Capítulo XVIII

Conto de Drexler como (Seguir)

Parte da série O destino de Bruno

Olá queridos,

Como prometido, depois de quase um mês, estou de volta. Em conversa com um leitor, falei que voltaria quarta, mas aqui está o capitulo novo. Cheio de emoção e novidade. Espero que gostem.

Adorados leitores, obrigado por acompanhar a serie e esperarem todo esse tempo com o coração na mão. Espero que me desculpem pelo afastamento.

Não se esqueçam de COMENTAR!

Queridos, já publiquei “Um Destino de Bruno” no Wattpad, porém há mudanças, como a junção dos primeiros capítulos: http://www.wattpad.com/myworks/39325391-o-destino-de-bruno Acessem, leiam, comentem e divulguem!

Quem desejar conversar comigo sobre a serie ou deixar criticas e comentários privados ou, ainda, sugestões: j.drex@hotmail.com << Responderei todos os e-mails nas Quartas-feiras. Abraços e boa Leitura!

Música tema do capítulo: Sensível demais - Maria Bethânia (intr.)

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Sensível demais – Maria Bethânia

Carlos se aproximou de mim e, com os olhos cheios de água, ajoelhou-se ao meu lado segurando minha mão direita presa a cama. Ele não dizia nada, apenas me encarava com seus olhos negro-vermelhos. Senti as lágrimas descerem pelo meu rosto. Queria tocar seu rosto, beija-lo, abraça-lo, pedir desculpas. Enquanto isso todos nos encaravam silenciosos àquela cena.

- My pupil... – falou beijando minha mão.

- Bom, acho que já estou indo. – adiantou-se o Médico. - Me acompanha até a porta, Dra. Claudia?

- Claro. – Ela levantou-se da cama e deu lugar a Carlos. Vi uma lágrima escorrer pelos olhos do meu professor. – Vem Gabriel. – a porta foi fechada e finalmente ficamos a sós.

- Eu estava tão preocupado.

- Desculpa. – foi tudo que consegui dizer antes que minhas lagrimas caíssem de vez e o soluço tomasse conta do quarto.

- Bruno... – ele se debruçou sobre mim, me abraçando, e chorou, silenciosamente, junto comigo. Eu sentia suas lagrimas molharem meu ombro, seu peito subir e descer descompassado.

- Desculpe-me, Carlos! Por favor, me desculpe! – eu não parava de repedir em meio ao choro.

- Nunca mais suma assim... Tive tanto medo... – falou depois de se acalmar um pouco mais.

- Desculpa Carlos...

- Xiii – ele colocou um dedo em minha boca. – Para de pedir desculpas. Só me prometa que nunca mais vai sumir assim. – apenas concordei com a cabeça.

- Me abraça, Carlos. - Atendendo ao meu pedido, Carlos deitou-se mais uma vez sobre mim, e logo depois ao meu lado, me abraçando. – Como você está? – perguntou depois de um tempo?

- Mais tranquilo agora. – ele depositou um beijo em meu pescoço e sorri com a sensação. – E você?

- Melhor agora que te encontrei.

Eu não sabia o que dizer ou como agir. Pendi em pensamento. Não sei por quanto tempo ficamos daquele jeito. E na verdade eu não queria saber, queria apenas sua presença ao meu lado. Saber que mesmo depois de tudo que eu fiz, ainda o tenho. Mas logo a porta do quarto foi aberta novamente por Claudia.

- Com licença... – Carlos parecia ter dormido apoiado sobre meu ombro, mas logo se levantou, ficando sentado ao meu lado. – Não fomos apresentados ainda... Você é o professor de Bruno, correto?

- Sim, sou. Mas pode me chamar de Carlos. – Ele levantou e estendeu a mão para a dona da casa cumprimentando-a.

- Nós precisamos, mas acho que pode esperar um pouco. – ela olhou rapidamente para mim com um sorriso e voltou-se para meu professor mais uma vez.

- Sim, precisamos. Mas desde já agradeço por tudo que fez pelo meu Bruno. – vi quando ela levantou uma de suas sobrancelhas. Talvez pelo fato do “Meu” ser utilizado na frase.

- Não é nenhum esforço. Ele é um bom menino, só está confuso. Já criei um grande apreço por ele, e por isso vou ajudar no que for preciso para ajuda-lo. – ela falou tudo olhando em meus olhos, que paravam de escorrer lagrimas.

Mesmo com a dor emocional, a aflição que sentia no meu peito. Senti paz com seu olhar. Senti amor e confiança vindo dela para mim. Suas palavras me transmitiam fé. Senti que realmente ela iria me ajudar com o que fosse que estivesse passando comigo. Apesar de eu começar a pensar que todos soubessem o que já se passava em minha cabeça, mas era como se recusassem a usar as palavras diretas em minha presença.

- Bruno, - ela começou a andar em minha direção. – Você não quer tomar um banho antes de dormir?

- Gostaria sim, Dona Claudia. – era a primeira vez que eu a chamava pelo nome. Foi tão bom dize-lo.

- Só Claudia. – seu sorriso era tão sincero. Isso era perceptível pelos seus olhos, que atrás dos óculos, quase se fecharam com tal ato. – Então vou chamar o Gabriel para que te ajude no banho.

- Ok. – sorri sem graça. – Eu posso tomar meu banho só. – os olhos de Carlos transmitiam tristeza, não sei se por eu estar amarrado sobre uma cama ou pelo que Claudia havia dito.

- Eu sei que pode criança, mas é só por segurança. Ele vai apenas ficar ao teu lado para te ajudar caso precise.

- Não precisa, de verdade. – insisti.

- Bruno...

- Então o Carlos pode fazer isso. – o olhei mais uma vez. – Não é?

- Claro. – a resposta veio rápida.

- Tem certeza? Pensei no Gabriel, pois imaginei que fosse ficar sem graça na frente de mim ou do seu professor.

- Ficaria muito mais sem graça na frente de seu filho, que mal o conheço. Além do mais... – olhei para meu professor como pedido para falar e ele acenou com a cabeça. – O Carlos é mais que meu amigo. – não tive coragem de dizer que ele era meu namorado, porém ela pareceu entender, a julgar pelas suas sobrancelhas suspensas, mas a noticia não pareceu choca-la tanto.

- Oh, claro, querido. – ela sorrio para nós dois e continuou. – Me ajuda a desamarra-lo?

- Claro. Mas... Por que, exatamente, ele está preso? – perguntou já desamarrando meu braço esquerdo.

- Ontem, no hospital, ele teve um colapso nervoso, mas acreditamos que fosse pelo choque do ambiente. Mas hoje, depois que acordou, ele teve mais uma vez e o médico aconselhou que o amarrássemos se isso acontecesse. Sei que isso é terrível, mas não tivemos outra opção.

- Tudo bem. – vi mais uma lagrima escorrer em seus olhos, mas logo a limpou, indo desamarrar meu pé.

- Não preciso ficar mais amarrado.

- Bruno... – começou Carlos.

- Eu me desesperei porque... – pensei bem nas palavras que usaria. – Não sabia como você estava. – eu queria saber de você. – ele me olhou com um sorriso e os olhos vermelhos e molhados. – Desculpa! – falei apenas com os lábios.

- Vou pegar mais uma combinação de roupa do Gabriel, eles tem o mesmo corpo. – Disse Claudia depois que eu já estava completamente desamarrado, sentado na cama e com a perna engessada coberta por saco plástico.

- Obrigado, Don... Claudia. – sorri tímido. - Mando tudo amanhã.

- Manda? De onde? – perguntou confusa.

- Da minha casa. Agradeço por tudo que a senhora fez por mim.

- Não, Bruno. Você vai ficar aqui, sob os meus cuidados.

- Não será necessário. Mas a ajuda que a senhora me ofereceu... – olhei rápido para meu professor e falei com convicção. – Eu vou aceitar.

- Criança...

- Pode deixar senhora. Eu vou cuidar dele. – adiantou-se Carlos.

- Ele me contou quem não tem família aqui e não pode ficar só.

- E não ficará. – o olhei confuso. – Entregarei o apartamento dele. Ele ficará comigo, na minha casa.

Eu não sei exatamente qual foi minha reação. É como se meus pensamentos que tive no da outra vez que tive parei no hospital, quanto tive a queda de pressão: “em menos de duas horas morando juntos, já tínhamos tido nossa primeira transa. Se continuar como está, semana que vem adotaremos um cachorro, compraremos uma casa e nos casaremos”. Agora definitivamente estaríamos morando junto.

- Como assim? – indaguei confuso e com medo.

- Não posso te deixar morando sozinho naquele apartamento. Então vou logo entregar de uma vez, e você fica comigo, no meu. Ou melhor, nosso. – ele me sorriu me tentando me tranquilizar.

- Já tentamos isso uma vez, não deu certo. – lembrei.

- Foi tudo um mal entendido. Você sabe. – lembrei mais uma vez de um dos motivos de eu ter tentado me matar.

- Então está decidido, ele fica aqui. – Claudia disse e saiu do quarto.

- Você prefere ficar aqui? – Carlos me perguntou forçando um sorriso e sentando-se ao meu lado. – Vou entender. – eu, definitivamente, não queria ficar ali. Embora Claudia fosse um amor de pessoa, aquele seu filho... Não nos daríamos bem. Ele insiste em uma aproximação, mas algo me diz que não devo ceder.

- Não. Eu prefiro ficar na sua casa. – o abracei forte e beijei sua bochecha

- Que íntimos. – falou Gabriel na porta, nos assustando. Sua feição e risos transmitiam pura malicia

- Deseja alguma coisa? – perguntei seco e levei um beliscão no braço de meu professor, o que me fez olha-lo.

- Só vim entregar esta roupa. – ele caminhou até nós e entregou uma calça de tecido macio de cor verde claro e uma camisa de bolinhas de mesma cor. – Podem continuar.

- Obrigado. – falei com raiva.

- Você deveria trata-lo melhor. Eles cuidaram de você muito bem. – repreendeu-me Carlos.

- Você não viu a malicia com que ele falou conosco?

- Vi. Mas não me atinge, porque afinal você é meu namorado.

- Não sou seu namorado. – falei mais para mim do que para ele. – E, também, não gosto nenhum pouco dele.

- Posso saber o porquê?

- Não, porque eu também não sei. Apenas não me sinto bem perto dele.

- Ok.

Sem mais nada a dizer, seguimos para o banheiro que havia no quarto. Já tinha dois bancos no ambiente, para que eu pudesse me sentar e apoiar a perna faturada. Tirei minha roupa, com ajuda de meu professor, e ele fez o mesmo, ficando apenas de cueca, a fim de não molhar a roupa. Com muito carinho, Carlos foi me ensaboando, mesmo eu dizendo que não era necessário, que eu conseguia tomar meu banho só. Ele insistiu.

Acho que eu nunca tive um susto tão grande, quanto eu tive enquanto Carlos me dava banho. Do nada ele começou a recitar um poema de Elisa Lucinda, o qual me fez refletir se ele havia mexido em minhas coisas e descoberto o livro dela que levo para onde eu for: LUCINDA, Elisa. Euteamo e suas estreias. Rio de Janeiro: Editora Record, 1999. Meu livro de cabeceira. O poema era: “DA CHEGADA DO AMOR” e ele recitou tudo de cabeça, como eu fiz da ultima vez. E eu conhecia este de cor também o que me fez acompanha-lo a partir da segunda estrofe e o corrigi quando quis errar no final. Rimos.

- “Da chegada do amor”, Elisa Lucinda – começou meu professor. Na mesma hora arregalei os olhos. -

Sempre quis um amor

que falasse

que soubesse o que sentisse.

Sempre quis um amor que elaborasse

Que quando dormisse

ressonasse confiança

no sopro do sono

e trouxesse beijo

no clarão da amanhecice.

Sempre quis um amor

que coubesse no que me disse.

Sempre quis uma meninice

entre menino e senhor

uma cachorrice

onde tanto pudesse a sem-vergonhice

do macho

quanto a sabedoria do sabedor.

Sempre quis um amor cujo

BOM DIA!

morasse na eternidade de encadear os tempos:

passado presente futuro

coisa da mesma embocadura

sabor da mesma golada.

Sempre quis um amor de goleadas

cuja rede complexa

do pano de fundo dos seres

não assustasse.

Sempre quis um amor

que não se incomodasse

quando a poesia da cama me levasse.

Sempre quis uma amor

que não se chateasse

diante das diferenças.

Agora, diante da encomenda

metade de mim rasga afoita

o embrulho

e a outra metade é o

futuro de saber o segredo

que enrola o laço,

é observar

o desenho

do invólucro e compará-lo

com a calma da alma

o seu conteúdo.

Contudo

sempre quis um amor

que me coubesse futuro

e me alternasse em menina e adulto

que ora eu fosse o fácil, o sério

e ora um doce mistério

que ora eu fosse medo-asneira

e ora eu fosse brincadeira

ultra-sonografia do furor,

sempre quis um amor

que sem tensa-corrida-de ocorresse.

Sempre quis um amor

que acontecesse

sem esforço

sem medo da inspiração

por ele acabar.

Sempre quis um amor

de abafar,

(não o caso)

mas cuja demora de ocaso

estivesse imensamente

nas nossas mãos.

Sem senãos.

Sempre quis um amor

com definição de quero

sem o lero-lero da falsa sedução.

Eu sempre disse não

à constituição dos séculos

que diz que o "garantido" amor

é a sua negação.

Sempre quis um amor

que gozasse

e que pouco antes

de chegar a esse céu

se anunciasse.

Sempre quis um amor

que vivesse a felicidade

sem reclamar dela ou disso.

Sempre quis um amor não omisso

e que suas estórias me contasse.

- Maravilhoso. – elogiei.

- Perfeito. – roubou-me um selinho.

- Por que este poema? – perguntei rindo.

- Sabia que você gostava dela.

- Andou mexendo nas minhas coisas?

- Não. Você tem um livro dela há muito tempo.

- Como sabe?

- Acha que não te observava desde nossas aulas de Filosofia? Uma vez te vi lendo, depois percebi, muitas vezes, que você andava sempre com esse livro na bolsa.

- Serio?

- Sim. E desculpa.

- Pelo quê?

- Eu tive que mexer na sua bolsa para saber o título. – ri de sua cara. Carlos estava ajoelhado a minha frente esfregando meu pé saldável.

- Não seria mais fácil chegar a mim, e perguntar?

- Claro: “Oi Bruno. Tenho reparado em você há muito tempo e vi que você carrega um livro sempre, qual o título? Quero lê-lo, porque sou apaixonado por você”.

Acho que ele não estava preparado para dizer isso, pois quando percebeu o que disse arregalou os olhos assustados e eu ri. Simplesmente ri. Alisei seu rosto e me abaixei para beija-lo. Foi lindo e estranho, pois quando percebi, já estava excitado. Separei meus lábios e não sabia para onde olhava, apenas evitei os olhos de Carlos que começou a rir. Mesmo que já tivéssemos feito muita coisa, aquela era uma situação diferente.

- Desculpa. – falei tímido. Eu estava muito vermelho.

- Tudo bem.

Não falamos mais nada. Carlos terminou meu banho, me enxugou, vestiu-me e saímos do banheiro. Sentei-me na cama e pedi que ele fosse chamar Claudia, para que eu falasse que iria para a casa de meu professor. Para meu azar, ela havia saído e só estava seu filho em casa, do qual tinha recomendações expressa de não me deixar sair. Não tive outra opção a não ser ficar e espera-la, pois mesmo que eu enfrentasse Gabriel, não poderia ir embora sem despedir-me presencialmente dele e agradece-la por tudo que fez por mim. Também sabia que Carlos concordaria comigo. Ele ficou comigo no quarto esperando-a.

- Carlos... – chamei.

Estávamos deitados na cama, de porta fechada para que não fossemos incomodados pelo, aquele a quem de, estorvo. Eu estava deitado sobre o peito de Carlos abraçando-o enquanto recebi seus carinhos, às vezes me fazia cafuné, outro momento me alisava as costas ou braços, e sempre me beijando a cabeça. Era ótimo sentir seu cheiro novamente, sentir sua pela, receber seus carinhos, poder abraça-lo e beija-lo. Parecia que havia décadas que não nos víamos.

- Hum? – respondeu-me com uma onomatopeia.

- Como anda as coisas na faculdade?

- Mandei uma carta avisando do meu afastamento. Você ainda está de atestado.

- E como faremos?

- Ficarei cuidando de você. – antes que eu pudesse contraia-lo, ele continuou. – Nós faremos a pesquisa em casa. Enquanto eu estiver dando as aulas, Cristal ficará com você. Falarei com ela e Elizabeth. – me levantei no mesmo instante.

- Fico feliz que tenha usado o “Nós”, mas não quero uma babá ao meu lado a todo instante. Principalmente se está babá for a Cristal. – ele acompanhou meu movimento, ficando sentado de frente para mim. Estávamos sérios.

- Primeiro: usei o “nós”, porque te conheço o suficiente para saber que não se contentará em ficar em casa e, como você fala, “atrasar a pesquisa” – sorri concordando. – Quanto a Cristal, por que tanta raiva dela?

- Não consigo conviver com o fato dela ter feito o que fez. Por eu ter apresentando-a a Maciel e Rafael. – lembrar esse fato fez com que um arrepio percorresse minha espinha dorsal.

- Bruno...

- Não Carlos. Não quero contato com nenhum deles três. – ele apenas suspirou em derrota.

- Tudo bem. Mas como faremos?

- Você vai dar suas aulas normalmente, eu fico em casa. – Carlos esfregou as mãos pelo rosto e subiu passando-a no cabelo tentando se controlar.

- Você não vai ficar só.

- E as minhas aulas de francês? – mudei de assunto, não iria continuar a discutir com algo que não faria. Dessa vez iria fazer minha voz valer, não faria todos os gostos de meu professor. Não dessa vez.

- Não sei. As burocracias daqui são diferentes. Talvez você perca a bolsa.

- Por que? - Como eu iria me sustentar sem a bolsa? A vida em Portugal tem outro custo de vida. Meus pais batalhavam muito para me manter em São Paulo.

- Quiçá um atestado não vá atender ao tempo que você ficará em casa.

- Mas eu posso ir dar as aulas.

- Você não vai dar aulas com... – ele não continuou e se levantou da cama.

- Com o que? – fiz o mesmo tentando o encara.

- Nada, Bruno.

- O que você não quer me falar?

- Não estou te escondendo nada.

- E por que esta me evitando olhar? – ele não me respondeu tão pouco me olhou. – É isso? Não vai mesmo me falar?

- Não tem nada para falar, bruno.

- OK. – deitei-me na cama.

Não falei mais nada pelo resto da tarde. Apenas deite-me na cama e fingi dormi enquanto ouvia Carlos tentar falar comigo sentado na cama. Quando percebeu que não lhe responderia mais e não mais o olharia, sentou-se na poltrona para esperar Claudia chegar. Não demorou muito e ela entrou no quarto acompanhada de seu filho.

- Queriam falar comigo? – virei-me para encara-la.

- Só queria agradece-la mais uma vez por tudo. – senti o olhar de Carlos sobre mim pedindo que continuasse.

- Não é nenhum esforço, criança.

- Dona Claudia... – meu professor a chamou quando ela ia saindo novamente. – Eu e Bruno conversamos e ele achou melhor ficar no meu apartamento.

- Mudei de ideia.

- Como assim? – ele me olhou confuso.

- Claudia disse que eu não incomodaria ficando aqui. Pois bem, gosto dela, posso ficar, se não a enfadar.

- Bruno... – ele começou, mas Claudia foi mais rápida e o cortou.

- Tudo bem, fique a vontade. Gabriel irá vir dormir com você, assim não precisamos te amarrar. Tudo bem?

Não sei se tinha feito à coisa certa em relação a brigar com Carlos. Ou pior: não sabia se aquela noticia era boa ou ruim. Ficar amarrado ou dormir com o entojo, Gabriel?

- OK. – falei e a dona da casa saiu do quarto.

- Você vai ficar mesmo aqui? – Carlos me olhou triste.

- Nossa! Vou indo também. Parece que o casalzinho teve uma briguinha e precisam conversar. – Ironizou Gabriel, mas não demos importância e logo nos deixou só mais uma vez.

- Acho que minha presença não é mais necessária aqui. – permaneci calado. – Quer que eu venha deixar alguma coisa?

~ Droga! Eu ainda preciso dele. ~ pensei.

- Se puder fazer isso. – falei dando-lhe as costa deitado e encarando a parede a minha frente.

- Posso pelo menos saber o porquê esta com raiva de mim? – meu professor sentou-se a beira da cama com a mão sobre meu braço.

- Só quero que não me esconda nada. Principalmente quando se diz respeito a mim. – me virei novamente e olhando em seus olhos.

- Não é nada demais.

- Então o que custa falar?

- Bruno... Por favor...

- Não precisa trazer nada.

- Vai comigo?

- Não, eu pego um taxi e vou buscar. – ele suspirou pesado. – sobre as aulas, não se preocupe, vou ministra-las e irei para a faculdade. Não prejudicarei sua pesquisa. – mais uma vez dei-lhe as costas.

- Bruno...

- Não quero saber o que você acha disso.

- Você é mesmo um cabeça dura! – falou levantando-se da cama. – Entenda, eu só quero te ajudar. Você não ver isso.

Com certeza ele não sabe como essas palavras me atingiram. Eu só olhava meu lado. Sempre. Carlos tinha razão. Felipe tinha razão. Beatriz, Fernando, Alice, todos tinham. Eu era um egoísta. Comecei a chorar novamente, silenciosamente.

- Amanhã venho deixar suas coisas. – a voz de Carlos era de irritação, mesmo que ele tentasse disfarça, eu sabia que ele estava desapontado comigo.

Eu não disse mais nada, Carlos apenas saiu do quarto me deixando sozinho com meus pensamentos. Ele não me havia visto chorar. Quando vi que estava só no quarto, virei- me sobre a cama e deixei o chorar sair. Meu peito doía, eu soluçava. O choro já estava se tornando algo diário, era sempre assim. Mal percebi quando aquele estojo entrou no quarto para me perturba.

- Ei cara, não chora, se acalma. – Falou se aproximando da cama. - A briga foi feia, não é?

- Cala a boca.

- Aconteceu alguma coisa?

- Nada.

- Sabe, eu também estudo para ser psicólogo.

- Que bom.

- Mas mesmo assim não consigo te entender. – ignorei totalmente sua insignificância no quarto. Mas as lagrimas já paravam de escorrer. – Mal me responde e quando faz isso é rude e com poucas palavras.

- Não vê que quero ficar só? – perguntei sem olha-lo.

- Não tenho culpa de você ter brigado com seu namorado.

- Carlos não é meu namorado.

- Não? – o olhei e encontrei um rosto completamente assustado. Olhos arregalados, boca aberta. – Mas no hospital...

- Eu nunca falei isso.

-Achei... Achei que você era namorado dele.

- Por que nos viu abraçado? – bufei voltando a encarar o teto.

- Não. No hospital...

- O que tem?

- Você disse que o amava. – o olhei. Agora eu estava assustado.

~ O que? Como assim que o amo? Eu... Eu o amo? ~ pensei.

- Não seja idiota. Ao menos estava consciente.

- Estava sim.

- E como não me lembro de nada? Aquele dia não existiu. Nada é considerável.

- Serio?

~ Aquilo é um sorriso? Ele está sorrindo? É um idiota mesmo; rindo da desgraça dos outros. ~ refleti comigo mesmo.

- Posso perguntar algo? – insistiu.

- Não.

- Ok. Por que vocês estavam brigando, então?

- Qual parte do ‘não’ você não entendeu?

- Eu iria estranhar se você disse ‘sim’. – bufei. – Mas então... Pode me dizer.

- Por favor, me deixe sozinho.

- Mesmo que eu quisesse, não poderia. Mamãe pediu que eu dormisse aqui te fazendo companhia.

- Não preciso de babá. – ele rio.

- Levando em consideração sua idade, também acho. – o fitei sem expressão. Ele mantinha um sorrisinho de canto.

- Fica calado, pelo menos. – virei-me na cama, dando-lhe as costas.

- Não vai me responder?

- Não. Então cale a boca.

- Você é muito grosso. Poderia pelo menos fingir educação para com o dono da casa. Ainda mais quando te salvamos, cuidamos de você e tento ser seu amigo.

- Agradeço do fundo do meu coração pelo que fazem por mim, mesmo que eu tivesse tentado me matar, pois esse era meu desejo. De toda forma, não sou obrigado a te engolir.

- Sou tão ruim assim para você?

- Mai s do que eu possa dizer ou expressar.

- Uau. Você é direto. Isso machuca, sabia?

- Minha maior característica é a sinceridade. Não tenho papa na língua.

- Vou anotar no meu caderninho. – o ouvi rindo. – Quais mais são suas características?

- Gosto do silencia. Então colabore.

- Anotado. – mais risos. – Bruno... Só me responda uma coisa. De verdade... Por que você tentou se matar?

- Não quero falar sobre isso.

- Você nunca quer conversar comigo sobre nada. Mas tudo bem.

Finalmente ele se calou e pude me perder em meus pensamentos. Carlos mal tinha me encontrado, dito que era apaixonado por mim, e já estávamos brigados. Ao menos tive tempo de saber de meus pais. Se eles já estavam sabendo sobre mim, se Carlos sabia que eu tinha tentado suicídio. O que falaram para ele? O que ele não queria me contar? Teria algo a ver uma coisa com a outra? Se Carlos falou com meus pais, o que disse? Por que eu odiava tanto o Gabriel? E o que Gabriel falou, eu amava Carlos? Adormeci.

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Essa semana terá capítulo novo. Não sei quando, mas terá. Abraço, até lá. COMENTEM!

Comentários

Há 1 comentários.

Por Niss em 2015-06-14 02:41:43
Affs... finalmente Drex... Ja iniciei a leitura no Wattpad. Ficou maravilhoso esse capitulo. Espero q o Bruno se recupere logo, e q volte a falar com o Carlos. Não sei mas acho q esse Gabriel vai desenrolar uma paixão pelo Bruno hein... Bjs Niss.