Capítulo VIII

Conto de Drexler como (Seguir)

Parte da série O destino de Bruno

Este capítulo promete. Espero que gostem.

Comentem o que acharam!.

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Acordei na manhã seguinte com a seguinte mensagem no meu celular: “Bom dia, lindo. Espero que tenha dormido bem. Eu estou radiante, graças a nossa noite de ontem. Espero te ver logo”. Era Fernando. Uma foto vinha anexada à mensagem; nela Fernando ainda estava deitado na cama, imaginei que havia sido tirada naquele momento. A foto era do seu rosto, inchado e sonolento, seu cabelo estava totalmente desgrenhado e pegava parte do seu peito liso, seu rosto continha um ar de alegria e um sorriso enorme.

Não respondi, apenas levantei-me e fui fazer minha higienização matinal e comer algo. A casa estava silenciosa, pois, só havia eu em casa, coisa que raramente acontece. Guilherme, como toda semana foi para a residência dos pais, Zé Carlos, para a da família da namorada, e Pedro saído com os amigos.

Aproveitei que estava só e que não falava com meus melhores amigos há um tempo, e convidei-os para passar o dia comigo e contar as novidades. Felipe, por morar mis perto e ter um carro, foi o primeiro a chegar. Beatriz não demorou também.

- O que vai ser o almoço, Bruno? – perguntou Felipe.

- Aqui não é restaurante. E outra, já é 13 hora da tarde. – olhei-o incrédulo. Estávamos jogados no sofá da sala.

- Bruno, por onde você andava ontem que tanto te liguei e só dava caixa postal? – indagou Beatriz mudando de assunto.

- A pergunta correta é: em qual motel você estava com a Alice? – rio Felipe.

- Errado amigo. Eu estava com o Fernando.

- Em um motel? – Perguntou Bia exasperada. Permaneci calado e olhei para qualquer ponto.

- Caraca! – soltou meu amigo gargalhando.

- Bruno não acredito que você fez isso com a Alice. – disse a menina seria.

- Nós não temos nenhum compromisso oficial. – me defendi.

- Achei que você não quisesse nada com o Fernando depois do que ele te fez. – disse Felipe.

- E não quero. – o clima ficou tenso entre nós.

- Deixe-me ver se entendi: você e a Alice estão se conhecendo para terem algo sério e Fernando é seu amante. Apenas sexo casual. É isso mesmo? – tentou confirmar Bia.

- Quase. - falei depois de um tempo.

- Cara, explica isso direito, porque até eu tô sem entender. – disse Felipe.

- Eu gosto da Alice e pretendo ficar com ela. Mas não posso negar que o sinto atração pelo Fernando, contudo não passa disso. Além do mais, mesmo que eu quisesse, não conseguiria ficar com alguém que me trancou em um quarto para termos sexo. Agora só estou dando o que ele queria.

- O seu... – começou Felipe, mas eu e Bia o cortamos com o olhar.

- Mas ele não forçou nada, se desculpou e disse que gostava de você. Bruno, ele sabe que é apenas casual? – perguntou Beatriz por fim.

- Não exatamente.

- Explique isso melhor. – Bia estava começando a se irritar, o que me causou medo.

- Não tivemos tempo de conversar. Só saímos duas vezes; na primeira vez só não rolou, porque... Nem eu sei o porquê. Ontem aconteceu.

- Vem cá, quem deu? – Felipe perguntou com ar de riso.

- Cala a boca palhaço. – xingou Bia.

- Olha só, eu não chamei vocês aqui para a gente falar sobre isso, ok?

- Foi pra que, então? – Quis saber Bia.

- Ok, foi para falar da minha situação com eles, mas não para você brigar comigo ou querer ficar sabendo o que aconteceu entre quatro paredes, isso é antiético.

- Sou péssimo com conselhos amorosos. Prefiro aconselhar no sexo. – se defendeu Felipe.

- Pervertido. – disse bia para Felipe. – Eu estou tentando abrir seus olhos. Você está dando falsas esperanças para o garoto e enganando a Alice.

- Não estou engando ela. Vocês sabem que odeio adultério. Eu seria incapaz de cometer. Eu e Alice estamos nos conhecendo, quando oficializarmos, conversarei com Fernando e direi que não podemos continuar.

- Enquanto isso, você vai enganar o menino. – permaneci calado. Eu sabia que ela estava correta. - Bruno, você diz que gosta dele também? Dá alguma pista?

- Não. Nunca disse que gostava dele. Vou me arrepender de te mostrar, mas olha a mensagem que ele me mandou. Eu nem respondi. – falei mexendo no meu celular e logo o entregando.

- Deixe-me ver também. – pediu Felipe. – Uau. Ele gostou e quer de novo.

- Não sei o que pensar de você, Bruno. Você não era assim. O que aconteceu com aquele menino certinho que eu conheci?

- Se foi.

- Pois resgate-o.

- Cara, você não vai mesmo falar quem comeu quem? – Felipe tentou quebrar o silêncio que se fez na sala.

- Depois te mostro o vídeo.

- O quê? – perguntaram os dois. Felipe logo começou a rir, Beatriz avançou em cima de mim para me bater, mas logo falei:

- Tô brincando, Bia, não fiz nada disso, só estava zoando. Ai! Para de me bater.

- Cachorro! – guinchou. – Espero que não tenha feito isso mesmo, porque se ele não te denunciar, eu faço.

- Calma. Não sou tão perverso assim. Ainda tenho coração.

- Espero.

A tarde foi de muitos risos, não tocamos mais no assunto, a não ser quando Felipe insistia para saber detalhes do sexo, mas eu o ignorava e, depois de levar várias tapas da minha amiga, ele parou com as perguntas.

Fizemos pipoca, brigadeiro, assistimos filmes de comédia e terro, conversamos sobre banalidades o resto do dia. Só à noite, depois de comermos uma pizza, eles foram embora. Não sai essa noite, apenas conversei por mensagens com Alice e Fernando, que pediu que o chamasse de Nando.

Após uma boa noite de sono, acordei com um bom pressentimento. Tomei banho, escovei os dentes, preparei minha bolsa e, comi uma fruta e segui para a parada de ônibus. Quase perco o transporte. Cheguei a Biblioteca com 5 minutos de atraso.

- Bom dia Bruno. – André me recepcionou. – Olha, o professor Carlos deixou isso aqui para você. – falou me entregando um envelope amarelo.

- Que Professor Carlos? – estranhei, eu não tinha nenhum professor com esse nome.

- Carlos Xavier.

- Mas ele não estava em Portugal? – perguntei.

- Acho que não, ele mesmo me entregou ainda há pouco.

- Ok, obrigado. – Falei e logo saindo para o local onde ficavam os armários dos bolsistas.

Eu não poderia ler a suposta carta naquele momento, pois já estava atrasado. Guardei o envelope no meu armário junto das minhas coisas e segui para meu serviço criando hipóteses sobre o conteúdo ou o assunto que tratava naquele objeto.

Outra coisa que me deixava confuso era o fato de o Professor Carlos está no Brasil, pois ele iria passar um ano em Portugal em sua formação de pós-doutorado. Além do mais, por que me procurar? Tudo bem que tínhamos um relacionamento bem mais que professor-aluno, mas não chegava ao ponto de sermos amigos fora da instituição. Na verdade, ele tinha esse comportamento com a maioria dos seus alunos... homens, em sua grande maioria.

Lembro-me que em uma aula, uma aluna teve a audácia de perguntar se ele era gay, sua resposta foi simples: “Gosto do ser humano”. Resultado: roube-lhe o discurso.

Ele chamava atenção por onde passava, além de sua simpatia, era bastante jovem, 28 anos para ser mais exato, e bonito. Caucasiano, alto-da minha altura, mais ou menos-, olhos negros, cabelo também preto e penteado de lado, usava uma barba por fazer e estava sempre bem vestido com roupa social. Só o vi com roupa casual duas vezes: a primeira correndo pela ciclovia, usava, na ocasião, uma regata branca, um calçãozinho curto de corredor e um tênis esportivo; na segunda, foi quando, em uma confraternização, ele apareceu de bermuda, sapatilha e camisa com gola em V – o que mostrou que ele tinha mais músculos do que imaginava-. Um visual com o qual muito me identifico desde sempre.

Ele era o típico homem desejável por todas as meninas – e meninos -, extremamente educado, culto, fino, responsável, dentro de outras características que não valem a pena citarem.

Terminei meu expediente, não aguentava mais de curiosidade, corri para meu armário e abri o envelope:

“Caro Sr. Bernart,

Como já deve está sabendo, acabei de voltar de Lisboa, Portugal. Isso ocorreu, pois tenho que resolver pendencia aqui no Brasil, para tanto, necessito de sua ajuda com urgência, se possível.

Peço-te que compareça a minha sala, segundo andar do prédio A, bloco 05, para que possamos conversar a respeito com mais calma e explicar tudo para você.

Como sei que você trabalha na Biblioteca até às 10 horas e 30 minutos, estou esperando-te para conversar nesse horário.

Cordialmente,

Prof. Dr. Carlos Nobrega Matos Xavier.”

Não tinha a menor ideia do que poderia ser. O que um simples aluno poderia fazer por um professor doutor que seria tão urgente? Não fiquei pensando muito, fui direto para sua sala, como havia pedido na carta. Após chegar ao segundo andar do seu prédio, o encontrei fumando – seu único defeito, no meu ver - na janela do corredor. Como de costume, vestia uma causa social preta e uma camisa, também social, branca listrada com as mangas dobradas até o antebraço.

- Oi, professor. – ele, que estava de frente para a janela, virou-se para.

- Olá, sambista. – Sorriu e apagou o cigarro. – Como você está? – Ele se aproximou de mim e me deu um de seus abraços que tanto me constrangia por ser mais demorado que o normal. Ele fazia isso propositalmente, por saber do meu desconforto.

- Bem. Por que sambista? – Perguntei confuso e encolhi-me quando ele passou a barba no meu pescoço antes de me soltar.

- Te vi em bar sambando esses dias. – falou rindo.

- Aah, deve ter sido sábado. – tentei mostrar um sorriso. – Então, o que o senhor gostaria de falar comigo?

- Olha minha cara, temos quase a mesma idade, me chame de Carlos. – apenas sorri tímido - Vamos conversar na minha sala. Tenho uma proposta para te fazer. – Entramos em sua sala ar condicionada, rodeada de estantes com livros, enfeites e lembranças de suas viagens. Ele deu a volta em sua mesa e sentou-se em sua cadeira, apontando que eu fizesse o mesmo em uma cadeira a frente. As suas costas ficava uma parede com um enorme quadro, do que eu acreditei ser, uma copia de um Portinari. – Curioso?

- Muito. Mas me fala uma coisa, por que voltou tão cedo de Portugal? Achei que ficaria lá por um ano.

- Sim, eu ficarei. Minha pesquisa começa, efetivamente, em um mês e meio, por isso pode voltar ao Brasil para falar pessoalmente com você. – Arregalei os olhos assustado. – Calma, vou explicar. Antes, aceita alguma coisa? Água, por exemplo? Estamos na universidade, não posso oferecer uma bebida.

- Não há necessidade. Obrigado – tentei sorrir. Estava muito curioso e nervoso para saber o que ele queria comigo.

- Bom. Como sabe, eu estava em Lisboa para fazer meu pós-doc. Nessa formação, ou melhor, nessa minha bolsa, tenho que ministrar aulas de língua inglesa. – eu não falava inglês, não estava entendendo onde ele queria chegar. – Houve uma discursão na universidade de lá, e conseguimos abrir uma nova bolsa para um aluno de graduação estudar também em Portugal. Esse aluno dará aulas de reforço em Língua Francesa. Como já estou em Portugal, consegui, através de muito dialogo e persuasão com o Reitor, ficar responsável pela seleção desse bolsista. – Não podia acreditar no que ouvia. Eu só poderia estar enganado. – Pois bem Bruno, - ele relaxou no encosto de sua cadeira. - você foi um dos meus melhores alunos, o único, que ainda está na graduação, a fechar um 10,0 em minha disciplina. Não que a nota seja tão importante, mas sua colaboração em sala, nossas discursões, mostraram que você estaria bem capacitado para maiores responsabilidades. Sei tão bem que fala muito bem em francês, correto? – fiquei em choque e mudo por um instante.

- Sim, minha família materna é francesa, minha mãe fez questão que eu aprendesse. Como o senhor sabe?

- Depois explico como. Minha proposta é simples: que preencha a bolsa que esta sendo oferecida. Claro que teremos que fazer toda aquela burocracia de entrevista, conversação em francês, analise curricular, avaliação do desenvolvimento acadêmico, essas coisas.

- Eu... Eu não sei o que dizer. – estava perplexo com o convite. Era uma oportunidade única. Larga tudo aqui e ir para outro país por um tempo indeterminado. – Professor, quanto tempo é esse intercambio?

- Um ano. Antes que pergunte, você, se aceitar, será meu orientando, participará da minha pesquisa como co-pesquisador, o que será muito rico para o seu currículo.

- Eu sei.

- Ah. Uma observação que deverá preocupar você e sua família: você precisará ter uma moradia, alimentação, transporte. Para isso, você receberá uma quantia em euro suficientemente bem para viver bem por lá. A única coisa que tem de se preocupar, é com as roupas, pois como sabemos, a Europa é fria.

- Eu... Eu não sei o que te responder... – eu estava boquiaberto. Completamente em choque. Nunca passou pela minha cabeça fazer um intercambio, ainda mais assim, do nada.

- Não quero que me responda agora. É uma decisão que deve tomar com seus pais.

- O senhor...

- Você. – tentei sorrir.

- Você disse que sua pesquisa começa daqui a um mês e meio.

- Correto.

- Se eu aceitar, quando iriamos?

- Estamos no inicio de março, então nós iriamos no fim do mês. – arregalei os olhos. Era muito pouco tempo para decidir e organizar muita coisa. – Bom, já temos algumas coisas adiantadas. Como já falei, não quero que me responda nada agora, mas preciso que me diga algumas coisa até o fim da semana, pois caso recuse, e torso para que isso não aconteça, irei abrir uma seleção para toda a universidade.

- Desculpa a pergunta, mas por que não fez isso antes? Temos o curso de Letras Frances aqui no campi.

- Dentre outros motivos, nunca lecionei em Letras, então não conheço os alunos de lá.

- Entendi.

- Bom, era isso. Vou te entregar meu contato particular, você já tem o profissional, se não tem, pode ver na internet. – ele pegou um de seus cartões na gaveta e anotou seu numero telefônico no verso do papel. – Aqui. O que acha de no sábado jantar? Aí você me dá sua resposta, que espero ser um sim.

- Já tenho sua resposta, por isso não poderei ir no sábado.

- Não aceito sua resposta agora. Nem quero que me diga. Pense com calma.

- Não daria. – ri timidamente. – Podemos jantar na sexta, pois no sábado vou para a casa de meus pais.

- Ficamos combinados então. As 20 horas, tudo bem para você? – ele sorriu.

- Sim. Então eu vou indo, Carlos.

- Viu, é só praticar. Já tenho o seu contato, então te ligo para combinarmos o local. – Nós nos levantamos e esperei que ele abrisse a porta. Antes ele arrodeou a mesa e veio em minha direção estendendo a mão. Ao apertado ele me puxou para mais um abraço rindo da minha timidez.

Saí de sua sala confuso, feliz pela proposta e consideração que ele teve para comigo, nervoso, atordoado com tanta informação e, principalmente, com fome, pois meu horário do almoça já estava acabando.

Outra coisa que havia me deixado com uma pulga atrás da orelha, era como Carlos Xavier sabia tanta coisa sobre mim. Tudo bem que eu fui aluno dele, mas nunca mencionei que falava francês, pois achava uma informação desnecessária para sair falando. Não constava no meu currículo, ou algo assim. Ele também tinha meu numero de contato, que também não dou a todo mundo.

O Professor Dr. Carlos Nobrega Matos Xavier sabia mais sobre mim, do que eu poderia imaginar. Chegava a ser estranho e assustador.

Quando percebi, mais uma vez, a hora, saí correndo em direção ao RU, encontrando-o quase vazio. Almocei pensando na proposta. Como eu disse ao professor, eu já tinha minha resposta, mas tinha medo de me arrepender. Era uma proposta inigualável, inesperada, única, irrecusável e rica, tanto de forma acadêmica, como pessoal. Conhecer outra cultura, novas pessoas, ter novas vivencias.

Passei o dia com isso na cabeça. Mal prestei atenção nas aulas ou falei com Beatriz, Felipe, Alice e Fernando. Não contei sobre a proposta para nenhum deles. Não sabia o que eles achariam ou se concordariam com a minha resposta.

Não tive cabeça para sair à noite para namorar, não respondi as mensagens que Alice e Fernando me mandaram e tão pouco fiz os trabalhos que os professores haviam passado, mas uma vez acumularia tudo. Passei a noite rolando na cama pensando e pensando sobre tudo. Horas ria, horas chorava. Pensei em mudar de ideia, mas logo minha mente criava outro argumento para permanecer com a mesma opinião.

A semana passou voando. Consegui afugentar mais as lembranças do intercambio, continuei sem comentar sobre o mesmo com todos – Beatriz, Felipe, Fernando, Alice, Zé Carlos, Pedro, Guilherme, Meus pais, ou qualquer um. Continuei a trabalhar normalmente pela manhã, assistindo as aulas à tarde. Na terça, com mais paciência, atualizei minhas atividades acadêmicas que eram apenas exercícios, quarta saí com Alice e na quinta com Fernando – novamente: sorveteria, praça, motel.

Meus melhores amigos reclamavam que eu não tinha mais tempo para eles, mas eu nada podia fazer, tinha minhas “responsabilidades”. Nosso único contato era em sala de aula, o que não dava para conversarmos muito, apenas por e-mail de papel, para não atrapalhar os demais, ou ser chamada a atenção. Também conversávamos no intervalo, antes das aulas ou depois, mas não era suficiente para por os assuntos em dia. Ainda mais quando Felipe insistia insistentemente – o que é retorico – para eu falar como foi minha transa com Fernando. Isso lhe causava muita dor, pois Beatriz respondia por mim com tapas e beliscões.

Minha melhor amiga ainda tentou me convencer a dispensar Fernando, e ainda cogitou que eu fizesse com Alice, e parasse de enganar os dois, mas meu melhor amigo ficou do meu lado e concordou com meus argumentos. Acabamos não tocando mais no assunto o resto da semana.

Hoje, sexta-feira, era o meu jantar com o professor, eu tinha que lhe dar uma resposta definitiva. Havia falado para Alice que tinha um trabalho para fazer; para Fernando, que não estava bem, o que foi uma péssima ideia, pois ele quis vir cuidar de mim. Para meus melhores amigos, disse que teria um compromisso. Não dei mais detalhes sobre, o que os deixou com muita raiva de mim, principalmente a Beatriz. Felipe acreditou que eu ia fazer sexo novamente com Fernando.

Carlos, ao contrario do que havia dito, mandou uma mensagem com o endereço do restaurante que iriamos jantar. Ao pesquisar, descobri que era um realmente fino, como era de se esperar.

Como pedia a ocasião, vesti uma calça social preta, uma camisa do mesmo estilo azul clara com um blazer negro e, por fim calcei meu sapato social também preto. Para chegar a grande estilo, peguei um ônibus e fui para o jantar. Desci na parada mais próxima – uma quadra antes – e fui caminhando.

Fui conduzido por uma garota muito simpática e gentil. Ela era negra com cabelos iguais os de Beatriz, cacheados e volumosos. Meu professor já me aguardava sentado a uma mesa sozinho. Ele estava bonito como sempre e, assim como eu, vestido completamente com esporte fino.

- Boa noite, professor.

- Não andou praticando. – Falou rindo e estendeu a mão. – Boa noite, Bruno. – Apenas quando estávamos a sós ou com poucas pessoas ao redor, que ele me abraçava daquela maneira. Naquele momento ficamos apenas com o aperto de mãos.

Antes que a garota voltasse para a recepção, Carlos pediu que mandasse uma garrava de vinho, pois é um eximi degustador.

- Estou ansioso pela sua resposta.

- Não poderia ser outra. – O garçom chegou trazendo a bebida e fez a degustação. Servil uma taça, girou o conteúdo, cheirou, deu um pequeno gole e disse por fim.

- Excelente. Fez uma ótima escolha, senhor. Safra de 1876. Veio das vinícolas do sul da França. É um vinho bastante suave. – ele dizia enquanto servia mais duas taças. Fizemos o pedido para o jantar, agradecemos e ele saiu.

- Francês? Peculiar sua escolha. – tentei espantar o nervosismo.

- Acredite, não tive a intenção. – ele se defendia e repetia o gesto do garçom. – Mas então, qual sua resposta? – perguntou por fim.

- Como o senhor disse é uma oportunidade única. Eu não poderia recusar.

- Isso é ótimo. – sugeriu um brinde.

- Não sei o que meus pais vão pensar, mas torso que me apoiem. Vou viajar para lá amanhã e conversar com eles. Mas sei que não farão objeções a minha escolha. Também acredito que terei o apoio de meus amigos.

- Isso é bom. Você não se arrependerá. Sugarei todo seu tempo. – brincou.

- Não vai ser fácil passar um ano fora. Terei que abrir mão de algumas coisas. Mas sei e espero que vala a pena.

- Valerá. Você tem alguma dúvida sobre o intercambio?

- Muitas.

- Esse é o momento para perguntar, porque segunda começamos com a parte burocrática e acredito que sexta você já assina os documentos. Daí não poderá voltar atrás, se fizer isso, terá tirado a oportunidade de outra pessoa e possivelmente as suas de realizar outro dia. Pois sabendo seu histórico, logo te tiraram da concorrência, a não ser que faça por conta própria. Por isso digo: Tenha certeza de sua resposta.

- Eu tenho. Por esse mesmo motivo. Não terei outra oportunidade dessas. Tão pouco tenho dinheiro para custear uma formação na Europa.

- Pois então. Disse-me que tinha dúvidas. Pergunte.

- Como ficará minha situação aqui no Brasil? Digo com respeito a minha graduação.

- Como você irá fazer uma formação complementar, trancaremos temporariamente suas atividades. Quando voltar não terá nenhum problema de continuar de onde parou.

- E minha bolsa na Biblioteca?

- Essa, sinto dizer, mas terá que abri mão. Como terá que ficar fora durante todo um ano, terão que abrir um seleção de bolsista para ocupa-la. Essas bolsas não podem ser temporárias. Mas não se preocupe, seu currículo vai está muito bem estruturado quando voltar vai conseguir um bom emprego. Não falo isso somente pela experiência que terá ao ensinar francês ou como coautor de minha pesquisa, mas também pelos eventos que vamos participar. Por e-mail, te mandarei uma lista de eventos que tenho pretensão de ir. Você como meu orientando, seria bom que também participasse. – concordei com a cabeça.

- Carlos, onde eu vou morar?

- Te falei que receberá uma bolsa. Pois bem. Eu moro em um apartamento próximo a universidade que frequentaremos. A quantia que você receberá, embora menor que a minha, é suficiente para pagar um apartamento no mesmo prédio que eu. Mas há mais baratos, simples e também próximos.

- Quanto às passagens de avião?

- Deveria ser por sua conta.

- Nossa. Isso é que vai ser difícil conseguir com meus pais.

- Seria. Mas os professores do campus fizeram uma vaquinha, falando no popular, eu compraram as três passagens.

- Três? – estranhei. Não sabia que iria uma terceira pessoa.

- A minha passagem de vinda e volta e a sua de ida. A sua de volta ao Brasil sim terá que ser por sua conta.

- Nossa. Não sei como agradecer. Parece até um sonho. Tá tudo tão favorável.

- Não há o que agradecer.

- Claro que há. Nunca que conseguiria ir estudar em Lisboa, ainda mais dessa maneira, com tanta facilidade, digamos assim. – ele apenas rio.

Finalmente nossos pratos chegaram, nos servirão mais uma vez com o vinho adequado a comida e saboreamos em silêncio. Aproveitamos o resto da noite conversando sobre como funciona a universidade que estudaria, quem seriam meus alunos, o objetivo da pesquisa da qual faria parte, o clima de Lisboa e as roupas que eu teria que comprar, as coisas que eu teria que levar do Brasil etc.

- Para onde você vai, Bruno? Meu carro fica por aqui. – Professor Carlos falou quando tentei me despedir e ir para a parada de ônibus.

- Para casa. Tenho que acordar cedo, pois como já falei, amanhã vou para casa de meus pais. Quero dormir bem, pois a viagem é cansativa.

- Sim eu sei. Também sei que não tem carro. Vem, te deixo em casa.

- “Como você sabe?” – Pensei – Não precisa se incomodar. – falei.

- Não é incomodo. Vamos. – acabei cedendo e fomos em direção ao seu carro cinza no estacionamento. Entramos e, após sairmos em total silêncio, criei coragem de perguntar.

- Carlos, desculpa perguntar, mas como o senhor sabe tanta coisa sobre mim? Como: eu não ter carro, falar francês, meu numero de contato. Parece saber até meu endereço, pois não falei onde era, mas segue exatamente o caminho certo.

- É eu sei seu endereço sim. Como eu disse segunda em minha sala, você era um ótimo aluno, e quando eu trouxe, digamos assim, a bolsa de intercambio para nosso campus, quis que pesquisar um pouco mais sobre meus ex-alunos. Queria dar essa oportunidade a um deles, pois já os conhecia. Seria mais fácil a familiarização, uma vez que já conhecem minha abordagem. Esse foi um dos motivos. Você se encaixou perfeitamente. – respondeu sem tirar a atenção da rodovia.

- Um dos motivos? – estranhei.

- Sim. Bom, está entregue. Lembre-se, segunda à tarde na minha sala. De lá seguimos para o local da reunião com a reitoria. Ok? – falou quando chegamos a minha casa.

- Ok. Não esquecerei. Boa noite, Carlos. – Com ele me corrigindo todas as vezes que, sem querer o chamava de professor, acabei me acostumando.

Tirei o sinto e abri a porta do carro para sair. Ia fazendo-o, quando ele chamou:

- Ei, meu abraço. – ele gargalhou. Sabia que eu ficava constrangido e fazia propositalmente. Mas diferente das outras vezes, ele me beijou a bochecha, me deixando imensamente roborizado. – Boa noite, Bruno.

Acenei com a cabeça e entrei em casa. Tomei um banho pensando na conversa que me aguardava em casa e feliz em pensar que eu moraria em Portugal por um ano. Largaria tudo aqui. Namoro com Alice, rolo com Fernando, meu AP que dividia com os meninos. Ficaria sem ver meus pais e meus melhores amigos presencialmente por um ano. Conviveria diariamente com o Professor, e agora orientador; com seus abraços.

Nunca soube porquê seus abraços mexiam tanto comigo. Abraço várias pessoas, como amigos, familiares, colegas e até mesmo professores. Mas nenhum me causava o mesmo que ele. Talvez fosse porque ele fizesse mais demorado que as outras pessoas. Mas meus pais também davam esses abraços quando eu saia de casa para vir para São Paulo.

Será que eu nutria algum sentimento pelo Carlos? Não. Ele era meu professor. Além do mais eu gostava da Alice, isso sempre esteve claro para mim. Beatriz sempre dizia que éramos compatíveis. Desde que nos conhecemos que ela percebeu que eu sentia algo por ela. E agora que finalmente começamos a ter algo, vou embora.

Como eu falaria isso para ela? E para Beatriz? Ela já estava estressada comigo por eu estar saindo com duas pessoas. Felipe com certeza ficaria do meu lado e me apoiaria. E ainda tinha o Fernando. Eu sei que estou fazendo uma puta sacanagem com ele, mas ir embora sem ao menos explicar, eu não poderia. Teria que conversar com ele, e também não seria fácil, pois eu teria que contar toda a verdade para ele. Ou melhor, eu quero me redimir e contar a verdade.

Adormeci pensando nas maneiras que contaria a novidade as pessoas que mais me impostava.

Comentários

Há 2 comentários.

Por Luã em 2015-09-21 21:54:27
Comecei a ler agora seu conto e já amei! A escrita, os personagens, o enredo, tudo muito bacana. Sucesso!
Por Gee em 2015-04-30 02:16:42
show! Demora nao pro prox? favor!