Capítulo XVII

Conto de Drexler como (Seguir)

Parte da série O destino de Bruno

A título de conhecimento, mesmo sabendo que muitos já perceberam, Bruno está com depressão. Não há nada de paranormalidade em “O Destino de Bruno”, a voz que ele ouviu, as sombras no rio, são tudo fruto da imaginação dele. São sintomas da depressão: o remorso, a culpa, a falta de animo, angustia, dor no peito, dentre outras. Esses sintomas, muitas vezes, são temporários, aparecem naquele momento e depois somem. O ato do suicídio é o extremo. Porém é o que cometem muitas das pessoas que sofrem desse problema.

Recomendo, para quem ainda não leu ou não conhece, “Os sofrimentos do jovem Werther”, de Goethe. É um livro de origem alemã que trás a depressão e o suicido como enredo, narrando pouco a pouco a historia de um rapaz que arquiteta sua própria morte. Está livro ocasionou uma das muitas teorias sobre esse assunto: “O efeito Werther”. Duas correntes de pensamentos que tentam explicar a causa e os motivos de uma pessoa a se matar. O livro se torna muito mais atrativo quando descobrimos que é baseado na própria vida do autor com um pouco de ficção, onde ele se preocupou em esconder os verdadeiros lugares onde ocorreu a historia e omitir o nome dos personagens por meio de pseudônimos. Como, então, ele escreveu o livro? Simples, ele matou o protagonista para não cometer o seu suicídio. Ele se matou na obra.

Drexler, então “O Destino de Bruno” é baseado nesse livro? Não. Eu já estava escrevendo este romance quando tive conhecimento de “Os sofrimentos do Jovem Werther”. Há menos de 15 dias eu o li. Eu já tinha em mente que o protagonista iria sofrer de depressão, pois poucas vezes li livros com essa temática. Me surpreendi quando soube de um livro de 1774 com tal enredo. Recomendo-o.

Adorados leitores, obrigado por acompanhar a serie. Não se esqueçam de COMENTAR!

Ah, Criei uma conta no site Wattpad a fim de publicar esta obra: http://www.wattpad.com/myworks/39325391-o-destino-de-bruno Acessem, comentem e divulguem! Ainda estou postando os primeiros capítulos, porém estão sendo revisados e melhorados. Abraço e boa leitura!

Quem desejar conversar comigo sobre a serie ou deixar criticas e comentários privados ou, ainda, sugestões: j.drex@hotmail.com << Responderei todos os e-mails nas Quartas-feiras. Abraços.

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Acordei sentindo-me um pouco atordoado. Meu corpo doía por inteiro, minha cabeça latejava. Mal conseguia manter meus olhos abertos por muito tempo. Mas com o tempo pude ir me acostumando. Eu estava deitado sobre uma cama em algum quarto desconhecido. Era bastante espaçoso, tinha as paredes eram brancas, quadros floridos nas paredes e uma televisão. Por fim, ao meu lado, estava uma poltrona listrada, azul, cinza e branco. Fiquei só por alguns estantes olhando ao meu redor, tentando me localizar, quando uma mulher loira, baixinha – não mais de 1,65 cm de altura – entrou no quarto trazendo uma bandeja com frutas e remédio.

- Que bom que acordou criança. – falou gentilmente.

- Onde estou? – perguntei confuso.

- Você não lembra? – neguei com a cabeça. – Você está na minha casa. Lembra-se de alguma coisa de ontem? – ela falava enquanto colocava a bandeja na mesinha que havia perto da porta e logo se aproximou de mim.

- Pouca coisa. Lembro que pulei de uma ponte.

- OK. Está sentindo alguma coisa? – ele foi me ajudando a sentar-se na cama apoiado em travesseiros. Pude perceber que a senhora tinha os olhos verdes.

- Dores em todo meu corpo. – pude perceber que minha perna esquerda estava engessada. – O que aconteceu com a minha perna?

- A pancada na água fez fatura-la.

- Ah, ele acordou. – falou um rapaz entrando no quarto. Ele era alto, acho que uns 1,80 cm de altura, tinha apele clara e o cabelo negros, curto e espetado, usava um alargador na espessura de um dedo e um brinco na parte superior da orelha direita. – Como ele está? – perguntou à senhora que eu não conhecia.

- Com dores, mas vai passar. – Ela foi até a bandeja e pegou um copo com água e trouxe-me com comprimidos. – Tome. Vai aliviar suas dores.

- Obrigado. – tomei. – Senhora, por que estou em sua casa? Eu não devia estar em um hospital?

- Você recebeu alta hoje pela manha. E como não conseguimos entrar em contato com nenhum parente seu, oferecemos e você aceitou vir conosco.

- Eu aceitei? – perguntei confuso.

- Sim, não se lembre? – perguntou rapaz juntando as sobrancelhas.

- Não. Tudo que lembro é de estar no rio. – eles ficaram se olhando por um instante.

- É normal, criança. Mas você lembra-se de mim? – perguntou a senhora.

- Não. – franzi o cenho forçando a memoria. – Deveria?

- Estávamos na ponte antes de você pular. Falamos com você. – lembrei-me da psicóloga e do rapaz. Eram eles. – Nós o levamos para o hospital depois que te resgataram.

- E eu estava com você quando acordou. – completou o rapaz.

- Quem me resgatou?

- Para sua sorte, havia um pescador na margem do rio. Quando ele viu a movimentação, antes que pulasse, ele foi para mais próximo e te pegou quando você pulou. – Foi a senhora quem me respondeu. Senti raiva dele e gratidão.

- Por que você fez aquilo? – perguntou o rapaz sentando-se na poltrona. Apenas desviei o rosto para a parede a minha frente.

- Não é hora para essas perguntas, Gabriel. – então era esse o nome do rapaz. Gabriel.

- Notamos que você não é português... – disse o tal Gabriel.

- Não, sou brasileiro.

- E tem família aqui? Amigos?

- Sim...

- Pode nos dar algum contato? – perguntou a senhora.

- Tem no meu celular. – falei sem expressão olhando fixamente para a parede.

- Ele não funciona mais. Ele estava em seu bolso, então... – respirei fundo antes de responder ao rapaz.

- Sei o e-mail do meu professor.

- Professor? – a senhora perguntou confusa.

- Ele é o único que conheço aqui.

- OK, me diz, falarei com ele. – Gabriel se adiantou e pegou um papel na escrivaninha. Após eu dizer o endereço eletrônico, o rapaz saiu do quarto avisando que entraria em contato com Carlos.

- Que tal comer alguma coisa, criança?

- Não estou com fome. – falei seco.

- Você não pode ficar sem comer... Por favor, coma alguma. Fiz uma salada de frutas. É leve e forte, vai te ajudar.

- Não estou com fome. – ela respirou fundo e sentou-se na beirada da cama com a bandeja em seu colo.

- Abre a boca. –ela apontou o garfo espetado em frutas picadas.

- Já falei que...

- Abre a boca! – ela me interrompeu seria. Obedeci. – Muito bem. – sorriu gentilmente.

A senhora me fez comer tudo que havia na tigela: as frutas com granola e cereais. Depois, ajeitou-me novamente deitado na cama e retirou-se dizendo que logo alguém viria me fazer companhia. Ela muito se assemelhava a minha mãe, carinhosa e doce. Mas quando não faziam o que ele queria, principalmente quando era para o nosso bem, ela virava outra pessoa.

Depois que fiquei só no quarto, foquei meu olhar no teto de gesso. Nem para me matar eu servia. Agora, mais do que nunca, eu era um estorvo para uma família que eu sequer conhecia. Quanto tempo eu levaria para fazer mal para um deles? Carlos devia estar louco me procurando, preocupado. Segundo a senhora, já tinha mais de 24 horas que eu havia pulado da ponte. Que eu estava desaparecido. Que ninguém tinha noticias de mim. E minha mãe? Será que ela já está sabendo que sumi? Será que Carlos avisou para alguém do Brasil? O que meus pais faram quando souberem que tentei me matar? Certamente vão querer me levar de volta ao Brasil. Meu pai nem queria que eu viesse. Agora então.

Estas e outras indagações não saiam da minha cabeça. Sentia-a latejar, meu peito começar a doer novamente, o desespero me tomar. As lagrimas já desciam pelo meu rosto, quando o Gabriel entrou no quarto.

- O que houve? Por que está chorando? – pergunto-me com a voz aparentemente cheia de preocupações.

- Nada. – limpei as lagrimas.

- Mandei um recado para seu professor avisando que você está conosco.

- OK... – só em pensar na reação que ele terá quando descobrir o que tentei fazer, me desesperei e chorei. Eu soluçava desesperado descontroladamente, chegando a me faltar ar.

- Ei, calma. Cara está tudo bem. – ele tentava me acalmar. – Mãe! – ele gritou quando comecei a me debater sobre cama.

Novamente a senhora baixinha e loira voltou ao quarto. O rapaz me segurou e vi quando ela trouxe alguns lenços. Ela então amarrou na lateral da cama cada um em um de meus braços e, na outra extremidade da cama, minha perna saldável, por fim, dois lençóis foram passados sobre mim, um no meu peito e outro nas minhas cochas, prendendo-me. Meu choro continuou alto, mas não conseguia mais me mexer tanto, estava preso. Cerca de 20 minutos depois, quando não tinha mais lagrimas para chorar, quando meu desespero aliviou um pouco mais, me acalmei. Porém ainda soluçando.

- Me deixe só com ele, Gabriel. – Disse a senhora de olhos verdes. Ele não se deu ao trabalho de responder, apenas me se retirou do ambiente. – Você quer conversar?

- Não. – falei curto e grosso.

- Não sei se vai lembrar, mas na ponte, te falei que eu sou psicóloga. – sim, eu lembrava, mas nada falei. Fixei meu olha no tento. – Você disse não se lembrar do que aconteceu no hospital. Então... Meu nome é Claudia. – ela ficou calada me encarando. – Não vai falar seu nome?

- A senhora já não sabe? – a olhei.

- Não.

- Bruno... Bruno Bernart.

- Bonito nome, Bruno. Então... Você quer me contar alguma coisa?

- Não. – voltei a olhar o teto.

- Por que você estava chorando? – insistiu e permaneci calado. – Vamos Bruno, estou tentando te ajudar.

- Vocês teriam me ajudado se tivessem me deixado morrer.

- Por que você tentou se matar?

- Porque eu só faço mal as pessoas. – respondi sentindo uma pontada n lado esquerdo do peito.

- Pode me explicar melhor? – pediu.

- Eu acabei com a vida de Fernando, da Bárbara, do Felipe, da Beatriz, do Rafael, do Maciel e do Caíque. Satisfeita?! – a encarei sem emoção nenhuma no rosto, ela por sua vez, estava seria.

- Pode me contar o mal que você às essas pessoas?

- Bárbara morreu me amando e eu nunca soube, tão pouco pude ama-la. Fernando, fiz pior, ele me ama, eu o usei sabendo disso e o joguei fora, nas drogas. – ela ouvia tudo atentamente sentada na poltrona e me encarando. – Quando cheguei a Portugal conheci Cristal e apresentei-a para um casal de amigos, ela virou amante do Maciel e está fazendo pressão para ele se separar do marido. E se isso acontecer, Maciel nunca mais verá o filho, Caíque. Por ultimo: Felipe, meu melhor amigo, que ama a Beatriz, minha melhor amiga, e eu acabei com todas as chances de eles ficarem juntos. Ele tem ódio de mim. Fiz ela dizer, na cara dele, que nunca ficarão juntos, que são apenas amigos.

- Não consigo entender. Como você se culpa pela Bárbara se você mesmo falou que nunca soube de nada? Como você pode se culpar por uma decisão do próprio Maciel e Cristal? Caíque, então não tem nada a ver contigo. Você não é culpado por Beatriz falar aquelas coisas para seu amigo tão pouco. Você não fez mal a nenhum deles.

- Só me fala uma coisa. Se eu não existisse, alguma dessas coisas havia acontecido? Eu mesmo respondo. Não. Felipe e Beatriz ainda seriam amigos, Cristal não teria conhecido Maciel, Bárbara teria amado outra pessoa, alguém que o correspondesse. Fernando também. Eu nunca teria feito mal para ele.

- Se você fosse tão ruim quanto se diz ser, eles nunca teriam se aproximado de você. Eles nunca seriam seus amigos. Eles nunca teriam te amado.

- O próprio Fernando disse que usa drogas para me esquecer; que agradeceu por eu vir para Portugal e nunca mais me ver. A senhora entendeu? O Fernando está se drogando por minha culpa.

- Não é sua culpa. Ele usa drogas por outros motivos, certamente. Já imaginou se todos usassem drogas para curar um amor não correspondido? – apenas encarei o teto mais uma vez. – Bruno... Por favor, me conte sua relação com ele.

- Por quê?

- Porque percebo que isso é o que mais te angustia.

Olhei-a rapidamente e comecei a contar toda minha historia vivida rapidamente com o Fernando, desde a primeira vez que o vi entrar na aula de Psicologia infantil ministrada pela sua irmã, Andrea. Contei sobre nossa discursão no quarto dele e minha vingança. Por fim, nosso ultimo encontro na despedida que me organizaram no Brasil.

- Percebe? Como te falei Bruno, ele usa drogas por outros motivos. Ele buscou uma razão para manter o seu vicio. – já me haviam falado isso. - E como você me falou, a irmã dele já está o ajudando a largar o vício.

- Mas eu continuo fazendo mal para os outros. Tudo que faço, tudo que digo. Eu. Eu destruo tudo. Eu só trago dor as pessoas. – encarei-a por fim.

- E você acha que cometendo suicídio você estaria trazendo fazendo bem para seus amigos e família?

- Sim.

- Você não acha que eles sofreriam mais com sua perda?

- Não...

- Como seus pais ficariam? Como você acha que seus amigos se sentiriam?

- A dor passará. – falei virando o rosto.

- A sua também pode passar, Bruno.

- E por que já não passou? – mais uma vez lagrimas brotaram de meus olhos.

- Porque é recente, criança. Todos nós temos que aprender a conviver com nossas escolhas e erros, e seus amigos fizeram a deles. E não foi você que os fez escolher. – sua voz saia tranquila tentando me convencer.

- Eu tenho uma parcela de culpa.

- Não em tudo. Você não tem culpa de Bárbara e Fernando terem te amado. Na verdade nem eles têm, nesse caso. Maciel fez a escolha dele. Ele escolheu se relacionar fora do casamente e terá que arcar com as consequências.

- E quanto ao Felipe e a Beatriz?

- Tenho certeza que você não teve a intenção de prejudica-lo.

- Não, só quis ajudar...

- Esta vendo só?! Não se culpe por algo que você não teve a intenção.

- A senhora mesmo falou que temos que conviver com nossas escolhas.

- Temos que aprender a conviver. – corrigiu.

- Eu não consigo. – admiti.

- Você não precisa fazer isso sozinho, Bruno.

- E quem poderia me ajudar?

- Eu posso e quero fazer isso. Mas você terá que se ajudar primeiramente.

- Por que a senhora está fazendo isso?

- Porque essa é a minha função e missão aqui na terra. Porque eu já passei pelo mesmo.

- Passou?

- Sim. Meu primeiro marido se matou quando nos separamos alguns anos atrás. Porque eu terminei nosso casamento de 13 anos de duração. Sentia-me péssima, culpada e, o pior, acreditei que meu filho me odiaria por isso.

- E o que aconteceu? – perguntei interessado.

- Eu tive amigos que me ajudaram. Deus me ajudou.

- A senhora vai tentar me converter para sua religião? – levantei as sobrancelhas.

- Não, criança, não farei isso. Mas te ajudarei, serei sua amiga. – permaneci calado encarando-a. – Você aceita minha ajuda?

- Aceito. – falei depois de alguns segundos em silencio e ela sorriu.

- Que bom. – ela veio em minha direção e me abraçou

- Vou te deixar descansar um pouco. – Claudia disse sorrindo. Eu ainda estava amarrado.

- Pode me soltar? – pedi.

- Desculpa criança, mas foi recomendações medicas. É a segunda vez que você fez isso.

- Não me lembro.

- Foi no hospital. Inclusive, vou ligar para o médico para saber o motivo de sua perda de memoria. – concordei com a cabeça – Quer que eu ligue a TV?

- Por favor. – ela ligou e colocou em um filme de animação que eu não conhecia.

- Quer que eu peça para o Gabriel te fazer companhia?

- Não precisa obrigado.

- Tudo bem. Qualquer coisa é só chamar. – e sorrindo ela me deixou sozinho no quarto.

Como não tinha mais o que fazer, senão ficar deitado e amarrado em uma cama, com uma perna engessada que me impossibilitava de andar e uma leve dor no peito que me angustiava, comecei a tentar prestar atenção na animação que se desenrolava. O protagonista era uma menina loira que tentava, junto de outra menina e um menino, em um navio pirata resgatar um tesouro para salvar seu pai que estava preso por seu tio bruxo. Ou algo assim. Os personagens eram bem desproporcionais a realidade: tinham a cabeça maior que o corpo, apenas quatro dedos nas mãos e havia animais que falava, como uma cobra que vivia enrolada no pescoço do capitão do navio. Também tinha sereias que nadavam no mar ajudando os piratas em suas missões, monstros marinhos e feras voadoras.

Nada que conseguisse prender minha atenção por muito tempo. A aflição no meu peito aumentava a cada segundo que passava. A cada minuto que passava, mais a imagem de Carlos desesperado e me procurando vinha a minha cabeça. Certamente ele estaria se sentindo culpado, sem saber o que fazer. Imagino que tivesse entrado em contato com meus pais. Ou não. Talvez ele não quisesse os preocupar. Talvez ele só tenha avisado a Felipe e Beatriz como da outra vez. Se sim, será que estes estariam preocupados comigo depois de tudo que fiz? Será que estariam sentindo culpa? Remorso? Nada? Felicidade? Talvez Carlos não tenha nem entrado em contato com eles.

Por que eu sempre tinha que fazer merda? Eu estava sempre preocupando as pessoas, fazendo mal a elas. E ainda por cima, agora estava atrapalhando a pesquisa do meu professor. “Ele não devia ter me trazido” – pensei comigo mesmo.

- Gostando do desenho? – perguntou Gabriel entrando no quarto.

- Mais ou menos. – olhei para ele, Gabriel mantinha um sorriso simpático nos lábios.

- Prefiro ação. – concordei com a cabeça e voltei minha “atenção” à animação. – Como é seu nome?

- Bruno. – respondi sem olha-lo.

- O meu é Gabriel.

- Humm.

- Você não é muito de falar, não é? – sentou-se na poltrona.

- Não com estranhos.

- Nem com aqueles que te salvaram? – o encarei serio.

- Que eu me recorde, eu pedi para me deixarem pular. Isso porque eu queria morrer.

- Não é do meu feitio deixar pessoas morrerem. Muito menos na minha frente.

- Não me importo. – eu já não o olhava mais.

- Vou relevar seu mal humor, por causa dos últimos acontecimentos. – permaneci calado. – Então... O que você faz aqui em Lisboa? – nada disse. – A passeio? Veio morar? – ele insistia e eu o ignorava. – Já sei, por causa de alguém que conheceu na internet. – disse rindo. – Não veio traficando drogas, veio?

- Não. Você pode ficar calado? – pedi olhando-o com raiva.

- Então me responde.

- Vim para estudar, satisfeito?

- E há quanto tempo está aqui? – ele mantinha um sorri provocativo nos lábios.

- Para que esse interrogatório? – perguntei sem paciência o encarando.

- Apenas pra te conhecer melhor. – disse com um sorrisinho convencido.

- Onde está o Carlos?

- Seu professor? Mandei uma mensagem, mas ele não me respondeu ainda.

- O que você disse para ele?

- Agora sim estamos tendo uma conversa civilizada.

- Responda-me logo.

- Disse apenas que te encontramos como se fosse um cachorrinho e te trouxemos para casa. – pensei em xinga-lo, mas levando em consideração que estavam cuidando de tão bem, relevei.

- Ok. Pode me deixar só. – afirmei e voltei minha atenção para a animação que passava na televisão.

- Não... – falou arrastado. – Aqui está melhor.

- O que você quer, afinal? – minha paciência estava se esgotando de vez.

- Já falei: te conhecer melhor. Agora: por que você está sendo tão grosso comigo se nada te fiz?

- Não fui com a sua cara. – falei com veemência.

- Então você é do tipo que julga pela aparência!?

- O quê? Claro que não.

- Claro que sim. O que é? È o alargador? O brinco? Ou são as tatuagens?

- Tatuagens? Nem vi que tinha tatuagem.

- Qual o motivo de não ter ido com minha cara, então? - Essa pergunta não tinha resposta. Ou pelo menos eu não sabia responder.

- Pode me deixar só, por favor? – pedi tentando transparecer toda calma do mundo, quando na verdade eu estava a ponto de gritar.

- Por enquanto, sim. – e foi levantando-se. – Mas ainda quero saber o motivo de tanta raiva de mim.

- Não sinto raiva de você.

- O que é então? – pensei um pouco antes de responder.

- É raiva sim. Por ter me ajudado quando eu devia estar morto. E por estar me estressando agora. – o olhei com todo desprezo que podia.

- Você ainda vai me agradecer por isso. – falou indo em direção à porta. – Ah, seu professor acabou de me responder. – disse olhando par o celular.

- O que ele disse? – falei rápido.

- Que já esta vindo te ver. – antes que eu pudesse dizer algo, Gabriel me deixou só no quarto como há tanto havia pedido.

Tentei voltar minha atenção para o novo filme que passava a minha frente na televisão. Mais uma vez, tratava-se de piratas. Contudo, saber que Carlos estava vindo me buscar, me fez sentir... Medo. Certamente ele já teria falado com meus pais, tendo em vista que eu estava desaparecido há dois dias. Como se sentiram Beatriz e Felipe, se é que já sabiam também, depois de saber que eles foram os últimos com quem falei?

Eu estava quase dormindo com esses pensamentos sondando minha mente, quando um homem vestido socialmente e carregando uma pasta de couro, gordinho, cabelo comprido, batendo em seu ombro, entrou no quarto. Sorrindo gentilmente, ele vestiu um jaleco branco. Era médico. O tal homem começou a mexer na pasta e, antes de falar qualquer coisa comigo, a dona da casa entrou no ambiente.

- Boa tarde Bruno. – cumprimentou-me o homem.

- Boa tarde. – eu olhava confuso para Claudia que apenas sorria me tranquilizando.

- Como está se sentindo?

- Bem... Quero apenas que me solte.

- Sinto muito, mas não podemos nos arriscar. Dra. Claudia me contou que você teve outro colapso nervoso.

- Eu estava assustado. – tentei justificar.

- Prometo que se não tiver mais nenhum problema, podem tirar amanhã.

- Por favor, me solte. – pedi choroso.

- Sinto muito, criança. – Claudia sentou-se na beirada da cama e começou a acariciar meus cabelos loiros e cacheados.

- Por favor, Bruno. – pediu o médico se aproximando. – Abra bem os olhos e siga a luz. – ele veio com uma lanterna direcionando o foco de luz no olho esquerdo, depois no direito, sempre com a ajuda de suas mãos para abrir mais as pálpebras. – Não há nada diferente. Você não lembra de nada que aconteceu no hospital?

- Não.

- Qual sua ultima lembrança?

- Eu estava no rio com outras pessoas.

- As que estavam na ponte?! – quis se certificar.

- Não. Estavam no rio comigo. Elas me levavam para uma espécie de circulo de fogo.

- Circulo de fogo?

- Falemos sério Bruno. Diga-me sua lembrança.

- É essa. – falei com raiva.

- Esta dizer que eram fantasmas?

- Não sei, mas havia sombras comigo.

- Sombras? Não eram pessoas?

- Eram pessoas negras, como sombras.

- Bruno... - - Claudia o interrompeu.

- O senhor não está aqui para dizer se o que ele viu é verdade ou mentira. – ela dizia com irritação na voz.

- Sim, sim. Então... – ele pegou uma prancheta na pasta que trazia e veio até mim novamente. – Não se lembra de nada que aconteceu no hospital?!

- Não. – respondi seco.

- OK... Irei prescrever uma Tomografia... – ele falava e escrevia ao mesmo tempo. – Para que a possamos ter certeza do que aconteceu, mas acredito não ser nada demais. Acredito ser consequência da pancada que você levou.

O médico continuou a explicar e recomendar novos exames, acompanhamento com psicólogo, repouso, querendo saber o que me motivou a tentar suicídio e adjacente, quando Gabriel entrou no quarto acompanhado por aquele homem com olhos vermelhos, barba por fazer e uma cara de extrema preocupação. Meu professor.

- Carlos... – meus olhos instantaneamente se encheram de lágrimas ao vê-lo parado a porta. Senti dor, remorso, angustia, aflição... Saudades.

Comentários

Há 5 comentários.

Por Niss em 2015-05-24 23:39:50
Maravilhoso Drex, espero que ele se recupere logo. Niss
Por CarolSilva em 2015-05-23 23:37:30
Muito bom. Claudia ajudará na depre de Bruno.
Por Gee em 2015-05-23 21:02:58
demora muitonao pra continuar?? Amo demais esse romance e espero lê-lonovamente em breve. Parabéns!!
Por Cass em 2015-05-23 12:33:17
Ótimo capítulo! E sobre o livro que recomendou, não é o tipo de romance que costumo ler, mas li alguns meses atrás e gostei muito.
Por Cass em 2015-05-23 12:31:40
Ótimo capítulo! E s