02. A Conversa
Parte da série O Sol Não é Para Todos
Eae pessoal!!! Essa é o segundo capítulo da série, espero que gostem! E não esqueçam de comentar para e saber o que estão achando dela. Qualquer feedback é valido :)!
Fico paralisado, não sei o que fazer e Miguel percebe minha reação.
– Quem é? – diz Miguel num tom preocupado.
– Nosso pai. – digo isso com um semblante totalmente diferente de segundos atrás.
– Você vai atender? – pergunta Miguel.
– Vou.
Deslizo o dedo tremendo pela tela do celular. As palavras começam a surgir na minha mente, mas parece que tem um nó na minha garganta, e o único som que sai de mim é a minha respiração. Meus pensamentos são interrompidos por uma voz no outro lado da linha.
– Alô?!?! Otávio você está ai? – pergunta meu pai num tom que parece não expressar sentimento algum.
– Siiii... Sim – minha voz sai tremula.
– Você está aonde? – pergunta meu pai mantendo o mesmo tom.
– Estou com o Miguel, estamos indo ao cinema, por quê? – pergunto assustado.
– Hmmm não é nada, estamos eu e sua mãe te esperando para conversarmos – diz ele no mesmo tom do início da conversa.
– Por.... – digo eu, porém sou interrompido pelo som de fim de chamada.
– O que ele queria? – pergunta Miguel preocupado.
– Ele e mamãe estão me esperando para conversarmos. – digo isso olhando para a Baía de Guanabara através do vidro do carro.
– Fica calmo Otávio, vai dar tudo certo – diz Miguel olhando parando no sinal vermelho.
– Espero que sim – minhas palavras soam sem expressão.
Passam-se alguns minutos e logo chegamos ao estacionamento do shopping, estacionamos e logo em seguida vamos direto ao Burguer King, fazemos o pedido e um silêncio constrangedor toma conta da situação. Ao chegarmos a mesa da praça de alimentação eu tento quebrar o silêncio.
– E como vão as coisas com a Talita? – pergunto mordendo o hambúrguer.
– Estão ótimas, e se tudo correr bem o irmãozinho dela nasce amanhã – reponde Miguel e logo em seguida toma um gole do seu refrigerante.
– Ah que ótimo, e qual o nome dele? – pergunto
– Na verdade não e ele, os pais dela pediram para guardar segredo até o nascimento – responde Miguel limpando as mãos com o guardanapo.
– Hmmm, bem diferente essa decisão né? Mas você vai visita-la amanhã? – pergunto já me levantando.
– Acho melhor não, ela nem vai para o colégio amanhã que ela disse, ela quer estar com a mãe, ai achei melhor levar ela para sair na Terça – responde Miguel levantando e me acompanhando em direção ao cinema.
Chegamos à fila do cinema, escolhemos nossos lugares e continuamos conversando sobre diversos assuntos. Esperamos mais uns 30min para que eles abram a sala, só que antes eu peço para Miguel comprar uma pipoca para mim.
–Porra tu só vive com fome garoto, é magro de ruim – diz Miguel pagando a pipoca.
– Fazer o que se tenho esse corpo perfeito – digo isso passando a mão na minha barriga e rindo.
Chegamos à sala do filme, que já havia começado. Eu nunca fui muito fã do De Volta Para O Futuro, mas confesso que era muito engraçado o fato de Miguel saber todas as falas do filme, e o pessoal que estava na sala mandando ele cala a boca. Terminamos de assistir o filme e Miguel disse que queria comprar algum presentinho para o irmãozinho ou irmãzinha de sua namorada.
– Mas você nem sabe o sexo do bebê ainda, acho que você deveria comprar uma coisa ou amarela ou verde. – digo isso olhando as roupinhas, era uma mais linda que a outra.
– Eu já sei o que comprar, e não precisa saber o sexo do bebê para poder usar isso – diz Miguel olhando as roupinhas.
– E o que é? – digo olhando para um macacãozinho vede.
– Isso – diz Miguel me mostrando uma peça de roupa.
– Sério mesmo? – digo olhando torto para um macacãozinho do Fluminense.
– É lógico que eu falo sério, e relaxa o Seu Hélio é tricolor também – diz ele indo em direção ao caixa.
– Quer saber vou nem discutir, estou me resguardando para papai e mamãe – digo olhando para o celular.
– Relaxa cara, lembra que eu vou estar lá e não vou deixar eles te magoarem – diz Miguel guardando a carteira.
Vamos direto para o carro, estou viajando nos meus pensamentos quando derrepente.
“It feels like a perfect night
To dress up like hipsters
And make fun of our exes, ah, ah, ah, ah
It feels like a perfect night
For breakfast at midnight...”
– Meu Deus, o que você ta fazendo? – digo isso assustado
– Ué achei que você gostasse da Taylor Swift – diz Miguel rindo da minha cara.
– E gosto, e como você sabe que essa é minha música favorita? – digo isso já mas leve por conta da música.
– Você cantava ela no chuveiro, e muito mal por sinal –diz Miguel rindo.
– A é? – digo isso num tom de misterioso
“I don't know about you, but I'm feeling 22
Everything will be alright if you keep me next to you
You don't know about me, but I'll bet you want to
Everything will be alright if we just keep dancing like we're... 22, 22” – Canto junto com a Swift, e Miguel ria de dar gargalhadas. O resto do caminho foi esse, eu continuei cantando outras músicas, e em algumas delas Miguel se arriscava em me acompanhar.
– É chegamos – digo isso cortando a música.
– Sim – diz Miguel desligando o carro.
– Pode ir na frente que eu vou ligar para Victor e depois eu subo –digo pegando o celular.
– OK, mas não demora, vou estar lá em cima te esperando, e vê se relaxa que vai dar tudo certo – diz Miguel pegando o elevador.
– Tudo bem, e obrigado Mi – digo
– De nada Tito – diz Miguel.
Vou até a frente do prédio e sento num banquinho que tem no calçadão da praia de Icaraí, digito o número de Victor, espero uns segundos e ele logo atende.
– Heey mana, conta logo como foi com seus pais? – diz Victor
– Estou bem obrigado por perguntar, mas a propósito não foi, ainda não nos falamos desde a briga de ontem – digo isso a Victor.
– A senhora é muda por acaso? Por que você não tentou conversar com eles de novo – diz Victor num tom de sarcasmo.
– Quando eu acordei eles não estavam mais em casa, eles tinham ido ao mercado¬ – digo isso a Victor.
– Então por que você me ligou? – pergunta Victor.
Então eu contei para ele tudo o que aconteceu no dia, desde Miguel me abraçando na escada até a ligação que meu pai me fez, digo também do cinema, e então quando termino de contar o que aconteceu Victor fala.
– Nossa esse Miguel é um Gentleman mesmo, e além do mais ele é o boy mais lindo que eu já vi, depois de mim é claro, mas enfim... Você sabe que tem de enfrentar seus pais de novo né? – diz Victor num tom que só ele e Miguel têm, um tom que me traz segurança.
– Eu sei, e te liguei porque eu queria que você soubesse logo caso eles tomem meu celular, mas se tudo der certo eu te mando uma mensagem. E PARA DE SER TARADOO, meu irmão tem namorada – digo a frase final num tom mais descontraído.
– Ei relaxa eu não mexo no que tem dono, mas o que é lindo é para ser elogiado – diz Victor dando gargalhadas.
– Ta certo então, até mais sua gay – digo isso rindo
– Beijo de luz, me manda mensagem, se não vou perguntar pro Miguel o que aconteceu – diz Victor.
– Falsiane da porra, só quer uma desculpa pra poder falar com meu irmão – digo isso rindo.
– HAHAHAHA Beijinho beijinho, tchau tchau – diz ele rindo.
– Tchau – digo isso.
Bom finalmente chegou a hora, mando uma mensagem para Miguel dizendo que eu estou subindo e guardo o celular. Chegando ao meu prédio eu começo a suar, quando finalmente eu chego ao elevador eu sinto uma pancada e caio no chão. Abriram a porta que foi em direção a minha cara.
– Aiiii, tem gente passando – digo isso passando a mão no rosto.
– Meu Deus, mil desculpas, perdão mesmo, deixa eu te ajudar a levantar – diz o estranho me ajudando a levantar.
– Não tudo be....
Parece que as últimas palavras não saem de minha boca. Eu olho na minha frente e vejo o mais bonito par de olhos verdes que já vi na vida. Um garoto que aparentava ter uns 17 anos, loiro e aparentemente um pouco menos forte que o Miguel, agora que eu percebo ele está com um casaco da Sonserina. Fito ele mais uns segundos ate que sou despertado dos meus sonhos.
– Você está bem? – pergunta o menino
– Otávio – digo meio atrapalhado.
– Como? – pergunta o menino.
– Quer dizer sim Otávio bem estou – parece que as palavras estão bagunçadas na minha mente.
– Desculpe, mas não entendi – diz o menino.
– Calma – eu respiro fundo e digo.
– Sim eu estou bem, e meu nome é Otávio – digo isso com a mão no nariz.
– Prazer, desculpe termos nos conhecidos dessa forma, mas meu nome é Gustavo – diz ele levantando a mão para um aceno.
– Prazer – digo isso olhando para seus lindos olhos verdes.
– Parece doer, não? – Pergunta Gustavo.
– Não muito, bom pelo visto você gosta mesmo de Harry Potter – digo isso apontando para a camisa.
– Ahh, isso aqui, bom digamos que sim, e você? – pergunta Gustavo.
– Também, na verdade eu amo – digo isso pondo as mãos no bolso.
– Ah que legal, bom parece que o pessoal aqui de Niterói tem um bom gosto – diz Gustavo.
– Acho que sim – digo isso rindo
– Bom então já que você está bem eu vou indo – diz Gustavo.
– Ah claro, valeu pela porrada – digo isso rindo e indo em direção ao elevador.
– Se precisar de outra estamos ai – diz ele rindo.
Vejo Gustavo indo em direção da saída do prédio enquanto a porta do elevador vai se fechando lentamente. Quando ele sobe um andar eu dou um grito de dor, ponho à mão no nariz a procura de algum sangramento, mas não encontro.
– Acho que não está quebrado – penso
Finalmente chego no 7º andar, a porta do elevador vai se abrindo lentamente e o medo vem tomando conta de mim a cada instante, giro a maçaneta, quando a porta se escancara e se abre.
– Filho, Meu Deus você está bem, me desculpa por ontem, eu não queria ter dito aquelas coisas horríveis a você – diz minha mãe me levando para dentro e fechando a porta.
– FILHOO, por favor me perdoa, eu não queria ter gritado com você daquele jeito – diz meu pai se ajoelhando na minha frente.
– Por favor filho nos perdoe, é que isso é tudo novo para a gente ainda, não imaginávamos que você fosse gay – diz minha mãe aos prantos.
– Anda pai levanta daí. Olha eu já havia perdoado vocês naquela noite mesmo, eu devo imaginar o quanto deve ser difícil o que vocês estão passando, vocês são meus pais e eu nunca teria coragem de ficar bravo com vocês. É lógico que eu fiquei chateado com o que vocês falaram, mas no meu quarto eu pensei em toda a situação e eu perdoo vocês, de todo o meu coração, eu amo vocês – digo isso chorando e os abraços.
Ficamos assim durante uns momentos, nos separamos e minha mãe enxuga as minhas lagrimas, vejo meu pai sorrindo, isso aquece meu coração. Minha mãe me fala que o Miguel está pondo a mesa, e que ela é meu pai preparam um jantar de reconciliação, com os meus pratos favoritos.
Vamos até a sala de jantar. Vejo Miguel carregando uma travessa com um Frango à Parmegiana, ele a põe na mesa, vou direto a seus braços, lhe dou um abraço e digo que deu certo, ele sorri pra mim e bagunça meu cabelo.
– Agora finalmente alguém finalmente vai poder dizer se eu estou me vestindo bem ou não – diz meu pai.
– Ei pera ai Ricardo, e eu não sirvo? – diz minha mãe num tom de brincadeira.
– A não é bem assim Heloisa, eu quis dizer que agora eu vou passar mais tempo com meu filhão – diz meu pai.
– Epaa, e eu? – pergunta Miguel num tom de brincadeira.
– Você não é gay para poder opinar sobre moda – diz meu pai pondo um pedaço de frango na boca.
– Quem disse que não?!?! – diz Miguel com a maior cara de sínico.
– Outro?! – diz meu pai se engasgando.
Ele bate no peito e logo já melhora, todos rimos da situação, o resto do jantar foi muito agradável, rimos bastante das palhaçadas de Miguel, e das tentativas de minha mãe faze-lo se comportar a mesa. Terminado o jantar Miguel fica com a louça para lavar. Vou direto para o banheiro tomar banho e escovar os dentes, saio logo em seguida arrumar meu material para o primeiro dia de aula. Termino de arrumar minha bolsa e vou procurar meu celular para mandar uma mensagem para Victor contanto tudo o que aconteceu, quando pego ele da bermuda que estava a poucos instantes atrás eu vejo que ele está com a tela toda rachada e parece que não quer ligar, por um momento fico com raiva, porém logo esse sentimento some.
– Gustavo – falo quase como um sussurro.
Agora as imagens do nosso trágico encontro vêm na minha mente, fico pensando de onde será que ele deve ter vindo. Mas resolvo dormir, a essa hora Victor já deve ter perguntado a Miguel o que aconteceu. Estou tão cansado que eu apago na cama.
– Olha Heloisa como nosso filho é tão bonito, parece ontem que ele vinha para a nossa cama com medo dos trovões – diz meu pai rindo olhando pela porta do meu quarto.
– Ele realmente cresceu, está virando um homem, e realmente ele está muito bonito, mas pra mim ele vai ser sempre meu Tavinho – diz minha mãe com os olhos margeados.
– Boa Noite filho, durma bem que amanhã vai ser um grande dia – diz meu pai fechando a porta.
Diferentemente dos outros dias eu não estou tendo pesadelos ou chorando dormindo, eu estou feliz, sorrindo. É parece que a vida é uma caixinha de surpresa, nunca sabemos o que elas está guardando para a gente, é realmente parece que O SOL É PARA TODOS.