Capítulo XXIII

Conto de Drexler como (Seguir)

Parte da série O destino de Bruno

Queridos, já publiquei “Um Destino de Bruno” no Wattpad, porém há mudanças, como a junção dos primeiros capítulos: http://www.wattpad.com/myworks/39325391-o-destino-de-bruno Acessem, leiam, curtam, comentem e divulguem!

Quem desejar conversar comigo sobre a serie ou deixar criticas e comentários privados ou, ainda, sugestões: j.drex@hotmail.com << Responderei todos os e-mails nas Quartas-feiras. Abraços e boa Leitura!

Música tema: Paris - Edith Piaf

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Assim que saímos do aeroporto, pegamos um taxi direto para o hotel onde ficaríamos hospedados. Como Carlos falava muito pouco em francês, eu atuava como interprete por nós dois. Foi inevitável não pensar na música “Paris”, interpretada por Edith Piaf, assim que pus meus pés em suas ruas. O Aeroporto de Paris, Charles Gaulle estava repleto de gente, o que nos deixou um pouco perdido, já que era minha primeira vez no país e já fazia algum tempo que meu professor esteve na França. Contudo, chegamos sãs e salvo no hotel reservado pela própria universidade. Ficamos no mesmo quarto, mas com duas camas de solteiro, uma vez que a universidade não sabia de nosso relacionamento.

Não fizemos outra coisa a não ser dormir. Além de ser madrugada, estávamos muito cansados para tentarmos qualquer coisa. Apenas nos banhamos, um por vez, e dormimos. Apesar das camas serem estreitas, não nos importamos de descansarmos em um só, pois aproveitamos para repousar abraçados, como já se tornava habitual.

O evento do qual viemos participar já teria inicio à tarde, com apresentações culturais, mesas redondas e palestras. Carlos iria discorrer no segundo dia do evento, eu, por outro lado, no terceiro e ultimo dia. Meu orientador estava mais que tranquilo com sua apresentação, que seria em inglês, visto que já é bastante experiente, afinal ele já tem doutorado, logo já participou de incontáveis congressos internacionais. Contudo, esta seria minha primeira experiência e seria tudo em francês. Eu já havia participado de encontros universitários, conferências, eventos estaduais e nacionais, mas sempre como ouvinte, apenas uma vez tinha discursado em publico, mas uma palestra com professores de uma instituição pública de São Paulo. Nada muito grandioso.

Apresentaríamos nosso trabalho em um congresso na Universidade de Paris, uma das mais antigas da Europa. Mais precisamente na Sorbonne Nouvelle, uma vez que nosso trabalho é voltado para a pedagogia de ensino-aprendizagem de língua estrangeira. A Sorbonne Nouvelle é uma das 13 universidades independentes oriundas da já citada Universidade de Paris, e é voltada às áreas de Artes, Letras, Línguas Estrangeiras, Ciências da Comunicação e Informação e as Ciências Humanas.

Diferente do que acontecia na maioria das vezes, fui o primeiro a despertar. Cuidadosamente levantei o braço de Carlos que me abraçava e minha perna que estava entre as suas. Tínhamos adormecido um de frente ao outro, abraçado e com os rostos bem próximos. Lentamente tirei o coberto que nos aquecia e o cobri novamente, vesti uma roupa confortável e sentei-me a varanda da suíte para admirar a vista. Estávamos no terceiro andar e tínhamos uma vista maravilhosa da Cidade Luz. Ainda era inicio de tarde, mas a beleza da cidade já me fazia imaginar o quão bela era a noite, pois não era a toa que Paris carregava esse titulo. Era possível ver, ao longe, a tão magnifica e famosa Torre Eiffel, pois estávamos hospedados bem próximos ao museu do Louvre e a Universidade de Paris. Também não estava distante o Arco do Trinfo, outro ponto turístico famosíssimo. Eu e Carlos tínhamos combinado de ficar dois dias a mais para podermos conhecer pelo menos esses três lugares esplendidos e visitar uma tia minha que morava em uma cidade vizinha e que viria me ver. Exigência da minha mãe.

Eu estava distraído apreciando a paisagem e perdido em pensamentos, em meu nervosismo e fazendo planos quando Carlos chegou com o rosto amassado e seus cabelos negros bagunçados pelo sono. Sem dizer nada ele entrou e voltou com uma cadeira colocando-a ao meu lado.

- Linda, não é? – disse sem olha-lo.

- Quer sair e dar uma volta?

- Melhor não. Prometi ligar para Claudia e para meus pais e ainda não fiz nenhum dos dois. – o olhei finalmente.

- E por que não faz logo isso? – falou apertando minha perna e entregando-me seu celular.

- Tudo bem. – recebi o celular e disquei o numero de Claudia. – Oi Claudia.

- Oi criança, como foi à viagem?

- Tranquila. Já estamos no hotel.

- Que bom.

- E o Gabriel, esta melhor? – perguntei vendo o semblante de Carlos perder o sorriso e ficar serio.

- Ainda não falei com ele. Ele está trancado no quarto desde que cheguei. Não faço a mínima ideia do que aconteceu com ele. Ou melhor, até faço, mas prefiro que ele mesmo me fale a criar hipóteses. Mas não fique se preocupando com isso, apenas aproveite a viagem.

- Tudo bem.

- Está nervoso para a apresentação?

- Muito. É minha primeira vez, pode-se dizer. – comentei rindo.

- Fica tranquilo, querido, isso é normal.

- É, eu sei.

- E o Carlos, onde está?

- Do meu lado, quer falar com ele?

- Claro. Olha, já estou morrendo de saudades de vocês.

- Serão só cinco dias, fica sossegada. – ouvi risadas do outro lado da linha.

-Tudo bem. Agora me deixa falar com Carlos, porque imagino que vocês queiram ir passear e não que ficar tirando o tempo de vocês.

- Certo. – concordei rindo. Não prolonguei nossa conversar e entreguei o aparelho telefônico a meu namorado. – Tchau, beijos Claudia.

- Tchau, criança. E Deus abençoe vocês. – passei o telefone após ouvir suas ultimas palavras.

- Olá Claudia... Estamos ótimos... Não, chegas tarde da noite e acordamos há pouco... Sim, vamos... Amanhã vamos passar o dia no evento, não teremos tempo... Ele não vai sair debaixo de meus olhos... Sim, sim... Tudo bem... Aham... Pode deixar... – eu ouvia tudo cheio de curiosidade. Carlos apenas ria com as coisas que Claudia lhe falava. – Tudo bem, até logo... Sairemos daqui na terça pela manhã... Levo sim, iremos direto para sua casa... Abraço, tchau. – Meu professor desligou o aparelho e me deu aquele sorri enorme que quase o fazia fechar os olhos que eu amava. Ele parecia ainda mais lindo com sua cara de sono e os cabelos bagunçados. – Ela realmente se preocupa muito de você.

- É. Ela parece muito parece gostar de mim. E é reciproco.

- Ah é? – Carlos fez cara de bravo e sentou-se ao meu lado na espreguiçadeira e começou a depositar beijos em meu rosto me causando risos. – Só dela?

- Não. Tem meus pais também. – respondi entre risos. – Minha família, meus amigos.

- Só eles? – fiz uma cara de quem pensava bem antes de responder.

- Acho que só... Hum... Ah, tem meu professor também.

- Seu professor, é? – perguntou duvidoso e respondi com um selinho demorado.

- Vou falar com meus pais, vem comigo? – disse já me levantando.

- Melhor não. Vou aproveitar e descer para comprar algo para nós.

- Com o seu francês? – brinquei.

- Eu falo direitinho. – ele veio me acompanhando e me abraçou por trás. – E se não me entenderem, falo em inglês.

- E se eles não entenderem?

- Dou um jeito.

Minha vida estava tão perfeita. Finalmente tudo começava a trilhar o caminho certo. Meus pais, embora ainda não estivessem aceitado completamente meu namoro, já se mostravam mais compreensíveis e não me reprimiam. Também não tocavam no assunto, até porque eu evitava. Talvez eles ainda não estivessem tão à vontade de falarem com Carlos como eu convidava meu namorado. Na verdade eu ficava aliviado quando ele recusava e me deixava a sós com meus pais.

- Oi Galego! – cumprimentou-me meu pai quando aceitaram minha web-chamada.

- Oi Pai. Oi mãe.

- Tudo bem? – perguntou minha mãe.

- Estou ótimo. E vocês?

- Com saudades de você.

- Também estou. Vocês poderiam tirar férias e virem me visitar. – sugeri.

- Bem que eu gostaria galego, mas você sabe que com seu processo em andamento não posso deixar.

- E há alguma novidade?

- Não. Agora estão tentando identificar as pessoas citadas na carta.

- Vocês só sabem falar sobre isso? – perguntou minha mãe irritada.

- Desculpa mãe.

- Já está em Paris?

- Já sim, cheguei hoje de madrugada.

- E o seu... Professor? – perguntou minha mãe hesitante. Meu pai virou rapidamente o rosto.

- Veio também. Mas não está aqui.

- Quanto tempo vai ficar aí? – perguntou meu pai.

- Cinco dias. Mãe, a senhora falou com a tia Lucia?

- Falei e dei seu contato. Se tudo der certo, domingo ela estará aí com sua prima.

- Qual das?

- Elisa.

- É a mais nova ou...

- Sim.

- Eu não a conheço.

- Ela ainda não era nascida quando sua tia veio ao Brasil pela ultima vez com a sua Vô. – explicou meu pai.

- Entendi. Faz tanto tempo que eu não há vejo.

A ultima vez que minha Tia Lucia, irmã da minha mãe, tinha ido a minha casa, no interior de São Paulo, eu tinha dez anos. Ela já estava gravida de sua filha mais nova, e foi acompanhada de sua filha, Ella, seu primogênito Enrique e seu marido, Jack. Minha avó visitou-me duas vezes mais antes de falecer. Eu não pude me despedir dela, pois se enterrou aqui em Paris. Se tudo dê certo, irei visitar seu sepulcro com minha Tia, já que não sei onde estar localizado.

Fiquei conversando com meus pais por mais 30 minutos, quando Carlos chegou trazendo nossos lanches. Fui ao outro mundo e voltei ao experimentar um Croissant especificamente francês. Ele estava no ponto certo, era possível comê-lo apenas com os olhos. Como uma lua em quarto crescente, uma crosta crocante e uma bela cor dourada. As pontas estavam descoladas do meio, e o miolo ser alvo, aerado, e mostrava a consistência certa. Era algo sublime.

Estávamos, eu e Carlos, já de saída para conhecer uma praça que um garçom da cafeteria que ele tinha ido comprar nossos lanches recomendou, quando recebi uma chamada de vídeo de Beatriz, com quem eu não falava há uma semana. Eu havia esquecido minha rede social aberta, e acabei convencendo Carlos de que falar com ela era mais importante, pois poderíamos ir à praça outro dia. E eu não estava errado. Após de todo nosso dialogo sobre minha viagem a Paris, minha amiga contou-me uma das noticias que me abalou profundamente.

- Tem falado com Alice? – perguntou-me Beatriz.

- Não, por quê?

- Ela está bem diferente.

- Falei com ela somente na despedida que vocês me fizeram quando vim para cá.

- Ela também não estava mais falando comigo.

- Por quê? – estranhei.

- Ela deve ter ficado sentida pelo o termino de vocês.

- Eu nunca tive nada serio com ela.

- Então vocês conversaram numa boa? – nós nunca tínhamos conversado sobre esse assunto, e eu comecei a achar estranho aquele papo de uma hora para outra.

- Mais ou menos. Ela apenas desejou que eu não me arrependesse depois. Alice interpretou que eu tinha algo serio com Fernando.

- Coitada. – Beatriz adjetivou rindo.

- Mas por que estamos falando dela?

- Por causa da bomba que pegou todos de surpresa.

- Qual? Aconteceu algo com ela? – perguntei assustado.

- Mais ou mesmo.

- Ela sofreu algum acidente? – criei as piores hipóteses em minha cabeça. Já sentia meu peito arder e as lágrimas quererem lutarem para saírem. – Fala de uma vez Bia.

- Não. Ela engravidou. – fiquei um pouco mais aliviado, mas ainda senti um pouco de incomodo com a noticia. Talvez tristeza, ciúmes, não sei ao certo.

- Alice está gravida? De quem?

- Ninguém sabe quem é o pai. Ela disse que sabe quem é, mas não quer dizer.

- Por que isso?

- Quem sabe!? Ela vai trancar a faculdade.

- Quantos meses de gestação?

- Dois e meio. Ainda está no inicio.

- E por que ela vai trancar a faculdade? Ela pode pedir licença maternidade.

- E eu vou saber? Ela apenas me falou que estava gravida. Não entramos em detalhes.

- Ela te contou? Você não disse que ela não estava falando com você?

- Exatamente. É como se ela quisesse que eu te contasse. Ou para alguém próximo a mim. Tipo, ninguém esta sabendo ainda. – deu de ombros.

- O que eu tenho a ver com ela? Não nos falamos há tempos.

- Não sei, é só uma hipótese.

- Entendi.

- E você o Professor Carlos, como estão?

- Estamos muito bem. – falei sorrindo largo.

- Hum. E esse sorrisinho bobo? – Disse Beatriz rindo, enquanto eu ruborizava de vergonha, pois Carlos estava deitado na cama vizinha a minha e certamente ouvia tudo.

- Para de besteira.

- Cadê ele?

- Esta aqui do meu lado. – não hesitei em chama-lo.

- Não faz isso! – ela falou mexendo apenas a boca.

- Olá Beatriz. – ri de sua cara de espanto quando Carlos apareceu sorrindo sentando-se ao meu lado. – Tudo bem?

- Oi Professor. Tudo sim, e com o senhor?

- O único aluno meu aqui é o Bruno. – eu apenas segurava o riso. – E nem ele me chama assim.

- Ah, professor...

- Me chame de Carlos. – disse todo simpático.

- O Bruno pode porque é seu namorado.

- E você uma amiga. – argumentou Carlos. – Deixa de besteira, ou terei de chama-la de Senhorita Beatriz.

- Não, por favor!

- Bia, nós temos que ir, eu e Meu Professor – ironizei. – nos arruar para irmos à abertura de um evento.

- Palhaço. – disse rindo. – Tubem, até mais. Beijos!

- Tchau, Bia, beijos.

- Até logo Senhorita Beatriz. – falou brincando e nos causando risos.

- Tchau pr... Carlos. – se corrigiu antes de desligarmos.

A noticia da gravidez de Alice me pegou um pouco de surpresa. A novidade foi mais uma das inexplicáveis situações que me fez sentir desconfortável sem saber o motivo certo. Uma pontada de aflição se instalou em meu peito, mas não disse nada para Carlos, ainda que ele tenha notado meu silencio e questionado.

Logo depois de falar com minha amiga, já estava quase na hora de irmos para a universidade. Tomamos nossos banhos, vestimos uma roupa social, como pedia a ocasião, descemos para comer algo mais no restaurante do hotel, o que me causou risos, pois Carlos tentava fazer os nossos pedidos em francês, mas acabava se enrolando todo. Logo depois pegamos um taxi com destino a abertura do evento.

As apresentações foram maravilhosas. Não sei ao certo por qual fiquei mais encantado. A primeira foi uma breve dramatização de uma peça de teatro, apenas dois atos da peça clássica Ricardo III, do maior dramaturgo inglês, Willian Shakespeare, a qual me deixou fascinado, não só pelos excelentes atores, como pela historia que se desenrolava. Quem não ficou muito satisfeito foi Carlos, pois pouco entendeu do enredo.

A segunda apresentação foi de música. Três jovens, duas meninas e um rapaz, cantaram canções de Serge Gainsbourg, um artista considerado como uma das figuras mais importantes da música popular francesa. Por ultimo, uma apresentação de Ballet clássico. Fiquei simplesmente deslumbrado com a leveza com o qual o casal de bailarino rodopiavam e saltavam pelo palco na mais bela sincronia. Todas as apresentações foram feitas por alunos procedentes da instituição e da equipe organizadora.

O que se seguiu foi algo extremamente, embora importante, cansativo. Um professor americano promoveu uma mesa redonda, onde discorreu sobre a importância da aprendizagem cognitiva, uma corrente da psicopedagogia desenvolvida originalmente por Jean Piaget, e que está ligada a construção do conhecimento, do pensamento crítico e reflexivo do aluno. Como é próprio do tipo de reunião que estava presente, houve um breve discursão sobre o assunto discorrido. Para minha surpresa, assim como outras pessoas fizeram, Carlos tomou a palavra e brilhantemente dividiu seu pensamento sobre a abordagem cognitiva comparando-a com as teorias comportamentalista e construtiva.

Por fim, quando já passava das 22 horas da noite, pegamos um taxi de volta para o hotel. Chegamos tão enfadados, ainda por consequência de nossa viagem, que simplesmente, depois de tomar um rápido banho, capotamos na cama. Mais uma vez dormimos na mesma cama e na mesma posição da madrugada quando chegamos. Acordamos por volta das 9 horas da manhã e pedimos nosso café no quarto. Nosso compromisso seria apenas no meio da tarde, por esse motivo decidimos ir visitar a tal praça que não tivemos a oportunidade de visitar no dia anterior.

Almoçamos, ao meu pedido, em um restaurante que servisse comidas tipicamente francesas. Afinal eu tinha sangue francês, mas nunca tinha visitado minhas origens maternas. Esta era minha única chance de apreciar e conhecer minhas raízes. E a comida era uma parte essencial desse prestígio.

Finalmente seguimos para a universidade, onde houve mais uma apresentação de música com novos artistas e segui para uma das muitas salas onde ocorriam exposições de trabalho. Acompanhei Carlos para sala de conferencia onde ele apresentaria uma breve explanação sobre sua pesquisa de pós-doutorado, que tinha como objetivo perceber o processo de aprendizagem e aquisição de língua estrangeira em alunos de diferentes nacionalidades, ou seja, os intercambistas os quais ensinávamos. Contudo, sua pesquisa era direcionada ao ensino de língua inglesa.

Como eu já esperava, meu namorado/professor/orientador, fez uma magnifica palestra. E ao final foi aplaudido dignamente, como merecia. Eu, claro, estava na primeira fileira, afinal era meu papel como bolsista, pesquisador e orientando do Professor Carlos Xavier.

Não demorou muito para que tivesse fim o evento vespertino. Voltamos para o quarto de hotel apenas para retirar o cansaço de ficarmos horas sentados e ouvindo discursos de pesquisas semelhantes. Jantamos no restaurante do hotel mesmo e fomos conhecer um pouco mais da Cidade Luz, que estava esplendorosa. Em uma célere ida ao quarto, antes de sairmos, pude ver a Torre Eiffel lumiada e destacada ao longe. Uma vista maravilhosamente bela.

- Paris é mesmo linda. – comentei dentro do taxi e admirando fascinado os prédios e casas que passava pela janela do carro. Eu parecia uma criança de tão feliz e curioso com tudo que via afinal Carlos, mesmo que há algum tempo, já tinha vindo a França, mas que não deixava de se encantar com tudo que víamos.

- Espetacular. – concordou meu namorado.

- Deve ser extraordinário morar aqui.

- Imagino que sim. Mas com o tempo eles se acostumam.

- Falando assim até parece que você é um francês, Mon Chéri. – falei olhando-o.

- Je t'aime. – instantaneamente parei de sorri e o encarei. Carlos segurou minha mão e beijou-a demoradamente e depois me encarou com um sorriso lindo no rosto.

- Carlos...

- Não diga nada.

- Eu também te amo! – falei voltando a sorrir. - Jé t'aime trop Carlos.

Não tivemos mais o que dizer um ao outro, apenas unimos nossos lábios iniciando um beijo calmo e tranquilo. A única coisa que eu tinha medo de dizer para ele, eu havia falado. A única coisa que eu tinha medo de assumir para qualquer pessoa. Eu assumi para Carlos, e para mim sobre tudo, que o amava. Que era com ele que eu queria construir uma vida. Contudo, para nossa surpresa, o taxista parou o taxi rapidamente ao ver nosso beijo.

- Desçam! – ordenou em sua língua.

- Aconteceu alguma coisa, senhor? – perguntei da mesma forma.

- Este é um carro de família, seus filhos do diabo!

Nunca pensei que um dia as palavras de um estranho fossem me machucar tanto quanto aquelas. Justamente na hora em que eu e meu namorado havíamos declarado nosso amor um para com o outro. Senti como se uma faca me atravessasse à barriga. Agora eu fazia ideia do que Gabriel e Fernando haviam sentido. E Fernando ainda havia sido pior, pois o preconceito partiu daqueles que deveriam ficar ao seu lado e apoiarem-no nessa jornada e luta contra o mundo.

- O que esta acontecendo, Bruno? – perguntou Carlos confuso.

- Vamos, seus gays, desçam!

- O senhor esta ciente que posso te processar? – perguntei calmo, ao mesmo tempo que ele nos gritava.

- Façam o que quiser, não sou obrigado a presenciar essa falta de vergonha!

- Bruno, explique-me o que esta havendo.

- Falta de vergonha? O senhor esta sendo preconceituoso. Se fosse um casal heterossexual, o senhor nada diria. Nós nos amamos do mesmo jeito.

- Esso que vocês chamam de amor é falta de surra.

- Falta de surra foi a sua criação. Desrespeitar pessoas que sequer conhece apenas pela nossa condição sexual. Você não tem um pingo de educação. Não sabe o que é amor!

- Bruno! – exclamou Carlos.

- Ele está sendo homofobico! – expliquei o olhando espantado e incrédulo.

- Desçam logo seus demônios!

- Você está discutindo com uma pessoa sem escrúpulo? Não se rebaixe, vamos logo. – Carlos falou com se nada estivesse acontecendo.

- Carlos, é nosso...

- Chega Bruno, vamos embora. – me interrompeu.

- Mas... - tentei falar.

- Não vamos perder tempo com esse tipo de gente.

- Você é surdo, ou o que, suas bichas? – gritou o motorista novamente.

- Passar bem, senhor. – falei em seu idioma já abrindo a porta do carro e saindo em seguida. Carlos abriu a carteira e jogou o dinheiro para o motorista que continuou gritando nomes pejorativos para a gente.

- Bruno você não pode ficar perdendo a cabeça com esse tipo de gente. Se acalme. – falou segurando meu rosto com as duas mãos em direção de seu rosto e limpando minhas lagrimas que teimavam em descer.

- Nunca pensei que isso pudesse acontecer. – falei com a voz embargada.

- Enquanto a sociedade em que vivemos não aprenderem a conviver com as diferenças, será assim. Temos que aprender a lidar com as situações. Não discutindo, como você fez, que iremos mudar o mundo.

- Eu sei, mas não é fácil se controlar. Ele disse coisas horríveis conosco. Se você tivesse entendido...

- Eu também já ouvi coisas horrendas, mas aprendi a ignora-las.

- Machuca.

- Muito. Magoa, nos sentimos frágeis. Sim, tudo isso, mas nós somos resistente. – Carlos terminou de falar e me abraçou e me beijou. Ali mesmo no meio da rua. O medo e a sensibilidade que senti dobraram. Senti-me acuado. – Repito: eu te amo. Ninguém vai mudar isso.

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Acredito que frustrei muitos, como o Niss imaginou. Contudo eles ainda voltaram para Portugal, onde muita coisa ainda vai acontecer. A historia com Gabriel ainda não acabou. Percebem o que a mãe dele, Dona Claudia, falou e o que ele, o próprio Gabriel, contestou. Um dos dois esta mentindo. Mas quem? Por quê?

Comentem o que acham. Abraços!

Comentários

Há 1 comentários.

Por Niss em 2015-06-21 02:16:55
-Geeenteeeeee que micooooo podia jurar que els estavam indo ao Brasil. kkkkkkkkkkkk nossa, que vergonha kkk. Bom quanto ao capitulo,temos um bom exemplo de que o preconceito não se limita ao Brasil e a paises religiosos, sim, na cidade mais romantica do mundo isso existe, infelizmente. Não me frustrei, o conto está sendo magnifico, muto bom, sinto prazerem lê-lo, vc me surpreendeu Drex, tanto nessa série quanto na Maktub. Estou ansioso para o proximo capitulo. Lindo, bjs Niss