesse meio tempo, descobri que Clarice era uma majoritariamente seria, diferente de sua filha, que era extremamente alegre, tagarela, risonha e divertida. Se me perguntassem, diria que Gabriel e filho de Clarice e Cecilia de Claudia. Era impressionante como as personalidades convergiam.

Por outro lado, Clarice e Cecilia eram mentes abertas tanto quanto Claudia e seu filho. Não discutirmos muito sobre tais concepções, mas era algo perceptível nas entre linhas. No tocante a suas carreiras, Clarice era psicóloga igual à irmã mais velha, o que me fez pensar que a área da psicologia era algo genético, até sua filha dizer revelar cursar medicina, o que me fez concluir que, na realidade, a área da saúde é uma coisa familiar.

Passamos o resto da tarde na casa de Claudia, conversando, rindo e, depois que sua irmã e sobrinha deram uma saída, e depois de muita insistência que preferíamos ficar em casa, relatando, superficialmente, como havia sido minha ultima tarde com Carlos. Já à noitinha, falei com meus pais juntamente de Claudia e Gabriel, pela primeira vez. Ele só aceitou aparecer depois de muita insistência de minha mãe e meu pai, que chamavam por ele como se fossem íntimos. Tudo que eu queria era que esse bom humor que havia chegado junto ao ano novo, perdurasse por muito tempo.

Depois de finalmente contar sobre como havia sido meu dia, deixei Claudia conversar com Carlos enquanto ia falar com Gabriel. Ele estava no quarto, jogado na cama, ao mesmo tempo em que via alguma coisa pelo celular com um sorriso no rosto.

- Deixei-me adivinhar: está falando com Rafael! – joguei-me na cama na tentativa de tomar o celular, mas ele foi mais rápido e se desvencilhou.

- Sai pra lá! – disse sério e sentando-se novamente a cama.

- Estava não era? – pelo seu silencio, tive a certeza que sim, o que me fez rir. – Isso é muito feio, sabia? Ele é o namorado de sua prima.

- E meu amigo.

- Mas quer ser mais que seu amigo.

- Mas sabe que não vai acontecer.

- Porque você não quer.

- Exato.

- O sorriso no seu rosto diz outra coisa. – continuei insistindo rindo de sua cara de raiva, tentando inibir o sorriso no instante em que o celular apitou.

- Não vai rolar... – disse digitando rapidamente.

- Não vai rolar o que? Falou comigo ou com ele? – provoquei.

- Não prestei atenção, o que disse? Rafa perguntou...

- Hmmm, ‘Rafa’. – provoquei rindo.

- Como você é palhaço. – soltou voltando a se deitar em sua cama.

- Então, o que não vai rolar?

- Rafa me convidou pra ir uma festa onde ele vai ser DJ. – disse sem me dar muita atenção e digitando novamente.

- Por que não vai? Claudia não é do tipo que se importa muito.

- Vou fingir que você não quis dizer que minha mãe é uma mãe relapsa e te ignorar.

- Nhen nhen nhen, vai e pronto. Você não tem nada melhor pra fazer. – finalmente ele largou o aparelho e me encarou, serio.

- Me fala, como estão as coisas entre você e o Carlos? – apertei os olhos, irritado.

- Esse não é o assunto.

- Claro que é.

- Não é não.

- O assunto não é relacionamentos impossíveis? – desafiou-me, erguendo uma sobrancelha.

- Então definitivamente não é sobre mim e Carlos. – dei de ombros.

- Então estão bem mesmo? Tipo, namorando de novo.

- Sim. Quer dizer, não sei. Não falamos sobre isso.

- Então como estão? Me fala. Não o que vocês contaram para minha mãe, a outra parte, a verdade. – arregalei os olhos assustado e surpreso com a pergunta, visto que, por mais próximo que estivéssemos, nunca havíamos falado sobre esse tipo de intimidade, nem eu me sentia suficientemente bem falando isso com ele, afinal Gabriel era como um irmão para mim. – Não esses detalhes sórdidos. – revirou os olhos, enquanto eu soltava a respiração, que só agora percebia prender.

- Como dissemos, a gente só ficou juntos. Não conversamos sobre isso. – sorri ao lembrar que tudo que fizemos foi dizer o quanto nos amávamos.

- Ocorreu tudo lindo então?

- Tirando o pesadelo, sim. – sorri em deboche.

- Que pesadelo? – como Gabriel estava fazendo meu acompanhamento psicológico, mesmo de forma informal, não me senti inibido em revelar sobre o ultimo sonho. Era difícil ter de lembrar tudo aquilo, a rejeição, as palavras, a violência, o olhar impiedoso... Mas ao mesmo tempo era reconfortante poder colocar tudo aquilo pra fora, me abrir para alguém.

- O que me deixa m ais confuso... – conclui. – É que antes “reatarmos” – fiz aspa com os dedos. – eu sonhava com isso, ele vindo me pedir desculpa e sempre, ou quase sempre, ficávamos bem.

- Não me lembre dos seus gemidos de madrugada. – Gabriel revirou os olhos ao que tentei segurar o riso. Perdi as contas de quantas vezes ele havia ido bater a porta do quarto mandando-me calar a boca e me controlar.

- É tão contraditório. – disse por fim.

- Acho que mamãe vai poder te explicar melhor, mas acredito que seja normal. Veja, os primeiros sonhos eram a materialização de uma realidade que você desejava. Sua mente ainda está fragilizada devido à depressão, então era fácil criar situações, muitas vezes impossíveis, em que Carlos te pedia desculpas, como você me contou. O seu ultimo sonho, nada mais é que seu medo. Perceba que é como se seu sonho tivesse se materializado. Vocês voltaram, e nem quero imaginar os gemidos que ecoaram pelo apartamento dele. O fato de você estar voltando para o Brasil, Carlos ser amiga d irmã do seu amigo, reavivou e criou situações indesejadas. Mas não me preocuparia muito com isso. Converse com Carlos. Não sei se já fez isso, mas se não, conte a ele sobre Fernando, acho que ele tem direito.

- Certo, farei isso. Eu já havia comentado que eu e Fernando tivemos problemas, mas nunca falei explicitamente quais eram. É um pouco constrangedor.

- Eu sei. Não deve ser legal, para nenhum dos dois, falar das relações anteriores. – apenas concordei com a cabeça. – Olha, mamãe não deve ter falado com você ainda, mas vou adiantar. Ela está preparando um atestado sobre seu tratamento, juntamente com uma recomendação para continuar no Brasil. Não vai ser preciso ter encontros diários ou semanais, como víamos fazendo, mas seria interessante visitar um psicólogo pelo menos bimestralmente. Geralmente, as consultas acontecem semanalmente, depois mensalmente, bimestralmente e por fim semestralmente. Contudo, como somos íntimos, era diferente. Nem todos nossos encontros, digo, seu e da mamãe, foram documentados, porque eram extraoficiais. Enfim, o que eu quero dizer, é que seria bom se você continuasse a visitar um psicólogo, para evitar qualquer recaída. Você sabe que a depressão não tem cura, então...

- Tudo bem. – concordei rapidamente com a cabeça e sorrindo fraco.

- E Bruno, espero que, embora nossas diferenças, torço muito que você e Carlos fiquem juntos e bem.

- Digo o mesmo sobre você e Rafael.

- Você sabe que isso não irá acontecer.

- Infelizmente, sim. Agora para com isso, parece até que vou embora hoje. – ri abertamente.

Não demoramos muito mais no quarto, logo descemos para a sala encontrando Cecilia e Carlos dialogando. Não podíamos sequer chamar aquilo de conversa, já que somente a garota falava em um monologo infindável e Carlos olhava-me pedindo ajuda. Eu, por outro lado, apenas ria de sua situação, indo até a cozinha tomar água, como desculpa, e retornando ao antar de cima e aproveitando para falar com meus pais por webcam.

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ANDRADE. Carlos Drummond de. O amor bate na Aorta. In ______. Brejo das Almas. Companhia das Letras: São Paulo, 1934.

LUCINDA. Elisa. Da chegada do amor. In ______. Euteamo e suas estreias. Editora Record: Rio de Janeiro, 1999, pg. 24.

Foi lindo o capitulo, não foi? Deixei todos de coração na mão, não deixei? Não gente, eu não sou sádico. Risos. Enfim, comentem o que acharam.

Vocês já devem ter percebido que o fim do romance está próximo. Eu e Cesária estivemos pensado e decidimos que queremos interagir mais com vocês. O que nós pensamos: Tomando por base que eu já disponibilizava um email para mantermos contato e responder perguntas, criticas e adjacente, iremos refaze-lo. Pedimos que enviem perguntas (sobre o livro, personagens, curiosidades, sobre eu, Drexler, sobre Cesária Évora, o que quiserem) e iremos responder tudo e postar aqui após o epílogo. Para cada pergunta, se necessário, terão duas respostas, sendo uma minha e outra de Cesária.

É importante que as perguntas sejam enviadas para o email, pois ficará melhor para selecionarmos. Além disso, haverá um pouco de suspense para os demais leitores interessados.

Pois bem, comentem o que acharam da ideia, do capítulo, do livro, de mim e da Cesária. Beijos amados! Até próxima semana.

Comentários

Há 1 comentários.

Por Niss em 2015-09-08 00:15:26
Meu senhor!!! Ai Drex, confesso que senti uma mistura de frustração e alívio. Frustração por ter acreditado na historia do pesadelo kkkk e alivio por ser um pesadelo. Confesso também que vou sentir falta desses dois :/ No mais, espero pelo proximo. Kisses, Niss.