Capítulo XXI

Conto de Drexler como (Seguir)

Parte da série O destino de Bruno

Queridos, já publiquei “Um Destino de Bruno” no Wattpad, porém há mudanças, como a junção dos primeiros capítulos: http://www.wattpad.com/myworks/39325391-o-destino-de-bruno Acessem, comentem e divulguem!

Amados, comecei a escrever uma segunda obra, "Maktub". Diferente desta que é um romance, Maktub, que significa "estava escrito" e/ou "tinha que acontecer", é uma novela. Porém com um enredo bastante incomum.

Quem desejar conversar comigo sobre o romance ou deixar criticas e comentários privados ou, ainda, sugestões: j.drex@hotmail.com << Responderei todos os e-mails nas Quartas-feiras. Abraços e boa Leitura!

Música tema: Por onde ando tenho você – Vanessa da Mata

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Havia muito tempo que eu não dormia tão bem como naquela noite. Poder adormecer abraçado com o seu namorado é uma das melhoras coisas no mundo. Acordei com um enorme sorriso nos lábios tateando a cama a procura de Carlos, mas acabei frustrado por não encontra-lo ali. Um pouco cabisbaixo e relutante, levantei-me da cama e fui para o banheiro fazer minha higienização e tomar um banho. Eu ainda estava pelado, então apenas liguei o chuveiro na tentativa de despertar meu corpo. Preguiçosamente terminei de me banhar, escovei meus dentes com uma escova que encontrei ainda na embalagem, me enxuguei e me joguei novamente na cama – sem roupa. Deitei-me completamente esticado, ocupando quase toda a extensão da cama- apenas meu tronco e a metade de minhas coxas estavam sobre a cama.

- Bom dia, Sr. Preguiça. – olhei em direção a porte e encontrei Carlos com uma bandeja vestido com seu robe.

- Bom dia! – sorri magicamente. Logo me sentei na cama com as pernas e cruzadas como chinês.

- Dormiu bem? – ele perguntou sentando-se a minha frente.

- Muito! Nem vi quando você se levantou. – falei e me aproximei dando um selinho em meu professor.

- Deu trabalho te tirar decima de mim sem acorda-lo.

- Não sou tão pesado assim. – brinquei.

- Claro que não. – mais selinhos. – Vem, vamos comer.

- Você preparou tudo isso para nós dois? – indaguei enquanto cobria minha intimidade com um lençol que havia sobre a cama.

- Exclusivamente para meu namorado. – sorri bobo quando ele enfatizou a ultima palavra.

Carlos era realmente um gentleman. Ele havia preparado um café da manhã maravilhoso, tinha torradas, frutas picadas, suco natural, café expresso e muito mais, o que achei um pouco de exagero, contudo, nada disse, para não entristecer e desmerecer o romantismo de Carlos. Comemos tudo conversando sobre o que faríamos durante o dia.

Quando finalmente terminamos nosso café, Carlos foi pegar uma pareia de roupa em meu apartamento enquanto eu, depois de muita insistência, fiquei lavando a pouca louça que tínhamos sujado e arrumando o quarto. A camisinha ainda estava no chão, no mesmo canto em que eu havia jogado e nossas roupas no banheiro continuavam sobre a bancada de mármore. Iriamos para a casa de Claudia eu havia prometido a ela que faria.

Depois de quase uma hora enrolando no apartamento de Carlos fomos de encontro ao nosso destino. Carlos era um remancham, como eu já sabia, ele ainda foi tomar um banho, escolher uma roupa adequada para o que faríamos à tarde, sem falar que ficávamos nos pegando a todo o instante. No caminho, fomos todo o percurso com ele preocupado com a reação de meus pais, pois eu o apresentaria naquela mesma tarde.

Já estávamos atrasados quando finalmente chegamos. O almoço já estava a mesa, Claudia e Gabriel apenas nos esperavam para almoçarmos. Era um sábado comum, mas tudo dava ao entender que estávamos em alguma data comemorativa. A mesa estava maravilhosamente caprichada com uma variedade de coisas. Senti-me honrado por toda aquela agitação, brindes e adjacentes. Mas nem todos estavam tão satisfeito. Gabriel em nenhum momento abriu a boca e dirigiu a palavra para mim ou Carlos. Isso, segundo minha segunda mãe, se dava por ele ainda estar chateado por achar que tínhamos alguma coisa. Não dei importância. Comemos entre risos e finalmente subimos para meu quarto a fim de falar com meus pais.

Meu primo, como sempre já estava online me esperando. Mandei um “cheguei” no bate-papo e logo recebi a chamada de vídeo. Mais uma vez Patrick estava sozinho no escritório me esperando. Ele estava sem camisa e como logo apareceria mais pessoa no vídeo, mandei que ele fosse vestir uma camisa e chamar meus pais. Antes de ir fazer o que pedi, meu primo ficou impaciente e começou a perguntar o que eu iria conversar com meus pais, pois no dia anterior eu havia prometido revelar o motivo de minha melhora de humor: Carlos.

- Tá satisfeito? – perguntou Patrick voltando a sentar frente ao computador devidamente vestido. Carlos, que era o mais importante da historia, e Claudia, que pedi que estivesse comigo, estão sentados na cama, enquanto eu na cadeira da escrivaninha. Eles ainda não eram visíveis na câmera.

- Melhorou. Mas cadê meu Pai e minha Mãe?

- Estão subindo. Então, vai me dizer o que é?

- Quando eles chegarem.

- Mas está tudo bem?

- Sim. Estou muito bem. – sorri para Carlos.

- Acho que já posso imaginar o que seja. – levantei uma das sobrancelhas e segurei um sorriso, mas acabei me surpreendendo. – Tem haver com um telefonema que ouvi uma vez que conversamos, não é?

- Quiçá. – Patrick gargalhou, mas parou quando meus pais chegaram juntos.

- Galego! – meu pai foi logo tirando meu primo do lugar em que estava. Minha mãe puxou uma cadeira e sentou-se ao seu lado. Meu primo não ficou para ver a conversa.

- Oi pai. Mãe. – falei acenando.

- Tudo bem meu filho? – indagou minha mãe.

-Tudo sim, e com vocês?

- Estamos muito bem. – respondeu minha mãe.

- Tenho novidade filho. – meu pai estava serio.

- O que? – perguntei preocupado. – Aconteceu alguma coisa?

- É sobre as investigações.

- O que descobriram?

- Uma amiga de Pedro decidiu abrir a boca.

- Como assim? – indaguei confuso. Não me preocupei com os demais que estavam no quarto.

- Um travesti que dividia um quartinho com Pedro. Eles eram muito amigos. Confidentes, pelo que parece. Você leu a carta? – apenas acenei para meu pai. – Então você percebeu que ele tomou cuidado para não citar nomes, apenas usou adjetivos para dirigir-se a pessoas que passaram em sua vida. Apenas o seu nome foi citado, por isso você é um dos suspeitos do assassinato...

- Eu?

- Sim, mas não há provas concretas. Logo tiraram qualquer suspeitas sobre você. É um pouco improvável que você tenha matado alguém aqui no Brasil, já que estava em Portugal já algum tempo quando aconteceu. – informou minha mãe.

- Mas é justamente por isso. Ela deixou tudo para você. E justamente no momento que ela morreu, você, seu único herdeiro, estava em outro continente. Suspeitam que você seja o mandante do crime.

- Meu Deus! – eu já ia começar a chorar, mas meu pai logo me acalmou.

- Mas como eu ia dizendo, uma amiga dele abriu a boca. Com as informações que ela deu novos suspeitos, muito mais prováveis, apareceram. Ela não tem certeza se realmente são essas pessoas que estão citadas, mas há uma possibilidade. O cara a qual ela diz que tirou sua virgindade foi seu tio, o Feliz.

- Felix? Ele era o que mais a xingava. – me indignei. – Filho da puta! Eu mato aquele infeliz.

- Bruno! – minha mãe me repreendeu.

- Mãe, ele bati na Bárbara! Ou a senhora não lembra aquele escândalo que ele fez no carnaval na frente de todos? Ele arrastou Bárbara pelo cabelo gritando com ela de tudo que é nome.

- Eu sei meu filho. Mas não é por isso que você vai sair falando palavrão. Ainda sou sua mãe e exijo respeito. Além do mais, revoltar-se não irá trazer justiça. Ela logo será feita, mas pelos fins legais. – fiquei quito.

- A prima que você informou saber quem era também foi contatada e está sendo investigada. Mas não há nada que vá incrimina-la. Já o amigo para o qual sua amiga traficava drogas foi identificado pela travesti e está preso. Ele alega não ter nenhum envolvimento com o crime, claro. Mas ele é um dos maiores suspeito.

- Já sabem a fonte do dinheiro?

- Não, mas a policia acredita que seja proveniente do trafico de drogas.

- E sobre o velho que ela citou?

- Nada se sabe ainda. Juliana, a travesti, disse conhecer apenas o traficante e a historia do tio. E sobre você, pois segundo ela, Pedro fala diariamente sobre você. – a cada palavra de meu pai, eu ficava mais chocado.

- Chega de falar dessa tragédia. – disse minha mãe.

- Não se preocupe galego, logo tudo irá se resolver.

- Espero que sim.

- Filho, o que você queria nos contar ontem?

- Ah. – logo abri um sorriso e olhei para Carlos. – Tenho uma novidade para vocês.

- O que é filho? – minha mãe logo abriu um sorriso enorme junto de meu pai.

Eu não tinha a menor ideia de como falaria para meus pais sobre estar namorando outro homem. Ainda mais quando este homem era meu professor. Que além de tudo foi quem me trouxe para Portugal. Então decidi ir devagar e levantei apenas minha mão direita que possuía o anel de prata, a prova do meu compromisso serio que eu tinha para com Carlos. Minha mãe logo pulou da cadeira gritando de felicidade, já meu pai aparentou muito feliz com a noticia, mas manteve o per no chão.

- Isso é um anel de compromisso? – indagou minha mãe toda alegre.

- É sim. – respondi já com dor nas bochechas de tanto sorrir.

- Quem é ela galego? – fiquei um pouco triste em frustrar meu pai por ser um homem e não uma mulher, como ele pensou. - Como vocês faram filho quando você vier para o Brasil?

- Não se preocupe, pai, somos de São Paulo.

- Own! Minha nora mora aqui pertinho também. – minha mãe cobriu as boca toda alegre e já começando a ficar emocionada.

- Quero conhece-la, galego.

- Não passará de hoje.

- Ela está aí? – indagou meu pai surpreso.

- Está, mas nós temos que conversar antes. – falei ficando serio.

- Por quê? – minha mãe pareceu confusa. Suspirei forte antes e olhei para Claudia e Carlos a minha frente tomando coragem para contar.

- Não é ela, é ele. – como imaginei, a feição dos dois logo mudou quando revelei. A animação de minha mãe acabou e ela ficou me encarando em silencio. Meu pai simplesmente levantou-se e ficou em pé com as mãos no rosto de costa para mim. Senti um incomodo em minha barriga. Comecei a ficar aflito e angustiado novamente, mas uma hora ou outra eu teria que revelar, e não seria quando eu chegasse ao Brasil.

- Quem é ele filho? – minha mãe foi a primeira a falar.

- Vocês precisão entender que nós nos gostamos. Somente. – argumentei.

- Quem é ele?

- Dona Vitoria. – Claudia levantou-se e veio até onde eu estava. – Olá D. Vitoria, tudo bem?

- Olá Sra. Claudia.

- Desculpe-me me meter na conversa de vocês, mas...

- Desculpa a ignorância, mas como bem disse, a conversa é entre eu e meu filho. – interrompeu minha mãe.

- Sim, claro. Mas eu gostaria de dizer...

- Quero ouvir o meu filho. – repetiu a grosseria.

- Quem é ele galego? - indagou meu pai ainda de costas.

- Filho eu não vou te rejeitar, se é o que está pensando. – adiantou-se minha mãe. Suas palavras cairão como um alento ao meu pré-sofrimento. – Só quero saber quem é.

- O nome dele é Carlos, vocês já o conhecem. – Claudia continuou ao meu lado com a mão apoiada sobre meu ombro.

- Não me lembro de nenhum amigo seu com esse nome. – disse minha mãe.

- É o meu professor, mãe.

- O que te levou para aí? – perguntou assombrada e eu apenas acenei com a cabeça. Finalmente meu pai voltou a se senta de frente para mim e percebi, pelos seus olhos vermelhos, que havia chorado.

- Onde ele está? – perguntou meu pai com a voz calma.

- Carlos... – o chamei. Ele parecia bem nervoso, mas depois de respirar varias vezes veio ao meu encontro ficando de frente com meus pais.

- Olá Senhor Flávio e Senhora Vitoria. – cumprimentou.

- Podem nos dar licença? – pediu meu pai.

- Pai...

- Quero apenas conversar com ele.

Olhei para meu namorado e ele tentou sorrir para mim, mas só quando Claudia apertou meu ombro, foi que, com o coração na mão, levantei-me da cadeira dando lugar ao Carlos e Sai do quarto arrastado pela dona da casa, pois eu queria ficar no quarto ouvindo toda a conversa sem que meus pais soubessem. Desci com Claudia para a sala, mas muito inseguro sobre o que meus pais iriam falar para meu professor.

- Fica tranquilo criança, seus pais não vão fazer nada, eles só querem conversar. – Claudia tentou me tranquilizar.

- Eu sei, mas tenho medo do que eles vão dizer para o Carlos e tenho muito mais medo deles querem que ele se afaste de mim. E o pior, que Carlos faça.

- Tente entender que é algo novo para seus pais. É fácil aceitar a sexualidade do outro e/ou criticas os outros pais por não aceitarem seus filhos, mas quando é com nossos filhos... Acredite, não é fácil.

- Sei disso. – fechei os olhos e baixei minha cabeça. – mas o meu medo é que eles impliquem com a diferença de idade.

- Sabe, quando Gabriel trouxe o primeiro namorado para me apresentar eu chorei muito. – olhei assombrado para Claudia. – Eu estava começando a me recuperar da depressão e quase tive uma recaída. Gabriel tinha 13 anos e o rapaz 19. Claro que eu proibi o relacionamento dos dois. Não por ser com outro homem, mas porque meu filho era uma criança, não tinha maturidade e não estava preparado para isso. Imagine, um homem formado se envolvendo com uma criança ingênua. Gabriel ainda estava se descobrindo, não sou física, mas psicologicamente também. Sei que não deveria ficar com essas coisas na cabeça, mas era inevitável. Meu filho estava com os desejos à flor da pele, como é típico da pré-adolescência, e seu namorado iria se aproveitar disso. Minha única saída foi proibir os dois de se encontrarem, mas foi em vão. Ele passou a ir pegar Gabriel na escola e se encontrarem escondido. Tudo só piorou. Então tive que rever meus conceitos e deixa-lo namorar e me aproximar deles. Aí sim pude saber e controlar o que eles faziam.

- Desculpa a franqueza, mas o que tudo isso tem a ver comigo?

- Quero que você perceba que seus pais não irão cometer a mesma que eu, por mais que eu tivesse razão em proibir o namoro. Você já é um homem formado, inteligente, tem ciência de suas escolhas. Você é maduro, eles vão se adequar a sua escolha.

- Não foi escolha, é minha condição.

- Não importa como chamem ou o que vão dizer, a única coisa que importa é o sentimento que de você, Bruno, e os de Carlos.

- Como a senhora lidou com a homossexualidade de Gabriel?

- Eu sempre soube. Gabriel sempre foi mais sensível que os outros garotos da mesma idade, sempre teve mais amizade com meninas e muitas vezes tive de ir a escola para resolver problemas dele com outros garotos. Ele sofria muito bullying. Como te falei, tive um choque muito grande com seu primeiro namorado, mas foi pela diferença de idade, pois eu já sabia, eu sentia que meu filho era diferente.

- A senhora nunca teve preconceito pela sua condição?

- Claro que não. Ele e meu filho, independente de com quem ele namore, e como tal o amarei sempre.

- E o pai dele?

- João já não era mais vivo quando Gabriel se assumiu. Ele tinha apenas 10 anos quando o pai se matou.

- Sinto muito.

- Tudo bem, já passou. Além do mais nosso assunto é outro.

- Eu não fazia ideia que o Gabriel era gay.

- Ele é bem reservado quanto a isso. Mas não posso tirar a razão dele, ele sofreu muito por isso.

- Posso perguntar o que aconteceu?

- Claro. Gabriel foi é mais nas estatísticas.

- Como assim? – perguntei confuso.

- Além do fato de que ele sofreu muito preconceito na escola, quando ele tinha 15 anos, estava vindo de uma festinha na casa de uma amiga, era umas 21 horas da noite. – Claudia falava tudo de olhos marejados. – Eu estava indo buscar ele, mas como Gabriel era muito impaciente, decidiu vir caminhando, então alguns meninos o abordaram e o levaram para um beco onde deram uma surra. – ela não conseguiu conte-las por muito tempo e logo as lagrimas escorreram por seu rosto, mas as limpou rapidamente. – A sorte dele foi um senhor que viu e parou os garotos antes que a situação piorasse e levou meu filho para um hospital. Eu já estava desesperada o procurando. Ele teve de passar por tratamento psicológico para se recuperar dos traumas. Foi por esse motivo que decidi estudar psicologia.

- Sinto muito. – ela tentou sorrir, mas mais uma lagrima desceu.

- Não foi só isso. Quando tinha 17 anos, tentaram mais uma vez arrancar meu filho de mim. Gabriel vinha da academia e levaram meu filho a força. Ele foi encontrado dois dias depois em um campo abandonado e dado como morto. Mas meu deus é maior e o trouxe de volta para meus braços. – eu podia sentir a dor nas palavras de minha segunda mãe e logo as lágrimas também brotaram de meus olhos. Eram lágrimas de comoção.

Eu não consegui dizer nada, apenas levantei-me e dei um abraço em Claudia. Agora eu entendia porque ela tinha me aceitado e me ajudado tão prontamente. Ela e seu filho haviam sofrido demais. Eu ao menos poderia imaginar que Gabriel era gay, e descobrir tudo que havia passado me fez repensar todo o meu tratamento para com ele. Ele sempre foi muito carinhoso e atencioso comigo, e eu apenas o maltratava. Ele e Claudia só tinham um ao outro. Pude entender também a revolta de Gabriel em achar que eu e sua mãe tínhamos alguma coisa.

Continuei abraçado no meio da sala até que meu professor apareceu no fim da escada nos convidando a voltar para o quarto. Sua feição foi o que me chamou atenção, ele estava neutro, nem triste, decepcionado ou com raiva, tão pouco estava feliz, estava somente indiferente. Dei-lhe um abraço e voltamos para a habitação. No caminho perguntei o que tinha conversado com meus pais, mas nada disse. Quando entrei no quarto, Carlos ficou na porta com Claudia e foram fechando, me deixando sozinho. Entendi que meus pais queriam falar comigo em particular. Aquela era minha vez.

Sentei-me novamente na cadeira da escrivaninha e encarei meus pais. Logo notei que a porta do escritório onde eles estão estava fechada, diferente de quando eu havia saída. Certamente para terem mais privacidade e não serem interrompido pelo meu primo. Percebi também que minha mãe havia chorado, pois seus olhos estavam muito vermelhos, e meu pai continuava com a mesma expressão, serio. Engoli em seco.

- O que vocês conversaram com o Carlos? – eu tive que perguntar.

- O que era necessário. – respondeu meu pai com a voz calma, o que me fez ficar acuado.

- Você gosta mesmo dele, meu filho? – perguntou minha mãe.

- Muito.

- Por que um homem, Bruno? – era a primeira vez que eu ouvia meu pai me chamar pelo meu nome.

- Eu não escolhi pai. Eu sou assim. Não é de agora que eu sou assim ou gosto dele. Eu sempre soube.

- Eu deveria ter sido mais ríspida com você em relação a Pedro. Foi ele que te indúsio. – não pude acreditar nas palavras de minha mãe.

- A senhora sabe que não tem nada a ver. Se não fosse com a Bárbara, seria com outra pessoa. Ninguém tem culpa de nada. Eu sou o que sou, não foi ninguém que me indúsio a nada, pois mesmo que tivesse sido, seria uma escolha minha ir ou não por esse caminho.

- Você acha que é fácil para mim e sua mãe saber que nosso único filho é gay?

- Sei que não é. É por isso que demorei tanto para falar para vocês. E eu não sou gay, sou bissexual.

- Qual a diferença? Você continua gostando de homens.

- Então vocês não vão me aceitar como eu sou, é isso?

- Não meu filho. Nunca. Nós continuamos te amando. – disse minha mãe.

- Só é difícil de aceitar. Eu não poderia imaginar. – continuou meu pai. – Mas meu amor por você continua o mesmo. Só me dê um tempo para digerir tudo.

- Obrigado por me entenderem. Eu não queria que esta conversa fosse dessa maneira... Queria poder ter falado frente a vocês.

- Foi melhor assim. Eu poderia ter feito uma besteira, algo que me arrependesse depois. – me surpreendi com o comentário do meu pai.

- A gente se fala Bruno. Te amo, beijos! – despediu-se minha mãe.

- Tudo bem. Tchau. Também amo vocês. – era a primeira vez que eu falava para eles que os amava.

Senti um peso no coração quando meu primo veio e desligou a webcam. Meus pais ficaram muito abalados como eu previ que ficariam, mas eu os entendi e Claudia estava ao meu lado para amenizar tudo que viesse a acontecer. Se mesmo pais tivessem tido uma reação diferente e não me aceitado, tenho certeza que o mesmo depoimento me fez teria mudado a opinião de Seu Flavio e Dona Vitoria. Mas ainda sim eu iria pedir para que ela conversasse com meus pais como amiga, psicóloga e, sobretudo como alguém que teve um filho vitima de uma social heteronormativa, intolerante e preconceituosa.

Alguns minutos depois de me despedir de meus pais, ouvi baterem na porta e quando permiti que quem quer que fosse entrasse, Claudia e Carlos, para meu alivio, entraram no cômodo. Mas quando pensei em desligar o computador e conversar com eles, uma nova chama de vídeo apareceu na tela chamando a minha atenção. Mas meu susto maior foi ver quem me chamava: Felipe. Desde nosso incidente não havia mais falado com ele, apenas com Beatriz, e tinha sido uma única vez. Pensei bem antes de atender a ligação, mas acabei fazendo por incentivo de Carlos que logo se aproximou.

- Oi Bruno.

- Oi. – falei tímido.

- Como você está?

- Bem, e você?

- Também. Novidades? – foi um pouco inevitável não dar um mínimo sorriso. Uma das primeiras coisas que passou em minha cabeça quando pedi Carlos em namoro foi contar para meus amigos, mesmo com tudo que tinha acontecido. Quando falei para Felipe e Beatriz que havia ficado com Carlos a primeira vez eles super me apoiaram e era meio inevitável não lembrar as piadinhas que meu melhor amigo fazia sobre minha vida intima.

- Sim. – falei mostrando a aliança em meu dedo, o mesmo movimento que fiz para meus pais no inicio da tarde.

- Tá namorando? – para meu alivio, Felipe abriu um largo sorriso.

- Sim. Oficializamos ontem. – acompanhei o sorriso.

- É com o...

- Carlos. – adiantei.

- Nossa, que bom. Felicidades.

- Obrigado! – o silencio estalou-se e apenas ficamos nos encarando até que decidi falar. – E você, tem alguma novidade?

- Não... O de sempre.

- hum.

- Voltei a falar com Beatriz. – senti minha barriga revirar. Felipe nunca a chamou pelo nome. Nunca. Desde a primeira vez que nos reunimos para fazer um trabalho da faculdade. Desde o primeiro encontro deles, ele a tratou por Bia e ela por Lipe. Além disso, eu não me sentia preparado para falar sobre esse assunto com ele, afinal Felipe tinha sido o maior atingido pela minha boca grande.

- Fico aliviado. – consegui falar depois de alguns segundos o encarando e pensando no que responder.

- Olá Felipe. – Eu já tinha esquecido que Carlos estava no quarto. Ele com certeza havia percebido meu desconforto.

- Olá Professor.

- Pode me chamar pelo meu nome. – disse rindo.

- Tudo bem. – falou tímido.

- Como estão as coisa na faculdade?

- Puxado, mas caminhado.

- Nada que vocês não consigam vencer.

- Nós tentamos. – Carlos rio. – Ah, Bruno, esqueci-me de te falar, Guilherme mudou-se lá da casa onde você morou. – fiquei feliz quando ele pareceu esquecer nosso pequeno desentendimento.

- Serio, por quê?

- Ele voltou a morar na casa dos pais, porque saiu do emprego.

- Nossa, ele gostava tanto de trabalhar na loja.

- Pois é. Segundo ele, houve um desentendimento com a filha do patrão.

- Ah, entendi.

Mesmo com toda a agitação que houve no meu dia, ainda assim fiquei feliz e aliviado. Meus pais já estavam cientes de meu namoro com Carlos, mesmo não tendo ficado tão felizes. As pessoas que eu mais me importava, com exceção de Beatriz, já estavam sabendo da novidade e todos aparentemente me apoiaram. Sem falar que havia voltado a falar com meu melhor amigo.

Ficamos quase uma hora conversando sobre banalidades, eu Felipe e meu namorado. Meu amigo interessou-se sobre o ultimo acontecimento e ficou indagando como havia sido nossa oficialização, e fiquei com medo que ele fizesse algum comentário ou piadinha desnecessária como era de seu feitio. Contudo, imagino que a presença de seu ex-professor o intimidou, o que me causou muito alivio.

Quando finalmente nos despedimos já era noite. Claudia estava na cozinha preparando a janta e queria que jantássemos em sua companhia, o que recusamos, pois eu e Carlos tínhamos combinado de ir jantar juntos. Apenas nós dois. Quando Claudia percebeu nosso intuito não protestou e recomendou um restaurante que ela costumava frequentar. O mesmo que ela havia sido pedida em casamento, o que me fez concluir que era um bastante tradicional. Não que ela fosse velha. Entretanto, o seu comentário acabou me deixando encabulado e meu rosto queimou feito fogo causando risos nela e em meu namorado.

Somente quando estávamos saído de casa e esbarramos com Gabriel na entrada foi que me dei por sua falta. Ele não tinha uma cara muito amistosa, por isso não trocamos muitas palavras. Fizemos um rápido cumprimento e nos despedimos de todos. Mas foi automático acordar-me de todas as historias que Claudia havia me contado sobre ele.

Entramos no carro de meu namorado e fomos para o tal restaurante que Claudia nos recomendou. Realmente era um lugar maravilhoso, romântico e com clima agradável. Era bem simples, mas aconchegante e receptivo. Tinha um casal fazendo dueto com musicas de origem portuguesa e com iluminação baixa, dando um ar rustico ao local. Estava bem movimentado, por ser final de semana, por isso ficamos em uma mesa um pouco afastado do palco. Depois de comermos a sugestão do chefe decidimos ir ao cinema, o que pouco me agradou, pois mesmo estando em Portugal, ainda tinha dificuldade de compreender algumas expressões, principalmente quando falavam rápido demais, como era o caso do filme.

Não ficamos muito tempo no cinema, logo convenci Carlos a irmos para uma pracinha que tinha próximo do nosso prédio. Mas também não ficamos muito tempo ali, pois estava bastante escuro e logo apareceu um grupinho suspeito, pois por mais que nós não quiséssemos, os julgamos pela aparência. É inevitável. Decidimos então ir para o café. O mesmo aonde íamos todas as manhãs fazer nossa primeira refeição e demos nosso primeiro beijo. Quando percebemos já era quase meia noite e decidimos ir para o seu apartamento.

Depois da minha conversa com Claudia sobre situações trágicas que seu filho sofreu fiquei com medo de algo acontecer comigo e Carlos, já que ele fazia questão de andarmos de mãos dadas a todo instante. Também trocamos caricias em público, mas meus eu ficava sempre muito constrangido e nervoso, por isso evitava ao máximo. Eu imaginei que esse tipo de sujeira só acontecia no Brasil, mas eu estava completamente errado sobre isso. O mundo é preconceituoso. O mundo é completamente sujo e intolerante.

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Dedico, in memoria, este capítulo a Rafael Barbosa Melo, 14 anos, morto a pedrada e paulada no ultimo sábado, dia 13 de junho de 2015, em Cariacica, Santa Cataria, por ser homossexual. Seu passa tempo favorito era desenhar e criar roupas para suas bonecas, pois sonhava tornar-se estilista.

Lembrem-se: Preconceito mata!

Comentários

Há 2 comentários.

Por Niss em 2015-06-17 23:50:53
-O capitulo em si foi muito bom Drex, viajo muito nos seus contos, e voltar a realidade assim tão rapidamente foi como choque, meus pesames pelo seu amigo. Niss
Por Nickkcesar em 2015-06-17 22:36:37
Poxa vida ... Sem comentários 😢 , pessoas preconceituosas e hipócritas me irritam muuuuito mas emfim , o capitulo ta perfeito como todos os outros 😁