Capítulo XIX

Conto de Drexler como (Seguir)

Parte da série O destino de Bruno

Ah, queridos, como é bom estar de férias. Cá está mais um capítulo para compensar o tempo que estive afastado. Espero que estejam gostando do desenrolar.

Queridos, já publiquei “Um Destino de Bruno” no Wattpad, porém há mudanças, como a junção dos primeiros capítulos: http://www.wattpad.com/myworks/39325391-o-destino-de-bruno Acessem, comentem e divulguem!

Quem desejar conversar comigo sobre a serie ou deixar criticas e comentários privados ou, ainda, sugestões: j.drex@hotmail.com << Responderei todos os e-mails nas Quartas-feiras. Abraços e boa Leitura!

Música tema: Me dê motivo (Inter. Adriana Calcanhotto)

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Posso firmar verdadeiramente que aquela foi uma, se não a, pior noite da minha vida. Mal consegui dormir com aqueles pensamentos me torturando. Até pesadelo eu tive. Nele, Carlos me abandonava aqui em Portugal e voltava para o Brasil. Ainda, para todos em meu país de origem, era como se eu tivesse morrido, pois nenhum quis me ajudar, nem meus pais, nem meus amigos. Eu havia ficado sozinho em um país completamente estranho e longe de tudo que eu conhecia. Em outro continente. Mas, para meu espante, aquele estojo estava do meu lado rindo de minha desgraça e desespero.

Tudo só pareceu piorar quando eu acordei e descobri que Carlos havia passado na casa de Claudia e deixado algumas peças de roupa, livros e objetos pessoais que eu precisaria. Menos meu violão. Ele não quis falar comigo, mês que no momento eu estivesse dormido, ele não esperou. Afirmou que voltaria mais tarde para me ver, pois estava indo para a faculdade. Passei a manhã toda pensando nela e vez ou outra chorava silenciosamente.

Graças à dona da casa, que percebeu minha tristeza, pediu que seu filho não me perturbasse e me deixasse descansar sozinho. No horário do lanche ele aproveitou para saber o que me torturava, sendo, mesmo que ela não dissesse, nossa primeira consulta psicológica. Contei que era porque estava pensando em meus pais. Menti. Parcialmente, mas menti. Conversamos por mais de meia hora e, antes de deixar o quarto, me lembrou de que faria uma tomografia que estava marcada para o outro dia à tarde.

Ao final da tarde, como prometido, Carlos pareceu, mas tão rápido quanto chegou, se foi. Sua feição não transmitia, mas eu sabia que ele estava triste e talvez com raiva de mim pela nossa discursão. Ele beijou minha testa, sorriu, perguntou como eu estava, disse que perguntaram por mim no prédio e na universidade e, depois de eu lhe responder com monossílabas, se despediu com mais um beijo em minha testa. Imagino que ele tenha parado para conversar com Claudia, pois ouvi, algumas vezes, suas vozes vindas do andar de baixo.

Como eu poderia ser tão idiota? Mesmo sabendo que eu estava meramente errado, que estava o fazendo sofrer, ainda assim, mesmo assim, eu continuava a ignora-lo e fazê-lo sofrer. A angustia em meu peito só aumentava. Meu rosto não transmitia nenhuma emoção. Gabriel parecia cada vez mais preocupado comigo, depois que Carlos foi embora, veio me fazer companhia mesmo eu não querendo. Mas dessa vez ele não ficou puxando assunto e fazendo perguntar initerruptamente como fazia costumeiramente.

Passei o dia todo deitado na cama, apenas limpando as lagrimas e pensando em como minha vida estava sendo uma desgraça. Comecei a pensar que foi um erro ter vindo para Portugal... Mas aí eu não teria o Carlos ao meu lado... Mas assim eu não teria brigado com ele, mais uma vez, por besteira... Mas desta forma eu estaria sofrendo vendo, presencialmente, a desgraça de Fernando nas drogas...

Eram tantos ‘Mas’ que eu cansei e, depois de jantar, forçado pela anfitriã, dormi. De madrugada acordei e percebi ao meu lado estava Gabriel, dormindo sossegadamente em um colchão de ar no chão, como na noite anterior. Virei para o outro lado e tentei dormir novamente, em vão.

O mês que se segui não foi diferente. Tirei o gesso de minha perna e Carlos aparecia todos os dias, porém era somente para saber como eu estava e logo descia para conversar com Claudia. Ela, por outro lado estava me ajudando cada vez mais a melhorar. Minhas crises de chora aconteciam, agora, somente depois que meu professor ia embora. Era muito doloroso saber que estávamos nos afastando.

Por diversas vezes Cristal acompanhou Carlos até onde eu estava ‘hospedado’, mas eu me recusava a falar com ela. Eu queria me afastas de tudo e todos que me causava tristeza e melancolia, mas era inevitável não falar sobre Bárbara. Dois dias depois da minha discursão com Carlos, entrei em contato com meus pais. Eles não pareceram saber o que se passava comigo, mas Claudia, que estava ao meu lado, fez questão de contar, e quando o fez, minha mãe se exaltou e bravejou que eu deveria voltar para casa, meu pai, claro, concordou com tudo, mas minha anfitriã os convenceu a ficar. Não sei o que ela falou com eles, pois fui obrigado, por Claudia, a sair do quarto para ela ter uma conversa privada com meus pais. Eles acabaram permitindo que eu ficasse, contudo exigiram que eu falasse com eles todos os dias, para saberem como eu estava.

Depois do incidente com Beatriz e Felipe, não falei com eles, com exceção de uma vez. Na única ocasião que falei com Beatriz, ela me contou que estava de bem com Felipe, que conversaram e resolveram fingir que nunca havia acontecido. Segundo ela, ele pareceu lidar bem com a situação. Foi uma conversa rápida, Beatriz preferiu não alongar nesse assunto. Concordei. Ela perguntou como eu estava – ninguém contou que eu havia tentado suicídio, principalmente que foi nossa ultima conversa o estopim. Conversamos por cerca de 30 minutos. Falamos sobre as coisas da faculdade, minha antiga casa que continuava a mesma, meus amigos e fiquei sabendo que ela assumiria meu antigo posto na biblioteca. Fiquei feliz com a noticia, pois sabia mais do que qualquer um o quanto ela odiava trabalhar em uma loja de roupas.

Sobre as investigações da morte de Bárbara e sua fortuna deixada para mim houve novidades. Foi descoberto que ela não tinha morrido de overdose por uso de drogas, mas foi assassinada. O que me chocou. Segundo meu pai seu companheiro de quarto foi um laranja, outro usado pelos bandidos. Ele deu as drogas para que Bárbara usufruir, mas o que ele não sabia era que junto às drogas havia outra substancia: veneno. Ele não teve tempo de responder pelo caso, pois foi morte dentro do presido. O que nos levava a crer que tudo dizia respeito ao dinheiro que ninguém sabia, ainda, de onde vinha.

A família de minha amiga de infância continuava lutando pela posse do dinheiro, o que não permitiria. Obriguei, contra a vontade de meus pais e, de quebra, de Claudia, que meu pai fizesse valer o ultimo pedido de Bárbara. Meu pai não demorou muito e logo me mandou o documento para que eu assinasse e permitisse que ele respondesse o caso por mim alegando minha ausência no Brasil. O que foi aceito pela justiça, já que anexei um documento da universidade portuguesa constatando meu objetivo.

Uma semana depois a policia, a frente da investigação, entrou em contato comigo por webcam. Eles perguntaram qual era minha relação com Bárbara, quando havia sido minha ultima conversa com ela: onde, como e quando. Meu pai estava presente como meu advogado, mas estava ao lado do delegado. Perguntou se eu tinha algum caso com minha amiga, se namoramos ou algo do tipo. Pude perceber medo, talvez, da minha resposta no rosto do meu pai. Mas logo o tranquilizei e respondi que nunca tivemos nada, o que era mentira, pois tivemos quando éramos muito pequenos. Contudo, éramos muito inocentes para saber efetivamente o que estávamos fazendo. Para minha felicidade, eles liberaram uma copia da carta/testamento onde Bárbara declara seu amor para mim e deixa todo seu dinheiro:

“06 de janeiro de 2013.

Olá Bruno,

Faz muito tempo que não nos vemos ou nos falamos, eu sei. Mas nunca esqueci o que houve um dia entre nós. Eu sei também que éramos muito crianças. Talvez para você não tenha sido nada o que tivemos, talvez não tenha passado de apenas uma brincadeira de criança. Mas acredite, eu não te julgo. Na verdade, no inicio era isso para mim, eu nunca pensei que fosse possível nascer um sentimento tão forte, mas foi o que aconteceu.

Você mais do que qualquer pessoa sabe que sempre tive essa queda por roupas femininas. Lembrar isso me faz rir. Lembro que eu pegava as roupas de minha prima e as vestias para que eu fosse sua esposa durante nossas brincadeiras de namorados. Que saudade daquela época. Que saudade de você. Éramos tão próximos, tão unidos. Como podemos nos afastar tanto?

Era tão bom quando estava ao seu lado, quando podia sentir teus braços em minha volta, quando podia te beijar e te chamar de meu amor. Lembra que um dia pedi para fazer sexo com você? Ah, como eu queria que você tivesse sido meu primeiro e único. Ao invés disso perdi minha virgindade com aquele idiota. Que nojo tenho do meu corpo por isso. Eu era apenas uma criança, mas ele não pensou duas vezes antes de meter aquele pau sujo em mim. Tudo isso porque nos viu no então dia.

Enfim, queria te falar algo que nunca tive a oportunidade ou coragem de te falar pessoalmente. Eu te amo. Sempre te amei. Confesso que no inicio, quando eu me recusei a aceitar que era gay – pois é eu passei por essa fase também. Irônico, não? Enfim, eu não aceitei que te amava, quis acreditar que era apenas uma fase e tentei ter algo com minha prima. A mesma da qual eu pegava as roupas e me vestia para ser sua esposa. Risos. Como eu fui ótaria em te deixar ir. Mas mesmo que eu tivesse dito que te amava, sei que você nunca ficaria comigo. Quem amaria uma travesti? Quem amaria uma puta? É assim que me chamam: puta.

Às vezes penso que meus tios tem razão, eu não passo de um estorvo no mundo. Já pensei em me matar várias vezes, mas você, ou melhor, as lembranças boas que tenho com você, a esperança que um dia possamos ficar juntos, quem sabe, me faz mudar de ideia. Mas tenho medo. Medo de tudo que eu fiz, faz e não consigo parar de fazer, mesmo que quisesse.

O mundo do trafico de drogas é um caminho sem volta. Mas eu fiz a merda de escolher esse caminho. Além de puta, drogada e traficante. Pois é, meu amor (posso te chamar assim, não é?) eu comecei a traficar. Não bastava ter começado a usar drogas com aquele ibecil que um dia chamei de namorado, agora estou traficando drogas para um “amigo” meu.

Minha vida é uma tragédia, eu sei. Além do amor que eu tenho por você, sinto inveja. Inveja de você ter os pais que tem. Inveja de ser amado. Inveja de ter uma família que me amasse como a tua que te ama. Tenho inveja de amigos como os poucos que eu sei que tem. Por falar nisso, vi seu primo um dia desses, ele continua muito parecido com você. Quando o vi, a primeira coisa que veio a minha cabeça foi sua mãe te puxando para longe de mim quando nos viu nos beijando e saiu gritando que não queria você mais perto de mim. Não funcionou, você deve lembrar. Mas acabou que ela conseguiu nos afastar. Não, eu não a culpo, adoro sua mãe na verdade. Apenas sinto sua falto. Te queria tanto ao meu lado. Eu te amo tanto, Bruno.

Como eu fui burro em deixar de estudar por causa de um porco que apenas me usou. Aquele venho aproveitou muito de mim, mas eu também. Ele com certeza deve ter muita raiva de mim. Acho que se um dia me visse pelas ruas, me mataria ali mesmo. Mas ele teve o que merece, não acha? Veja bem, eu era um/uma menin@ quase virgem, novinh@, 17 anos, eu acho. Já ele um venho gordo, acho que mais de 60 anos, cheio de pelo. Mal conseguia ficar ereto, e eu era obrigado a ficar chupando-o por horar até que conseguisse satisfazê-lo.

Eu sei que você não quer ficar sabendo sobre minha vida miserável. Deve ser horrível para você ter que ler tudo isso, deve estar se repugnando todo. Principalmente levando em consideração que você é hetero. Mas há um motivo pelo qual te escrevo. Na verdade, para essa carta ter chegado as suas mãos, eu devo estar morto. Supostamente assassinado. Não posso citar nomes, tenho muitos inimigos. Mas não quero queimar no inferno sabendo que nunca pude dizer que te amava. Eu te amo Bruno!

Então deixo por escrito que você é meu legitimo herdeiro. Tenho uma pequena fortuna que consegui juntar durante minha vida humilhante. Não me orgulho pela forma que a consegui, admito, mas fiz e faria novamente se tivesse a oportunidade. Essa fortuna é uma pequena vingança daqueles que um dia me usaram, me maltrataram, que me humilharam e depois me jogaram de suas vidas como se eu não fosse um nada.

É seu bruno. Tudo que conquistei. É seu meu coração. Ah, como eu daria tudo para ter tido uma vida ao seu lado. Seu que se tivesse sido possível hoje eu estaria muito feliz ao teu lado. Não teria me transformado no que sou hoje, uma puta, traficante e viciada. Meu único vicio seria teu amor, teus carinhos. Como eu gostaria de ter construído uma vida ao teu lado, ter nossa casa e dois filhos, como era teu sonho. Ainda lembro os nomes que dávamos aos nossos filhos quando brincávamos: Jaqueline e Joaquim. Um casal lindo, como seria nosso amor. Sou um sonhador, não é?

Bruno, eu sei que já falei demais, mas eu quero desejar, do fundo do meu coração, que você seja feliz. Que você continue sendo esse cara que tanto admirei e continuo admirando, pois sei que carregas a mesma essência de nossa juventude. Só te peço duas coisas. Primeiro que sejas feliz. E estendo esse pedido para sua namorada, Patrícia, que ela te faça muito feliz. Torço que o amor de vocês, pois sei que ela é uma boa menina e que gosta muito de você. Mas se vocês não derem certo, não se preocupe, pois sei que encontrarás alguém tão bom quanto ela.

Segundo, não deixe, como eu, o amor de sua vida passar. Segure-a. Ame-a. Não quero te ver sofrer, nem hoje, nem nunca.

Te amo! Te levarei para sempre em meu coração.

Bárbara Sheyla Kiss”

Li tudo com lagrimas nos olhos. Como ela estava enganada quanto a mim. Foi tão doloroso saber de tudo assim. Saber sua opinião errada sobre minha sexualidade. Como eu concordava com ela em ter tido uma oportunidade sobre nós dois. Eu não a amava como ela dizia me amar, mas tenho certeza que a faria o máximo feliz. O fato de ela não ter seguido o caminho que a levou a morte me satisfazia.

Os dias que se seguiram após a leitura foi de muito choro e Claudia, após ler a carta e entender meu sofrimento, começou a ter conversas diárias comigo e passou a conhecer todos os meus mais profundos segredos. Todos. TODOS. Sem exceção. Contei do meu namoro com Carlos, que eu negava admitir para as pessoas que ele era sim meu namorado. Esse foi o tema de uma de nossas maiores conversas: meu medo de aceitar nossa relação.

Em outras conversas com Claudia, contei sobre meu passado com Fernando, desenterrei cada detalhe, o que me fez chorar muito mais uma vez, mas depois me senti aliviado em me abrir com a mulher de olhos verdes. Expliquei, mesmo constrangido, que eu tinha medo de ser o passivo quando transávamos. Ela não argumentou muito quando falei a verdade, mas depois, imagino que ela fez uma pesquisa, tentou tirar meu medo. Evitei prosseguir no assunto. Era muito constrangedor, para mim e para ela. Falei sobre minha relação com meus amigos no Brasil, Felipe e Beatriz, lembrei os fatores que me levaram a tentativa de suicídio que ela já conhecia, dentre outras coisas.

Em geral, nossas conversas giravam em torno do meu “namoro” com Carlos, Bárbara e Fernando.

Em uma das visitas de Carlos, ele quis que eu parasse de dar aulas, que me sustentaria, mas por fim, antes que eu me recusasse e dissesse algo, Claudia interveio e disse que eu não poderia ficar em casa 24 horas, que precisava me distrair, que ficar lendo livros, textos e apostilas que meu professor me mandava não meu ajudaria. Eu precisava me distrair, sair de vez em quando, ver pessoas e interagir com elas, e as aulas me ajudaria com isso. Feito. Duas vezes por semana Carlos vem me buscar e me leva até a universidade para eu ministrar as aulas.

Realmente, como Claudia havia falado, estava sendo uma terapia. Meu violão já estava comigo, eu podia cantar em sala, me divertir com meus alunos, rir e espairecer. Na casa de minha psicóloga, eu também tinha o aval para toca-lo, mas pouco o fazia pelo fato de quando começava Gabriel vinha me encher o saco.

Era sempre assim, peguei no violão, ele aparece. Às vezes nem preciso toca-lo, ele simplesmente aparece e pede que eu o faça. Está sempre por perto, puxando conversa, insistindo para sair com ele para algum lugar, ir ao parque, ao café, ou algo do tipo. Recuso sempre. Eu nem saia com Carlos quando me convida, tão pouco faria com alguém que não suporto.

Um mês havia se passado, já estávamos em julho, e eu e Carlos continuávamos brigado. Ou eu estava brigado com ele. Na verdade, nem eu lembrava mais o motivo da minha chateação. Quando ele ia me buscar para irmos à faculdade, onde eu ministraria aula de francês, como agora, era um climão. Eu não falava nada, ele tentava puxar assunto e eu balbuciava qualquer coisa.

- Bruno... – Carlos colocou a mão sobre minha perna e respondi com uma onomatopeia retirando-a. – Você está melhor?

- Uhum...

- Qual conteúdo vai contemplar hoje?

- Verbo ‘être’ e ‘avoir’.

- Ainda?

- Sim.

- Hum... – permanecemos em silencio até ele puxar assunto novamente. – Está lembrado de nossa viagem, não é?

- Que viagem?

- Para a França. – forcei minha mente, mas nada saiu. – Paris. Congresso. Lembrou?

- Não sei se vou.

- Claro que vai. Esqueceu que ainda sou seu orientador?

~ Não me lembre ~ pensei.

- Além do mais, seu artigo já foi submetido e aceito. Não tem mais volta. – apenas bufei. – Por isso quero que faça um resumo de cada parte. Não um geral, como já me mandou. Mas um para colocar no banner que mandarei fazer.

- Para que banner? – tive de perguntar.

- Para expor, claro. Mas você tem apresentará para uma banca. – disse olhando rapidamente para mim e sorrindo. Um sorriso lindo nos lábios. O sorriso que eu amava.

- Ok.

- Você ainda está com raiva de mim, não é? – perguntou depois de um tempo.

- Não.

- Então porque mal fala comigo? Já perdi a conta no calendário do tempo que você vem me tratando assim. Isso machuca, Bruno. – falou quando estacionou o carro no estacionamento na universidade. – Pode pelo menos me dizer o que passa em sua cabeça?

- Não é nada.

- Nada? Passa quase um mês ou mais sem falar comigo e diz que não é nada? – Carlos não me gritava, falava calmo como sempre, mas sua voz exalava tristeza.

- Carlos... – respirei fundo antes de falar e lembrei-me das palavras de Bárbara. – Desculpa!

- Sem desculpa, Bruno.

- Eu estava chateado... Ainda estou, na verdade... – antes que ele perguntasse o porque, continuei. – Não suportei o fato de você estar me escondendo algo. E não diga que não está, porque eu sei que está. Sei que não é você. Todos vocês me escondem algo.

- Bruno...

- Por que vocês não podem me contar?

- Bruno...

- Só me diz o porquê. – ele respirou fundo, mas acabou respondendo.

- Para ajudar a você a melhorar.

- Tem alguma coisa a ver com a tomografia que eu fiz? Deu alguma alteração? É isso?

- Não, não. Claro que não.

- Aqueles remédios que eu tomo... – Carlos me cortou.

- Você está atrasado, melhor ir.

- Ok. Tchau.

- Bruno... – o olhei e vi sua expressão triste. – prometo que conversamos quando eu vier te buscar.

- Não precisa, volto de taxi. – sai e fechei a porta e sem olhar para trás segui.

Sai com muita raiva e apenas o ignorei gritar do carro. Mas ao perceber o que ele dizia, fiquei vermelho de vergonha por ter que voltar e encara-lo novamente. Mas tive que fazer, mesmo sendo constrangedor. Eu esqueci todo meu material no carro. Voltei, peguei meu violão, minha bolsa tira colo que havia ganhado de Beatriz, pedi desculpa e obrigado pela carona e fui para a sala.

Ao passar pela porta e ver tantos rostos alegres e conhecidos, senti-me em paz. Esqueci tudo o que havia passado. Não por ética ou amor a profissão, mas porque sabia que aquele lugar me renderia grandes risadas, descontração e principalmente felicidade. Aquele era o meu lugar. Ali eu me sentia realizado junto de meus pupilos e amigos.

Iniciei minha aula cantando “Milord”, interpretado por Edith Piaf. Minha vô Edith adorava essa música. Ela se sentia a própria Edith Piaf simplesmente por possuírem os nomes. O maior orgulho de minha falecida Avô era dizer que pode ir a uma apresentação de sua ídola na década 1950. Sempre que ele ia me visitar ela pedia que eu cantasse alguma música dela e fazia questão de lembrar esse fato.

Nem percebi, mas Joaquim, um garoto magrinho de origem italiana, acabou por perguntar, meio que enrolando o português com o francês e o italiano. O porquê de eu estar chorando. Foi um pouco constrangedor, mas acabei rindo e expliquei que havia lembrado de minha falecida e amada vô. A sala pareceu um pouco chocada, mas acabei tranquilizando a todos e voltamos ao alto astral quando cantei “Quelqu’un M’a Dit”, da Carla Bruni. Quer dizer, voltou mais ou menos, pois muito ficaram abalados com o tom romântico da canção. Como prometido, ri.

A aula seguiu tranquila, dei o conteúdo tranquilo, ri mais algumas vezes, fiz uma pequena atividade, o que rendeu muitos muxoxos e reclamações, mas acabaram por fazer. Quando finalmente acabou, para a felicidade de alguns e tristeza de outros, e saí em direção ao ponto de taxi, avistei o corro prata de meu professor. Ignorei. Apenas segui meu caminho como se não o tiveste viste, o que não adiantou, pois ele começou a buzinar e me chamar com o vidro baixo. Ignorei. Mais uma vez em vão. Carlos veio em minha direção e desligou o carro bem próximo a mim.

- O que você quer? – perguntei seco.

- Vim te buscar.

- Disse que ia de taxi.

- Ah, Bruno para com isso.

- Para você. Você não é nada além de meu professor.

- Pensei... – o cortei.

- Você não tem obrigação de ficar me dando carona sempre que preciso. Tão pouco de ficar me dando ordem. Não somos nada além de professor e aluno. – vi uma lagrima escorrer pelo rosto de meu professor e tentei ao máximo segurar as minhas que faziam meus olhos arderem.

- Tudo bem. – ele limpou o rosto e continuou. – Você está certo, não somos nada, não é mesmo? Mas ainda sim sou seu responsável e é por esse motivo que vim te buscar.

- Não precisa vou de taxi.

- Você disse que queria saber o que tanto te escondo. E eu te prometi que falaria quando viesse te buscar, não foi isso?

- Eu também disse que voltaria de taxi. Não preciso mais saber de nada.

- Tudo bem. É o que você, não é? – afirmei com a cabeça. – Tudo bem.

- Até amanhã, professor.

Não fiquei para ouvir sua resposta, apenas dei as costas e segui o meu caminho em direção à parada de taxi. Entrei no primeiro que vi e quando, já dentro do taxi, olhei o local onde estava pouco antes, constatei que Carlos continuava estático me olhando. Não aguentei vê-lo assim. As lágrimas, que até então eu lutava para mantê-las dentro dos meus olhos, surgiram incessantes. Tentei a todo custo manter a voz normal quando dei o endereço ao motorista, o que não adiantou, pois logo ele olhou para trás assustado.

- Aconteceu alguma coisa, senhor?

- Não. Podemos ir logo?

Não tive a intenção de ser grosseiro. Olhei mais uma vez para Carlos e o vi entrando em seu carro. As lágrimas saiam como uma cascata. Eu não sabia o que tinha feito. Simplesmente acabei algo que Carlos lutou tanto para conquistar. No carro, quando estávamos indo para a faculdade eu me lembrei das palavras de Bárbara e estava disposto a perdoar Carlos por algo que nem ao menos tinha feito. Agora, para completar, eu tirei todas as esperanças de homem que eu amava.

É claro que eu o amava. E ele também me amava. Suas ações não diziam outra coisa. Ele me trouxe do Brasil para estudar em Portugal, pois, segundo ele, não conseguiria ficar longe de mim; cuidou de mim quando tive queda de pressão, ficou ao meu lado duas noites seguidas no hospital; levou-me para sua casa para cuidar de mim; depois de nossa briga, passou todas as noites ao meu lado me fazendo companhia em meu apartamento; recitou poemas lindos de puro amor e muito mais. Que nome se dar a esses atos, senão amor?

Eu também o amava. A dor que eu senti todas as vezes que brigamos, a falta que sentia de estar ao seu lado, a angustia que senti todos esses dias por estar brigado com ele. Quando me tentei suicídio, ele foi um dos maiores arrependimentos de ter tentado. Ele e meus pais são o motivo de eu continuar vivendo. São as únicas coisas boas que aconteceram na minha vida nos últimos tempos.

Quando me dei conta, o motorista, um senhor já de idade, estava me chamando, pois já havíamos chegado ao meu destino, à casa de Claudia. Paguei a corrida, peguei minhas coisas e entrei em casa. Ao abria a porta dou de cara com Gabriel, ele pareceu preocupado a me ver entrar aos prantos e correu e me abraçou.

- O que aconteceu, Bruno? – perguntou tirando as coisas das minhas mãos e jogando-as cuidadosamente no chão e me levando para o sofá. – Por que você está assim?

- Não foi nada. – falei em meio aos soluços.

- Olha o seu estado. Pelo menos uma vez me fala o que você tem... – sua voz era puro desespero.

- Onde está sua mãe?

- Ela saiu. Fala-me. Confie em mim.

- Me deixa. – o empurrei quando tentou me abraçar.

- O que você tem? Fala-me, Bruno, estou ficando preocupado.

- Não foi nada. Já falei. – fui me levantando. – Quando sua mãe chegar... – tentei me acalmar o máximo e terminei a sentença. – Pede para ela ir me ver no quarto. Por favor.

- Você não me suporta menos, não é?

- Não.

Peguei todas as coisas no chão e sorri para meu quarto. Subi as escadas já com o rosto molhado e lágrimas. Eu precisava desabafar com alguém, receber conselhos e só Claudia podia fazer isso. Ela era como uma segunda mãe para mim, alguém que eu confiava a minha vida. Eu daria minha vida por ela.

Não é todo mundo que ao encontra outra pessoa a beira de cometer suicídio, ou mesmo após fazê-lo, cuidar e levar o mesmo para sua casa, trata-lo como se fosse um filho, proteger, amar e defende-lo. Ela era simplesmente a melhor pessoa do mundo e eu devo muito a ela. Não há palavras para descrever o carinho que tenho por ela. Claudia era minha segunda mãe. E eu a amo como tal.

Eu continuava a chorar descomunalmente quando a porta do meu quarto foi aberta, mas quem entrou não foi Claudia, mas seu filho, trazendo um copo de água e remédios. Eu não disse nada, apenas peguei e tomei. Deitei-me na posição fetal e continuei chorando. Ainda sentia sua presença atrás de mim, mas não me importei. Logo Gabriel sentou-se na beirada da minha cama e me tocou.

- Bruno... Abre-se comigo... – sua voz era terna e calma. Parecia sincero. - Estou ficando aflito... Mamãe não me atende. Já tentei falar com ela para ela vir para casa, mas não consigo... Fala pra mim o que você tem, só dessa vez, pelo menos... – finalmente o olhei.

- Você não entenderia.

- Claro que vou entender. Fala-me.

- Não quero...

- Quer que eu chame Carlos, pelo menos?

- Não! – quase gritei.

- Você está assim por causa dele? Vocês brigaram?

- Não. – tentei com todo esforço falar calmo e as lágrimas saíram mais forte.

- Me fala então o que foi. Não consigo ficar te vendo assim...

- Então me deixe só. – voltei a encarar novamente meu rosto para o outro lado e fechei os olhos e solucei.

Gabriel não disse mais nada, apenas se levantou e fechou a porta. Pensei que ele havia ido embora, mas me enganei, ele voltou e sentou-se novamente na cama e começou a afagar meus cabelos. Não disse nada, apenas deixei e chorei minhas atitudes errôneas. Acabei por adormecer e quando acordei, tomei um susto. Gabriel estava deitado ao meu lado, dormindo abraçado comigo. Pulei da cama em choque e saí do quarto quase correndo. O garoto permaneceu dormindo em minha cama. Senti um alivio quando encontrei Claudia sentada no sofá comento bolo.

- Oi querido. - sorri forçado em resposta ao seu sincero. – Aceita um pedaço? Comprei uma torta inteira.

- Agora não. – sentei-me ao seu lado.

- Tá tudo bem?

- Na verdade não. – Claudia deixou o prato sobre o mesa de centro e me encarou seria.

- Que conversar sobre isso?

- Sim. Mas não aqui. – tive medo que Gabriel ou outra visita inesperada aparecesse.

- Quer ir para seu quarto?

- Acho que pode esperar. – lembrei-me do fato de seu filho insuportável estar dormindo em minha cama. Fiz uma careta.

- Há algo de errado?

- A minha vida é um erro. – falei já sentindo as lágrimas querendo sair. Sinceramente, não sei de onde vinham tantas lágrimas.

- Não diga isso Bruno. Já conversamos sobre isso. – ela falou me abraçando. Como eu amava aqueles abraços cheios ternura.

- Eu não faço nada certo, Claudia. – não consegui evitar as lagrimas.

- Vem, vamos para meu escritório.

Segui-a. Aquela era uma de vibra. Estava sempre disposta a me ajudar. Até mesmo eu sabia que eu era um fardo, que tomava seu tempo. Mas mesmo assim ela estava sempre ali quando eu precisava. Dava-me força e me incentivava a seguir em frente. Chegamos ao escritório, ela sentou-se em um sofá e fez gesto que eu sentasse ao seu lado, quando o fiz, Claudia pediu que eu deitasse em seu colo. Com muita urgência de seus carinhos, o fiz sem demora.

- Agora me conte o que aconteceu.

- Eu terminei com o Carlos. – disse em meio ao choro silencioso.

- Por quê?

- Não sei...

- Como não sabe, Bruno?

- Eu já estava brigado com ele há um tempo. Isso porque ele se recusou a me contar alguma coisa.

- E você descobriu o que é?

- Não. Ele não quer me falar. Só sei que tem algo a ver comigo.

- E você terminou por isso?

- Exatamente. Eu sei que é um motivo fútil. Por isso estou assim. – falei limpando as lagrimas pela quinquagésima vez.

- Então você já sabe o que fazer.

- Não...

- Bruno! – me repreendeu. – Você está se fazendo sofrer. Se vocês se gostão, por que terminar?

- Eu... – ela não me deixou continuar.

- Você vai ligar para ele e se explicar. Não vou deixar você sofrendo em vão.

- Ele não quer mais saber de mim.

- Ele disse isso? – falou seria.

- Não, mas eu sinto.

- Ah, Bruno. Não fique tirando conclusões precipitadas. Carlos te ama, assim como sei que você o ama. Ele faz tudo por você. Carlos não vai deixar você sair assim da vida dele sem mais nem menos. – fiquei em silencio antes de contesta-la.

- Eu sei. Ele disse que ainda era meu professor e responsável aqui...

- Ele não é seu responsável. Ele te ama. Ele é seu namorado!

- Ele não é meu namorado. Nem se eu quisesse agora ele seria.

- Vai se vestir. – ela falou me empurrando do sofá.

- O que?

- Tome um banho e se vista. Nós vamos sair. 30 minutos esteja pronto.

Não tive tempo de responder, Claudia saiu do escritório antes que eu pudesse pensar em uma resposta. Não a contrariei, sabia que ela faria algo para me animar. Então respirei fundo e fui para meu quarto. Gabriel ainda dormia em minha cama. Peguei uma par de roupas no armário e arrumei tudo no banheiro e voltei para o quarto.

- Gabriel. – falei o empurrando da cama.

- Que foi isso? – perguntou assustado jogado no chão. O encarei serio.

- Da próxima vez te quebro a cara. Sai daqui.

- O que eu fiz? – perguntou confuso levantando-se.

- O que eu fiz? – imitei a sua voz. – Não se faça de idiota. Da próxima vez que quiser dormir agarrado com alguém, procure outro.

- Desculpa, não fiz por mal. Só tentei te acalmar.

- Me encoxando? Ah!

- O que está acontecendo? – Claudia pareceu na porta. – Dá para ouvir os gritos de vocês do meu quarto. – faz sentido, pois era ao lado do que chamo de meu.

- Não foi nada, mamãe. – Gabriel me olhou, tive piedade.

- Desculpa Claudia, não foi minha intensão.

- Hum. Vão me dizer o motivo da gritaria?

- Foi só um mal entendido, já resolvemos. – falei.

- Gritando?

- Nós já resolvemos mãe. Relaxa. Não foi nada.

- Acredito. Estou te esperando lá embaixo Bruno.

Claudia saiu do quarto e quando seu filho pensou em dizer algo, o empurrei para fora e fui tomar o banho. Relaxei o máximo que podia. Logo alguém começou a bater na porta me apreçando. Quando finalmente terminei meu banho, me arrumei e desci, encontrei uma Claudia muito sorridente. Ela estava ao lado da porta já me esperando. Entramos no carro e puder ver no rádio que eram 16 horas da tarde. A única coisa que vinha a minha cabeça nesse momento era: Para onde vamos?

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Pensei em algo bem clichê: comentem #Team + o nome do personagem que vcs torcem que fique com Bruno. Isso não influenciará em nada, mas será divertido saber a opinião de vocês. Gosto de interagir o máximo com meus amados. Adianto que já sei com quem ele irá terminar. Se ele ficar com alguém. Se vcs acham que ele deve terminar só: #TeamSolitario.

Comentários

Há 2 comentários.

Por CarolSilva em 2015-06-15 16:18:01
Aiaiiii...esse bruno.
Por Niss em 2015-06-15 00:11:09
#TeamCarlos.