Prefácio
Parte da série Maktub
>> Felipe Carvalho mandou uma solicitação de amizade<<
Cliquei no nome. Ele era um rapaz bem bonito. Sua foto do perfil mostrava um garoto jovem de cabelos negros, olhos também da mesma cor e tinha um rostinho liso e afilado. A foto mostra seu busto e ele estava sem camisa, o que dava para perceber que ele tinha um corpo bem atlético, o que constatei quando vi suas demais fotos. Gostoso. Ele era muito gostoso. Aceitei no mesmo instante sua solicitação. Mas ele tinha um defeito: morava a léguas de distancia de mim. Sua cidade natal e atual, segundo constava na rede social, era de São Paulo, capital. Eu, por outro lado, Recife, Pernambuco.
Stalkeei todo o perfil do garoto. Data de nascimento, que só constava o ano de nascimento: 1996; laços familiares: tinha uma tia, um primo e um irmão marcado; adorava rock, pop internacional, filme romântico e de terro; tinha uma pagina de humor negro, o que logo recomendou que eu curtisse. Odiei isso. Nem me conhecia e já mandava solicitação de paginas. Mas curti, o carinha era lindo.
Eu sou gay, não assumido, mas sou. Mas acho que não preciso assumir para ninguém minha sexualidade, visto que está na vista de todos. Sim, eu sou bem afeminado. Tipo biba mesmo, só não sou mais que meu melhor amigo Rafael. Ele sim é uma biba cor de rosa choque. O sonho dele é se tornar uma mulher completa, fazer cirurgia de mudança de sexo e tudo mais. Bom o jeito feminino ele já tem, só falta fazer sua mudança física. Mas isso é quase impossível, pois assim como eu, ele é pobre. Além do mais, sua família é bem preconceituosa, ou melhor, religiosa. Claro que todos de sua família têm ciência que ele é gay, mas ele não tem muito direito de se expressa. Não pode ouvir músicas de suas Divas – ou melhor nossas: Lady Gaga, Katy Perry e Mary Cyrus.
Na verdade nós somos um trio: Eu (Leonesio, para todos: Leo), Rafael (futura Raphaelly Kallyannyh) e Isabel (vulgo: Belzinha). Eu sou o equilíbrio do grupo, o mais sensato. Rafa, como eu e Belzinha chamamos, é um viado puto, não pode ver um macho que já dá mole. Perdeu a virgindade aos 15 anos e depois disso não parou mais de dar. Não temos nenhum pudor um com os outros, falamos de tudo e de todos, nós já nos vimos pelados e por esse motivo Rafael vive pedindo para que eu o coma, pelo motivo de eu ser bem dotado - 23 cm e grosso -, o que é em vão, pois ele sabe muito bem que sou tão passivo quanto ele. Claro, ao contrario dele, eu ainda sou virgem. Motivo? Estou esperando meu príncipe encantado. Ele existe? Sim, e tem nome: Jonathan Carnevalli. Sou apaixonado por aquele italiano de merda. E por que não estamos juntos? Simples, ele segue todos os padrões normativos da sociedade: heterossexual, branco e rico. Ele é filho de um dos maiores empreendedores de Recife. O que sempre me levou a questionar o motivo dele estudar em uma escola pública. Ele é o sonho de consumo de toda rachada e gay: um verdadeiro deus grego. Aqueles olhos azuis sem iguais, sua boca vermelha e fina, seus músculos. Ah, como eu o desejo em meus braços! Ele deve medir uns 1,80 de altura. Sempre me perguntei qual seria seu defeito, pois ninguém pode ser tão perfeito como ele aparenta ser. Ou poderia?
Agora me diga, o que um homem desses iria querer com um moleque como eu? Claro, nós temos a mesma idade, 17 anos, sou branco assim como ele, mas pobre, gay afeminado, tenho um nome triste – feio pra caralho-, sem pai, sem mãe - Mentira, tenho mãe, mas ela me abandonou na casa de minha vó, sua mãe, pois não tinha dinheiro para me sustentar, já que meu pai fugiu assim que soube da gravidez. Hoje eu tenho mais cinco irmãos por parte da minha mãe, ele cria todos, tentou me levar também, mas recusei. Claro, depois que eu já tinha 12 anos, já estava criado, ela quis me levar. Recusei no mesmo instante. Preferi ficar e cuidar de minha velhinha, Vóvis, como a chamo. Voltando, não tenho nenhuma característica que fizesse Jonathan olhar pra mim.
Como já disse, eu moro em Recife. Minha casa é bem simples: área, sala, dois quarto (o meu e o de minha vó), um banheiro entre as duas habitações, uma cozinha e um enorme muro com bastante galinhas que minha vó cria. Odeio-as. Isabel é minha vizinha, também mora em uma casa bem simples, assim como Rafael. Esse mora pertinho da escola onde estudas. Estamos no terceiro ano do ensino médio e claro, somos alunos exemplares. Pura mentira! Eu só passo me arrastando, no limite mesmo; minha amiga sim é bem inteligente, só tira notas altas e é por meio dela que Rafa passa de ano. Ele está sempre tão entretido procurando rola, que se esquece de estudar. Aí minha amiga acaba fazendo suas atividades e passando cola.
Eu nunca falei com o Jonathan, mas sei que ele é um ótimo aluno. Na verdade, ele não fala muito com ninguém, só tem um amigo, o Carlos. Esse garoto é um porre, vive tirando onda comigo e Rafa. Exatamente, nós sofremos bullying. Isso porque somos gays, mas não ligamos. Ele é outro riquinho, um metidinho. Ele, diferente de seu amigo, vive menosprezando todos pela sua condição financeira. É odiado por todos da sala.