Capítulo - XXXI

Conto de Drexler como (Seguir)

Parte da série O destino de Bruno

Amados, desculpem-me o atraso nas postagem. Ocorre minhas férias acabaram e eu estou tentando restabelecer uma rotina onde eu possa escrever, estudar e ter tempo para "as obrigações ajacentes". Enfim. Estávamos, eu e Cesária, postando dois capítulos por semana, na quinta e outro no fim de semana, mas infelizmente não poderemos continuar, embora quiséssemos. Assim como eu, minha companheira de escrita estuda e além disso estuda. Sendo assim, as postagens continuaram somente nas quintas.

É isso. abraço amados! Boa leitura!

Música tema: Nosso Tempo - Chicas

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- Queridos... – falei depois que havia terminado de cantar uma musica em francês e discutirmos a letras, como fazíamos em quase todas as aulas. – Tenho um comunicado a fazer antes de vocês irem embora. Esta semana estarei participando de um evento, aqui mesmo em Lisboa, por isso, para não atrasar nossos conteúdos, continuaremos tendo nossas aulas... – inevitavelmente, uma onde de conversas e protestos ressoou pela sala. – Pessoal! – adverti e aos poucos o silencio foi se estabelecendo novamente. – O evento ocorrerá até sexta-feira, pelos horários da manhã e tarde. E como eu tenho que está presente, nossos encontros serão reduzidos. Não iremos cumprir todo o horário cotidiano, mas reforço: haverá as aulas, ok? Podem ir. – mal tive tempo de concluir a frase, e todos os alunos saíram em disparada.

Continuei na sala por mais alguns instantes organizando meu material. Finalmente, depois de todos os meus papeis e computador dentro de minha bolsa, meu violão em outra especifica, deixei a sala. Contudo, parei abruptamente sobre a soleira ao me deparar com Carlos, também com sua bolsa, escorado na parede em frente à porta. Ele vestia suas costumeiras roupas sociais, sua barba por fazer novamente e mantinha uma expressão seria.

- Professor Carlos? – era assim que eu o chamava nas ultimas semanas, seguindo sua formalidade.

- Olá Bruno. – falou se desencostando e caminhando em minha direção. Senti meu coração inchar de felicidade, mas ele parou logo em seguida. – Podemos? – ele apontou para o corredor, sugerindo que caminhássemos prédio a fora. Apenas concordei com a cabeça. – Tem algum compromisso antes do evento?

- Não...

- Podemos almoçar juntos? – meus olhos brilharam. Inconscientemente, olhei para sua mão a fim de ver se ainda usava a aliança, como eu, e constatei que sim, junto com seu anel de formatura. Contudo, como se tivesse percebido, ele levou a mão para o bolso.

- Claro. – eu tentava, sem sucesso, esconder o sorriso em meu rosto.

Não conversamos muito no caminho. Carlos me levou para o restaurante próximo a universidade que costumávamos ir diariamente desde que chegamos a Portugal. Um ambiente extremamente agradável, popular e ao mesmo tempo sofisticado O estabelecimento era bem iluminada, com alguns pilares dispostos pelo meio do salão contendo luzes e pequenos arranjos de flores.

Como era de se esperar, o local estava meramente cheio devido o horário. Pedimos uma mesa um pouco mais reservada para duas pessoas e seguimos para a mesma. A cada atitude eu me sentia mais cheio de esperança. Mal conseguia conter o sorriso insistente. Ao mesmo tempo, enchia-me de preocupação pelo ocorrido na tarde anterior. Meu acompanhante poderia ter me chamado apenas para conversar sobre meu ultimo desapontamento. Ainda sim, era a primeira vez que iriamos almoçar juntos depois de nosso termino, e só este fato já era o suficiente para mim. Era uma pontada de esperança que me instigava.

Sentamos um de frente para o outro. E não demorou muito para que um garçom viesse fazer nosso pedido. Como se estivesse me testando, Carlos pediu uma bebida e me perguntou se o acompanhava, mas recusei. Depois de quase ter ido para a cama com duas pessoas por estar bêbado, não me permitiria provar qualquer bebida alcoólica. Ficamos em silencio e nos encarando por alguns instantes, até meu professor ter a iniciativa de iniciar o dialogo.

- Como estão as aulas?

- Bem... – eu estava nervoso, por isso mantinha as mãos sob a mesa.

- Estive novamente com a reitoria hoje pela manhã. E já temos uma data para o fim do nosso intercambio. - sorri minimamente. – Poderíamos ir mais cedo, mas preferi esperar até que nossas aulas de língua estrangeira acabem.

- Claro. Seria horrível para os alunos mudarem de professor já no final do curso. – falei sem emoção.

- Exatamente. Poderíamos voltar ainda esse ano e passar o ano novo com nossos familiares, mas sugeri ficarmos até meados de janeiro. – concordei com a cabeça. – Espero que esteja de acordo, pelo contrario posso reverter e voltamos em dezembro mesmo.

- Não. Por mim está ótimo. Confessor que não me preocupo muito de quando retornaremos, pois amo Lisboa. Claro, sinto muita falta de tudo e de todos no Brasil, mas... Agrada-me muito estar aqui. Foi aqui que mudei minha vida para melhor... – falei olhando em seus olhos e com o meu peito queimando em agonia. – e para pior. – disse referindo-me ao nosso termino.

Quando Carlos abriu a boca para dizer qualquer coisa, foi interrompido pela chegada de nossa refeição. Não conversamos muito depois disso. Almoçamos praticamente em silencio e nas poucas palavras que trocamos, foram sobre a pesquisa, as aulas e o retorno ao Brasil em Janeiro. Realmente fora uma boa noticia. Meus pais adorariam saber da novidade, já que os planos iniciais eram de voltar somente em abriu. Quando Carlos conversou a primeira vez com seu orientador e a reitoria, não deixaram uma data exata, agora mais perto do que longe.

Saímos do restaurante direto para o evento, que como era a abertura, aconteceria apenas pela tarde e aconteceria na mesma instituição que éramos veiculados. O evento era tão grandioso quanto o de Paris. Houve apresentações culturais, um breve filme sobre a historia da instituição, discurso da reitoria, do chefe de departamento e dos organizadores. Por fim, uma discursão geral sobre tema do evento.

O céu já estava crepuscular quando teve fim ao encontro. Carlos quis ir me deixar em casa, mas acabei aceitando depois de certa insistência. Fomos o caminho todo em silencia, sequer falamos sobre o evento que estava acontecendo ou sobre como faríamos no dia seguinte. Apenas agradeci ao que chegamos a casa e desci do carro, já que o mesmo não quis entrar para ver Claudia.

Na verdade, pera minha total surpresa, não havia ninguém em casa. Ela tudo e total silencio. Contudo, encontrei um bilhete de Claudia sobre a mesa de centro avisando que tinha ido ao mercado com Gabriel. Apenas subi para o quarto, me tranquei, tomei um banho e me joguei na cama com meu computador a fim de dar a noticia aos meus pais.

Não podendo ser diferente, meus progenitores vibraram em contentamento. Meu pai preferia que eu voltasse em dezembro para que passássemos pelo menos a virada de ano juntos, mas justifiquei o motivo e acabaram entendendo. Minha mãe, por outro lado, não conseguia conter o sorriso por saber que eu voltaria mais cedo para casa. Para ela isso já era o suficiente. Patrick acabou escutando por acaso e pareceu mais alegre ainda, pois segundo ele, não aguentava meus pais reclamando da falta que eu fazia a eles, o que me rendeu muitas risadas e uma pequena tapa de minha mãe e risos.

Depois de despedir-me de minha mãe, resolvi contar a novidade para Beatriz. Mandei uma mensagem para ela e meia hora depois ela apareceu toda sorridente ao lado de Felipe. Fiquei um pouco desconfortável, pois mesmo sabendo que eles continuavam se falando, era a primeira vez que os via juntos. Ele, contudo, pareciam animados para uma festa que aconteceria logo mais. E quando contei sobre meu regresso, meu desconforto piorou ao que eles se abraçaram e pularam em minha frente. Eu sentia vontade de perguntar sobre eles, mas não tinha coragem.

Depois de quase meia hora de conversa, Guilherme apareceu todo arrumado. Ele parecia muito mais próximo dos meus amigos nos últimos meses, o que me alegrava um pouco. Tive eu contar a novidade mais uma vez, o que não me incomodava, já que tanto quanto eles, eu estava fervilhando por poder revê-los pessoalmente em breve.

Somente me despedi deles quando ouvi que Claudia havia chegado e os meninos avisaram já estarem atrasados para sua festa. Desse modo, nos despedimos e pude descer para encontrar a mulher na cozinha organizando as compras. Não encontrei Gabriel pelo caminho, tão pouco o ouvi no quarto.

- Oi Claudia.

- Oi criança. – disse sorridente virando a cabeça em minha direção.

- Tenho novidades. – caminhei até a mesa e puxei uma cadeira para sentar assistindo a mulher continuar seu trabalho. – Carlos veio falar comigo hoje.

- Que coisa maravilhosa. – ela parou o que estava fazendo e virou-se rapidamente para me encarar com um sorriso cheio de esperança. Mas franziu o cenho em confusão ao me encontrar serio. – Foi sobre ontem? – neguei com a cabeça.

- Não tocamos no assunto. – suspirei pesadamente para me acalmar. Claudia sentou-se a mesa (de quatro lugares) redonda de frente para mim e prestando toda atenção no que eu tinha a falar. Agradeci silenciosamente por isso. – Foi sobre nossa estadia em Portugal.

- Oh meu Deus! O que foi? – ela levou às mãos a boca com os olhos arregalados em preocupação ao que eu dei um pequeno sorriso de lado.

- Ele tem conversado com a universidade a fim de reduzir nosso intercambio. Eu não sei bem porque ele quer voltar ao Brasil mais rápido, mas ele conseguiu. – tentei parecer o mais tranquilo possível, pois Claudia era uma das poucas pessoas que eu deixaria para trás com o coração na mão.

- Vocês vão embora? – ela perguntou suspresa.

- Estava previsto para irmos somente em abril, mas como nossa pesquisa está adiantada, Carlos conseguiu com a reitoria e seu orientador rever as datas. Nós iriamos agora em dezembro, mas ele optou por irmos em janeiro. Mas ele não falou uma data especifica. – Claudia não respondeu nada. Assisti suas mãos caírem como uma pedra sobre a mesa, seu rosto sem expressão e a lágrima solitária deixar seus olhos.

- Deus... – Claudia disse em um sussurro.

- Não fique assim, Claudia, ainda tem pelo menos três meses para a senhora me aguentar. – forcei um sorriso e levantei-me para abraça-la.

Fiquei abraçado com Claudia por mais alguns minutos. Foi, como eu imaginava, uma noticia chocante e inesperada. Eu estava feliz com a noticia, não podia negar, eu poderia rever meus pais e amigos logo mais. Ou pelo menos antes do esperado. Contudo, eu estaria despedindo-me da família que construí nesta terra que aprendi a estimar e prezar. Expliquei para a mulher de olhos verdes detalhes sobre o encurtamento do intercambio, conversamos por quase uma hora, ao mesmo tempo em que assistia Claudia cozinhar. Jantamos somente nós dois, pois seu filho estava tendo aula na faculdade.

Eu nunca entendi os horários da graduação de Gabriel, pois por semanas o garoto sequer ia à universidade, ou ia pela manhã, tarde e em algumas vezes a noite. Nunca conversamos sobre o assunto, tão-somente conclui que ele tinha um horário totalmente maleável. Ou talvez fosse graduação a distancia, já que ele passa horas trancado em seu quarto.

Subi para meu quarto logo depois do jantar. Estava um pouco cansado, mas preferi dar uma repassada nas anotações feita na palestra mais cedo e fazer algumas anotações e estudar para o trabalho que apresentaria no dia seguinte pela tarde. Ainda preparei uma lista de exercício para a aula seguinte antes de definitivamente dormir.

“// Acordei, como de costume, muito cedo para fazer minha higienização matinal, tomar meu banho e comer algo antes de ir trabalhar. Organizei minha bolsa com notebook e papeis e desci até a cozinha encontrando Claudia e Gabriel a mesa. Não conversamos muito durante a refeição, apenas troquei alguns olhares com Claudia. Por fim, ambos saíram, a mulher para trabalhar e o filho para encontrar um amigo, o que era estranho.

Terminei minha refeição e subi para meu quarto a fim de pegar meu material, mas quando abri a porta de entrada para ir trabalhar, Carlos estava para tocar a campainha. Meu susto foi inevitável. Ele estava radiante aquela manhã. Algum tempo eu não o via sorrir em minha direção, o que me fez retribuir da mesma maneira.

- Posso entrar? – pediu ainda sorrindo. Meu peito encheu-se de esperança, mas logo se esvaiu ao lembrar que eu tinha um compromisso.

- Ah, não quero ser desagradável, mas... Tenho que ir trabalhar. – mostrei minha bolsa. Não pretendia trabalhar nada com música devido ao curto tempo, por isso não levava o violão.

- Não, pedi que dispensassem seus alunos por hoje. – abri a boca para contestar, mas Carlos foi mais rápido entrando dentro de casa e explicando o motivo da visita. - Não foi problema conseguir seu atestado devido ao evento que estamos participando. E eu preciso conversar com você com urgência. – ele sentou-se na poltrona com uma expressão seria no rosto, o que me assustou. O acompanhei e sentei-me a sua frente, em no sofá grande, e depositei a bolsa ao meu lado.

- É algo serio? Houve algum imprevisto sobre o retorno ao Brasil...? – ele me cortou com um sorriso de lado.

- Não tem nada ver com a volta ao Brasil. Diz respeito sobre nós. – franzi a testa em confusão.

- O qu... O que têm nós? – eu não sabia o que fazer, dizer ou senti. Eu estava nervoso, lágrimas de esperança queriam brotar em meus olhos, um nó formou-se em minha garganta.

- Bruno... – ele disse meu nome serio e segurou minha mão. – Este ultimo mês foi o pior de minha vida. Talvez se nunca tivéssemos tido nada, eu conseguiria suportar. Talvez se eu nunca tivesse te trazido para Portugal. E só talvez. Mas eu não posso mais. – seu semblante era triste e suplicante. Eu, por outro lado, já sentia meu peito subir e descer cheio de emoção e esperança. Sua mão segurava firme na minha, sem querer solta-la. – Eu não consigo mais viver perto e longe de você... Eu te amo! – Carlos moveu-se e sentou ao meu lado no sofá, ao que as primeiras lágrimas desciam de meus olhos e os seus marejavam.

- Carlos... – tentei dizer algo, mas um nó crescente formou-se em minha garganta.

- Me perdoe Bruno, por ser tão rude e não te dar espaço para se justificar. Você sabe que errou e está tentando concerta o seu erro, e eu quero fazer o mesmo, com o meu erro, seguindo o seu exemplo. Me perdoe por ser tão insensível.

Não esperei que ele dissesse mais nada, assim como também não disse. Eu não conseguir falar, mesmo que eu quisesse, e não havia o que dizer, apenas o abracei iniciando um beijo necessitado, ali mesmo, no sofá, sem medo que alguém aparecesse. Esperei por aquele momento por semanas, eu o necessitava. Talvez o melhor beijo que já demos, ou talvez fosse à necessidade e a saudade de estarmos juntos, de tocar um ao outro, daquele ato. Um beijo molhado de lágrimas, minhas e dele. Somente a união de nossos lábios, mas mais importante ainda: expressivo.

Carlos fez o que eu fui incentivado a fazer desde o nosso termino: ter uma iniciativa de reconciliação, explicar o mal entendido. Claudia, Felipe, Beatriz, Cristal, Evandro, Patrick e até mesmo meu pai. Todos. Todos estiveram ao meu lado dizendo que eu deveria ir atrás dele e me explicar, mas eu não conseguia. Uma barreira me impedia de dizer a verdade.

Já que não tinha mais nenhum compromisso pela manhã e não havia ninguém em casa, não perdemos tempo. Eu o precisava. Aprofundamos o beijo e não demorei a arrancar sua camisa jogando-a para qualquer lugar. Ele fez o mesmo comigo, separando nossos lábios apenas para o ato e unindo-os rapidamente. Segurei se rosto com as duas mãos, acariciando-o, ao mesmo tempo em que o puxava para levantar-se. Senti as suas mãos afagar minhas costas e logo depois uma mão desceu, pelo meu peito nu, até chegar à braguilha de minha calça e abrindo seu botão e zíper.

- Aqui não. – murmurei entre beijos.

Não houve resposta. Sem ver ao certo para onde íamos, com os lábios unidos e olhos fechados, totalmente desajeitado, comecei a puxar meu professor pela sala até chegar a escada, onde finalmente nos separamos e nos encaramos sorrindo. Olhos vermelhos, bochechas molhadas, cabelos já desgrenhados e lábios vermelhos e inchados. Segurei sua mão e o puxei para o andar de cima. Antes de entrar no quarto, fui empurrado contra aporta ganhando mais um beijo arrebatador. Sua língua percorria minha boca com avidez lutando contra a minha pelo controle. Abri a porta, ainda de costas, e fomos caminhando sem separar nossas bocas até cairmos sobre a cama.

Carlos começou a puxar minha calça e, forçadamente, separamos nossas bocas para que ele concluísse o ato levando à cueca a tira colo. Aproveitando a distancia, ele fez o mesmo com sua roupa e voltou a me beijar, agora como veio ao mundo. Eu não queria nada, não precisava de nada. Não tínhamos tempo para preliminares, necessitávamos um do outro. Meu professor apoiou as pernas uma de cada lado de meu corpo, sobre meu abdome, e encaixei meu membro em sua entrada, sem qualquer preparação, lubrificante ou preservativo para ajudar na penetração. Mas antes que completássemos o ato, ouvimos alguém bater na porta, que sequer percebi ser fechada.\\”

As batidas na porta eram incessantes. Abri os olhos atordoados procurando por Carlos ao meu lado da cama e me sentei olhando em todas as direções, mas não havia ninguém em toda extensão do quarto. Eu estava só e tudo, ao que pareceu, não passou de um sonho, no qual eu havia sido acordado na melhor hora. Cai pesadamente sobre meu leito aflito com tudo que havia acontecido na ilusão, não só sobre o sexo, mas pelas palavras ditas a mim. Estava irritado comigo mesmo por não conseguir me abrir com Carlos. E aborrecido com quer quem estivesse na porta.

As batidas na porta me tiraram de meus pensamentos e pensei em levantar para ver quem me acordará, mas ao tirar a coberta sobre meu corpo, percebi que a ereção causada pela fantasia era perceptível mesmo que tentasse disfarça com a camisa folgada que vestia. Cobri-me rapidamente e, com a voz sonolenta ainda, pedi que a pessoa entrasse. Gabriel colocou apenas a metade do corpo para dentro do quarto com uma expressão irritada.

- Aconteceu alguma coisa? – perguntei preocupado e sentando-me a cama.

- Aconteceu. – abri a boca para perguntar o quê, mas ele respondeu antes. – Quando for se masturbar, faça em silencio, ninguém precisa ouvir os seus gemidos. Principalmente a minha mãe. – senti meu rosto queimar em constrangimento.

Antes que eu pudesse dizer algo, se é que conseguiria dizer algo, o rapaz saiu batendo a porta atrás de si com uma pancada alta. Fiquei estático, na mesma posição, sem acreditar. Fazia um mês que Carlos terminara comigo e eu nunca havia sonhado com ele, era apenas a lembrança de nossos momentos ou tormentos lembrando nosso termino. Mas nunca uma completa fantasia, era sempre uma lembrança. Além de tudo isso, havia sido um sonho erótico e que eu estava gemendo audivelmente. Gemidos suficientemente altos capazes de atravessarem a parede de meu quarto e chegarem aos ouvidos de Gabriel.

- “E se Claudia ouviu?” – pensei aterrorizado e deixando meu corpo cair como uma pedra.

Fixei meu olhar no teto de gesso branco pensando em como encararia o rapaz a partir de agora. Ou sua mãe. Ele tinha toda e completa razão, mas eu também não tinha culpa, foi inconsciente.

- “Mas e se o sonho for uma premunição?” – pensei enchendo meu peito de esperança.

Peguei meu celular ao lado da cama e conferi a hora. Ainda era muito cedo, o que justificava a roupa de dormir e o cabelo bagunçado de Gabriel, já que quando eu descia para tomar café de manhã, ele sempre estava com um bom visual. Relutante e com medo, levantei-me da cama indo ao banheiro fazer minha higienização e tomar um banho.

Quando desci, apenas Gabriel estava na cozinha tomando café. Eu estava nervoso, por isso apenas dei as horas em cumprimento, recebendo um olhar severo como resposta. Sentei-me a mesa o mais distante possível do rapaz, evitando sequer olha-lo. Eu sentia que ele me encarava, mas não trocamos nenhuma palavra durante toda a refeição. Quando Gabriel fez menção de se retirar, acordei-me de algo que precisava conversar com ele há algum tempo.

- Gabriel... – ele parou em pé segurando o prato vazio. – Sua mãe está em casa?

- Não. – respondeu caminhando até a pia.

- Será que eu poderia ter uma conversa com você? – indaguei cauteloso virando-me meu tronco para encara-lo.

- Não preciso saber de suas intimidas. – Gabriel não me olhou enquanto caminhava em direção a saída.

- Não. Não é sobre... O que aconteceu mais cedo. – falei quase em um sussurro e baixando minha cabeça para encarar meu prato.

- Sobre o que é então? – ele estava no batente da porta, de costas, olhando sobre os ombros.

- É... Eu... Eu queria tirar uma duvida. – franzi os lábios em duvida se deveria continuar e ao mesmo tempo com medo da reação de Gabriel. Ele, por outro lado, uniu as sobrancelhas em confusão.

- Sobre o que?

- Rafael. – silabei. Meu corpo parou quando Gabriel caminhou em minha direção, mas sentou-se a minha frente com as mãos unidas sobre o mármore com uma feição calma e tranquila. Ele nada disse, o que me fez pensar que era o alvora para continuar. – Eu sei que você não gosta muito de falar sobre isso, mas... Naquele dia em que conversamos, rapidamente, você me falou algumas coisas...

- Que eu não sou gay, que gostava de Rafael e que ele me agrediu. – me surpreendi com a calma com que ele repetia para mim.

- Sim, exatamente. Eu queria...

- Você quer saber o que aconteceu com a gente. – me cortou novamente. Simplesmente concordei com a cabeça. Só com ele me contando o que aconteceu, eu poderia entender a relação deles dois. – Nós estudamos juntos antes de eu entrar na faculdade, e ele era meu melhor amigo. Ele, depois de Jean, meu namorado, e minha mãe, foi o primeira a quem contei sobre minha sexualidade. Eu tinha 16 anos na época que contei. Na verdade, comecei a namorar o Jean com 14, mamãe não gostava muito dele pela nossa diferença de idade, mas nunca nos proibiu. – ele contava a parte da historia que eu já conhecia brincando com as mãos. Eu já nem ligava para meu dejejum, dedicava toda minha atenção a sua historia. – Ficamos juntos por dois anos. Um dos motivos foi por ele nunca me defender na escola quando os garotos maiores me enchiam o saco. Mas quando nós terminamos, eu fiquei muito mal. Como você agora, ou pior. Todos percebiam meu abatimento, mas eu me recusava a dizer qualquer coisa, até que decidi contar ao Rafael. Como esperado, ele ficou chocado com o fato de eu namorar um homem, mas me acalentou e me deu força naquele momento. No dia seguinte eu o senti mais distante, não conversava muito comigo, não aceitava meus convites para vir para cá, tão pouco me convidava para a casa dele. Muito tempo depois, quando eu já estava melhorando, com a ajuda de mamãe, ele veio me pedir desculpa pelo afastamento. Disse que tinha medo de eu tentar algo, que eu me apaixonasse por ele ou que o olhasse com outros olhos por ele ser homem. Rafael nunca tinha me destratado, me descriminado ou qualquer coisa, mesmo sabendo sobre minha sexualidade. Às vezes até me defendia quando alguém me xingava de gay ou outros nomes pejorativos. – vi um pequeno sorriso aparecer no canto de sua boca, mas não durou muito. – Mas o que ele tinha mais medo aconteceu. Eu comecei a vê-lo com outros olhos e me apaixonei. Ele era bonito, estava sempre comigo... Foi inevitável. Mas eu me controlei, tentei sair com outros caras e tudo mais. Nunca tentei nada com ele, mas ele tentou. Quando ele começou a ser DJ, me convidou a acompanha-lo a uma festa e aceitei. Mas quando já estávamos vindo, ele me parou e se declarou pra mim. Falou que gostava de mim, que tinha se afastado porque não suportava a ideia de saber que eu tive alguém, mas não suportou ficar longe de mim. Mas o pior era me ver saindo com outros caras que não ele e ter medo de enfrentar seus próprios medos, de nunca ter uma iniciativa. Foi tão bom ouvir aquilo, pois era reciproco. Eu pulei no seu pescoço e o beijei como se não houvesse amanhã. Aquilo era tudo que eu queria e precisava. Mas aí apareceram três homens. Quando eles avançaram mostrando serem homofóbicos, Rafael me deu um murro na barriga gritando que eu não devia ter feito aquilo, que não era gay, que tinha nojo de mim e saiu correndo. – ainda encarando as mãos, ele deu uma risadinha irônica e, por fim, me olhou. – Aí você sabe o que aconteceu. Eles me pegaram, me bateram e me levaram para um galpão, me estupraram e quando acharam que eu estava morto, me jogaram em um descampado.

Eu não tinha reação. Estava em choque. Eu sabia que ele havia sofrido agressão física, mas nunca passou pela minha cabeça que ele havia sido violentado. A cada frase dita, meu peito doía em pensar nas barbaridades que um garoto tão jovem quanto Gabriel tinha sofrido. A cada palavras eu comprovava que minha vida era um mar de rosas, e que eu realmente tive sorte de encontrar pessoas que me apoiaram em tudo, de mente aberta. Ao contrario de Gabriel. E o mais inquietante era a naturalidade com que ele contava tudo.

Eu não conseguia emitir qualquer vocábulo. Tão-somente deixei as lágrimas lavarem meu rosto em pesar, o que deixou Gabriel irritado e fez menção em levantar-se. Pedi que continuasse e me desculpei, justificando que eu não fazia ideia de tudo o que ele havia passado e que saber o quão covarde e hostil pode ser o mundo era amedrontador. Ele pareceu concordar e continuou seu monologo.

- Quando fui encontrado quase morto e me levaram para o hospital, passei uma semana em coma. Você pode imaginar o estado que minha mãe ficou. Eu sou filho único, tudo que ela tem. – sua ultima frase me fez pensar em minha realidade. Eu também sou filho único e, mesmo não passando por metade do que Gabriel sofreu, meus pais devem sentir tanto medo quando sua mãe sofreu, levando em consideração meu problema emocional e a distancia. Eles sabem que estou me recuperando da depressão e pouco podem fazer, já que não podem estar fisicamente ao meu lado me dando apoio e motivação. – Quando acordei, soube que ele vinha me visitar todos os dias. Ele ficava horas ao meu lado esperando que eu acordasse. Mas quando ele veio, quando eu já havia acordado, não permiti sua entrada. Somente semanas depois, quando eu estava começando a me recuperar fisicamente, foi que o procurei. Nós conversamos, ele explicou seus motivos, nos acertamos e cá estamos hoje, amigos. – Gabriel concluiu dando um sorriso de lado.

- Eu... Gabriel, eu... – tentei organizar meus pensamentos. Havia algo que eu ainda não conseguia entender. – Por que você insiste em dizer que não é gay? – perguntei depois de limpar as lágrimas secas.

- Porque eu não sou. Depois de tudo isso que me aconteceu: a declaração, o murro de Rafael, de quem eu gosto, a surra, o estupro... Seria uma sorte sair sem qualquer sequela. – ficamos em silêncio nos encarando, enquanto eu tentava computar seu discurso e chegar ao X da questão. Mas ele simplificou tudo para mim. – Naquele dia que nos beijamos, você perguntou o que eu senti, e eu respondi que nada. Eu menti. Eu senti nojo; queria que aquilo acabasse mais rápido possível. – ele deu um sorriso irônico antes de continuar. – Eu sou assexuado. Não sinto qualquer prazer em um simples beijo. O medo que alguém veja e tudo se repita, elimina qualquer elevação da testosterona. Não é o simples medo de apanhar e/ou ser estuprado, mas de ver minha mãe naquele estado. Vê-la recaindo na depressão foi a pior coisa de minha vida. E antes que pergunte, eu já procurei médico, psicólogos e outros especialistas para resolver isso, por insistência de minha mãe, mas é um caso quase irremediável.

- Se é quase...

- Estou bem como estou. Não sofro preconceito, intolerância e adjacentes. Não sou frustrado sexualmente e estou feliz. Não magoou ninguém e não tenho nenhuma distração, posso me aprofundar em meus estudos e me dedicar a minha mãe, que é tudo que me importa.

- Por que ficou tão irritado quando o Rafael te beijou naquela noite na boate? – perguntei tentando manter a calma. Gabriel tomou folego antes de me responder.

- Por mais que o tenha perdoado por fugir e me deixar apanhando, eu nunca, mesmo que fosse sexuado, nunca daria uma chance a ele. Ele me magoou muito quando me bateu mesmo dizendo que nutria sentimentos por mim.

- Entendo. – disse baixando a cabeça. Sem mais interrogações, Gabriel levantou-se da cadeira e dirigiu-se a porta da cozinha. Mas antes de deixar o cômodo, olhou-me mais uma fez.

- Olha, por mais que eu esteja bem comigo mesmo, não preciso que todos saibam. Não tenho vergonha, só não gosto de receber olhares de piedade por uma fobia que me afligiu. – apenas acendi com a cabeça.

Fiquei pensando em toda nossa conversa analisando sua situação. A cada conversa que tinha com Gabriel, mais eu descobria o quão errado eu estava. E pensar que cheguei a que ele nutria sentimentos amorosos por mim.

Fiquei tão perdido nos pensamentos, que mal me dei conta que a hora continuava a correr. Ouvi meu celular apitar avisando que eu já estava atrasado para minha aula. Subi apressadamente para no quarto e peguei meu material. Como no sonho, não levei o violão, pelo mesmo motivo, e, ao sair de casa, peguei o primeiro taxi que encontrei. Meu dia seria corrido, como toda semana.

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Gabriel é um amor de pessoa gente *-* Eu amo ele.

Comentários

Há 1 comentários.

Por Niss em 2015-08-06 23:50:09
Finalmente em Senhor Jorge Drexler! Confesso que tive uma imensa felicidade, mas também desconfiada na parte do sonho da chegada repentina do Carlos de manhã, e como era de se esperar, foi um sonho.... Nem sei mais o que esperar, a não ser o proximo capitulo kkk. Kisses, Niss.