O Diário - 3 - Passo por passo

Parte da série O Diário

O Diário

Capítulo três – Passo por passo

“Acabei de sair do aeroporto, como o ar da Itália me faz bem! Lembro-me da primeira vez que vim aqui, foi há quatro anos, Isabel, minha prima, me convidou a conhecer a Toscana, e eu adorei, mas minha cidade favorita é Florença, como gosto daqui! A alguns quilômetros daqui fica o chalé, agora só me resta esperar...

...

Finalmente o chalé! Vou tentar descrevê-lo: uma construção feita em pedra há dois séculos é onde fica a sede, no fundo uma piscina, adiante um pomar, de onde se tira ótimas uvas, em frente a esta construção fica um lindo jardim, com uma bela fonte feita de mármore branco, com uma escultura de uma mulher com um pote de onde jorra água, bem no centro dela, dizem que foi um presente para a primeira dona do lugar, nesse jardim muitas flores multicoloridas dão um ar atemporal ao local, uma impressão de retorno ao passado. Um pórtico de pedra, marca a entrada, cercado de árvores que desconheço o nome, o chalé fica em uma espécie de vale, onde um pequenino riacho corre, seguindo ele vale acima um pequeno bosque preenche a paisagem terminando em duas montanhas ao fundo, tudo isso torna este lugar mágico, mas a paisagem é apenas um detalhe dele. Os donos atuais são Dona Laura, uma mulher com um coração imenso, e Seu Agostino, um senhor muito simpático e hilário. Sabe, às vezes considero-os como meus avós que não cheguei a conhecer, claro, ambos estão na casa dos 50, ou seja, são novos para serem tal, eles têm alguns filhos, mas só Sofia vive com eles, ela é uma das mulheres mais bonitas que eu conheço, ruiva como a mãe, com um corpo perfeito, olhos cinzentos, pele bem branquinha, um pouco rosada e fala português fluentemente, o que é muito legal. Enfim, acabei de chegar, o ar daqui me renova, sinto uma paz imensa, por um tempo cheguei a esquecer o principal motivo de ter vindo aqui, ao terei tempo para pensar, ah, antes que eu me esqueça, o interior da casa é estupendo, paredes brancas decoração antiga, uma lareira acolhedora, e uma cozinha de onde saem verdadeiras maravilhas...

...

Estou no meu quarto, vou descansar um pouco, nada de meditar agora, uma hora chegarei ao meu objetivo, as coisas devem ser feitas no momento certo, uma ação de cada vez, passo por passo, vencemos cada batalha.”

Felipe sentia-se renovado, como se tivessem acendido uma chama dentro dele, mas que ela não o queimasse, apenas o aquecesse, num calor aconchegante, ele estava beijando Léo, já o outro, estava confuso, achava aquilo errado, mas queria e como gostava! Que beijo bom, úmido, caloroso, tímido e avassalador, daqueles beijos inesquecíveis, suas línguas se tocavam, entrelaçavam sentindo o calor da outra, não se sabe quanto tempo aquele beijo durou, mas ele seria lembrado eternamente.

Por fim, afastaram-se ainda com os olhares fixos se encontrando, Felipe vermelho como um pimentão, ele queria se desculpar mas não conseguia, estava hipnotizado, quando ia falar, Leonardo o interrompe.

-Não diz nada...

Eles se abraçaram, um abraço reconfortante, o mais velho abraçou Felipe com muita força, havia se esquecido dos machucados dele

-Ai

-Nossa... Me desculpa, esqueci completamente...

-Não tem problema. - Disse Felipe ainda envergonhado- Acho melhor continuarmos, já está ficando tarde...

-Você vai montado, seu pé está muito inchado, eu levo sua bicicleta- Disse Leonardo- Não se preocupa, o cavalo é manso, se segura nas rédeas e se curva um pouco pra num perder o equilíbrio.

O pé de Felipe não permitia que o rapaz montasse no cavalo, Leonardo prontificou-se a ajudá-lo a subir, suspendeu o mais novo sem muito esforço e ele conseguiu montar. Ambos seguiram de volta para casa, sem comentarem o ocorrido.

Leonardo estava pensativo, o que seria deles se alguém descobrisse? Ele tinha medo, principalmente, do que fizessem com Felipe, pois o amigo não sabia reagir e se defender. Felipe não sabia se ria ou se chorava, queria estar sonhando, seria mais fácil, não tinha coragem de olhar na cara do amado, uma de suas maiores vontades havia se realizado.

Foram direto para casa do mais novo, o mais velho o ajudou a desmontar, ao tocá-lo Leonardo sentiu um calor subir pelo seu corpo, mas estava no meio da rua, tinha que se conter, Felipe continuava envergonhado, se despediram. Léo queria ficar e conversar, mas ainda tinha que levar o cavalo na fazenda do pai, talvez assim fosse melhor, ambos teriam tempo para pensar no ocorrido.

Na segunda, Felipe não foi para aula, não se sentia bem, seu pai o levou ao médico, a torção no pé foi séria, ele teria que passar dois dias em casa, Leonardo ficou preocupado pensou que a falta do amigo tinha sido por causa do beijo do dia anterior, ele não fez por mal, foi apenas desejo que ele sentira, ele odiava ser impulsivo.

Acabando a aula, Leonardo foi correndo para casa do amigo, cumprimentou João que estava almoçando e correu para o quarto de Felipe, que já estava trancado.

Fê, sou Eu, posso entrar?

-Espera um pouco...

-ok

Felipe abriu a porta para seu amor, Léo entrou trancando a porta atrás de si, depois agarrou o mais novo e lhe beijou, desta vez um beijo mais feroz, mas com a mesma ternura e doçura do primeiro, ambos se entregavam àquele beijo apaixonado, não se importavam onde estavam ou se alguém notaria, só se importavam em aproveitar cada segundo daquele gesto, cada sensação sentida, desta vez Léo tinha seus braços enlaçados na cintura do amigo, suas mãos percorriam as costas do outro, como se tentando trazê-lo mais para próximo de si, porém seus corpos já estavam colados. Felipe sentia-se leve, realizado, como Léo beijava bem! Naquele momento uma cortina cobriu o mundo e só existiam ele e seu amado no universo, a cada toque ele se arrepiava, suas mãos por cima da blusa do outro, podiam sentir cada músculo definido de suas costas e ombro, seria capaz de morrer por ele.

-Me desculpa- Disse Léo

-Por ter me beijado, não, você não sabe como eu precisava disso...

-Mas... Está tudo tão confuso...

-Léo, eu ia te dizer no sábado...

-diz!

-Que eu te amo, mas do que como amigo, irmão, te amo como companheiro, estou apaixonado por ti - Felipe disse corado.

-Tem certeza?

-Sim

Leonardo estava confuso, não tinha certeza de seus sentimentos, Felipe esperava uma resposta, atônito. Por fim o mais velho disse pausadamente:

-Eu não sei o que está acontecendo. E nem porque eu tenho muita vontade em te beijar. Sei que isso não é certo. Mas me sinto bem fazendo-o. – Disse lentamente e completou- Eu sinto o mesmo por você, eu TAMBÉM te amo.

Dito isso, se beijaram outra vez, cada beijo parecia totalmente diferente do outro, mas sem perder a essência, a ternura. Por fim, Ambos foram almoçar, Leonardo ligou para sua casa, informando que passaria o resto do dia ali. Assim que João retornou para o trabalho ambos retornaram para o quarto e reiniciaram a sequência de beijos. A paixão reinava nos dois, não queriam saber das consequências, nem de religião ou ideologia, o que sentiam era puro, algo acima da própria existência, inexplicável e indescritível, o amor.

Leonardo levou Felipe para a cama cuidadosamente, deitou-se sobre ele e continuou a beijá-lo, era o cara mais feliz do mundo! Sentia o corpo frágil do mais novo em baixo de si, e o calor que ele emanava, sentia a pele de ambos em contato, tirou sua camisa e despiu a do parceiro, voltou a beijá-lo, estava sedento por ele, queria possuí-lo, ficou de cueca e estava tirando a calça do mais novo quando foi interrompido por ele:

-Léo, não...

-Mas Lipe...

-Por favor.

-Ok- Léo disse desapontado.

Quando percebeu a indignação do outro, Felipe se levantou e disse:

-Tudo está acontecendo rápido demais, eu nunca fiz isto e não me sinto preparado, me desculpa.

-Tudo bem, não me importo, pensei que você queria

-Não estou dizendo que não quero, só não estou pronto ainda, na hora certa, caso tenha uma, a gente dá este passo, ok? Uma coisa de cada vez.

-Então me beija- O mais velho disse puxando Felipe para si.

Durante o restante do dia continuaram se beijando até a hora que Leonardo foi para casa.

A manhã da terça foi angustiante, Felipe estava ansioso para ver seu amigo/amor (ainda não sabia como chamá-lo), passou a manhã tocando violão e cantando uma música que ele adorava “Linger” do “The Cranberries”, que não tinha nada a ver com sua história, mas que tinha uma melodia legal. Durante aquela manhã ele recebeu a visita de sua mãe e de uma amiga, Lívia. Depois de Leonardo, Lívia era sua melhor amiga, uma menina inteligente, bem estilosa e nada fútil, enquanto as outras garotas pensavam em maquiagens e cortes de cabelo, ela pintava quadros, era muito talentosa, porém não tinha apoio da família, ambos se davam muito bem, Felipe não escondeu seu romance dela, ela ficou surpresa ao saber do amigo, mas aceitou sem problema, ambos conversaram bastante e ela foi embora.

Felipe almoçou e foi dormir enquanto Léo não chegava, sonhou com ele pra variar, era um sonho estranho, ambos estavam em uma igreja, em um casamento, o casamento deles! Mas as pessoas em volta tinham pedras e jogavam neles, Felipe viu seu amado levar uma pedrada no rosto, ele sangrava, que pesadelo era aquele, Léo vinha em sua direção o chamando:

-Felipe...

-Lipe...

-Fê acorda!

Felipe acordou com Léo o chamando, estava chorando

-Que foi fê, por que choras?

-Um sonho... Foi terrível

O mais velho o abraçou e disse:

-Calma, está tudo bem, foi só um pesadelo.

Abraçaram-se, em seguida um beijo doce e protetor acalmou o mais novo, passaram aquela tarde juntos, mais João estava em casa, então ficaram assistindo filmes e jogando vídeo game, umas 20:00h Léo foi embora, já estava com saudade, cada dia que se passava, sentia mais necessidade de estar com Felipe, seu corpo e sua mente desejavam-no loucamente, mas ele sabia do perigo que corriam, viver numa cidade tão pequena, e estarem em famílias tão conhecidas, era perigoso ficarem juntos, eles tinham que ter muito cuidado, principalmente na escola, principalmente com Yan.

No dia seguinte foram juntos para a escola, mas disfarçando o que sentiam, foi assim durante umas duas semanas: iam estudar normalmente e se encontravam nas horas vagas, às vezes Felipe ia para casa do mais velho e vice-versa, foi em um desses encontros que Léo fez um convite:

-A fazenda vai ficar vazia nesse final de semana, que tal irmos passar o sábado e domingo lá?

-Ah Léo preciso pensar e falar com meu pai, se ele deixar, irei com você.

-Ok!

Felipe pediu seu pai, ele permitiu e chegando o sábado, foram logo pela manhã para a fazenda, que era muito bonita, a seda era enorme, um clima rústico, mas bem moderno e aconchegante, a fazenda não estava vazia, é claro, mas na sede só ficariam os dois rapazes. Leonardo beijou Felipe, e ambos se atiraram na cama de um dos quartos, as carícias estavam ficando cada vez mais selvagens, mas nenhum dos dois forçava a barra, tudo acontecia naturalmente, cada beijo e toque eram uma sinfonia, cada abraço e afago, tudo muito cordial, como se fosse ensaiado. Felipe sentia uma alegria inexplicável, já o parceiro, sentia um desejo arrebatador, ambos se deliciavam simultaneamente com a presença do outro, e assim foi durante todo o dia.

Chegando a noite, jantaram, tomaram banho, cada um em um banheiro, e recomeçaram a sequência de carinhos, o frio do final do outono já começava a dar sinal, Léo levou o mais novo para o quarto principal, atirou-o na cama e debruçou sobre seu corpo, beijando-o deliciosamente, eles estavam de pijama, Felipe mais agasalhado, inclusive com meia e touca, sentia muito frio, mas o corpo quente do amado lhe confortava, as carícias eram inevitáveis, o menor fazia cafuné no outro, que se deliciava com os lábios doces e carnudos que beijava, a excitação de Leonardo era perceptível, mas ele sabia respeitar, não forçaria o outro a nada, deixaria rolar, sabia da insegurança de Felipe.

Quando a coisa começou a fugir dos limites Felipe decidiu parar, já estava tarde e fariam um monte de coisas no dia seguinte:

- vamos dormir? Eu vou para o meu quarto.

-dorme aqui comigo, amor!

-Do que você me chamou?

Leonardo nem havia notado o que dissera, quando percebeu ficou um pouco envergonhado

-Me desculpa, é que não sei como te chamar, foi mal- disse timidamente

-Claro que não, eu adorei!

-Ok, então vai dormir aqui ou não?

-Sim, mas cuidado com a mão boba kkkkkkkkkk

-Você é que tem que se preocupar kkkkkkkk.

Ambos deitaram na mesma cama, Leonardo abraçou o outro por trás, encostando sua face na nuca dele, e juntando seus corpos, pode sentir as curvas do corpo do mais novo, como aquilo era bom! Desejaram boa noite, deram um beijo doce e dormiram de “conchinha”.

Felipe acordou primeiro, decidiu ir fazer café da manhã, até que levava jeito na cozinha, fez café, buscou leite na ordenha, e enquanto grelhava pães com manteiga, foi abraçado por traz e quase derrubou a panela fumegante no chão.

-Ai Léo que susto!

-Bom dia pra você também!

-Bom dia meu amor

Léo beijou a testa do outro

-Bom dia meu anjo.

-O café vai esfriar, e eu tou com muita fome.

-Você nem imagina a minha...

Tomaram o café, Felipe não pôde deixar de notar que Léo comia feito um monstro.

-Hum... como você cozinha bem... cara tu é perfeito, hein.

-Pode crer que não.

Passaram o dia andando pela fazenda, Léo queria mostrar um lugar a Felipe, depois de uma trilha íngreme chegaram de frente a uma cachoeira, ao lado dela um pequeno gramado verdinho onde uma acácia crescia, era o lugar preferido do mais velho, o outro ficou extasiado com tanta beleza, ficaram se olhando por um tempo.

Felipe, te trouxe aqui para te pedir uma coisa: Me namora?

-CLARO!- Disse quase num grito.

Léo tirou duas correntes do bolso, a dele tinha uma lua de metal como pingente, e a de Felipe uma pequenina chave prateada, disse que ambas serviriam como alianças e prova do amor deles, dito isso se deitaram na grama e admiraram o céu, era um dos passatempos preferido dos dois, verem a forma das nuvens e o vento movimentando-as, se beijaram durante um tempo. Ao término do dia foram para casa.

Um mês se passou, ambos estavam cada vez mais apaixonados, não havia rolado sexo, mas Leonardo tinha paciência e compreensão, Felipe tinha medo de se machucar, tinha medo por não saber como fazer, então adiava, nos últimos dias havia se inscrito no vestibular para uma universidade pública na capital, mas precisava se focar, passar em medicina de cara era muito improvável, ele não tinha muita esperança, estava preocupado com Léo, se ele aprovasse, teria que ir pra longe do amado, não desejava isso, mas ainda teria tempo para pensar.

Naquela quarta feira de julho, Léo não iria para aula, logo, Felipe foi só, a aula correu normal, até que Yan chegou próximo a ele e disse:

-Nossa CDF, num sabia que além de Boboca você era viadinho também...

O mundo de Felipe ruiu.

Continua...

Comentários

Há 2 comentários.

Por em 2013-03-02 14:29:43
Primeiro, Obrigado pela história, agora: COLOQUE O RESTO! Rápido! Porque Felipe foi pra Florença? O que aconteceu? E Yan -- deve ser enrustido. Por favor, coloque o resto! Já virei seu fã!
Por em 2012-12-30 11:49:00
Cara é de mais, seus textos sao envolventes. Adorei ler :)