Piloto
Parte da série Gaiolas & Gatos
“Dizem que quando se gosta de algo ou alguém, a gente cuida, protege, quer estar perto, fazer parte da vida.”
(Nicholas Sparks)
Entre a areia molhada e fria, sobre as ondas que vinham de encontro a mais bela visão de um paraíso, dois garotos corriam como se não houvesse amanha, como se nada pudesse os impedir. Entre onze a doze anos e uma vida inteira pela frente pareciam não estar muito preocupados. Um de short médio e molhado do mar o outro com uma bermuda floral e úmida. Pareciam felizes.
– Iam vamos, venha, tente me pega – Disse o garoto de short curto, com um olhar meigo e cabelos escuros, molhados caídos sobre sua face branca e sem alguma mancha.
Iam corria em passos largos e rápidos em direção a Jonathan que corria a sua frente. Na visão de Iam, Jonathan parecia correr em câmera lenta, aquele seu sorriso que parecia da mais vida a paisagem. Um anjo. Assim como ele imaginava, parecia voar enquanto corria. Iam pensava o quanto “Jon” (Assim como Iam o chamava) era perfeito.
Jonathan parou e o esperou e antes que o Iam percebe-se ele esbarrou e Jonathan e acabou caindo um por cima do outro.
– Iam, sai de cima poxa – Disse Jon com um sorriso abestalhado. – Me desculpa, eu estava... - Disse Iam sendo interrompido por Jon. – É, já sei, estava viajando como sempre- Continuou Jon: – Tenho que ir, meu pai ta esperando... –
– Ir? Ir a onde?
– Esqueceu que vou me mudar hoje?
Iam encheu os olhos de lágrimas sem se importa que Jon percebe-se sua tristeza repentina – O que ouve? – Disse Jon levantando-se e fazendo com que Iam também saísse de cima de seu corpo.
Os dois se sentaram um á frente do outro e se olharam insanamente sem dizer uma palavra, só se ouvia o som das ondas do mar indo e voltando na praia deserta e as gaivotas escandalosas que gritavam em busca de alimentos no mar. Então seus olhos que pareciam ser guiados por eles mesmos foram lentamente se aproximando, até que numa dose de doce paixão seus lábios se encontraram, foi como se o corpo de Iam não obedecesse, e não resistiram aquele encontro de desejos. A força do amor era mais forte que eles, o céu parecia ter descido sobre os dois. Iam não podia conter a alegria de finalmente dar seu primeiro beijo, na primeira pessoa que lhe fez conhecer o que era amar. Jon não disse nada, apenas retribuiu com carinho e ao mesmo tempo fez com que Iam se sentisse especial ao seu lado.
Por varias vezes o casal trocaram olhares e caricias, mas Jon estava preocupado com a hora de voltar.
Jonathan iria embora para fora do país e não iria mais volta, sua mãe estava muito doente e na pequena cidade onde eles moravam não tinha muitos recursos e tratamentos assim sua ida para longe de Iam seria inevitável.
– Tenho que ir Iam, me desculpa – Disse Jon enquanto acariciava a face de Iam, seu tom de voz já não era mais o mesmo, era um tom fraco e meigo. Iam olhou nos olhos de Jon pela ultima vez e o perguntou: – Promete que você vai voltar? – Retribuindo o olhar, Jon lhe deu um sorriso sincero e o respondeu ao mesmo tempo em que se levantava para ir – Sempre vou voltar pra você, acostume-se, ainda vou-te apertar muito – Jon deu as costas e sem olhar para trás, correu de volta para casa. Iam ficou ali observando o seu melhor amigo e mais novo amor ir sem poder fazer nada, só lhe restava chorar.
Iam saiu na outra direção também sem olhar pra trás sabendo que nunca mais eles iriam se encontrar novamente.
Chegando em casa, Iam com um semblante de choro passou direto pela sala onde estavam seus pais conversando. – Iam o que foi meu filho? – Perguntou sua com um tom preocupado. Iam correu subindo a escada, a direita da sala, e se trancando no quarto.
Seu quarto era cheio de pôsteres de cantoras e ao canto direito tinha um violão que sua tia Amélia, antes de falecer, o deixou, para que ele seguisse sua carreira, Amélia era uma antiga cantora de MPB e tocava nos quiosques a beira mar. A casa de Iam era próxima à praia e de seu quarto dava pra ver uma plena visão do mar e escutar a noite suas idas e vindas.
Iam pegou seu violão de cor marrom cheio de selos e remetentes de todos os lugares que sua tia pretendia viajar antes da sua morte, mas o câncer foi mais rápido e a levou. Com as mãos sobre as cordas ele deslizou seus pequenos dedos criando um som, Iam denominou a música rapidamente, era; “Elis Regina – Como nossos pais”. Após aquele dia, Iam se comprometeu a estudar e se torna um grande musico.
Jon até este verão lhe mandou alguns Emails, porém, não foram ficando fluentes, só diminuíram a cada mês. O ultimo dizia:
Jhonatan Ribeiro:
Oi Iam, bom, eu estou com muitas saudades e espero te ver logo, mandando esta carta pra te dar os parabéns e que no próximo mês se meu pai me permitir. Esta semana minha mãe passou por uma serie de exames como sempre e o medico disse que talvez ela fique curada, papai disse que ela tem a mesma doença da sua tia... Obs: “Queria tá ai pra te abraçar”.
Enviada de Londres
Dia 03 de março de 2006
Depois os Emails não chegaram mais, Iam até pensou ser problema do seu computador mais era Jon que parecia ter o esquecido de vez.
*
Mais dois anos se passaram e Jon não deu mais noticias, Iam acabou que se esquecendo dele. Seu pai estava oficialmente fora exercito e teve que ter seu sonho interrompido por uma grave lesão na perna, o que não permitira mais andar sem muletas. Seu pai era muito rancoroso e a afinidade de pai e filho estava já extinta.
Esses dias o pai de Iam pediu que todos parentes viessem para um jantar especial, Iam não sabia muito do que se tratava, pois não tinha muita intimidade com seu pai, enquanto todos estavam sentados à mesa seu pai anunciou uma decisão que ele teria tomado para o futuro de Iam.
Iam estava com uma jarra de limonada em mãos á levando para a mesa quando seu pai disse em alto e bom tom para todos que estivessem no local o ouvisse.
– Bom, tenho o prazer de informa que meu grande e único filho vai seguir os meus passos e de nossos antecessores, vou leva-lo para o colégio militar, onde eu, meu pai, meus irmãos aqui presentes já passaram!
Nesse momento Iam paralisou no meio do caminho entre a porta da cozinha e a sala de janta, todos seus tios e tias arregalaram aqueles grandes olhos para Iam que por sua vez não fez nenhuma ação. Só ficou ali, parado.
Seus tios começaram a lhe abraçar entusiasmado com a situação, Iam colocou a jarra na mesa, ainda calmo. Por dentro sua vontade era de estourar ela no chão e sair correndo. Ele foi para seu quarto sem falar nada. Escorou a porta e se deitou sobre sua cama.
Iam não estava acreditando no que estava acontecendo e com certeza não tinha aprovado a ideia de passar sua adolescência no colégio militar.
Ele passou os restos dos anos tentando dizer a seu pai que não era bem o futuro que queria, mas seu pai fazia de conta que não ouvia, ou sempre passava na cara o que ele fez por Iam até hoje, como se fosse uma obrigação de Iam “continuar o a tradição e se torna um grande general no futuro”. O único jeito era esperar e se conformar.