Capítulo XII

Conto de Drexler como (Seguir)

Parte da série O destino de Bruno

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“Que beijinho doce

Que ele tem

Depois que eu beijei ele

Nunca mais amei ninguém

Que beijinho doce

Foi ele quem trouxe

De longe pra mim

Se me abraço apertado

Suspiro dobrado

Que amor sem fim

Coração quem manda

Quando a gente ama

Se eu estou junto dele

Sem dar um beijinho

Coração reclama

Que beijinho doce

Foi ele quem trouxe

De um longe pra mim

Abraço apertado

Suspiro dobrado

Que amor sem fim”

Depois que o professor Carlos deixou meu apartamento depois do beijo de madrugada, essa música não saia da minha cabeça, pois era assim que eu me sentia. Foi difícil pegar no sono com a euforia que se encontrava em mim. E nem o violão eu poderia tocar para acalmar a psique, pois não poderia incomodar os vizinhos.

Foi uma madrugada banhada de pensamentos: Daria certo? Como ficaria nossa relação professor-aluno? O que diriam na faculdade lusíada se descobrissem sobre nós? E se nos prejudicássemos na área profissional? Estávamos indo contra a ética profissional. Como seria, afinal?

Logo que acordei, depois de fazer minha higiene matinal, sentei-me escorado na cabeceira da cama e entrei em contato com a minha melhor amiga no Brasil, Beatriz. Não iria falar com a Cristal tão cedo sobre o ultimo ocorrido, sabia como ela era, e eu já ouvia muitas insinuações antes mesmo que acontecesse. Precisaria muita força emocional para contar para ela. O que aconteceria cedo ou tarde.

- O que aconteceu? – perguntou Beatriz assim que apareceu na chamada de vídeo.

- Bom dia, Bia. – ironizei.

- Bom dia. Mas que milagre é esse me chamar tão cedo? – sorri.

- Pedir conselhos. – falei.

- Não sei como não foi pedir para aquela outra. Como é mesmo o nome dela? Vidro? – ri do ciúme.

- Ainda com ciúmes da Cristal?

- Não tenho ciúme de você. Apenas sou inconformada por você me trocar por ela. – falou simplesmente.

- Não te troquei por ninguém, apenas fiz novas amizades.

- É, mas depois que “fez novas amizades”. – ela fez aspa com as mãos. – Quase não fala mais comigo.

- Minha vida tá corrida. Quase não tenho tempo para nada.

- Mas tem tempo para ela.

- O fuso horário também complica, você sabe.

- Mesmo... – a cortei.

-Não te chamei para discutir nossa amizade. – Bia me mostrou a língua. – Quanta infantilidade.

- Desembucha logo.

- Conheci alguém... – ela abriu um sorri tão grande, que imaginei a boca do Curinga.

- Homem ou mulher?

- Homem... Na verdade já nos conhecíamos...

- Quem é? É daí? Eu já conheço? – ela parecia animada com a noticia.

- Na verdade conhece sim... Muito bem, por sinal... – não deixei que escutasse a ultima parte.

- Um daqueles caras casado? – perguntou assustada e tampando a boca com a mão, mas logo neguei freneticamente com a cabeça. - Um de seus alunos? – neguei e desviei o olhar. – Quem é então? Além deles, só conheço... Oh Deus! – ela gritou animada e rindo. – Carlos! Você tá pegando aquele gostoso?

- Não tô pegando ninguém... – cosei a cabeça nervoso. – Estamos nos conhecendo...

- Vocês já se conhecem. – ela rio novamente, mas controladamente.

- Você entendeu. A gente ficou uma vez... Mas acho que me arrependi...

- Por quê?

- Por que ele é meu professor! Não é logico? É antiético! – falei como se não fosse obvio.

-Com certeza vocês ficarem se pegando dentro do local profissional, é antiético. Mas fora de lá vocês tem uma vida. Poderia ser qualquer pessoa.

- Mas é meu professor! – lembrei.

- Foda-se. Mas me conta como aconteceu.

- A gente estava muito próximo, aí todos nos diziam que estávamos namorando, sendo que não. Ele nunca negava, apenas eu. Ontem nós saímos com amigos, depois, quando ficamos a sós, pedi que ele se afastasse pelo obvio, mas ele disse que gostava de mim, por isso me escolheu como bolsista. E... – fui cortado.

- Ele o que? – ela tinha os olhos arregalados bem próximos a sua câmera.

- Isso mesmo, esse foi um dos motivos por eu ter vindo para cá. Mas ele disse que faria o que pedi, se afastaria de mim. Aí quando eu já estava em casa, hoje de madrugada, ele apareceu dizendo que queria uma chance, que não esqueceria o beijo...

- Que beijo? – ela me cortou novamente.

- Que demos na cafeteria mais cedo.

- Tô bege! – ela levantou o queixo tampando a boca.

- Enfim, ele perguntou se eu gostava dele e...

- O que você disse? –Bia agora ria.

- Omiti. Disse que achava que sim.

- Mas você gosta dele! – ela gargalhou. – Você é um sacana. – eu olhava para a porta do meu quarto. – Ei! O que você sente por ele de verdade?

- Gosto dele. Sempre te falei como me sentia com os abraços dele. Agora tá pior, sempre me beija na bochecha. Isso me amolece. Mas eu achei que era o jeito dele.

- Então está tudo resolvido.

- O que? – estranhei.

- Você gosta dele. Ele gosta de você. Não tem porque você ficar com medo do que vão pensar. O que vocês têm que fazer é tomar cuidado para não fazerem nada dentro da universidade. Não por medo ou para esconder, mas para não dá motivos para fazerem o que quer que tentem para prejudica-los.

- É isso que tenho medo.

- Carlos já é grandinho para saber o risco que corre. Mas não acho que o demitiriam ou expulsaria você, porque vocês são gays e tem um caso.

- Não temos um caso.

- Ok. Por vocês serem namorados.

- Também não somos.

- O que é então? Vocês tem uma amizade colorida? Um relacionamento aberto? Ou o que?

- Nenhum. Ficamos uma vez, e ele pediu uma chance para nos conhecermos... E eu aceitei.

- Que lindo! Contarei tudo para o Felipe. – eu estava confuso sobre Carlos, enquanto minha amiga dava pulos de alegria, como se tudo fosse simples.

- OK. Mas e você, como anda?

- Lembra-se do André? Primo da Alice...

- Sim. – Afirmei sem entender.

- Estamos ficando... Ele é um amor de pessoa...

- Não sabia que ele tinha terminado o namoro com aquela outra menina...

- Ainda não, mas vai fazer? – arregalei os olhos.

- Como é? Você caiu nessa?

- Eles estão passando por uma fase difícil.

- Disse bem, UMA FASE - repeti.

- Eles vão terminar. A própria Alice me falou.

- Enquanto isso você fica sendo a outra, o motivo da separação, a usada.

- Não estou sendo nada disso. A gente se gosta e ele só está esperando a hora certa.

- Então espere ele achar a hora certa, aí vocês tentam alguma coisa.

- Aaah, você está igual o Felipe.

- Que bom que não é só eu a pensar assim. – eu falava com seriedade. – Ele está brincando com você. Entenda.

- Você não tem moral para falar essas coisas, pois foi você que fez o mesmo com Fernando.

- Vai, joga na cara, eu mereço, sei disso. Mas quem foi que abriu meus olhos para a idiotice que fazia? Você! Então faz o mesmo consigo mesma. Vê o que está na sua cara.

- Não vou discutir isso com você, Bruno.

- Claro, você não tem argumentos cabíveis.

- Vou ficar torcendo por você e Carlos, pensa no que te disse. Tchau.

- Isso, foge, ignore a verdade. – Ela desligou a chamada.

Após falar com Beatriz, percebi que meu primo estava online e o chamei para falar com ele e meus pais. Contei-lhes os últimos acontecimento – com exceção de meu envolvimento com Carlos -, recebi noticias sobre meus familiares e acontecimentos de minha cidade natal.

- Bruno, lembra aquele teu amigo Pedro? – disse minha mãe.

- De São Paulo? Claro, faz pouco mais de um mês que estou aqui, mãe.

- Não, aquele de infância. – falou ela.

- Não. – falei forçando minha mente para lembrar.

- O que você “brincava” na casa da vô dele. – disse ela fazendo aspa com as mãos, fazendo eu e meu primo rir ao entender de quem falava. Meu pai virou o rosto. Aquele assunto não lhe fazia bem, imaginei.

- A senhora quer dizer a Bárbara, certo? – me certifiquei.

- É, ele mesmo. – disse meu primo.

- Ela. – corrigi. – O que tem ela?

- Foi encontrada morta ontem de manhã em um motel. – empalideci ao ouvir minha mãe.

- Como? – não pude acreditar que o menino que me fez entender minha sexualidade estava morto.

- Não se sabe a causa da morte ainda, mas acreditam que foi overdose. O cara que estava com elA – meu primo enfatizou. – fugiu quando ela começou a passar mal e ligou para a ambulância em anônimo, mas foi em vão, chegaram lá, seu amigo já estava morto e reconheceram o cara.

- Quem era? – perguntei.

- O dono do mercado. Parece que ele era cliente.

- Onde esse mundo vai parar?! – disse meu pai. – Um pai de família, casado.

- E safado! – disse minha mãe. – Olha aqui, Flávio, se eu sonhar que você me traiu, seja mulher, homem, travesti ou escambau, não tem perdão. – ri com meu primo.

- Como está a família da Bárbara? – perguntei.

- Como? Felizes. – disse meu primo.

- Filho, os tios nunca gostaram dele, você sabe. A mãe ninguém sabe onde anda, o pai havia dito que o odiava. Ele nem foi ao enterro. A vó, coitada, chorava muito, se não fosse à irmã que estava com ela direto, era capaz de se jogar na cova junto com Pedro. – respondeu minha mãe.

- E os irmãos? – perguntei.

- Só vi a irmã. Mas estava, aparentemente, bem. – disse minha mãe.

- Vocês foram ao enterro?

- Fui com sua mãe. – disse meu pai.

- Fico triste pelo ocorrido, mas todos já sabíamos qual seria seu destino. Sentirei saudade dele. – falei.

- Sei que saudade sente. – rio meu primo e ganhou um tapa na cabeça. – Árra tia!

- Respeite o falecido, seu primo e nós, seus tios. – ela rosnou.

Depois da trágica noticia, conversamos um pouco mais, até que decidi descer até a cafeteria ao lado e tomar café da manhã. Por felicidade, ou infelicidade, não encontrei Carlo. Não sabia como seria ao revê-lo, eu estava muito nervoso. Eu suspirava e sorria sozinho só de pensar nele.

- Que risinho é esse, heim? – perguntou Cristal as minhas costas quando eu esperava o elevador para subir de volta para meu apartamento.

- Para de aparecer assim. Que droga. Parece um fantasma. – falei olhando pra ela.

- Você não me respondeu. – falou cantarolando.

- Nem você. Como entrou no meu apartamento ontem quando falava com a Elizabeth? – perguntei.

- A porta estava aberta. – deu de ombros e entramos no elevador e pertei no nosso andar.

- Eu tranquei a porta ao passar e só abre com chave do lado de fora. – falei com o olhar desconfiado em sua direção.

- Ok, eu tenho uma copia das suas chaves. Está feliz? – levantou as mãos em rendição.

- Não! Devolva-me. – ordenei esticando a mão.

- Claro que não. Você já me deixou do lado de fora duas vezes.

- Eu tenho minha privacidade.

- Bata punheta trancado no banheiro. Não preciso da chave de lá. – falou como se fosse normal.

- Dá para parar de falar essas coisas?

- Isso é normal, ok? Todo mundo faz.

- Sim, mas não precisa sair falado. E eu não vivo fazendo isso, como você imagina.

- Aham, sei.

- Enfim, quero minhas chaves. – falei saindo do elevador e caminhando em direção a minha porta.

- Ok, no dia que você aceitar e sair com o Carlos. – não ia dizer a ela que isso já aconteceu, então apenas entrei em casa e ouvi sua gargalhada.

- Chata. – falei já dentro de casa.

Como ainda era cedo, peguei meu violão e fui praticar novas músicas. Toquei por algumas horas, até que bateu o sono e fui dormir novamente. Por volta das 12 horas, como tenho o sono leve, acordei com uma mensagem no celular:

“Ei, já almoçou? Se não, me acompanha?” – Carlos.

“Ainda não. Estava dormindo, na verdade. Mas eu aceito o convite”. – respondi.

“Ok. Logo mais estou descendo. Passo por aí ou nos encontramos no térreo?” – perguntou logo em seguida.

“Bom, eu ainda vou tomar um banho rsrs como disse, estava dormindo”.

“Ok, passo por aí”

“A porta está entreaberta, pode entrar e ficar a vontade.” – escrevi.

Ainda sonolento, me levantei e fui para o banheiro. Eu estava nervos, mas seguiria o conselho de Beatriz, não me preocuparia com os outros. Eu queria conhece-lo melhor e ele dizia querer o mesmo. Tomei meu banho relaxadamente e estava me enxugando calmamente quando ouço batidas na porta do quarto.

- Ainda vai demorar? – ouvi a voz do Carlos.

- Já vou. – respondi.

Vesti uma cueca rapidamente, uma bermuda e uma camisa fina, calcei minha sapatilha azul marinho como de costume e sai.

- Pronto, vamos? – perguntei.

- Não vai pentear o cabelo ou é um novo estilo? – perguntou com um sorriso no rosto.

- Droga. Só um segundo. – entrei no quarto e fiz o que havia esquecido: penteie o cabelo, passei perfume e desodorante.

- Agora sim. Vamos.

Sem trocar mais palavras, saímos do meu apartamento, descemos o elevador e seguimos para o seu carro prata no estacionamento. Quando percebi que ele estava me levado para um restaurante meramente requintado, foi que percebi como estávamos vestidos diferentes: ele estava de calça e camisa social. Logo me desesperei e me recusei a entrar no ambiente. Carlos sempre ia para esse tipo de restaurante e se recusava a dividir a conta, mesmo quando saiamos como orientador-orientando.

Ao meu pedido, fomos a um restaurante brasileiro que eu conheci, acidentalmente, uma noite que sai com Cristal. Surpreendi-me quando ele pegou minha mão para entrarmos juntos. Imediatamente corei, mas nada falei e sentamos em uma mesa mais ao fundo de frente um para o outro. O ambiente era aconchegante. Além da música – forró tradicional – que tocava, a comida era excelente: feijoada, arroz branco e churrasco.

- Já estava com saudade dessa comida. – comentei sorrindo de lado.

- Eu que o diga. Vou te confessar uma coisa: Quando voltei ao Brasil para te fazer o convite, comer feijoada foi à primeira coisa que fiz. – rimos.

- Mas garanto que quando voltarmos para o Brasil, vamos sentir saudades da Alheira de Mirandela, do Arroz de Pato, do Bacalhau, hummm, o Bacalhau.

- Também temos bacalhau no Brasil. – se rio.

- Mas nenhum como o daqui.

- Você sabe que é importado, não sabe? – o olhei cético.

- Claro. – voltei a comer.

- Você fica bonitinho assim. – comentou rindo.

- Assim como? – estranhei.

- Bolado. – ele continha um sorriso que me derretia, mas fazia o máximo para não deixar transparecer.

- Não estou bolado. – neguei.

- Está sim. Conheço-te muito bem.

- É tão observador assim? – quis saber.

- Bastante. – respondeu-me encarando o prato e voltando a comer. – Então... – voltou a me encarar. – O que fará hoje à tarde?

- Pensei em prepara os planos de aula da semana e estudar. Por quê?

- Acho que não é uma boa ideia te convidar para irmos ao cinema, não é? – fiquei boquiaberto. Ele não poderia ser tão romântico assim. Eu não era, mas estava gostando, não me preocuparia com o que pensassem da minha masculinidade.

- Acho melhor não... – tentei ser mais forte que meu desejo.

- Você tem razão... Não quero e não posso te prejudicar em sua vida acadêmica.

- Desculpa.

- Não há com o que se desculpar, temos nossas responsabilidades, não podemos deixar de lado nossos afazeres. – pensei um pouco antes de falar.

- Eu poderia adiantar algo hoje e sairmos no meio da semana. – sugeri.

- Não poderemos.

- Por quê? – indaguei.

- Porque ainda sou seu professor e como tal afirmo que essa semana será puxada para você. – abri a boca perplexo.

- Está falando serio? Mais puxado do que está sendo?

- Acredito que já te falei do evento em agosto.

- Já. Mas é em agosto. – argumentei.

- Exatamente. Temos que começar a nos preparar. Só falta pouco mais de três meses, você tem que terminar o artigo, submetê-lo, essas coisas.

- Você disse que estava quase bom.

- E está.

- Então?

- Quase bom é muito distante de excelente. – ele me olhava fixo nos olhos e eu o encarava incrédulo. Percebendo isso, justificou-se. – Olha Bruno, mesmo gostando de você como eu gosto, ainda sou seu orientador, então tenho que exigir de você. – falou pegando minha mão sobre a mesa e alisando. Eu apenas concordei com a cabeça. – Temos que saber separar as coisas.

- Eu entendo, Carlos. Inclusive, este era meu maior medo: como seria nossa relação profissional. – ele sorriu.

- Não se preocupe, serei o mesmo chato lá na faculdade. – ri também e ele beijou minha mão.

- E eu o mesmo preguiçoso. – falei ruborizado pelo gesto.

- Ficamos tão focados em conversar, que nos esquecemos de comer. Olha isso tá gelado. – falou levantando a comida com o garfo e despejando no prato. – O que acha de pedirmos a conta e irmos? Acho que dá tempo de passar em um lugar.

- Que lugar? – perguntei franzindo a testa.

- Vai saber.

Pagamos a conta e saímos para o carro, mas para o meu desprezo, antes de entrar no carro, Carlos pediu para ir fumar um cigarro, pois era costume fazê-lo depois das refeições. Em respeito e para não demonstra minha aversão ao ato, apenas concordei com a cabeça e decidi esperar dentro do carro enquanto ele se afastava para fumar. Rapidamente ele voltou, e para minha felicidade, ele não estava com o cheiro do maldito.

Como sempre que ouvia menção a drogas, minha mente se prendeu em uma única pessoa: Fernando. A sensação de culpa, arrependimento e o remorso tomou conta de mim instantaneamente. Sempre me sentia abatido quando lembrava que ele era um viciado por minha culpa. “Por minha culpa, minha tão grande culpa”. Nunca me perdoaria por ter sido tão mesquinho, egoísta, egocêntrico, vingativo e impiedoso. Eu não tinha quebrado um coração, como dizem os poetas. Eu havia despedaçado, destruído, moído, esfarelado, um coração. Removido qualquer chance dele se reergue emocionalmente.

- Tudo bem Bruno? – Carlos me tirou dos meus devaneios.

- Sim, tava só pensando. – tentei sorrir.

- Posso perguntar em que? – ele dava rápidas olhadas em minha direção.

- Nas pessoas que deixei no Brasil. – omiti.

- Saudades?

- Sim... – sorri de lado. – Enfim, onde estamos indo? – perguntei novamente.

- Curioso, você, hein. – disse rindo.

- Um pouco. – falei corando.

Fiquei boquiaberto quando chegamos ao local. Era magnifico: havia um lago, atravessado por uma ponte, em uma margem do lago, tinha uma varanda e tudo muito verde. Sem falar na paz que sentíamos com a brisa leve que o vento soprava. Fechei os olhos e inspirei profundamente.

- Que lindo. Onde estamos? – quis saber.

- Jardim da Luz. – estávamos em pé na varanda olhando as pessoas que passeavam entre as poucas arvores.

- Perfeito!

- Para mim, este é um dos mais belos jardins de Lisboa. – Nos olhamos sorrindo.

- Por que me trouxe aqui?

- Porque ainda não havia te apresentado os atrativos naturais de Lisboa. Achei que gostaria de conhecer.

- Mais uma vez acertou. – sorri largamente e ele pegou minha mão me puxando.

- Vem, vamos sentar em um banco, antes de voltarmos para casa. – convidou.

- Já havia vindo para Portugal antes desta viagem do pós-doutorado? - indaguei.

- Nunca te falei, mas eu morei aqui em Lisboa por dois anos e em Porto por seis meses.

- Uou. Você nunca mencionou nada. – comentei quando sentamos no banco vermelho frente para o lago.

- Eu era pequeno, não aproveitei muito. Vivia trancado dentro de casa e só saia para ir à escola.

- Seus pais eram muito rígidos?

- Eles não. Eu morava com meus avôs maternos.

- Então você tem linhagem Europeia como eu. – sorri para ele.

- Na verdade não. Meu avô era um Pracinha na Segunda Guerra Mundial e gostou muito do clima quando passou por aqui. Aí, muito tempo depois, decidiu vir morar por aqui com minha avó. E eu, curioso, pedi para vir junto. – ri.

- Quantos anos você tinha?

- 10 anos.

- Faz tempo. – falei sem pensar.

- Está mesmo me chamando de velho? – se fez de ofendido.

- Não!- falei desesperado. – É que...

- Tudo bem, estou brincando com você.

Ficamos nos encarando por um tempo até que decidi ter a iniciativa pela primeira vez e aproximei meu rosto para o dele, fechei os olhos e encontrei seus lábios. Carlos passou a mão alisando meu rosto e pude sentir com eles eram macias, como de alguém que não faz trabalhos braçais. Ele tentou colocar sua língua em minha boca, que permiti de pronto, e com o movimento de nossos rostos, pude sentir sua barba por fazer arranhar meu rosto. Mas o que outrora me incomodou, senti vontade de senti-la com mais intensidade. Seu beijo era calmo, terno, cômodo, carinhoso e desejoso, por isso, apenas quando sentimos necessidade de respirar, foi que separamos nossos lábios com vários selinhos.

Sorri encarando-o enrubescido e peguei sua mão que ainda tocava meu rosto, alisei e levei aos meus lábios beijando-a vagarosa e afetuosamente e direcionei meu olhar para o lago novamente. Meu professor passou o braço pelo meu pescoço e ficamos em silencio por um tempo admirando o lago e as pessoas que, em sua margem, apreciavam sua beleza e recebendo os carinhos em meu ombro.

- Você quer ir embora? – ele me perguntou.

- Querer, eu não quero, mas acho que é necessário. – respondi olhando fixamente em seus olhos.

Mais uma vez Carlos deu-me um de seus beijos calmos, porém um pouco mais rápido e saímos, de mãos dadas, pelo jardim em direção a seu carro. Fomos conversando e combinamos sair à noite com Stefani e Cristal para um bar. Já poderia imaginar a reação delas ao perceber qualquer aproximação a mais entre nós dois. Dentro do carro, seguindo para nosso prédio, para meu espanto, ele colocou Rita Lee para tocas.

- Não sabia que gostava dela. – comentei com um sorriso de lado e o encarando.

- Por que você achou? – olhou rapidamente para mim.

- Achei que fosse mais clássico. Você é sempre tão formal. – falei rindo.

- Também tenho meus momentos de rebeldia. E a Rita Lee é clássica.

- Eu sei, mas imaginei que você era mais Bossa nova, entende?

- Gosto também. Mas advirto que ela é uma das mais calmas que ouço. Ouço bossa, rock, rap e adjacentes.

- Samba não? – brinquei.

- Muito pouco na verdade.

- Você já disse ter me visto sambar, por isso vou quer retribuição.

- Isso não será possível. – falou com ar de riso, enquanto eu gargalhava.

O resto do caminho foi com o mesmo clima descontraído. O desafiei a sambar até que ele aceitar, rimos e corava constantemente quando ele me elogiava. Chegamos ao prédio, ainda rindo e pegamos o elevador, onde fiquei novamente corado quando ele começou a me encarar com um sorriso sacana em silencio.

- O que foi? – perguntei depois de alguns segundos e segurando um sorriso que queria forma-se em meu rosto.

- Foi muito bom ter saído com você hoje. Mesmo que tenha sido tão rapidamente.

- Também gostei. – falei sincero.

- Sabe, você estava diferente hoje. – falou ainda com o sorriso.

- Diferente como? – franzi as sobrancelhas.

- Digamos que mais aberto. Não sei explicar bem.

- Aceitando melhor?

- É, acho que é isso. Isso significa que você não aceitava. Por quê? – perguntou serio.

- Eu tinha medo. – falei olhando a parta. – Medo de como seria nosso comportamento no local de trabalho. Ainda tenho esse medo, na verdade. Medo de como seria se não desse certo, ou do quem podem falar.

- Saberemos diferenciar os ambientes. – falou ele me puxando para um abraço e segurou meu rosto com uma das mãos, enquanto a outra rodeava minha cintura. – Acredite: nossa vida pessoal não influenciará nossa vida profissional. – a porta do elevador se abriu. – Não se preocupe. – Terminou de falar e inclinou-se para me beijar, mas foi apenas um selinho. – Nos vemos a noite?

- Uhum. Até mais, Carlos. – dei mais um selinho, sorri acenando e fui para minha casa.

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Queridos leitores, o que estão achando da trama? Para mim, está sendo uma ótima primeira experiencia. Sinto-me tão feliz em concretiza-lo. Confesso que as vezes tenho vontade de desistir de escrever e largar a historia, pois a todo momento me pego criando conversas e situações para os personagens. Mas não se preocupem, NÃO o farei.

Bom, não esqueçam de COMENTAR.

Ah, e ouçam as músicas, conheçam os cantores mencionados etc. Sou fã de todos eles, vale a pena ouvi-los e conhece-los.

Quem desejar conversar comigo sobre a serie ou deixar criticas e comentários privados ou, ainda, sugestões: j.drex@hotmail.com << Responderei todos os e-mail's nas Quartas-feiras. Abraços.

Comentários

Há 4 comentários.

Por Olivier em 2015-10-07 23:09:34
Perfeito comecei a pouco e já sou teu fã, amando este lado do Carlos com o Bruno, mas confesso que desde o epílogo quando Carlos disse ' deixe que ele continue (com os elogios), isso alimenta meu ego', já esperava algo destes dois kkkkkkkkkkk
Por BoyTeen em 2015-05-11 00:49:39
Drexler queria dizer que virei seu fã, comecei a ler hoje seu conto e não consegui mais parar, você escreve muito beem, e a trama esta muito boa por sempre estar mudando e acontecendo reviravoltas, vou acompanhar sempre é quero ver se te mando e-mail, mas por favor não desista da seria, ela está uma das melhores do site recentemente.. Então posta logo, e não pare.. Até mais
Por BoyTeen em 2015-05-11 00:49:26
Drexler queria diser que virei seu fã, comecei a ler hoje seu conto e não consegui mais parar, você escreve muito beem, e a trama esta muito boa por sempre estar mudando e acontecendo reviravoltas, vou acompanhar sempre é quero ver se te mando e-mail, mas por favor não desista da seria, ela está uma das melhores do site recentemente.. Então posta logo, e não pare.. Até mais
Por Niss em 2015-05-09 02:02:51
Olha Drexler vc não é nem doido de desistir de escrever! Rumm... Voce nao sabe o quanto estou adorando essa serie mal posso esperar o proximo capitulo... bjs.. Hasta. Niss