Capítulo - XXXII

Conto de Drexler como (Seguir)

Parte da série O destino de Bruno

Demorou, mas chegou! Este capítulo será um pouco corrido para que a historia não fique muito parada. Falta cerca de 10 capítulos para acabarmos "O Destino de Bruno" e ele precisa voltar para o Brasil rapidamente, pois muita coisa ainda irá acontecer, por isso tanta narrativa e pouco dialogo. Enfim: Boa leitura!

Música tema: Não sei qual colocar, preciso de dicas. Comentem!

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Por fim, nada passou de um sonho. O evento em Lisboa transcorreu sem qualquer mudança extraprofissional entre mim e Carlos. Saiamos para almoçar juntos todos os dias antes do evento, às vezes a sós, outras acompanhado por outros professores. Conversávamos somente o que dizia respeito à universidade, a pesquisa, as aulas ou o próprio evento. Mesmo tento fim ao congresso, continuamos a almoçar vez ou outra, mas eu nunca tinha coragem de falar qualquer coisa, assim como ele não entrava no assunto “nós”. Talvez pelo mesmo motivo que eu – ainda não ter superado o termino –, ele sempre estava com sua aliança no dedo, embora em outro dedo e acompanhado do anel de formatura.

Por outro lado, depois de minha ultima conversa com Gabriel, nos tornamos mais íntimos. Agora que não havia nenhuma barreira ou segredo entre nós, eu encontrei nele um amigo sem igual. Estávamos sempre conversando sobre nossos problemas amorosos e causos da vida, o que fez Claudia me liberar das sessões diárias com ela, já que Gabriel estuda para seguir a profissão da mãe, e poderia exercer está função sem toda formalidade clinica, sendo assim uma cobaia para o futuro profissional.

Outra pessoa a quem me aproximei bastante nos últimos meses foi Evandro. Estávamos sempre trocando mensagens e saindo para conversar. Fui a mais duas de suas apresentações, o que era sempre uma boa distração, e em uma delas levei Gabriel e apresentei um ao outro. Infelizmente, o garoto não foi muito com a cara da Drag Queen, o que não impediu de sairmos, nós três, outas vezes para a Livro-cafeteria, a fim de discutir poesia e música.

Evandro, como expert em arte que é, fez questão de me apresentar a várias livrarias e bibliotecas históricas, sempre me apresentado livros e autores. Acabei adquirindo incontáveis livros de variados gêneros textual. Eu, por outro lado, o fiz comprar várias obras de renomados autores brasileiros e até mesmo um disco de Elis Regina, de quem sou fã graças a influencia de meu pai e avô paterno, que encontramos em uma loja. Além disso, Evandro me apresentou a inúmeros museus de arte moderna.

Não é necessário afirmar que Cristal passou a frequentar a casa de Claudia com certa frequência, já que nos reaproximamos. Além do fato que Gabriel e Claudia amava brincar com Caíque, que sempre a acompanhava, era uma boa oportunidade para eu me adaptar e rever meus conceitos sobre adoção homoafetivas e, no caso deles, uma família não monogâmica. Sem contar que o menino é realmente uma criança adorável, sorridente e comunicativa, depois que perde a timidez.

Marcel e Rafael, por outro lado, não tive muito contato, sendo apenas no evento que participaram comigo e Carlos, na Itália. Na ocasião também saiamos os quatro juntos para fazermos nossas refeições, o que para mim deixava a situação mais constrangedora, já que a tensão sempre predominava devido aos olhares que o casal nos dava, nos analisando calados e tão nervosos quanto eu. Fora isso, o evento ocorreu tão normal quanto o português: palestras, minicursos, apresentações, mesas-redondas etc.

No Brasil, nada parecia mudar, tão pouco. O inquérito sobre Bárbara foi basicamente arquivado, mesmo meu representante legal tentado a todo custo avançar nas investigações. Contudo, meus pais, sobretudo meu pai, assim como meus amigos: Beatriz, Felipe e Guilherme, pareciam eufóricos e a cada dia mais ansiosos para meu retorno ao meu país, que aconteceria dentro de mais ou menos um mês.

Já aqui em Lisboa, junto às festividades natalinas, enfeites por toda a cidade, a deixando cada vez mais atrativa, e o recesso de 15 dias para as confraternizações, o inverno chegou avassalador, principalmente para mim que era acostumado com o calor tropical típico de meu país de origem. Eu vivia 24 horas do dia empacotado com casacos e gorros, luvas, cachecóis e, principalmente e initerruptamente ligado, o aquecedor. Quando sai pelas ruas, usava, necessariamente, três agasalhos, no mínimo, além de calças grossas e uma lag por baixo, e os costumeiros assessórios para aquecer-me.

Por insistência de minha mãe e tia, acabei indo passar o Natal na França, em um pequeno povoado próximo a grande e iluminada Paris. A cidade estava ainda mais bela que da ultima vez. Felizmente, tive que dormir uma noite em um hotel e pude constatar o quão diferente estava da ultima vez que lá estive. A cidade estava ainda mais iluminada e decorada com arranjos natalinos, as pessoas ainda mais sorridentes e sinápticas. Foi inevitável rever a Cidade Luz e não recordar os momentos mágicos que vivenciei junto ao meu professor. Os passeios, as palavras ditas, os toques, sorrisos e até mesmo o triste episódio homofóbico que sofremos por nos amar.

Deitado na cama, tudo que eu conseguia pensar eram nas ultimas palavras ditas por Evandro e analisar minha aliança e os objetos - que não consegui deixar em Lisboa - que o homem entregou em minhas mãos e tentando entender qualquer coisa que pudesse explica-lo. Dois dias antes de eu viajar para Paris, já tendo entrado no recesso para as festividades natalícias, sem ainda sequer ter certeza de que iria rever e confraternizar com minha tia e família, a pedido de Claudia e comentários revoltados de Gabriel, convidei o homem a passar a data comemorativa conosco.

-*-

“Oi querido” – sua voz alegre como sempre sou ao telefone ao que o liguei.

- Oi Evandro. Tudo bem?

“Sim, ótimo”. – mesmo tendo certa intimidade com ele, ainda me sentia pouco a vontade para fazer tal convite, visto que dizia respeito a uma data geralmente comemorada em família. E eu sabia como ele se sentia em relação à família, pois muito jovem foi expulso de casa pela sua sexualidade.

- Então... – falei olhando para qualquer ponto procurando algum tipo de apoio ou procurando as palavras certas para convidar. – Claudia te con... Digo, nós, eu Claudia e...

“Não enrola Bruno” – disse rindo.

- Enfim. Gostaríamos de saber se não gostaria de passar o Natal com a gente. Vai ser apenas um jantar simples, mas Claudia gostaria de aproveitar a oportunidade para te conhecer. – pude ouvir uma gargalhada no outro lado da linha, me assustando, o que me fez olhar confuso para o aparelho em minhas mãos.

“Falando assim parece que temos alguma coisa, não acha? Como se tu estivesses convidado seu namorado para apresentar a família”. – se justificou e me fazendo refletir sobre o meu nervosismo. “Em todo caso, diga para a Senhora Claudia que fico lisonjeado pelo convite, mas não poderei aceitar. Tenho u m show agendado para a data.”

- Ah...

“Não me levem a mal, mas você sabe que não me sinto bem com estas datas e reuniões em família, já te falei isso.”

- Te entendo. Eu... – ele me cortou.

“Mas não rejeitarei a oportunidade de conhecê-la. Façamos assim, não a responda. Irei passar aí em sua casa logo mais, e a respondo pessoalmente. Tudo bem?”

- Ok. Mas agora que você falou, realmente parece que estou apresentando um namorado, ou namorada, aos meus pais. – gargalhei.

“Espero que o único que seja apresentado, ou reapresentado, seja Carlos”. – disse finalizando a ligação logo em seguida enquanto gargalhava, me deixando atordoado e sem entender nada ao mesmo tempo em que, mais uma vez, encarava o celular em minhas mãos com uma feição confusa.

Fiquei jogado na cama corrigindo as ultimas avaliações feitas pelos meus alunos para que logo que voltássemos do recesso, pudesse entrega-las, junto das notas finais para, assim, dar minhas ultimas aulas, que seriam de reforço, para fazer uma ultima avaliação e concluir o curso e, por fim, me despedi de tudo: aulas de francês, alunos, universidade, pesquisa e adjacentes. Despedir-me de Claudia e seu filho, Cristal, Caíque e seus pais, Evandro e todas as outras pessoas que conheci nesse quase um ano em Portugal.

Quando já estava anoitecendo, fui tirado de minhas correções por Gabriel, que não estava nada feliz pela visita que tinha na sala. Evandro, por outro lado estava super à vontade implicando com o rapaz. Ele, além de muito bem vestido com um casaco de couro, que logo entregou a Gabriel, ou jogou sobre o garoto, trazia uma bolsa de pano a tiracolo. Cheguei à sala e não demorou mais que 30 segundos para Claudia aparecer, saindo do seu escritório para receber e conhecer a visita.

- Oh, Claudia! – falei ao ver a mulher chegando. – Este é o Evandro. Evandro, Claudia, minha segunda mãe. – sorri espontâneo para a loira baixinha.

- Prazer senhora. – falou tendo de se curvar para abraça-la, ao que sorriam.

- Claudia. Nada de senhora. – disse gentil como sempre.

- Ok. Só posso dizer que é uma honra conhece-la, tendo em vista o quão bem ouvi falar da senhora. Você, perdão. – franzi o cenho constrangido. Realmente parecia que tínhamos alguma coisa. E tudo que eu podia pensar era no quão estranho tudo aquilo parecia.

- Confesso que há controversas de minha parte. – ela falou olhando entre mim e Gabriel, ao que eu o encarei também. Não foi preciso mais que um segundo para que o rapaz jogasse o casaco, que ainda segurava, sobre o sofá e subisse as escadas revirando os olhos nos fazendo rir.

- Imagino. – concluiu. – Não posso duvidar que minha personalidade seja um pouco forte, então causo diversas impressões nas pessoas. Espero que a que fica em você, seja a melhor, ou próxima da de Bruno. – ri finalmente.

- Não duvido, Claudia sempre ver além do visível. – verbalizei o que deveria ser apenas um pensamento causando risos e muxoxos tímidos da mulher.

- Bom, vamos sentar. – a dona da casa convidou e assim fizemos.

- Bruno me falou de um certo convite. – disse me encarando.

- E espero que tenha aceitado.

- É por isso que estou aqui, para não fazer-te uma desfeita. Infelizmente não poderei estar aqui na data em questão, tendo em vista que sou um artista da noite e tenho uma apresentação marcada. Contudo não poderia deixar de te conhecer e responder ao convite pessoalmente.

- Espero que não se importe de eu ter contado que você é uma Drag Queen. – me intrometi.

- De forma alguma. – era até um pouco engraçado como Evandro era tão culto e falava de uma maneira tão educada, diferente de sua personagem, Eva, que era totalmente desbocada e do nada, transformava uma simples frase casual em uma com apelo sexual. Personalidades completamente opostas.

- Fico lisonjeada pela delicadeza. – eu estava me segurando ao máximo para não rir da formalidade com o qual os dois, propositalmente, se tratavam em uma conversa completamente casual. – Mas imensamente triste pela recusa.

- Acredito que não faltarão oportunidades.

- Não mesmo. Inclusive, estendo o convite para a noite de réveillon. Não será muito diferente. O que me lembra. – ele me olhou. – Falou com Carlos sobre o Natal e o Réveillon? – os dois me encaram com as sobrancelhas elevadas esperando minha resposta.

- Não. Desculpa Claudia, mas não tenho coragem de ligar para ele com o fim pessoal. Até tentei falar por mensagens, mas ele não me respondeu. – falei olhando para o chão. Ninguém falou nada por alguns instantes, até Evandro quebrar o silencio.

- Bem, não é porque eu não esteja aqui, que eu não posso fazer a minha parte. – falou abrindo a bolsa meramente grande em seu colo e tirando de lá três livros unidos por uma fita vermelha com um laço ao centro. – Te pedi que me lembrasse de presenteá-lo com um exemplar de cada um de meus livros. – disse me entregando.

- Obrigado! – o abracei em agradecimento, e com um sorriso sem tamanho nos lábios, como os de uma criança foram de imediato tirar o laço para folhear os livros quando fui interrompido pelo homem.

- Desculpa Bruno... – o olhei confuso ao que ele segurou minhas mãos. – Você não falou nada sobre os livros... Achei que não tinha se identificaria. – parei sem entender nada do que estava acontecendo.

- Então para quem é? – perguntei sorrindo irônico agora olhando entre Evandro e Claudia, que estava tão confusa quanto eu.

- Você me falou tanto de seu professor, o quanto ele é um adorador de poesia, que mesmo não o conhecendo pessoalmente, é como se nós fossemos íntimos. E, sinceramente, seria uma garfe não o presenteá-lo em uma data tão importante.

- O Carlos é ateu, não comemora o Natal. – muito embora ele participasse da festividade por ser uma data familiar.

- Ainda sim. Infelizmente, não será possível eu entregar diretamente para ele, você, por outro lado, poderia perfeitamente fazer isto em meu nome. – de soslaio, eu poderia ver a expressão alegre no rosto de Claudia, como se ela tivesse entendi alguma coisa nas entrelinhas.

- Ok... – falei suspeito os encarnado.

- Também trouxe uma coisa para a senhora. – disse voltando a bolsa e pegando uma pequena embalagem.

-*-

Havia sido um momento extremamente confuso, visto que ele me conhecia, somos amigos, mas mesmo articulando sobre padrões éticos e amizade, ele nada me deu. Não que eu estivesse esperando ou cobrando alguma coisa. Apenas que não fazia sentido Evandro presentar Carlos com livros de poesia de sua autoria. Embora minha vontade fosse de questionar, deixei o acontecimento por isso mesmo, desejando abrir o embrulho e ler os poemas antes de entrega-lo.

Acabei que não entreguei o presente. Não porque eu não quisesse, mas por não conseguir entrar em contato, mesmo quando Claudia o convidou para passarem o Natal juntos e afirmando que eu tinha algo para entrega-lo. A mulher não quis ficar com os livros para fazer a entrega em nome do meu amigo, argumentando que havia sido uma tarefa direcionada a mim. Não sei se ela e Evandro estavam com algum segredo, já que eles ficaram conversando a sós logo que subi para conversar com Gabriel, ou ela havia ficado chateada por eu não passar o Natal com sua família.

Meu Natal com minha tia e primos não foi mais do que o esperado. Fui recebido por abraços e cuidados por nos revermos. Minha principal companhia, durante todo o período que fiquei em sua casa, foi de Ella, minha prima, que me contava historias de minha avó enquanto era viva e eu de nossa família que residia no Brasil. Aproveitei a oportunidade que estávamos reunidos, e fiz uma chamada de vídeo com meus pais, já que há algum tempo minha mãe não via sua irmã, e vice versa. Único contato que existia entre as duas era por telefone, por finitos motivos, entre eles o fato de minha tia não ter familiaridade com computadores e seus filhos morarem fora e Ella ser bastante ocupada. Além de eu nunca ter me interessado de facilitar este contato, por não as conhecer.

Na noite de Natal, para minha surpresa, minha tia me presenteou com um relógio de bolso banhado a ouro branco e detalhes em dourado que pertenceu ao meu avô, que foi de minha avó e ficou para minha tia quando Vó Edith faleceu. Na parte interior do relógio estava gravado “Jean&Edith”, envolto de um coração. Nada mais romântico para a época. Nada que me deixasse mais feliz.

Voltei para Lisboa sem ter a oportunidade de saber o motivo de minha tia ter me presenteado com tal tesouro. Era fato que o objeto era tão significativo para ela quanto foi para mim. E eu não poderia ficar mais emocionado com a consideração. Meu presente não teve um terço do significado que a relíquia, vulgo relógio de bolso, que analisei o caminho inteiro de volta, fazendo-me esquecer até dos livros e de meus problemas psicoemocionais, ou em meu professor. Era apenas sorrisos para o objeto.

Quando cheguei a Portugal, enfadado pela viagem, dormi por quase um dia inteiro, levantando-me apenas para comer, beber água e fazer minhas necessidades fisiológicas. Sequer conversei com Claudia como havia sido seu Natal ou contar com havia sido o meu. Tudo que eu conseguia era dormir e pensar no quão mais frio é a França comparada a Portugal. Além da felicidade de meu presente, não larguei sequer enquanto dormia.

Quando finalmente estava cem por cento recuperado de meu cansaço, foi que conversamos. Como ficou combina, Carlos veio passar o Natal em sua casa, mas indo embora logo depois do jantar, pois também havia combinado com Rafael e sua família, de passar parte da noite em sua casa. Além meu professor, sua família, cujo conheço poucos e não tenho qualquer contato, vieram para sua casa ‘ceiar’.

Acabei também ganhando um presente dela, mesmo atrasado, mas que ainda estava abaixo da enorme arvore que ornamentava a sala. Igualmente ao relógio de bolso, foi expressivo e incomparável. Claudia me presenteou com um portar-trado com uma foto de nós dois e Gabriel, que mantinha uma expressão seria, já que na época que tiramos a foto não éramos “amigos”. Eu, em contrapartida, a presenteei com um par de brincos compro na Itália, juntamente a pulseira de couro que presenteei Gabriel e uma lembrancinha para Carlos, mas levando em consideração que não nos encontramos ou nos falamos, deixei para entregar, juntamente com os livros, no dia de seu aniversario, no dia primeiro de janeiro, ou seja, amanhã. Ou na virada de hoje para amanhã.

Após dormir amanhã toda, levantei-me já na hora do almoço. Foi uma surpresa para mim quando cheguei à cozinha e Claudia me confessou que não passaríamos a virada de ano em sua casa, como estava combinado. Em vez disso, a mesma me explicou que a confraternização havia tomado maiores proporções e sua casa não seria o suficiente para receber seus convidados: alguns membros de sua família, amigos do trabalho, alguns clientes e colaboradores, Carlos, Marcel e sua família, Evandro e Patrícia, entre outros. Sendo assim, com ajuda dos convidados, conseguiu o espaço de uma danceteria, onde poderíamos festejar despreocupado com o frio, já que havia aquecedores, o que para mim foi um alivio.

Fui obrigado a confessar que também foi um alivio saber que não precisaríamos nos preocupar com a ornamentação, já que eu tinha me comprometido que ajudaria a organizar sua casa para logo mais a noite. Com a mudança de espaço, acabaram por contratar uma empresa especializada. Sendo assim, tal a empresa estaria responsável não somente pela ornamentação e organização dos espaços, mas também pelo Buffet. Além do mais, o local não era tão longe da casa de Claudia, por isso ela poderia ficar de estar presente e opinar sobre o que lhe achasse cabível.

Passei a tarde aproveitando para dormir um pouco mais, na expectativa de aproveitar ao máximo da noite sem cansar tanto. Contudo, antes de me arrumar para irmos para o local, mantei uma mensagem para meus pais pedindo para conversar com eles. Infelizmente não tive resposta. Em vez disso, encontrei Guilherme disponível e não me contive em fazer uma chamada de vídeo. A primeira desde que vim para Portugal.

- E aí cara! – falei sorrindo.

- Diz aí Bruno! Já é ano novo aí? – Guilherme estava apoiado em uma cabeceira de cama, com o peito nu, como era costumeiro ficar.

- Ainda não, faltam algumas horas. Mas feliz ano novo!

- Feliz ano novo! – devido ao tempo que não conversávamos, um silencio, devido a falta de assunto se instalou por alguns instantes.

- Então... – procurei algo em minha mente. – Tem falado com a Bia e o Felipe?

- Tenho sim. Eles não veem a hora de você chegar. Você é o assunto da hora. – riu-se.

- Serio? Eles são muito besta. – acompanhei. – Mas há alguma novidade? Como estão às coisas por aí? – no mesmo instante meu celular apitou com a mensagem de meu primo afirmando que já estava ligando o computador.

- Tá tudo tranquilo. A Bia tá toda alegre agora que finalmente oficializou o namoro. – imediatamente um sorriso surgiu em meu rosto com a possibilidade de ser com Felipe.

- Com quem? – perguntei ansioso para confirmar.

- André. – meu sorriso sumiu tão rápido quanto havia surgido, ao que uma nova mensagem de meu primo chegava perguntando o que acontecia que não conseguia consolidar a chamada.

- André bolsista da biblioteca? – quis me certifica.

- Exatamente. Se bem que ele perdeu a bolsa. – riu de lado. – Mas por que ficou tão tenso com isso? – perguntou ainda com o sorriso de lado e as sobrancelhas franzidas.

- Nada. Não foi nada. Ei cara, vou ter que desligar. Meus pais estão tentando falar comigo e eu tenho que sair daqui a pouco. Até mais. – tentei um sorriso acenando para a câmera.

- Tudo bem. Valeu cara. E feliz ano novo!

- Igualmente! Em breve estou de volta. – finalmente desliguei a chamada.

Ao que confirmava a chama de vídeo de meu primo, peguei-me pensando no porquê de ter me omitido o fato de ter voltado com André. Senti-me mal por isso. Talvez fosse simples implicância ou ciúmes, mas talvez eu estivesse chateado pelo fato de ela não ter dado uma chance para meu amigo, afinal ele sofreu durante dois anos por uma oportunidade que nunca apareceu.

- Oi família! – afastei tais pensamentos ao que minha mãe apareceu ao lado de meu pai e meu primo na sala de casa.

- Oi filho! – minha mãe falou sorrindo ao que meu primo sibilava “e aí, pegador” e meu pai acenava.

- Como estão os preparativos para a noite? – perguntou ela ainda sorrindo.

- Nas melhores expectativas.

- Feliz ano novo adiantado Bruno! Já me vou, aproveite aí. – disse a acenado atrás do sofá.

- Feliz ano novo Patrick. Não vai passar o ano novo com papai e mamãe? – perguntei entre risos.

- Não dessa vez. Digamos que eu voltei o namoro e vou passar o réveillon com a família de...

- Vai iludir a menina de novo. – minha mãe adiantou-se.

- Não é assim tia. Eu gosto dela de verdade. – disse com um sorriso travesso.

- Gosta? E por que não é fiel? – meu pai perguntou ao que os dois, meu mais e mãe, viravam no sofá para encara-lo.

- Só não fui feito para uma mulher só. – Patrick me olhou sorrindo e saiu correndo ao que minha mãe tentou acerta-lhe um tapa e fez menção e se levantar o xingando de ‘desnaturado’ e outros adjetivos não tão pejorativos, ao mesmo tempo em que eu ria abertamente com a cena.

Fiquei conversando com meus pais por mais algum tempo, expressando quanta saudade sentíamos um do outro, contando quais eram as expectativas para a noite, até Claudia vir me apressar, porém acabou se juntando a mim por mais alguns minutos antes de finalmente nos despedirmos desejando felicitações para o ano vindouro.

Após tomar um banho caprichado, vesti a roupa que havia selecionada há alguns dias: uma calça jeans da mesma branca, uma camisa social igualmente branca, mas com detalhes pretos nos botões e gola, um blazer azul marinho e meus vans, que adotei como peça obrigatória durante todo o inverno Europeu. Como supersticioso que sou, não pude evitar vestir uma cueca vermelha, na esperança de resgatar meu amor no ano que nascia.

Na sala, encontrei uma mulher tão linda quanto o esperado. Como passei o dia todo trancado no quarto, não soube em qual momento Claudia saiu, se é que saiu, para se arrumar. A mulher vestia uma calça boca de sino branca e uma blusa da mesma cor rendada, folgada que deixava parte de suas ombros amostra e mangas também boca de sino. Tudo isso sobre um salto plataforma. Além disso, seu cabelo estava perfeitamente ornamentado com uma trança lateral com alguns broches prata. Simplesmente maravilhosa.

- Magnífica! – antes que eu pudesse falar qualquer coisa, a voz de Carlos soou atrás de mim me assustando. Claudia sorriu encantada em agradecimento retribuindo o elogio.

Eu gostaria de dizer o mesmo para aquele homem. É fato que ele sempre estava admirável, até mesmo nu, como pude perceber em ocasiões intimas. Mas é certo que naquele dia, ele estava destoante de qualquer dia que eu me recordasse naquele momento. Sua barba por fazer, seus olhos negros e brilhantes ao que me encarou, seu cabelo penteado para trás como de costume, mas belamente, sua barba por fazer. Tudo isso combinando perfeitamente com sua habitual forma de si vestir: camisa social, na ocasião, branca, um colete cinza e uma grava branco gelo, calça igualmente social branca e sapatos sociais marrons. Simplesmente lindo.

Balancei a cabeça ao perceber que havia ficado alguns instantes apreciando aquela imagem e pedi licença ao mesmo para subir as escadas, onde ele estava j unto de Gabriel, para subir novamente, lembrando-me automaticamente dos livros e meu presente que havia comprado. Sequer me questionei do motivo de meu professor estar junto de Gabriel no andar de cima, tendo em vista que o garoto não se dar bem com ele. Ou porque Gabriel estava vestido como se fosse a um enterro, com roupas escuras: calça jeans e camisa simples com gola em V preta e um lenço vermelho, que constatava.

Voltei à sala, onde todos me esperavam, com os livros em mão e meu presente no bolso, já que somente entregaria no dia de seu aniversario. Por algum motivo eu sentia meus músculos tencionarem ao que eu me aproximava de meu professor. Claudia tinha um sorriso contido, ao mesmo tempo em que seu filho nos olhava com cara de tédio e Carlos com uma expressão divertida pelos livros envoltos em uma fita vermelha.

- Carlos, é... – franzi a testa pensando como falaria que era um presente de Natal de um desconhecido para ele. Talvez ele pensasse que era meu e estava com vergonha de presenteá-lo em meu nome. – Vai parecer um pouco estranho, mas... Bom, você não o conhece, mas ele o conhece...

- Não estou entendendo. – agora sua face exalava duvida, o que era compreensível a meu ver.

- Evandro. Ele é um amigo meu. Posso te apresentar hoje à noite, se desejar. – disse o encarando, mas evitando seus olhos. – É um pouco complicado, para não dizer estranho, mas ele pediu que o entregasse estes livros. São de poesia, de autoria dele.

- São para mim? – perguntou dando uma risada nasalizada.

- São. Era para ter te entregado no Natal, mas eu viajei, então... – disse entregando por fim.

- Ok. Obrigado. – ele analisou o embrulhou frente e verso e logo voltou a me encarar. – Por favor, me mostre quem é ele, preciso pelo menos agradecer pessoalmente. – apenas acendi afirmando e andando em direção a Claudia, que estava ao lado da porta e simplesmente deu de ombros.

Como já era um pouco tarde, pegamos nossos casacos e sobretudos, no caso de Claudia e Carlos, e fomos para o local onde passaríamos a vira de ano no carro de meu professor. Não conversamos basicamente nada durante o caminho, tudo não passava de elogios, merecidos, à Claudia, que agradecia afirmando ser exagero de nossa parte.

O ambiente estava incrivelmente lindo. Rosas brancas decoravam todo o espaço, além de tecidos dourados e enorme ‘Feliz 2015’ dourado e brilhoso pendurado no teto ao centro do salão, junto de um cronometro marcando o tempo que faltava para o novo ano. A mesa de aperitivos ao canto estava igualmente linda. Um bolo de três andares branco e dourado no centro da mesa chamava atenção de qualquer pessoa, arrodeado de variados de aperitivos. Ao redor da pista de dança, uma mesa extensa para cerca de 100 pessoas estava quase completa, além de outras várias mesas redondas para 10 pessoas, no máximo, na outra extremidade do salão. Algumas também já ocupadas.

Claudia logo se despediu de nós temporariamente e se juntando a grande mesa, onde se encontrava aparte mais profissional na ocasião. Gabriel, como talvez pelo ciúme que sente pela mão, ou por não estar à vontade com Carlos, a acompanhou, enquanto eu e meu professor, em silencio, nos juntávamos a Marcel e sua família. Caminhei em encontro de Cristal, linda como sempre, que logo se levantou para me abraçar, ao que eu cumprimentava todos a mesa.

- Tá linda! – sussurrei em seu ouvido.

- Você igualmente. – respondeu segurando meus ombros e me olhando de baixo a cima. – Oi Carlos. – acenou para o mesmo sorridente. – Vocês... É o que estou pensando? – arqueou uma sobrancelha.

- Não. – sentei-me ao seu lado acenando divertido para Caíque que comia distraída alguns docinhos. – Ei, Caíque! Dá-me um pedaço. – rapidamente o menino negou freneticamente com a cabeça abocanhando tudo de uma vez, ficando impossibilitado de mastigar, e não demorou a ser advertido por Rafael.

Não demorou muito para que Evandro chegasse. Quando o avistei na entrada, parecia um pouco perdido no local, já que conhecia basicamente apenas eu. Sem pressa, pedi licença a todos e me dirigi ao seu encontro, recebendo um olhar atento de Carlos, que estava ao meu lado.

- Achei que Patrícia viria com você. – falei me aproximando.

- Ela pediu solenemente desculpas, - ironizou com desdém e ri divertido - mas não poderá comparecer, pois surgiu um compromisso inadiável.

- Você me fez passar por um grande constrangimento. – falei serio e ele ergueu as sobrancelhas em questionamento. – Entreguei os livros a Carlos. Você tem noção de como é entregar o presente para alguém, e ele não conhecer o remetente?

- Tenho. – riu alto. – Ele já chegou? – apontei para a mesa onde estávamos sentados. Não me preocupei em apontar, visto que poderia disfarçar que estava o convidado a se juntar a nós, o que era verdade. Contudo, me sentia nervoso com sua presença por algum motivo desconhecido. – Ótimo, quero conhece-lo. – Evandro saiu caminhando em direção ao seu encontro ao que suspirei o acompanhando. – Carlos? – chamou sorridente para Rafael que o olhou estranho, e só então me dei conta que nunca havia sequer apresentado meu professor por foto ou semelhantes.

- Pois não? – cheguei a tempo de ver a cara questionadora que Carlos o lançava, desviando apenas para me encara, com as sobrancelhas franzida, curioso.

- Carlos. – me adiantei. – Este é o Evandro, o autor dos livros. Evandro, este é Carlos, que você já conhece, Cristal, Rafael, Marcel e o filho deles, Caíque. – falei apontando para cada um, recebendo olhares curiosos. – Espero que não se incomodem que ele sente conosco. – disse ao que o homem ao meu lado corria encantado para o menino a nossa frente.

- Claro, sinta-se a vontade. – Carlos se adiantou. – E obrigado pelo presente. – agradeceu no instante em que sentávamos, com Evandro ao lado de meu professor.

- De nada, querido. Já os leu? – perguntou curioso. Todos a mesa estavam atentos a conversa, os encarando descaradamente.

- Não tive a oportunidade. – sorriu educado, no mesmo tempo em que meu amigo se curvava para cochicha ao no ouvido de Carlos, me fazendo franzi a testa em pura curiosidade.

Evandro sorriu contido levantando uma sobrancelha para mim e voltou sua atenção para Marcel, que estava mais próximo, e Rafael. Quando voltei minha atenção para meu orientador, o mesmo já havia levantado da mesa e caminhava despreocupadamente para a saída do local, me deixando completamente desnorteado sobre o que havia acontecido.

- O que foi isso? – Cristal me tirou do transe. Unicamente dei de ombros sem saber o que responder, com um olhar totalmente perdido.

Cerca de meia hora depois Carlos voltou a nos fazer companhia, sentando-se novamente ao meu lado. Por mais que eu estivesse me corroendo para saber o que Evandro o havia dito, me contive e dediquei-me a conversar com as demais companhias da mesa, trocando pequenas palavras com o homem ao meu lado, apenas quando necessário. Quando percebemos, o cronometro já avisava que estávamos nos últimos cinco minutos do ano, quando Claudia chegou acompanhada de um garçom trazendo um balde de gelo com uma garrafa de champagne e uma bandeja com taças, fazendo todos levantarem em ansiedade.

Rapidamente o relógio começou apitar o ultimo minuto enquanto éramos servidos por Marcel. Eu sorria abertamente para todos, evitando Carlos, agitado por mais um ano que chegava e já sentindo um aperto no peito ao recordar que logo mais estaria indo embora. As lembranças de tudo que vivenciei nos últimos meses bombardeava minha cabeça com flashes rápidos. Mal percebi que lágrimas já escorriam pelo meu rosto e os fogos começavam a estourar no céu anunciando o novo ano.

Imediatamente busquei o abraço de Claudia que estava entre mim e Cristal, buscando aconchego. Não era um simples abraço de feliz ano novo, era de saudade, agradecimento, contentamento.

- Feliz ano novo! Obrigado! – murmurei ao seu ouvido, me afastando lentamente para encorar seus olhos marejados, lutando para conter as lágrimas e não borrar a maquiagem.

- Feliz ano novo criança. – sorrimos um para o outro emocionado. Logo Gabriel apareceu puxando sua mãe de mim e a abraçando.

Lentamente me virei encontrando Carlos me olhando sorrindo de lado e se aproximando de mim. Senti meu peito apertar, na medida em que sentia seus braços me envolverem em um abraço aconchegante, que há tempos eu pedi em pensamento. O tempo pareceu parar. Mas, depois do que pareceram horar ou segundos, o corpo de meu professor começou a se afastar e me encarou com um sorriso ainda maior. Para minha surpresa nos separamos apenas o suficiente para que pudéssemos nos olhar, finalmente, nos olhos um do outro.

- Feliz ano novo amor!

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Me segura!

(As postagens serão aos domingos!)

Comentários

Há 1 comentários.

Por Niss em 2015-08-17 00:57:15
Paaaaaaara tudooo!!!!!! Genteeeeeeeeeeee assim você me mata Drex. Tenho sugestões de musicad para o proximo capitulo- Me Perdoa Só Pra Contrariar; Foi Deus Edson e Hudson; Foi Por Você Que Eu Esperei Caio Cellos; I Miss You Beyoncé. Não sei se são do eu agrado, mas, acho que letra poderá combinar, tendo em vista que eu espero a reconciliação dos dois. Kisses Niss. Espero ansiosamente pelo proximo capitulo.