O Cunhado [2]

Parte da série O Cunhado

[2]

Eu fiquei totalmente estático por alguns segundos, e parece que o Ricardo, ou Pedro, sei lá, ficou do mesmo jeito. Ficamos nos encarando em silêncio, ele vendo a decepção em meus olhos, nos quais já podiam ser vistas lágrimas, prontas para cair. Minha irmã olhava de um para o outro, como que tentando entender o porquê que eu não havia erguido a minha mão ou Ricardo, Ricardo não, Pedro!, não erguera a sua. Por fim, ela perguntou:

- Amor, Theo, vocês não vão se cumprimentar?

Acordando do quase transe, Pedro olhou para minha irmã abobalhado, e ergueu a mão esquerda para mim cautelosamente, abrindo um sorriso sem graça e dizendo:

- Tudo bem, Theo? É um prazer conhece-lo.

Eu apertei sua mão de volta, tentando me segurar para não cair no choro lá mesmo. Engoli em seco aquela bola na garganta e respirei fundo, murmurando:

- É um prazer conhece-lo também, Pedro – eu enfatizei bem o nome dele, pois a partir de agora eu teria que me acostumar a chama-lo de Pedro, e não Ricardo. Que canalha! Horas atrás havia me pedido em namoro, se dizendo perdidamente apaixonado, e namorando a minha irmã pelas minhas costas! Tudo bem, podia ser que não ele soubesse que ela era a minha irmã, mas só pelo fato dele ter mentido sobre seu nome e ter dito que era solteiro já quebrara a confiança que eu tinha nele. E eu, como sempre, cai como um patinho nessa teia de mentiras! Maldito coração!

- Então, gente, vamos jantar? – perguntou a minha irmã, ainda sem perceber nada, de tão entusiasmada que estava com a situação. – Amor, não liga para o Theo, tem momentos que ele é antissocial mesmo! – Ela disse, se referindo a mim.

- É verdade – eu concordei, tentando sorrir o mais verdadeiramente possível, pois agora até a minha mãe já havia aparecido para chamar-nos para jantar. – Não liga não, Pedro. – Eu enfatizei o nome dele novamente, enquanto Pedro continuava meio sem jeito, olhando para mim e para a minha irmã com um sorrisinho estúpido no rosto. Por um momento tive vontade de pular no pescoço dele e arrancar-lhe aqueles malditos (e lindos) olhos verdes. Ele não tinha ideia do que ele causara. Apesar de tentar parecer o mais forte possível por fora, por dentro eu estava destruído. Completamente. Talvez a convivência com meus pais tão conservadores me fez se acostumar a guardar o que sinto sem transparecer tanto.

Com o chamado de minha mãe, nós fomos para a sala de jantar, a mesa já estava posta e dava para perceber que Thalia e minha mãe haviam caprichado no cardápio, pois havia várias opções. Por infelicidade do destino, meu pai se sentou na extremidade esquerda da mesa, minha mãe a sua direita, eu sentei ao lado de minha mãe e o Ric... Ops, o Pedro sentou-se na minha frente, tendo a minha irmã ao seu lado, que não parava de dar-lhe beijinhos no rosto e acariciar lhe os cabelos.

Meu pai logo quis saber tudo da vida de Pedro. O que fazia, onde fazia, o porquê fazia, onde seus pais estavam, planos para o futuro, etc. Meu pai sempre fazia uma entrevista de seleção quando a minha irmã aparecia com um namorado lá em casa, o que não ocorria tão frequentemente. De uma hora para a outra, meu pai perguntou quais eram os planos dele com Thalia, que quase engasgou com um pedaço de carne.

- Pai, já chega, né?! – Ela pediu, tomando um pouco do vinho.

Meu pai, conservador como ele só, fingiu que não havia sido interrompido, e continuou. Pedro ficou calado pensando nas palavras certas a se falar, e nossos olhares acabaram se encontrando repentinamente. Senti algo estranho passar nas minhas pernas, e só então percebi que o canalha havia erguido a sua perna e alisava a minha por debaixo da mesa, porém olhando para a minha irmã.

- O senhor pode ter certeza que as minhas intenções são as melhores com a sua filha, Sr. Alfredo – disse Pedro, ainda acariciando minha perna. Infelizmente, aquilo me excitou, aquele vadio me fazia enlouquecer só com a droga de um pé! – Não se preocupe que farei o possível e o impossível para fazê-la feliz. – E olhou para mim descaradamente, recebendo um beijo da minha irmã no rosto e ainda alisando a minha perna por debaixo da mesa. Eu já estava em ponto de bala.

O resto do jantar transcorreu tranquilamente e, no fim da noite, Pedro foi embora levando meu coração com ele. Eu havia passado a noite toda ajudando a minha mãe a arrumar a cozinha enquanto meu pai acompanhava Thalia e o canalha dela na sala. Minha mãe se impressionou por eu não estar na sala com eles, mas também não se manteve fazendo perguntas idiotas. Para falar a verdade, eu não aguentava mais olhar para o Pedro sem sentir vontade de esmurra-lo e beija-lo ao mesmo tempo. De quando em quando eu precisava mexer no meu pênis tentando escondê-lo, pois eu ainda estava excitado.

Quando eu já estava deitado, pronto para dormir, meu celular toca. Resmunguei um pouco, com raiva, pois além de estar com insônia, estava chorando por tudo que havia acontecido entre mim e Pedro, cheguei até a pedir a Deus que me matasse se um dia minha família descobrisse. Acho que minha irmã nunca mais olharia para mim, e meus pais me renegariam.

O celular tocou novamente, e de novo, e de novo, até que eu, já imaginando quem fosse, peguei-o e li o nome que piscava insistentemente no visor. Era Ricardo. Era ele! E agora, o que será que eu deveria falar?

Comentários

Há 4 comentários.

Por biel em 2013-02-14 18:41:41
Não vejo a hora de ver o próximo !
Por em 2013-02-08 17:25:04
ricardo danado
Por em 2013-01-03 06:31:52
Amei seu conto, é escrito de uma forma bem limpa, eu me senti na pele do coitado do Theo, tô muito ansiosa pra ler o próximo!
Por 'Ferreira' em 2013-01-02 18:08:55
Wow! Muita bom! Continue!