Capítulo XIV

Conto de Drexler como (Seguir)

Parte da série O destino de Bruno

Estamos de volta amados! Demoramos a postas, pois Cesaria teve que ler toda a historia, discutimos algumas coisas, fizemos algumas futuras mudanças etc. Só para vocês terem uma ideia, eu mataria Fernando, mas não irá mais acontecer =X hahahaha

Enfim. Ficaremos postando apenas nas quintas-feiras, porque Cesaria Évora trabalha e não tem tanto tempo para escrever, e eu, vocês já sabem.

Queridos, a obra continuará sendo postada no Wattpad: http://www.wattpad.com/myworks/39325391-o-destino-de-bruno Acessem, leiam, curtam, comentem e divulguem!

Quem desejar conversar comigo ou Cesaria Évora sobre a serie ou deixar criticas e comentários privados ou, ainda, sugestões: j.drex@hotmail.com << Responderei todos os e-mails nas Quartas-feiras. Abraços e boa Leitura!

Música tema: Sentimental – Los Hermanos

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Nunca me senti tão vulnerável e sentimental como aquelas dias em Paris. Felicidade também um dos muitas emoções que eu experimentava. Medo, fragilidade, angústia, nervosismo, ansiedade, medo, alegria e muitos outros. Era um isto de sensações que eu não conseguia controlar.

Felicidade por finalmente conseguir dizer às palavras que representam o que sinto por Carlos. E mais ainda por saber que ele - o sentimento - é reciproco. Eu sempre acreditei que não existia amor, que isso na verdade era afinidade, compromisso, respeito, carinho, afeto, se sentir bem com o outro, confiança, fidelidade. De maneira alguma eu estava errado. É tudo isso e muito mais. Eu não sou capaz de descrevê-lo tão belamente como os poetas canônicos. E nem mesmo eles foram capazes de descrevê-lo com exatidão. Talvez o amor seja isso, um sentimento impossível de ser descrito em palavras, apenas sentido.

Também sentia medo. Medo do mundo que eu já conhecia. Mundo este, que é preconceituoso, intolerante e homofóbico. Contudo, este preconceito na verdade é medo. Medo do desconhecido, no novo, de AMAR, de aceitar. Medo de se descobrir, de abrir a mente. O homem em toda sua existência se sentiu acuado e amedrontado pelo desconhecido, e enfrentava-o com a violência, matando e recuando o que lhe assustava. E é desta forma que ele age com a comunidade LGBTTT, ou todas as outras minorias. Retrai o seu medo e reprime o outro, o diferente, o desconhecido. Provoca o medo no outro. Acua sua presa. E oprimida, a presa sem defesa, foge e se esconde.

É deste medo que nasce a fragilidade, a angústia, o pavor, o isolamento. O oprimido se sente vulnerável pelo opressor. Mesmo hoje, com a civilização e a democracia, os gays continuam com medo, pois ainda são minorias, e com isso, sem vez e/ou voz. Diariamente vemos noticiários, reportagens e adjacentes, sobre casos de homofobia, assassinatos, violações, estupros e várias outras barbarias que não consigo expressar.

Mas acida disso, vejo muitas outras coisas. Vejo pessoas que enfrentam seu medo, seu opressor. Vejo casais que não têm vergonha de mostrar seu amor em público. Vejo mãos que se tocam em gestos de carinhos. Mães, pais e amigos que abração a condição de seus filhos - e amigos - e ajudam e aceitam a enfrentar o mundo lá fora. Vejo muitas outras coisas que não consigo descrever.

O medo que senti dentro do taxi nas ruas de Paris se foi quando após ouvir o segundo “eu te amo” de Carlos, as ruas ecoaram com aplausos e gritos de incentivo. O medo era a escuridão que enchia meu peito e a angustia que senti, e as palmas a luz do sol que veio para iluminar minha vida. Mas sobre tudo essa luz era Carlos, a quem eu amo, e que me ama.

Depois do ocorrido no meio da rua da Cidade Luz, decidimos ir para a Universidade mais uma vez a fim de assistirmos mais uma mesa redonda, agora sobre a contribuição da música e poesia no processo de ensino-aprendizagem. Sem sombra de duvida, foi a reunião que eu mais esperei, pois tinha tudo a ver com a maneira metodológica que eu atuo. Depois assistimos/participamos de algumas oficinas de língua francesa. Definitivamente foi para meu acompanhante.

Voltamos cedo para casa, sequer dormimos e eu já estava nervoso para o dia seguinte, pois eu apresentaria minha pesquisa, que nada mais é que um reflexo da investigação de Carlos, contudo, a minha é direcionada a Língua Francesa, a área da qual estou atuado em Portugal. Daí o motivo de meu atua namorado selecionar um bolsista que fosse, no mínimo, bilíngue – melhor seria se fosse falante de língua inglesa, pois era a mesma área dele. As aulas que ministrávamos era ao mesmo nossa fonte de pesquisa; os alunos, nosso objeto de analise.

Antes de dormi, Carlos me convidou para que ficássemos um tempo na varanda admirando a vista que tínhamos. Esplendorosa. Paris estava ainda mais linda agora. O céu estava escuro, a Torre Eiffel iluminava reluzente um pouco distante, o frio, que mesmo agasalhado e com um edredom sobre nós, nos fazia estremecer e nos agarrar um ao outro o máximo possível. Éramos quase um só. Mesmo sento um pouco tarde, pedimos alguns petiscos e um vinho, e comigo em seu colo, degustamos dos aperitivos até meia noite, quando iniciou uma chuva fina e decidimos ir dormir, não muito diferente de como estávamos ou das outras noites: abraçados. Podemos descrever este meio tempo como duradoura, regada de conversas relaxantes e muitas caricias, carinhos baraços e beijos.

Para piorar ainda mais o meu nervosismo para a apresentação do trabalho, a Universidade de Paris me mandou um e-mail de ultima hora avisando que meu horário de apresentação havia mudado e que seria pela manhã. Eu teria perdido se Carlos não estivesse acordado utilizando seu computador enquanto não dava a hora de irmos para o próximo evento. Para minha sorte, enviaram o mesmo e-mail para meu professor que me acordou no mesmo instante para que eu me arrumasse. Meu nervosismo triplicou.

Foi à manhã mais agitada que tive nos últimos tempos. Não tive muito tempo para Carlos tentar me acalma, somente dentro do taxi durante o tempo que íamos para nosso destino. Chegamos com poucos minutos de antecedência, o que só deu tempo eu me organizar, a mesa já estava completa com os professores que me avaliariam, faltando apenas meu orientador, que também deveria estar presente, mas se atrasou comigo. Contudo, consegui controlar meu nervosismo, ou pelo menos não o deixar visível, tentando ao máximo não encarar Carlos. Desse modo, consegui expor formalmente minha pesquisa.

A apresentação, aparentemente, foi bem. Recebi elogios, criticas construtiva e sugestões para enaltecer minha pesquisa. Por fim, fui avaliado com um 9.0, o que agradou muito a mim e a meu orientador, que me aplaudiu de pé. Assistimos as demais apresentações que sucederam, já que fui o primeiro, e por fim fomos assisti mais um minicurso e as apresentações de encerramento, o que justificou o adiantamento de minha apresentação: o Congresso acabaria antes do combinado. Não posso dizer outra coisa, senão que pulei – metaforicamente – de alegria.

Decidimos, eu e Carlos, e almoçar em um restaurante, mas, por sugestão de meu professor, apenas compramos alguns lanches e fomos para a Praça da Torre Eiffel. O dia estava um pouco frio, mas nada que impedisse que estivesse repleta de pessoas caminhando, rindo, conversando, crianças correndo e cachorros passeando com seus donos. Havia dezenas de pessoas espalhadas e sentadas por toda a extensão do gramado do ambiente. Não pudemos fazer diferente de qualquer outro turista, tiramos centenas de fotos.

Estávamos já indo embora quando avistamos um senhor vestido uma calça preta meramente ligada, uma camisa de mangas com listas verticais pretas e brancas, uma boina negra, um cinto com vários pinceis e tintas em suportes, segurando uma aquarela em uma das mãos e pintando, em um tripé. Ele também tinha um bigodinho grande, fino e enrolado nas pontas, acredito, quase fielmente, que era falso. Um típico pintor francês. O senhor, a qual se apresentou por Fabian, afirmou ganhar a vida fazendo pinturas e caricaturas de turistas, e não perdemos tempo. Compramos alguns quadros para presentear e Fabian fez uma pintura minha com Carlos (50x60) e uma caricatura minha (30x40). Levamos à tarde quase toda para finalizar as pinturas tendo como plano de fundo a Torre, o que deixava as pinturas ficaram simplesmente maravilhosas. Ao mesmo tempo em que o artista fazia o esboço dos desenhos (ele fez os dois de uma vez), ele nos - mais a mim do para Carlos, já que ele pouco fala francês - contava historias sobre coisas que ele já viu acontecer e que a velha Eiffel era testemunha, tais como, pedidos de namoro, noivado, casamento e várias surpresa desse aspecto, já que confirmei sermos namorados.

Fiquei fascinado ao que Fabian nos relatou sobre um casal gay que noivaram ainda neste ano e que parou a praça, pois uma das moças (eram lésbicas) preparou vários cartazes e distribuiu para conhecidos e desconhecidos pela praça. Para os desconhecidos, um lado dos cartazes estavam em branco para que escrevessem felicitações; para os conhecidos havia palavras carinhosas e frases amorosas. Quando o casal chegou às pessoas levantaram os cartazes acompanhado de uma chuva de aplausos e gritos de incentivo e depois as pessoas viraram os objetos revelando várias fotos das meninas em momentos íntimos. Com certeza foi algo maravilhoso e inspirador para todos.

Depois que foi feito o molde da pintura, eu e Carlos fomos caminhar um pouco mais pela praça e conversando justamente sobre o pedido de casamento e comparando ao meu pedido de namoro que, que segundo meu namorado, não foi muito longe disso. Passamos o caminho todo rindo, de mãos dadas e em alguns momentos, após eu olhar se não havia ninguém nos observando, trocávamos alguns rápidos selinhos. Ainda assim, pelo fato de estarmos de mãos dadas, recebemos vários olhares inquietantes, reprovadores, viradas bruscas do rosto para “não ver a pouca vergonha”, mães e pais puxando seus filhos e muxoxos negativos. Carlos não levava em consideração nada disso e me instigava a fazer o mesmo. Também recebemos sorrisos, acenos, e até mesmo uma moça puxou outras e apontando para nós, nada discreta, ambas sorrindo largamente.

Quando finalmente voltamos para receber nossas obras, Fabian despediu-se de nós desejando felicitações e bastante sorridente. Encantador. Fomos direto para o hotel, tomamos banho e seguimos para mais uma aventura pelas ruas parisiense. Já era inicio de noite. Depois de algum tempo caminhando, pegamos mais um taxi para um restaurante. Foi sem duvida o melhor restaurante que fomos. E um dos mais conhecidos do mundo. Carlos acabou me surpreendendo, já que ele se recusou a me dizer onde iriamos até chegarmos a destino, me levando a um Cabaret: o Cabaret Moulin Rouge. Foi simplesmente maravilhoso apreciar as dançarinas de Can-Can com seus movimentos rápidos, firmes, saltitantes, jogadas de pernas, coreografados e ritmados. Tanto eu quando Carlos, que já tinha ido da outra vez que foi a França, ficamos deslumbrados com a caracterização das moças: meias de renda, botas de saltos altos, corpetes, penas na cabeça e saias de babados. Além dos leques cheios de penas. Simplesmente esplendido.

As noites em Paris eram sempre maravilhosas. Depois do surpreendente jantar, voltamos para o hotel e Carlos me, ou melhor, nos proporcionou uma das transas mais românticas que já tivemos. Foi leve, tranquila, calma e prazerosa. Depois de nossa conversa ainda em Lisboa, Carlos não insistiu para que fizéssemos sem camisinha ou que eu fosse o passivo. Contudo, não foi isso que tonou o sexo inesquecível, mas o fato de meu namorado ter sido extremamente romântico – mais do que nas outras vezes. Tudo isso foi um reflexo de nossas declarações na noite anterior que se repetiram após nossa intimidade, antes de adormecermos abraçados na cama de solteiro mais uma vez.

Acordamos cedo no dia seguinte, tomamos café em uma cafeteria próxima e seguimos para a Catedral de Notre Dame. Outra surpresa de Carlos, pois não estava em nossos planos visita-la. Sua arquitetura gótica é simplesmente fascinante. Se não fosse o fato de Carlos não largar minha mão por um segundo que fosse, eu esbarraria em todas as paredes, pois eu era boquiaberto admirando o máximo de detalhe possível. Suas estatuas, as gárgulas, os vitrais, os detalhes talhados nas paredes e arco das portas, ou até mesmo o piso. Foi inevitável não comprar um exemplar em francês do famoso romance de Victor Hugo: “O Corcunda de Notre-Dame” (1831). O qual narra à famosa historia do Quasimodo que se apaixona por uma cigana de nome Esmeralda.

Depois de um rápido almoço, fomos conhecer o Arco do triunfo. O famoso arco construído em comemoração as vitorias do reconhecido Napoleão Bonaparte. A construção é admirável. O “Túmulo do Soldado desconhecido” é sem duvida uma linda homenagem aos soldados mortos em tempos de Guerra.

Não ficamos muito tempo admirando o Arco, logo seguimos para a Praça da Concórdia. Magnifique! Sua luminária, O Obelisco de Luxor, retirado do Templo de Luxor (Egito) e posto no centro da praça, e sua magnifica Fonte de Jacques Hittorff. Seria um crime contra a humanidade sair sem jogar uma moeda e desejar rever minha família e amigos logo. Não que eu estivesse me arrependido de vir para a Europa ou de tudo que aconteceu, mas a saudade de poder toca-los, abraça-los e beija-los é involuntária.

Já estava anoitecendo quando decidimos ir embora depois de conhecer inúmeras estatuas e atrações na praça, como um violonista, saxofonista e violoncelista que fizeram uma esplendorosa apresentação. Tomamos um banho, juntos, demorado e relaxante e por fim fomos jantar. Fomos para outro restaurante com apresentações semelhantes ao Moulin Rouge, com dançarinas de Can-can. Contudo, a meu pedido, foi um mais próximo de onde estávamos hospedados e mais barato. Assim que chegamos, minha tia ligou para combinarmos de nos encontrar no dia seguinte. Por fim, já cansados, voltamos para o hotel e fomos dormir – agarrados para vaiar.

Acordamos o mais cedo possível em nosso ultimo dia na França. Ao menos tomamos café. Depois de um rápido banho, vestimos casacos grossos, pois fazia frio na grande Paris, compramos cafés e comemos enquanto íamos para a estação de trem receber minha Tia. Não demorou muito para que ele e sua filha Ella chegassem. Trocamos abraços, sorrisos, conheci minha prima, linda. E, entre historias, recordações e risadas, fomos visitar o túmulo de minha vó. Foi inevitável não chorar com as recordações que bombardearam minha cabeça. Mas sorri com as mesmas lembranças.

- Eu sinto tanta falta dela. – falei quando senti a presença de minha tia ao me u lado.

- Também sentimos, mas ela cumpriu sua missão. – Lucia falava enquanto afagava minhas costas.

- Ainda sim é tão doloroso. Eu gostava tanto dela e tivemos tão pouco tempo juntos. Ou sequer pude me despedir dela. – Carlos e Ella, minha prima, estavam um pouco mais afastados e tentavam conversar, alheios a mim e minha tia.

- Ela também gostava muito e você Bruno. E mesmo que o tempo que vocês tenham passado juntos tenha sido pouco, foi suficiente para te torna o preferido dela. – ela falava com a voz terna.

- Não fala assim tia.

- Mas é verdade. Vou te contar algo que nem sua mãe sabe. Eu estava com Mamãe nos seus últimos suspiros, e foi por você que perguntou. – senti com uma faca me perfurando e não consegui segurar as lágrimas silenciosas de alegria que insistiam em se expor. Vó Edith havia se lembrado de mim, perguntado por mim.

- Por mim? – virei-me para encarar minha tia que tinha um sorriso reconfortante no rosto.

- Sim. Ela pedia para te ver, mas tudo que conseguimos foi colocar uma musica de Edith Piaf que você gravou... – ela franziu o cenho tentando lembrar-se de algo e logo continuou. – Não lembro qual foi à música, mas...

- “La vie en Rose” – a interrumpí.

- Exatamente. – rimos juntos. – Como você sabe que era essa?

- Foi a única de Piaf que gravei para ela.

- Mamãe amava Piaf.

Ao sairmos do cemitério, fomos conhecer mais uma praça que tinha por perto. Recebi alguns presentes, para mim e para levar para o Brasil e por fim, acabamos almoçando juntos no hotel onde estávamos hospedados antes de irmos deixa-las na estação novamente, pois minha tia tinha um compromisso e minha prima aula. Para não perder à tarde, Carlos me convidou para conhecer o que eu mais queria e que, por falta de tempo, tinha saindo de nosso roteiro turístico: o Museu do Louvre. Graças a sua extensão, não foi possível visitar todas as suas galerias, mas ainda sim foi incomparável. As mais belas e famosas obras francesas estão lá. Há também as egípcias, gregas, italianas e de muitas outras nacionalidades. A Pirâmide do Louvre (1989), que fica logo em frente ao museu, foi à primeira. Admirável.

Dentre as esculturas que conheci, destacam-se “A Vênus de Milo”, “Amor fazendo um arco da clava de Hércules” e "Psiquê revivida pelo beijo de Eros". Inigualáveis. As pinturas não ficaram atrás. Seria até pecado visitar o Louvre e não conhecer a tão famosa “Monalisa”. Sem duvida as pinturas italianas e francesas se destacaram. As obras de Da Vince, Michelangelo, Mantegna, Nicolas Poussin, Jacques-Louis David e outros, fizeram brilhar meus olhos. Fiquei hipnotizado pelos vitrais. Honrosos. Sem falar nos demais objetos presentes. Fabulosos.

Já era noite quando saímos do museu. Meu sorriso não saia de meu rosto nenhum momento. Depois da nossa refeição, muito cansado para fazer qualquer coisa por tanto ter andado pelo museu, pedimos outro vinho e ficamos mais uma vez na varanda admirando as luzes da cidade e conversando até que fomos dormir, pois nosso trem sairia pela manhã.

Durante todo o período que visitamos Paris, não falei com ninguém de Portugal, nem do Brasil. Estávamos focados no evento nos primeiros dias e no turismo no segundo.

- Bruno, acorde. – Carlos me chamou já dentro do trem. – estamos chegando.

- Já? – perguntei ainda com a voz sonolenta. Eu havia capotado logo que saímos da cidade luz no ombro de meu namorado.

- Já. Dormiu bem? – perguntou acariciando meu rosto e depositando um beijo em minha testa.

- Sim. Mas estou com meu pescoço dolorido. – disse massageando o local.

- Quando chegarmos em casa posso te fazer uma massagem, o que acha?

- Eu adoraria. – olhei-o sorrindo. Sempre adorável, sempre amável, sempre gentil. - Carlos... Agora que passou pela minha cabeça, seu carro ficou no aeroporto? – fiz uma careta ao recordar.

- Não. – riu-se. – Entreguei as chaves para Claudia. Ela deve está nos esperando na estação.

- Ah... Tomara que ela não esqueça. – falei sorrindo e encostando minha cabeça no vidro.

- Se esquecer, pegamos um taxi.

Como Carlos havia falado, já estávamos chegando, e não demorou muito para o trem parar na Estação Ferroviária Santa Apolônia. Logo que desembarcamos, avistamos um Gabriel com cara de poucos amigos nos esperando. Pegamos nossas agora muitas bagagens e fomos de encontro ao garoto que jogou as chaves do carro nos peitos de Carlos quando nos aproximamos e nos deu as costas sem falar nada. Eu e Carlos apenas trocamos olhares significativos e o seguimos até o estacionamento. Quando Carlos abriu o porta-malas de seu carro para guardarmos as malas, eu já havia perdido o rapaz de vista.

- Gabriel! – gritei quando o vi caminhando com as mãos no bolso do casaco que usava para se proteger do frio e da fina chuva que caia. – Ei! – chamei segurando seu braço depois de uma rápida corrida até alcança-lo. – Não vai voltar conosco?

- Já te falei que não ando com gente da sua laia. – falou sem emoção e puxando violentamente o braço que eu segurava.

- E por que veio? – perguntei cauteloso.

- Minha mãe obrigou. – respondeu seco.

- E por que ela não veio?

- Está trabalhando. – ele já foi dando as costas novamente.

- Tem certeza que não vai comigo e Carlos? Nós vamos...

- Não! – me cortou já caminhando.

- Nós vamos para sua ca....

- Já disse que não quero porra! – gritou virando bruscamente para mim com o rosto vermelho de raiva.

Tremi dos pés a cabeça enquanto meus olhos queriam pular para fora. Fiquei parado em meio ao sereno que cair, paralisado o vendo caminhar em passos apressado e com meu peito ardendo. Gabriel estava bufando de raiva de mim, e eu sequer sabia o motivo de tanto ódio. Ele era um garoto super atencioso e eu sempre o recusava sua aproximação. Por algum motivo desconhecido Gabriel começou a me tratar mal. Ou melhor, desde que ele achou que eu estava tendo alguma coisa com a sua mãe.

- Ei! Cadê o Gabriel? – a voz de Carlos tirou-me do transe e eu pisquei algumas vezes antes de responder.

- Foi embora.

- O que aquele garoto fez? – Carlos já parecia entender que tivemos algum desentendimento. Estava em seu rosto e olhar.

- Nada. – respondi tentando lhe lançar um sorriso.

- Bruno...

- Vamos embora. - o cortei segurando seu braço e o puxando para onde estava seu carro.

- Ele te gritou novamente, não foi Bruno? – Carlos perguntou quando já estávamos em seu carro e ele dado a partida. Sua voz era ríspida e eu apenas ignorei. – Não vai me falar? Não vou aceitar aquele rapaz de maltratando. Não foi a primeira vez.

- Não aconteceu nada. – passei o cinto de segurança sobre meu peito e encostei a cabeça no vidro assistindo a chuva engrossar um pouco mais.

- Aconteceu Bruno, pelo contrario você não estaria assim. Eu te conheço. São anos te obser... – sua voz era mais calma, mas eu queria acabar com aquela discursão e o cortei.

- Então pare de me observa.

Carlos não disse mais nada, apenas se concentrou em seu volante e saímos do estacionamento um pouco cheio. Fomos o caminho inteiro em silencio com apenas a radio ligada. Mais uma vez eu havia feito besteira. Mais uma vez não fiz o que eu tinha planejado e gritei meu namorado. Olhando de esguelha, eu o via com o maxilar travado de aborrecimento. Eu o aborreci.

Chegamos à residência de Claudia e percebemos que ela já havia chegado em casa. Quando Carlos buzinou insistentemente em frete a casa, ela saiu sorridente acenando para nós enquanto tirávamos minhas malas do carro.

- Que saudades criança! – fui recebido com um abraço apertado e rapidamente retribui.

- Também senti muito sua falta.

- A casa estava tão silenciosa e abandonada sem vocês aqui. – surrurrou em meu ouvido. - E você Carlos!? – ela me soltou e foi em sua direção.

- Achei que não ia falar comigo. – brincou sorridente.

- Nunca! – respondeu o abraçando forte.

- Como à senhora está?

- Melhor agora que vocês chegaram. Vem, vamos entrar.

- Tem mais alguma daquelas bolsas na mala Carlos?

- Não, tirei tudo seu. – respondeu sem me olhar e já entrando na casa acompanhado de Claudia.

- Eu estava fazendo um chá, esperem um pouco. – disse indo para a cozinha.

Carlos respondeu sorridente e sentou-se no sofá bege da sala e eu sentei do seu lado na esperança que ele melhorasse o humor ou pelo menos cruzássemos as mãos, mas aconteceu. Encostei a cabaça no encosto do sofá e fechei os olhos pensando mais uma vez na burrada que havia feito por besteira. Tudo que eu devia ter feito era falar que Gabriel tinha gritado comigo e tudo ficaria bem, mas eu não consegui fazer isso.

- Então, como foi à viagem? – despertei do transe com a voz de Claudia que trazia uma bandeja com três xicaras de chá logo nos servindo.

- Não poderia ter sido melhor, não é Carlos? – sorri para ele e alisei seu braço, ganhando um breve sorriso em troca.

- Foi realmente muito boa.

- Conheceram muitos lugares? – ascendi com a cabeça a vendo se sentar a nossa frente em uma das poltronas. – Foram na Praça da Concordia?

- Sim, muito linda.

- Espero que tenham aproveitado a cidade mais romântica do mundo. – disse sorrindo e piscando para nós. Olhei rapidamente para Carlos na esperança de ganhar um de seus sorrisos, mas não aconteceu.

- Certamente aproveitamos. – sua voz saiu acompanhada de um suspiro meu.

- Conte-me como foi lá. O evento.

- Nossa. Foi rico, mas no dia que foi apresentar minha pesquisa fiquei tão nervoso, a senhora não imagina. Mandaram um e-mail de ultima hora adiantando tudo para o evento acabar mais cedo. Fiquei tão apreensivo, mas no final deu tudo certo.

- Com certeza o currículo de Bruno cresceu alguns pontos com este evento. É um dos maiores em nossa área de pesquisa. Tivemos muita sorte de estarmos em Portugal no período do Congresso, visto que ele acontece todo ano em uma capital diferente. Próximo ano, segundo um dos organizadores com quem conversei, será em Camberra, Austrália.

- Serio? Eu não sabia disso. - indaguei curioso.

- Sim.

- Que bom que vocês estavam por aqui então. Na verdade não quero que vocês vão embora novamente. – Claudia disse fazendo bico e nós acabamos rindo.

- Realmente. – concordei.

- Ah, mas eu estou curiosa, contem-me sobre as noites românticas na Cidade Luz.

- Como assim? - indaguei tentando esconder meu nervosismo pela ambiguidade.

- Jantares, passeios... Navegaram sobre o Rio Sena? Aquelas embarcações são bem românticas...

- Ah. Tivemos vários jantares, não foi Carlos? – ele apenas afirmou com a cabeça - Mas não tivemos tempo de passear em barcos. Carlos queria muito ir, mas preferi deixar para outra ocasião, visto que nosso tempo era curto.

- Entendi.

- Mas os jantares que tivemos valeram muito a pena. – acrescentei.

- Agora que passou pela em minha lembrança que pedi para Gabriel ir buscar vocês, ele não veio? – senti meu coração afundar, Carlos já estava aparentemente começando a esquecer do ocorrido.

- Ele não quis vir com a gente. – respondi apreensivo.

- E ele falou para onde iria?

- Não... Ele apenas nos entregou a chave.

- Ok, deixa pra lá.

- Trouxemos uma lembrancinha para você, Claudia. – disse animado para acabar com o clima e logo puxando uma das sacolas com as pinturas do Senhor Fabian. O que separei para Claudia, era do gramado da Praça da Torre Eiffel com uma criança brincado e correndo um cachorro. No fundo, a enorme Torre.

- É lindo querido, muito obrigado! – disse me abraçando novamente. – Vou pendura-lo no escritório. Ficara lindo lá.

- De nada. Foi o Carlos quem escolheu. - Claudia correu para os braços de meu namorado enchendo a casa de gargalhadas.

- Falei com Dona Vitoria esses dias. – Claudia disse quando acalmamos os ânimos.

- Minha mãe? – perguntei curioso.

- Sim. Ela estava muito preocupada por você não ter entrado em contado.

- Mas ainda aqui em Lisboa eu havia comunicado que possivelmente ficaria sem tempo para falar com ela.

- Mas mãe é mãe. Já devia ter se acostumado. – acrescentou Carlos.

- Ela me contou que você iria ver um parentesco. Uma tia, se não me engano.

- Sim. Ela e sua filha foram passar uma manhã conosco. Foi maravilhoso falar com ela. – falei sincero e sorri ao lembrar-se de nossos momentos e conversas.

- Ela realmente é um amor de pessoa. Ella nem se fala. Sem falar que Dona Lucia é muito jovem e parece bastante com a mãe de Bruno.

- Você tem que dizer isso para sua sogra. – sinalizei e ganhei o primeiro sorriso.

- Verdade, com esse elogio, seu conceito subirá com Dona Vitoria. – Claudia disse e ouvi as gargalhadas de Carlos, o que me tranquilizou um pouco.

- Farei isso assim que tiver a oportunidade.

Ficamos conversando por um bom tempo, contando sobre como foi à chegada, a emoção de estar em Paris, a cidade do amor, a despedida e adjacentes. Mas logo Carlos pediu licença e quis se despedir de mim e de Claudia, pois ia para seu apartamento.

- Espera um minuto, Carlos, vou pegar umas roupas aqui. – falei já me direcionando para a escada.

- Tem certeza que quer ir? Rafael mandou uma mensagem avisando que iria aparecer lá em casa hoje à noite.

- O Marcel também irá? – perguntei receoso.

- Possivelmente sim.

- Bruno, você não pode ficar se escondendo. Enfrente o que te angustia. – ouvi Claudia dizer à medida que andava em nossa direção. – Você não irá conseguir vencer o seu problema se continuar fugindo, se esquivando dele. Você vai.

- É melhor não, eu...

- Você não precisa conversar ou interagir com eles. Apenas esteja lá. O fato de você conseguir, ou pelo menos tentar, estar no mesmo ambiente que estas pessoas já é um avanço em seu tratamento. – suspirei pesadamente antes de confirmar.

- Você vai levar alguma coisa que esteja nessas malas? – perguntou Carlos e aneguei com a cabeça voltando a subir as escadas. – Ei! – parei olhando para trás. – Leve algumas malas. – sorri vendo que seu humor tinha realmente melhorado.

A viagem de volta foi tranquila, mesmo que não conversássemos muito, trocamos alguns olhares e sorrisos. Acabamos encontrando Elizabeth ainda em seu apartamento que também me fez contar-lhe tudo que vivemos em Paris. Ao saber que eu havia lhe comprado um suvenir no museu, agarrou em meu pescoço que acabou causando risos em mim e Carlos. Meu namorado também comprou algo para ela, uma miniatura da Torre Eiffel, o que causou mais gritos e pulos da mensalista.

Depois dos escândalos de Elizabeth, acabamos por tomarmos um banho rápido e pedir um lanche rápido na cafeteria, que não demorou a entregar. Enquanto esperávamos a visita, ficamos discutindo pelo fato de eu ter compro muitas lembrancinhas e não querer presentear como planejado. Fazia apenas com as peças que tinha mais de um exemplar, como a miniatura da torre, quadros e as garras de vinho – mesmo que eu não seja um exímio degustador como meu namorado.

Não demorou muito para que a campainha tocasse. Permaneci ao sofá enquanto Carlos atendia a porta. Sentia-me nervoso e apreensivo e tudo só piorou quando vi que junto a Rafael e Marcel, Cristal vinha com uma criança no colo. Ele tinha um cabelo liso e loiro, na altura do ombro, e brincava distraído com um boneco que não consegui identificar a qual desenho animado pertencia.

Comentários

Há 1 comentários.

Por Niss em 2015-07-03 00:12:43
Noooossa Drex, pulei de alegria quando vi o e-mail de confirmação. Não pude ler antes, passei a tarde em um evento. Mas que bom que ja veio esse capitulo. Esse fato da visita dos amigos não ta me cheirando bem, mas vamos ver n que vai dar. Bjs. Niss